Duvidar da insanidade de um militante fanático é o mesmo que colocar em dúvida a violência que reina nos estádios de futebol entre bandos de criminosos, disfarçados de torcedores. Os últimos acontecimentos envolvendo eventos nacionais e internacionais não são exatamente os últimos, nem os primeiros. Há quem banque. A sustentação desse modelo passa pelo desaparecimento dos sócios daquele antigo Clube Social, onde tudo começou, pelo fenômeno de massa e a dinheirama.
A imprensa tradicional apresenta em geral um painel cada vez mais refinado dos resultados das urnas. São Big Datas e Data Sciences em verdadeiros Centros de Cálculo que contabilizam os “finalmentes” de uma etapa em dois turnos das eleições municipais. Nesse lugar, não há crítica ao sistema, gerido pelos próprios profissionais do ramo, agentes do poder. O que afinal esqueceram? Deixaram de lado as substâncias anti-oxidantes, que até poderiam desacelerar o envelhecimento das estruturas atuais. No caso das democracias, creio que avançar da representatividade inexistente, para uma etapa plebiscitária, direta e com regras capazes de lidar com as frequentes manipulações de natureza retórica, que escondem interesses.
No entanto, aos fanáticos militantes de facções de tonalidades cada vez mais difíceis de identificar, essa proposição não interessa. O caminho mais rápido, atalho para botar a mão na massa de dinheiro público é a polarização. Com ela, cedo ou tarde se chega lá. Exemplos não faltam. Vocês hão de procurar e não lhe faltarão. Aqui vou em outra direção.
O poder e sua perpetuação. A antítese da mudança como regra, o antídoto aplicado para domesticação e neutralização de qualquer ação revolucionária, pela via democrática. Em sociedades que flertam com o autoritarismo, perder não faz parte da agenda, o mau perdedor está aí. A falsidade é o outro lado da moeda, quando o ganhador em pleitos tecnicamente empatados, assume o discurso de que “irá governar para toda a sociedade”, repetida por dezenas de municípios, lidas nos manuais de discursos.
Não é assim que a coisa funciona.
Fim dos turnos aqui. Uma dinheirama para se fazer campanha, nenhum controle sobre os gastos públicos, menos ainda do recente repasse dos custos de campanha para partidos, que em número crescente, ampliaram para bilhões de reais o uso do dinheiro de impostos para campanhas políticas. Ser dono de partido se tornou a melhor maneira de meter a mão no dinheiro público. Em tão pouco tempo, e vai piorar, sem resistência, sem oposição. Legislam em causa própria, sem ação plebiscitária, sem lastro, sem restrições. A isso se soma o Orçamento Secreto, uma espécie de “anti-Glasnost”. Quem conseguirá frear esse monstro autofágico, retrato modernista da nossa estrutura política?
O balanço das eleições tangencia questões como o peso do direito de reeleição na assimetria quando na disputa com candidatos sem a “máquina na mão”. Qualquer idiota sabe que o cara precisa ter feito muita cagada pra não se reeleger. Os números não mentem: os reeleitos são ampla maioria, a taxa de renovação é baixíssima, o poder se perpetua no poder público. O rodízio, a alternância no poder é uma regra questionável? Sim. Mas o que dizer dos quocientes e coeficientes eleitorais, marcado pela distorção do chamado voto universal, onde a demografia e outros conceitos dão lugar a pesos descompassados, sob a falsa argumentação, dos tempos da ditadura, de que o Brasil é um país desigual. Porra, sabemos disso! Mas o lance é outro, desde os tempos do PDS de Sarney.
Os discursos. Quando meu avô chegou em casa, após a queda do muro de Berlim, senti que ele não tinha muito o que dizer. Foi uma espécie de “vazio retórico”, de um repetidor das narrativas de sua época. As lutas eram duras. Junto com a globalização, caiu a máscara do stalinismo, Gorbachev, Perestroika, Glasnost. Lá pelas batas do Papa, Polônia, o movimento sindical do Solidariedade. Nossa, parece que foi ontem esse “copia e cola”, que dura até hoje…
Tem gente achando que o Brasil é um lugar sem patriota, como se num mundo interligado, ser patriota representasse alguma coisa. Representou sim, mas não foi a Internacional Socialista, ou a Globalização com a intensificação das trocas pelo Comércio Exterior. Ao contrário, o simbolismo patriótico teve como filhote o Nazismo, mais conhecido como Nacional Socialismo. É confuso, é difícil essa costura, mas ela é histórica. Coube ao meu xará, que chamo de Putinho – desde o artigo do Jânio de Freitas sobre o “Pêndulo de Putin” – instituir uma onda selvagem de propaganda política baseada num nacionalismo extremista. Para ele deu certo, pouco a pouco vem se espalhando como um câncer, na direção de perpetuar velhos princípios.
Reacender a chama da polarização belicosa, em busca de um protagonismo é uma estratégia defasada em mais de 100 anos. Li Entradas e Bandeiras, Que é Isso Companheiro e Crepúsculo do Macho em plena ditadura militar, para fazer trabalhos de literatura, numa escola que possuía um Diretor de Disciplina ligado ao então SNI. Convivi com vários lados dessa confusão. Era possível acreditar que esse lugar, superado pela Anistia negociada não seria mais moeda de troca para condução de caminhos políticos. Engano, ao contrário do que muitos acreditavam e afirmaram sobre a extinção do conceito esquerda-direita, binário e limitado, diante da acefalia mediocrizada em massa, ele foi alçado ao lugar de solução.
Não é.