ENGENHEIROS TAMBÉM VOTAM…

NESSA QUINTA-FEIRA O CLUBE DE ENGENHARIA VOTA…
Nesse domingo, abro a página do Clube de Engenharia, aciono o mecanismo de busca equivalente ao Google, uso a palavra “ELEIÇÃO”, e em lugar de alguma notícia ou chamada para que seus sócios votem, apenas matérias requentadas sobre a Diretas Já ou assuntos de nenhum interesse para a pauta das ações necessárias em curso.
Se isso não caracteriza o descumprimento da Lei nº 12.527, sancionada em 18 de novembro de 2011, a Lei de Acesso à Informação (LAI), que regulamenta o direito constitucional de acesso dos cidadãos às informações públicas, mudo de nome. O Clube de Engenharia é entidade a dar exemplo nesse âmbito.
Não fosse suficiente, quando da última eleição, recebi em meu número privado de WhatsApp propaganda eleitoral de uma Chapa composta de engenheiros, alguns até conhecidos. Nunca havia visto algo do gênero acontecer de forma tão naturalizada. Vivi para ver o cadastro dos sócios ser utilizado, e isso após a LGPD, “A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), Lei n° 13.709/2018, promulgada para proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade, e a livre formação da personalidade de cada indivíduo”.
Como se não bastasse, é bastante suspeito que após 3 solicitações de alteração e correção dos meus dados pessoais no cadastro do Clube, meu email ainda estivesse num outro campo qualquer do Banco de Dados, algo difícil de acreditar, além do aparecimento de diversas mensalidades não pagas de anos tão distantes que as tornam difíceis de averiguar, ainda mais que os pagamentos de outrora eram feitos em espécie.
Sócio, virtualmente remido, associado ao Clube de Engenharia desde o dia do meu aniversário, no ano de 1987, acompanhei de perto por todos esses anos, diversas vertentes da sua história, tendo votado pouquíssimas vezes ao longo desses 35 anos. Sabemos bem que estar disponível para uma eleição não é tão fácil para todos.
Esse ano votarei.
Tenho sobra de razões para tanto. A principal delas é a responsabilidade para com a sobrevivência no longo prazo de uma Instituição em risco. Sou muito grato a tudo que o Clube me proporcionou em múltiplas dimensões, em especial na figura de seu corpo de associados, alma mater de todo e qualquer Clube Social.
Passei essas últimas décadas observando e estudando a decadência dos Clubes Sociais no Rio de Janeiro e São Paulo. O diagnóstico sobre a importância dos mesmos para seus sócios diretos e seus familiares é um só: os clubes deram lastro ao desenvolvimento da saúde, física, mental e emocional da parte da sociedade carioca e paulista que tiveram o direito de desfrutar deles e de suas instalações.
Não foram poucas as vezes em que almoços geravam o congraçamento entre os de mesma proximidade profissional, com a engenharia não era de ser diferente. Seus prestigiosos sócios se lançavam em ações de permutas com outras empresas para trazer benefícios aos membros dessa Instituição, extensivamente ao corpo de funcionários e outras entidades.
Um calendário social digno do nome, uma intensidade de trocas, intercâmbios, frutos da imaginação daqueles engenhosos mais criativos, que trabalhavam fora das limitadas esferas da régua e compasso, trazendo para o interior desses profissionais elementos de maior humanização, abrangentes de uma coisa chamada cultura. Sim, porque-embora muitos não saibam, a Engenharia é um item cultural. Sem que se constitua a ambiência, nada floresce.
Sem procurar me exceder no diagnóstico, está muito claro que a versão atual do Clube de Engenharia se afastou dramaticamente daquilo que é essencial em qualquer entidade dessa mesma natureza, demonstrada pela sua história.
Em lugar de espaços povoados de pessoas, capazes de gerar o movimento que a elas pertence, uma visão sem humanidade, resultante de numerários semelhantes aos do Banco Central, de viés claramente patrimonialista, onde o fato da receita gerada pelo pagamento das anuidades transformou o sócio numa espécie de pária, mal necessário a fachada, representando 5% do total de receitas.
Como decorrência dessa completa disfuncionalidade do organismo, mais atrocidades são praticadas, não apenas no Clube de Engenharia. Sob o falso pretexto de que a pandemia quase destruiu o planeta, muitos dirigentes do setor público e privado aproveitaram para demitir funcionários que constituíam a base de funcionamento e memória viva de seus lugares. Nós assistimos o que chamarei aqui de “apagamento institucional”, sem direito a passagem de bastão, que preservasse aquilo que de melhor possuíamos nas rodas sociais: a cordialidade.
Repito, o quadro atual é assustador, resultado de um vácuo de conteúdo e vivências, sem esses lastros, pode-se chegar a qualquer lugar, pelas mãos de qualquer um, disposto apenas a um ato masturbatório de realização pessoal, desses que habitam a elite no Brasil e no mundo.
O Clube de Engenharia não está imune a isso, pelo contrário, tudo indica que é apenas mais um Clube no país, vítima das mesmas mazelas assistidas pela TV em outros lugares. Um Clube sem sócios pode ser chamado de qualquer coisa, menos disso. Quando uma Diretoria responde a uma evidente anomalia, afirmando que produziu laudos técnicos e que a média de frequentadores da Sede Campestre é de 6 famílias por semana, naturalizando de forma fatalista essa vergonha, é sinal de que estamos na UTI, tentando fazer com que todos acreditem que está tudo na mais perfeita ordem.
O fundo do poço é logo ali, portanto cuidado, vamos mudar isso nas urnas.