A CORRIDA PELA INTELIGÊNCIA

O nome do produto é um trocadilho bastardo. Em lugar de Artificial Intelligence, termo consagrado na indústria, a empresa da maçã lança seu mais importante produto do ano, o Apple Intelligence, numa tentativa explícita de se apropriar do acrônimo AI. Muitos produtos nada pioneiros ou originais fizeram isso para ganhar as 1as posições nos sistemas de buscas, que ainda são semânticos.
Meio que por acaso, passei a parte da manhã transmitindo a um amigo especialista em desenvolvimento de interfaces minha visão sobre o momento atual do mundo digital. Dividirei as impressões com vocês e falarei sobre os anúncios feitos pela Apple nessa manhã/tarde por quase duas horas. Espero ser melhor que a matéria publicada pelo Washington Post, uma hora atrás, que não lerei para evitar contaminação semiótica.
Décadas atrás, quando nasceu o uso dos microcomputadores, as telas eram verdadeiros “buracos vazios”, a serem preenchidas por comandos baseados em letras e palavras. O lugar onde digitávamos era antecedido por um “prompt”. O computador era comandado por essas palavras, a partir das quais executava o que era pedido. O problema dessa forma de interagir, dessa interface, é que ela trazia como consequência uma espécie de elitização para o uso. As pessoas que utilizavam o computador tinham que memorizar essas palavras e suas combinações, até que aconteceu a revolução da interface com o uso das telas com ícones e menus.

A partir dali a massificação se deu de forma irreversível, avançou – como diria minha tia – para computadores de bolso, os smartphones que atingiram a casa dos 230 milhões de aparelhos no Brasil, sem os quais ninguém mais sai de casa. Quase 30 anos depois da extinção do prompt, exceto para os desenvolvedores, assisto o entusiasmo de sua ressurgência.

Pode-se dizer que a forma como a Inteligência Artificial atual aparece para o usuário final é um retrocesso na interface. Ela me faz lembrar de quando utilizei pela 1a vez um Programa desenvolvido para Mac que utilizei em simulações feitas com o uso de bases de dados de séries temporais de cotações da bolsa de valores.

Chamávamos a linguagem de “Plain English”, um conjunto de palavras que podiam ser usadas para construir um conceito hipotético para compra ou venda das ações, que após ser escrito era compilado para linguagem de computador, gerando um arquivo executável a partir do qual a base de dados passados servia para simular hipóteses de cenários para as decisões futuras. Aquilo já era fascinante na época, mas pessoalmente esperava mais do hype que acompanha o momento especulativo atual em torno da AI, ou se preferirem I.A., em português.

Quando me perguntam sobre projetos e suas viabilidades no setor de informática, lembro sempre da posição clássica do Bill Gates, querendo saber “para onde está indo o dinheiro”? A resposta para hoje é trivial: Inteligência Artificial. É fácil afirmar isso, pelo volume de dinheiro aplicado em um intervalo de tempo tão curto, na NVIDIA. Há outros indicadores que só reforçam essa clara tendência, não perderei tempo nisso.

Portanto, para quem está na estrada do desenvolvimento, o recado é esse, o Roadmap passa por esse produto na primeira posição da lista. A palestra realizada pela Apple nesse dia 10 de janeiro apenas deu a confirmação quanto a esses percentuais. Numa Keynote Speaker de 1:45 minutos, uns 30% do tempo foram dedicados ao novo produto da Apple, anexado ao seu modelo da negócios, graças a um contrato assinado para uso do Chat-GPT-4, em breve em todo o seu ecossistema e principais aplicativos. O nome comercial desse produto é Apple Intelligence, uma jogada de mestre, que permite tornar sinônimos os acrônimos que circulam e a própria marca da empresa da Maçã.

O caminho da Apple é um tanto quanto diferente das demais de seu porte, Amazon, Google, Meta e NVIDIA. O caso da Amazon exigirá que eu escreva um artigo específico, pela riqueza e estado avançado de uso de modelos de previsibilidade com o uso de Big Data e Data Science, que estudei ano passado. Uma metodologia muito útil para casos como as inundações do Rio Grande do Sul. A Apple está mais focada nas garantias de privacidade e uso restrito das informações contidas nos dados para os cidadãos. É uma obsessão perseguida pela empresa que leva a maioria dos cidadãos americanos e uma boa parte dos russos a terem essa preferência.

As fichas da NVIDIA estão lançadas na capacidade de processamento de seus chips, atualmente imbatíveis. A corrida pela hegemonia da inteligência é uma nova etapa para a humanidade. Os trabalhadores intelectuais, que se julgavam insubstituíveis nas linhas de produção finalmente encontraram uma concorrência sem alma: as máquinas que pensam.

O Brasil e seus investimentos nessa área são descompassados e desatualizados quanto a lista de prioridades para C&T simplesmente porque não é movido pela motivação do lucro na pauta de investimentos. Basta ver a greve nas Universidades públicas, engolidas por dívidas impagáveis, passando o pires em Brasília. Como se não bastasse, o conjunto de grupos locais, consolidados como lobistas para captação das verbas, torna inexequível qualquer tentativa de se obter recursos expressivos para uma área de expansão e oportunidades para competitividade. Não teremos inteligência local em nossos equipamentos, esqueçam soberania, pura enganação.

Hoje foi o dia pra usar roupa nova. Pulando dos céus para apresentar a inteligência embutida no seu ecossistema privado, em lugar de usar a nuvem de Big Data alheia. É o caminho da privacidade e da propriedade explícita.

O jogo começou, e não tem hora pra acabar.

O PASSADO NÃO EXPLICA O AGORA

Não se assustem com a afirmação de aparente menosprezo ao passado, explicitada no título. Há um exagero proposital nela. Quem lê o que escrevo sabe o valor que dou as relações entre passado, presente e futuro. É claro que todas as etapas da vida estão encadeadas. Aproveito até para recomendar o maior sobre o tema, Marcel Proust, e sua magnífica obra “Em Busca do Tempo Perdido“, que se tornou tão cult entre nós cariocas que foi parar até nos eventos de filosofia. Feita essa mea culpa, vamos ao que interessa enfatizar.

Quando envelhecemos, trazemos um volume assombroso de vivências. Com mais de meio século na face da Terra, desde que bem vividos, uma pessoa é rica. Creio nisso. Mas a vida não é só feita de acumulação de experiências. Muitas passam a viver apenas circulando nessas gavetas de memórias, o que é uma coisa linda de se ver.

Dessa gaveta podem sair análises mais elaboradas sobre aquilo que viveu, sobre como era quando menor, na adolescência, na juventude em que trabalhou. Ao circular entre seus vários momentos, pode recuperar com o sabor de um vinho envelhecido as novas sensações de antigos carnavais.

Tudo isso é lindo, tem seu valor na ocupação de espaços de troca.
O problema é quando estas memórias se tornam repetitivas, a ponto de impedirem a experimentação do agora. É que pode acontecer um adormecimento capaz de produzir esse congelamento do tempo, no passado. Essa tendência se torna perigosa, na medida em que impeditiva do desfrute do instante, a espera para ser vivido, com a ajuda de tudo que veio antes, mas único, porque os momentos não se repetem.

As sensações e sentimentos do dia de hoje, são para o dia de hoje a sua hora da estrela, o ápice do sol sob sua cabeça, o calor que a vida lhe solicita. Não se deixe levar pelas lembranças, esquecendo do mundo ao seu redor e se alienando das oportunidades que ele lhe oferece a cada segundo.

O agora, se repete sem ser repetitivo, enquanto estivermos vivos. Fique atento a ele e desfrute da sua seiva anímica.

BACTÉRIAS BRASILEIRAS DE UM BILHÃO DE DÓLARES AO ANO

Ao acordar hoje, já pela metade da manhã, recebi notícias de amigos que sonharam por anos ir morar numa cidade do interior de São Paulo. As imagens ativaram neurônios de um passado já distante. Piracicaba é um Polo de Desenvolvimento do país.

XV DE PIRACICABA fez parte da minha história de vida. Tive um professor de Genética Quantitativa na Universidade que fez seu Doutorado na Universidade de lá. O Maurício era um gênio da matemática aplicada. Se tornou um grande amigo, admirava a forma como escolheu viver. Diferentemente de meus hábitos, que lia 4 jornais por dia, ele não os lia, considerava repetitivos.

Seu mentor, o professor Lamartine, não tinha piedade na hora de aplicar a prova e corrigi-la com rigor. Fiquei sabendo que as turmas seguintes tinham reprovados em quantidade, sem dó nem piedade. Já naquela época, minhas mãos tremiam ao fazer as provas e dificultavam escrever com letra legível as respostas discursivas. Prova é um momento de tensão, para o qual é preciso toda uma preparação emocional.

Mais tarde, meu 1o emprego como Consultor Nacional da EMBRAPA. Foi pouco antes de ter ido a Alagoas para procurar bactérias que adubassem naturalmente a cana-de-açúcar. As amostras para medição das taxas de Fixação Biológica de Nitrogênio eram enviadas justamente para a ESALQ, Escola Superior Luís de Queiroz, aí em Piracicaba. O uso das técnicas de medição de isótopos radioativos, só era possível no equipamento da ESALQ, um espectofotômetro de massa.

Foi graças a esse meu trabalho, publicado na Alemanha em 1988, que conseguimos provar cientificamente a fixação biológica de nitrogênio em gramíneas, após eu ter isolado a nova espécie de bactéria, inicialmente chamada de Sacharobacter nitrocaptans. Nome estranho né? Escolhi após pesquisa de 72 horas em dicionários de latim, emprestados pela Doutora e Chefe do Centro de Pesquisa, Johanna Dobereiner, que dedicou toda sua vida a essa linha de pesquisa.

O Cavalcante que vos fala é o mesmo da citação abaixo, primeiro autor do trabalho que na década de 80 reimpulsionou as pesquisas no campo da fixação biológica em gramíneas, que passava por uma crise de ceticismo entre os pares dessa área de pesquisa. O mantra da turma das bem sucedidas em leguminosas era que “gramínea não fixava nitrogênio”. Quebramos esse paradigma, enxergar o invisível é para poucos.

Segue a citação: “A bactéria endofítica G. diazotrophicus foi descrita por Cavalcante e Döbereiner em 1988, inicialmente nomeada como Sacharobacter nitrocaptans e, em seguida, como Acetobacter diazotrophicus (GILLIS e KERSTERS, 1989). Posteriormente, esta bactéria foi reclassificada como um membro pertencente ao gênero Gluconacetobacter, sendo, então, nomeada como G. diazotrophicus (YAMADA et al., 1997; YAMADA et al., 1998).
A G. diazotrophicus é uma bactéria gram-negativa móvel, contendo flagelos laterais, pertencente ao filo Proteobacteria, a classe α-Proteobacteria, ordem Rhodopirillales e à família Acetobacteraceae e fixa nitrogênio em condições microaerofílicas (KERSTERS et al., 2006). É portanto uma bactéria promotora do crescimento vegetal diazotrófica, e também endofítica por
ser encontrada colonizando os tecidos internos de plantas, como cana-de-açúcar, onde foi isolada pela primeira vez (CAVALCANTE e DÖBEREINER 1988).

Traduzindo para o português barato, essa bactéria nomeada de modo inaugural por mim, sob os auspícios da Dra. Johanna, ganhou seu primeiro nome em 1988, foi renomeada em 1989 e deslocada para o gênero Acetobacter em 1989, e reclassificada para o já existente gênero Gluconobacter. Sem querer puxar a brasa para a minha sardinha, da Johanna e do Centro Nacional de Microbiologia dos Solos da EMBRAPA, acho que a mudança do nome é uma apropriação indébita do mérito científico, desnecessária. Quero deixar claro que essa controvérsia envolve questões relacionadas a meios técnicos, competência e um abismo metodológico no campo da taxonomia e sistemática. Enquanto nós, aqui no Brasil usávamos testes de natureza tradicional – tipo de alimento da bactéria, teste de gram, sensibilidades a antibióticos, entre outros – já estava em pleno desenvolvimento lá fora o sequenciamento por DNA para fazer taxonomia.

Seria uma tragédia para a humanidade se toda a tabela de classificação produzida pelos pioneiros como Lineu fosse renomeada, como acontece com nomes de ruas em lugares onde a cobiça e vaidade oportunista de políticos ultrapassa o valor histórico dos lugares com seus nomes.

Em que pese o fato de que pela ética científica os nomes e primeiras publicações devam ser citados, acaba se constituindo como uma forma de trapaça, sobrepor ao dos pioneiros o daqueles que apenas usaram em laboratório uma outra técnica para dar o novo nome e de fato nada descobriram.

São farsantes oportunistas, disfarçados de cientistas, pela ganância, vaidade e poder das nações mais desenvolvidas em relação as colonizadas. Nesse mesmo campo e relacionado a isso, se deu a mudança do nome do projeto brasileiro pioneiro, do qual participei, da Planalsucar, o tal do PROÁLCOOL, que pelas mãos estrangeiras foi renomeado de ETANOL.

Graças a esses trabalhos o Brasil economiza 1,5 bilhões de dólares por ano na produção de soja e outros vegetais correlatos. Não por acaso, a 1a indicação do Brasil para Nobel na área de Ciências foi para nossa atividade. Sem citar nomes, deixamos as indicações para Prêmios de Nobel da Paz para os genocidas. Nosso lance sempre foi a Sociedade Alternativa.

Piracicaba faz parte dessa história, contribuiu pra esse milagre acontecer, pelas mãos de humanos, que por serem filhos de Deus, carregam coisas divinas dentro de si. É necessário descobri-las. Ver um bando de bundões, cujas falas mais se parecem com os zurros dos asnos.

O IMPECÁVEL MARÉ MANSA

A loja recebia o gênero feminino. A maré. É provável que também acompanhasse de bônus, o aroma da maresia. Tempos antigos, duplos sentidos, ambos ou nenhum. Se você perguntar a uma mulher qual o cheiro que ela tem, e ela responder que não sabe, ou teve covid e perdeu o olfato, ou possui por você uma indiferença num nível master, desses que beiram o desprezo.

Embora tenha dito várias vezes uma frase conclusiva, nunca havia escrito: “para mim, duas qualidades distintivas da identidade feminina são o aroma e o sabor”. Esse conjunto se soma a obra mais ampla, concordo, mas esses dois itens senão exclusivos delas, são da base que nos faz as reconhecer de longe e no escuro. É curioso assistir como nos distanciamos dessas constatações tão óbvias num passado não muito longínquo. Sem saudosismo, observo a sofisticação que o assunto tomou em nosso tempo, graças aos perfumes e fragrâncias de um lado, graças aos modos mais higiênicos de outro. A atmosfera tem mais frescor entre os mais bem tratados.

Já o urso beiçudo, não hiberna, é feroz e mata, podendo até comer carne humana. O universo desse mamífero paquidérmico se distingue da sua irmandade, que dorme por meses sem fazer xixi ou coco. Alguns mistérios metabólicos ainda não foram resolvidos pela ciência. Apesar de carnívoro, se eu fosse você, o alimentaria com mel, preparando para fazê-lo em grandes quantidades.

O urso preguiça não é bom nem mal, ele é.

Pode mesmo se transmutar-se num bicho preguiça, do qual cortaram as unhas, letais em um único golpe na jugular dos desavisados.

O animal é.

Já a Maré, acaba de chegar, trazendo a notícia de que o Impecável sou eu.

BRASILEIRO LIVRE PRA CRIAR

Contratado pela DC, com liberdade pra fazer o que quisesse, fez. E o resultado das suas 4 revistas vai se consolidando. A 1a já é a Revista em Quadrinhos mais vendida nos EUA de 2023. A 2a está esgotada, indo pra 2a edição. Assimilou a essência do personagem, bebeu na fonte.

O trabalho, ao qual tive acesso a uma pequena amostra, é pesado, tem cheiro de Gotham. Me lembrei de uma apresentação que fiz para o filho de um amigo, garoto que tomei a liberdade de chamar de “Morcego”, pela sua hiperatividade e olheiras constantes, recebia o selo do genial Jards Macalé, cantada pela turma do Boca Livre. Passava horas trabalhando o Storyboard, ouvindo aquela história, que já era o retrato da Cidade do Rio de Janeiro, como de resto das grandes metrópoles do mundo.
Gotham City e Batman estão entre nós e segundo o autor, nada tem de relação com as ações das milícias, por uma única razão: o Batman tem seu critério de justiça e quando olha para alguém prejudicado pela ação de malfeitores, leva a coisa pro lado pessoal, toma a dor pra si.

O Batman de Rafael Grampá é extremamente controlado pela indústria, que não o escolheu por acaso. Não pode ser jogado na lata do lixo, na vala comum da realidade que vemos nas páginas de jornais na internet, do Rio de Janeiro. Na terra onde Cheeseburguer se transforma em X-Tudo, e TV a Cabo vira Gatonet, com distribuição de petróleo na chupeta, sem pagamento de royalties, é muito mais provável que a marca do morcego justiceiro seja decomposta em qualquer outra coisa que mantenha o poder da mesma, desde que pagando pedágio.

O caso das réplicas mal acabadas, cópias mal feitas que circulam pelos quatro cantos não combina com o talento de um brasileiro bem nascido e educado como se vivesse num outro território socialmente menos tóxico. Fiquei imaginando como seria ultrapassar essa fronteira, fazendo o Batman pular essa cerca, aderir a filhadaputagem e se tornar um criminoso mais sanguinário que o Curinga, marcando date com a Arlequina.

PLANTE QUE O JOÃO GARANTE

E foi assim que acabei indo parar numa fila, esperando por horas, o momento de levar as latas de óleo de soja para casa. Preço tabelado e quantidade a ser comprada também. A regulação de mercados se dá via estoque. O resto é oportunismo especulativo, que alguns chamam de “mercado”.
Há uma exceção, comumente aceita pela classe empresarial e setor financeiro. Quando quebram, acionam o Estado para salvar do desaparecimento. Uma vez mamado nas tetas do dinheiro público, voltam com a ladainha, com o mantra do mercado absoluto.
Desde tenra adolescência, fui informado sobre o prejuízo aos que produzem e aos que consomem, provocados pela ampla cadeia de intermediadores. Uma dúzia de banana que poderia chegar a mesa por 20 centavos, pode custar 20 reais. Em tempos de escassez, a situação piora, aparecem os oportunista da curva de demanda/oferta.
Por alguns anos de minha vida trabalhei, plantei, colhi e armazenei arroz. A seguir pesquisei essa que é a base da comida do brasileiro, junto com o feijão. O Brasil de minha época tinha produtividade de arroz sequeiro muito baixa para as médias de produtividade internacional. O Centro-Oeste portanto não é “competitivo”, frente a produção do arroz irrigado e de lugares com abundância de água.
O mercado internacional como justificativa para a elevação dos preços nos últimos anos. O arroz foi ultrapassado pela cerveja em valores de venda, na lista de produtos alimentícios faz décadas. Um dado assustador que só faz sentido se aceitarmos que nossa sociedade se tornou muito mais etílica do que saudável.
A oferta a preços acessíveis para o povo foi garantida até na ditadura militar. A distinção entre produtos de primeira necessidade e os que Delfim Netto chamava de supérfluos.
Cabe ao Estado a regulação do mercado e suas adequações. Os instrumentos de importação podem ser utilizados, afinal a exportação também é praticada como opção.

Na Suíça vi algumas regulações de bastante significado na prática agrícola e comercial. Nos supermercados, encontrava sempre para um determinado produto, uma marca genérica associada a marca do estabelecimento a um preço muito acessível, até para os padrões brasileiros. A seguir vinham os de marcas locais, com investimentos em embalagem e marketing, diferenciados em valor numa faixa intermediária. Por fim, as marcas importadas, muito taxadas, com preços altíssimos comparativamente.

Uma outra situação, que também se aplica ao Brasil, e que me levou a entrevistar um vendedor numa loja de vinhos é como lidam com o mercado e sua produção. O vinho suíço atende a população do país, auto-suficiente e não exportado. Possuem todos os melhores tipos, por terem terras nas fronteiras com todos os grandes produtores. O fato é que o fudido é quem produz, e com a cadeia de 20 atravessadores no meio, em lugar de comprar mais barato, o consumidor final vai junto pro sal.

Como mostrado acima, 60% das compras em sites internacionais são de roupas, seguidos por eletrônicos com 37%. Ou seja, nem a calcinha importada da Victoria Secret para o Dia dos Namorados vai rolar. Com valor abaixo de 50 dólares a mocinha podia comprar no site chinês e etc. Uma treta dos diabos, que pra desfiar todo o conjunto vai me obrigar a falar do inesquecível filme de pornochanchada, O Roubo das Calcinhas (1975). Filme que se fosse gravado nos dias atuais deveria ter como locação o maior puteiro côncavo/convexo do planeta. Nesse lugar, que insiste na hipocrisia do falso moralismo e da política de costumes, foram taxadas as roupinhas fashion das meninas bonitas da classe média. A questão é: deixaremos o lugar das mais belas só para as patricinhas internacionais, com dólar no bolso e que podem trazer malas e malas de roupas do exterior no valor que quiserem?

Enquanto isso, o que fazem os arrecadadores? Arrecadam. Merecem uma planilha detalhada, bem explicativa, de fácil entendimento do povão.

A (RE)INVENÇÃO DA BICICLETA DE EXIBIÇÃO

É difícil saber por onde começar esse assunto. Quem sabe pelas corridas de bike improvisadas ao redor do nosso quarteirão, com aquela turma toda, do futebol, do pique bandeira, do queimado, a criançada que caçava moedas na rua de paralelepípedo na festa de Cosme e Damião. Lá se vão décadas, onde minha monareta nunca foi páreo para a Tigrão do grande amigo da rua ao lado, que entre nós não corria, desfilava. Era nosso objeto de desejo.
Esse ano encontrei no Ponto Chic das Bikes uma garotada que só anda junto, diferentes e curiosos. Cada um se orgulhava de ter seus pedais destruídos em manobras radicais, em bicicletas inventadas por eles, em alguma comunidade da vizinhança. Queriam saber tudo e claro, nunca falta a pergunta, “ quanto custa essa bike tio?”. Aprendem tudo naturalmente, a eles o assunto é motivo de vida na liberdade da rua.
Vida e época de esportes radicais.
Em uma loja de materiais esportivos de todos os tipos, sigo em busca de uma roupa de neoprene para enfrentar o frio na água. Conversa vai, conversa vem, pergunto a quem nos atende várias coisas e se ela sabia quais as 4 modalidades de esportes radicais que a partir das Olimpíadas do Japão fazem parte do grupo olímpico e que terão representantes brasileiros em Paris 2024. A jovem sorriu e disse que não. Aproveitei para deixar o recado e dizer que era minha intenção cobrir esses que são mais cobiçados pelo público mais jovem.
No tanque de águas caudalosas do Parque Radical de Deodoro, temos a canoagem slalom e nossa braba Ana Sátila. Já no surfe os campeões Toledo, Medina e o novato de Saquarema Chumbinho emplacam chance de reeditar o 1o ouro da história olímpica, Ítalo. A fadinha do skate dispensa apresentações e corre evoluindo na coleção de ouros e cidadania, como exemplo para as crianças. Chegamos então ao representante das bikes BMX, que fazem das pistas motivo de temor pela vida e saúde dos filhos. Essa última modalidade não admite erros, sua prática é de fato rodeada de um tipo de loucura e talento difícil de encontrar.
Foi dentro desse espírito que decidi tentar o incentivo da modalidade radical de menor popularidade, no caso a BMX, e trazer para o palco dos parques elementos de potencialização que atraíssem futuros campeões ao contato e experiência. Foi assim que nasceu a bike azul e branca, exibida pelo Leozinho de Madureira, na quadra da Portela. Sucesso entre a juventude da bateria e apoiada como iniciativa que linkasse o Parque de Madureira e as cores da Escola, nesse período pré-Olímpico. A agenda lotada do nosso astro e dificuldades envolvendo a logística tornaram difícil levar adiante o que já se mostrou promissor.
Agora, em pleno mês onde se comemora o Dia Internacional do Meio-Ambiente, e que desafia a sociedade a enfrentar os problemas com a questão climática, teremos a inauguração do Parque Verde de Realengo, bairro do subúrbio carioca, onde habitam comunidades como as da Vila Vintém. Os jovens com suas bikes (re)inventadas, com bancos que se fundem ao bagageiro para facilitar as manobras radicais são uma novidade que me faz relembrar da Tigrão e que me surpreende ao descobrir que com a simples compra de um kit, é possível adaptar uma BMX nesse tipo adotado pelos pequenos.
Encontrei uma novinha, nas cores amarelo e preto, montada para esse tipo de manobras, e deixo a dica do kit para aqueles que em lugar de comprar um bagageiro e adaptar espuma para fazer o banco, quiserem algo já pronto e de design honesto. Não se compara ao estilo das antigas, mas é funcionalmente muito mais eficiente do que as de 1973.
O próximo desafio é montar da sucata de uma BMX de 40 anos atrás uma bike pra o filho de um amigo meu, que promete dar o que falar. Diferente das atuais, o quadro remete aos tanques blindados. Foram feitos para durar até o final dos tempos, pesadões e sem firulas.

ESSE FOI O DRIBLE QUE VOCÊ NÃO VIU

Brazil’s Garrincha, dribbles to past an unidentified Soviet Union player

É bastante provável que você só tenha visto os gols de uma partida onde o maior número de dribles, mais uma vez foi dele, que também, mais uma vez, fez gol. Mas eu quero dedicar esse papo ao drible, ainda muito mal definido nos dicionários, e em franco processo de extinção no futebol, em função da hegemonia do futebol tático. O drible como elemento criativo e de improviso, é cada vez menos estimulado nas escolinhas de futebol que vejo por aí. Ser atleta é o padrão dominante da fábrica de queijo.
O que vou dizer aqui, faz mais sentido pra quem já assistiu como Geraldino. Mas quem eram esses? Segundo dicionário, é um “substantivo masculino, diz-se do frequentador da geral em estádios de futebol”. Como a geral, o lugar do preço do povo e de quem pega trem pra ir aos estádios não existe mais, lá se foi o olheiro motivacional dos dribladores.

Olho bem na altura das chuteiras, a distância de um close. Fantástica a imagem, que faz muito mais sentido em Slow motion, como se fora os saltos que ao final levam aqueles grãos de areia para fora das caixas, sujando a pista, com todas as câmeras olímpicas, cada uma registrando 120 frames por segundo, a nos darem um replay do detalhe, numa tela de 80 polegadas e 8K. São imagens para serem eternizadas, numa outra condição, desta feita como obras de arte. Pelos valores que ganha, poderiam com um pouco de criatividade e generosidade, decorar a parede do quarto de dormir, como incentivo a sonhar com a invenção de novos dribles. Pelé sonhava na noite anterior com gols que faria, era um fominha desses que hoje nos falta.

É verdade, não devemos exagerar nos elogios, afinal já vimos o fino da bossa ser jogado em outros tempos, Garrincha se divertindo, e um pelotão inteiro caçando sem saber o que. O Borússia se preparou para anular a melhor arma de ataque do Real Madri e a dobra de marcação até que vinha funcionando, e dessa vez ficou em Hummels, que vibrou ao interceptar Vini Jr.. O que “os alemão” não sabia, é que ao ceder o escanteio, o tiro sairia pela culatra, pelos pés de um compatriota chamado Kroos – a se despedir do futebol – que bateria de forma impecável, na cabeça de um lateral baixinho mas cascudo, esse tal de Carvajal. Jogada treinada exaustivamente pelo melhor técnico do mundo.

Poucos nesse momento insistem em não lembrar, mas era Carlo Ancelotti e não Dorival Júnior que deveria nesse momento estar treinando a seleção brasileira. Não desfez o acordo com a seleção por nada, vai treinando os brasileiros por lá, dando ao “perseguido”, o legítimo direito de se tornar o melhor do mundo. Num país com baixa competitividade e com poucos grandes times na realidade atual, só restava por lá o baixo nível de provocações incompatíveis com o mundo em que vivemos. Considerei a hipótese do Golden Boy da Gávea sair da Espanha. Suportou a pressão, não se sabe até quando.

Vai que agora é tua Vini! Sua diferença sempre foi o drible, somado a velocidade e capacidade de finalizar com as duas pernas. Apesar dos avanços e de ser fácil treinar, os exercícios de psicomotricidade não chegaram como regra as escolinhas, vemos poucos guris com esse diferencial. Conta muito a soma dos atributos. Um desempenho com firmeza na Copa América é o carimbo pra ganhar o que já deu a Benzema, no ano que a dupla fez história. Duas finais como campeão e com gols na Champions League são meio caminho andado. É hora de quebrar o preconceito, com ou sem PEPSI BLACK e ignorar o futebol dos garotos propaganda dos programas de auditório.

Todo cuidado é pouco, o mundo das celebridades para muitos, tem sido fatal.

A BALA E A FLOR

Um dilema de época, de urgência atemporal. Se não concorda, faça as contas. Reúna todos os relatórios contábeis da atualidade. Creio que podemos começar pelo que todos os países usam para medir a saúde financeira, esse tal de PIB, Produto Interno Bruto. Pois bem, a humanidade em seu ritmo alucinado está produzindo um pouco mais de 100 trilhões de dólares por ano. Desse total, quase 30% dessa riqueza é gerada pelos EUA. A seguir temos a China com seus expressivos 20 trilhões de dólares. Como curiosidade, Brasil e Rússia seguem no patamar de 2 trilhões de dólares. Aqui tratamos da riqueza. Vamos agora tentar separar essa montanha de dinheiro em duas partes…

A primeira parte desse total, se referirá ao que é produzido na forma de armamentos e seus sub-produtos, que classificarei aqui como o lixo civilizatório.

Utilizando os EUA como exemplo, dos seus quase 30 trilhões de dólares produzidos anualmente, os números oficiais de gasto com armas e derivados chega a casa dos 3 trilhões de dólares. É 10% do PIB. Esse número cresceu, e crescerá, adivinha porque? Porque os EUA aumentou suas exportações nesse setor da economia, para Europa, Ucrânia e outras partes do planeta onde se beneficia dos conflitos, que representam mercados. Aproveitando para colocar o Brasil na roda, se vocês olharem para os maiores produtores de riqueza, distribuídos por continente, encontrarão na América do Sul o nosso país. Como não produzimos armas, somos mercado para as mesmas, que chegam de fora e precisam de algum pretexto que justifique a sua compra. Nessa linha de raciocínio maligno, podemos, por exemplo, inventar um inimigo no continente, sei lá, uma Argentina, um Uruguai, uma Venezuela…

Então, justamente nós, que estamos fora de zonas de conflito faz séculos, faremos parte da lista de clientes dessa doença chamada guerra. Uma curiosidade sobre isso é que a Índia é importadora de armas, tem o Paquistão ali do ladinho, sendo o país mais populoso do mundo, é parceiro perfeito pra montagem de uma máquina de guerra. Contra quem, ainda saberemos… Voltando ao Brasil, também poderíamos seguir o caminho da Colômbia, e nos envolver com um tal grau de desordem institucional e dominância de facções e milícias, tais quais as incentivadas nos tempos dos mandarins na China e da Era Cartel de Medellin de Escobar. Desse modo, estaria legitimada uma intervenção externa de nosso principal aliado militar, autorizando-o a nos ajudar a resolver questões internas como o tráfico de drogas, a criminalidade sistêmica, a corrupção endêmica e tantos outros argumentos. Quanto pior o país estiver nesse aspecto, melhor para os países exportadores de armas e seus lobistas locais.

Além do caso dos EUA, vale lembrar que a militarização da Rússia enquanto sociedade está em curso. Seu PIB equivale ao do Brasil mas seu poderio militar é atômico, datado de uma outra época e outras unidades de medida, no caso, ogivas nucleares. A esse círculo se agrupam nove países, a saber: Estados Unidos, Russia, França, China, Inglaterra, Paquistão, India, Israel e Coréia do Norte. Estes somam um total de 13 mil armas nucleares, dessas que dariam para fazer um foguete trafegar numa velocidade acima da velocidade da luz, naquela série “O Problema dos Três Corpos” da NETFLIX. O que quero dizer com essa ficção, é inimaginável o desdobramento de se apertar o primeiro botão vermelho nuclear na face da Terra.

A segunda parte dessa riqueza, relacionada a prosperidade, e desenvolvimento pleno da humanidade e de todas as formas vivas do planeta.

Não será uma conta fácil…

Mas…

Intuitivamente eu acredito que você pode fazê-la na sua vida. E quando digo “na sua vida”, me refiro a tudo aquilo que produz e escolhe consumir. Perguntando-se, “balas ou flores?”, pode enxergar parte do estrago que pode ser evitado, em suas decisões, políticas inclusive.

Por se tratar de uma reflexão definitiva, decidi desdobra-la em três partes. Ficamos aqui com pistas do cálculo das balas, achadas ou perdidas. No próxima parte, vamos cuidar das flores. A terceira será dedicada ao projeto de criação dos PIB’s das prosperidades florescentes.

O MAIOR MENTIROSO DO MUNDO

A afirmação é feita no tribunal onde corre o processo envolvendo uma atriz pornô e um presidente dos EUA. A justiça trabalha com a materialidade, com provas concretas, única coisa que conta. Se o tempo passa muito do momento dos acontecimentos, a justiça acaba se transformando em arqueologia. E assim, fica bem difícil provar os atos dos faraós, praticados cinco mil anos atrás.
Era de se  esperar, jogando na casa dos adversários, de cada 10 moradores de Manhattan, onde 9 deles não tem simpatia pelo acusado.
O jurado, soberano que é, aplicou o vexaminoso placar de 12 a 0 na sentença, e para as 34 acusações. Nelson Rodrigues diria que toda unanimidade é burra, aqui extrapolou-se a ideia abstrata de sentença absoluta. A probabilidade de tal combinatória acontecer em uma loteria é nula. Cada vez mais a sociedade se vê perplexa quanto aos resultados e critérios aplicados pela justiça. Trata-se de um sistema em crise, seguindo a tendência de todas as áreas produtivas da sociedade em geral. Cumprindo o protocolo “somos todos inocentes”, lá vai mais um. Digo mais um porque a semana foi cheia deles.
Por aqui prevaleceu a lógica, o óbvio. A votação dos mentirosos não poderia ser diferente. Uma das mais poderosas armas da política é a mentira. Apesar de infantil, até as crianças mentem, validada pela história. NUNCA FOI CRIME MENTIR…
O Congresso Nacional, lugar onde se reúne o maior número de mentirosos por metro quadrado do mundo, confirmou sua posição sobre o tema, com total coerência.
Discordo da afirmação sobre quem foi o maior nisso. Assisti Pinóquio quando criança, um marco existencial, e suas primorosas versões mais recentes, originárias do lugar de origem do livro de onde Disney tirou a história. Falta falar sobre Mahabharata e uma de suas histórias sobre a mentira, da qual gosto muito. Devo esse grão de cultura ao genial Paulo Maurício, atuante mentor de outros carnavais. Para salvar a vida de um inocente, um homem que jurou jamais mentir, teria que usar esse artifício. A história merece leitura, livro é tudo.
Quanto ao novo nome da moda para a palavra MENTIRA, essa tal de FAKE NEWS, só confunde o entendimento.
Mentir, trair e coçar, é só começar, nunca foi crime.

A MÃO QUE FAZ A GBU-39, MATOU EM RAFAH

“A mão que faz a bomba, faz o samba”, diz a letra do samba da Mocidade Independente de Padre Miguel. Reza a lenda que a fonte de inspiração foi o patrono, entendido no assunto, filosofando sobre a violência de seu cotidiano. Para especialistas conhecedores dos modelos de armas, entre elas as bombas, não resta muita dúvida quanto a origem de fabricação do artefato que atingiu civis em plena atividade humanitária, em busca de alimentos sendo entregues. Era uma GBU-39.

As cenas me fazem lembrar de algo parecido, no Afeganistão, com iscas seguidas de genocídio. Uma espécie de ratoeira para vulneráveis famintos. A espécie humana continua sua rota, comandada por trogloditas por todos os lados. As armas serão confrontadas entre as partes.

A imagem que viralizou sobre Rafah tem o dedo da Inteligência Artificial. Creio que ela resume um pouco o que Carlos Drummond um dia chamou de “Sentimento do Mundo“. Decidi utilizar a mesma, entre tantas significativas, pelo seu poder de multiplicação e abstrato. É um ato em si.

Aqui, de onde estou, deixo aos leitores o dilema de escolha:
BALAS OU FLORES, minha escolha já foi feita, sem direito a meio termo. É uma guerra simbólica, ultrapassa o limite da posição intelectual exposta em livro, que contrapõe CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE.

O foda nisso tudo é que estamos do mesmo lado. Dentro do universo amostral do que é a humanidade, não há a menor possibilidade de distinguir, segregar ou separar joio e trigo. É tudo uma coisa só, genes recessivos, genes dominantes, expressão fenotípica por detrás do armário da espécie. Se um não faz, o outro fará. Todos espreitando uma oportunidade. Ver a Guerra como um negócio é uma perspectiva real. Não irei apresentar aqui os números da lucratividade que os conflitos em escala crescente representam para os países fabricantes de armamentos. Isso é fácil de encontrar.

O que me parece digno da sua reflexão, provavelmente você nunca parou pra olhar por esse ângulo, é que os conflitos nunca acontecem no território dos líderes na exportação de armamentos, no caso USA (42%), França (11%), Rússia (11%), China (6%), Alemanha (6%). É que as “Máquinas de Guerra” são feitas de países que entram com o ovo, e os outros que entram com o lombo, seguindo a metáfora da sociedade entre o porco e a galinha. Nenhum dos países citados acima tem conflitos em seus territórios, embora tenha sido mencionado em alguns veículos de comunicação que a Ucrânia pediu para utilizar armas americanas para atingir bases militares russas em território russo. É certo que o jogo de lucratividade tem limites, mas o que estamos assistindo tanto na Ucrânia quanto em Gaza é a desmontagem de certas barreiras aos mesmos. A falsificação do relatório realizada pelo Departamento de Estado dos EUA é um exemplo atual dessa situação. São tempos difíceis, como escrevi, no ensaio sobre as opções balas e flores.

Não vai dar pra esperar essa turma fabricar o Fim do Mundo, enquanto uma turma inepta prefere acreditar nele, sem qualquer ação prática, que ultrapasse os limites da Marcha pra Jesus. Que Jesus nos ama, isso já sei há muito tempo. O que resta saber é se nós amamos a nossa espécie e se desenvolveremos ações concretas para reverter o extremismo, que a ganância e a lucratividade travestida de ótimos princípios, nos traz. Esse enfrentamento urge.

A BLASFÊMIA ATÔMICA DE ROSTOV-ON-DON

Me perdoem por não ter ilustrado com alguma fotografia esse momento. Me falta a imagem do blecaute.

A estratégia de cada um dos lados está bem definida. Já estamos bem distantes da 2a Guerra Mundial, e a verdade é que “os aliados” não eram exatamente “aliados”, apenas tinham um inimigo em comum, a tal “tríplice aliança”, o nacional socialismo alemão (nazismo) e seus parceiros italianos, japoneses, anexados e simpatizantes. Tudo isso reaparece entre nós, com novas configurações e roupagens. Do contrário, como acreditar que a Inglaterra se associaria a Alemanha para fabricar tanques de guerra de última geração, num acordo costurado em 2024? O jogo de interesses move as peças nesse tabuleiro sem cores, sem ideologias, sem bandeiras. Apenas interesses.

A história não é escrita no preto e no branco, há muitas nuances, a se olhar, décadas após a reconfiguração das forças geopolíticas do planeta. O José Américo Pessanha já apresentava essa dificuldade, filosoficamente falando. Já estava claro, a Rússia e a Ucrânia enfrentariam esse impasse culminado em guerra no território ucraniano. A expansão da zona de influência da Comunidade Econômica Europeia na direção daquilo que podemos chamar de Europa Oriental foi se expandindo de vento em popa, desagradando os russos.
Do mesmo modo que na intenção expansionista do Império Otomano, para chegar ao domínio do Império Romano, encontrando Vlad Drácula, o empalador de cabeças, que instituiu o Estado do Terror para promover a independência de seu poder político. Antes disso, seu território funcionava como um amortecedor entre os dois impérios, alternando sua relação de dependência e aliança, pagando impostos a um ou outro, numa clara relação de extorsão. É de se esperar que a Rússia queira ter a Ucrânia como um airbag, um território sem armas inimigas dirigidas a si.
Numa outra ponta, podemos entender a importância do território ucraniano de uma perspectiva da unidade imperial. A Rússia foi fundada tendo como capital Kiev. É meio inacreditável, mas bem parecido com as ideias existentes antes da unificação da China, que tornou a muralha chinesa apenas um item do turismo. Talvez a pastilha NETFLIX da história de Marco Polo ajude a ligar as pontas. Não se pode dizer o mesmo de Hong-Kong e Taiwan, considerados alvos para anexação pura e simples. Bem, não é bem assim. Pra quem tem um Porta Aviões como o que está estacionado no Rio de Janeiro, o George Washington é uma base militar flutuante, uma extensão móvel do território americano, só que armado, pronto para ser usado em alguma necessidade circunstancial.

Comparar todos esses movimentos que definem e redefine fronteiras pode parecer confuso, mas são relacionáveis. As fronteiras são arbitrárias e dinâmicas, assim nos mostra a história.
Quase fui assistir partidas da Copa do Mundo de futebol em 2018 em Rostov-On-Don. É nessa cidade fronteiriça que a Rússia vem montando seu circo com armas nucleares, mediante as bravatas de seus pares ocidentais e do comediante que chegou ao poder num país com lideranças políticas desacreditadas.
O botão vermelho, da grave crise já vivida no caso dos mísseis russos em Cuba, está de novo na cena geopolítica, dessa vez como uma verdadeira blasfêmia.

O GRAVE ERRO DA CAMISA 10

O erro não foi tirar a camisa 10 de um ídolo da torcida. O grave erro, só feito possível pelas mãos de idiotas, foi ter dado a camisa 10 para alguém sem qualquer perfil para tê-la.
Logo após essa decisão, anunciei o equívoco, considerando um conjunto de fatores. O Flamengo gozou de três lideranças técnicas dentro de campo, ao longo de todo seu ciclo vencedor. Começou com Diego Ribas, que amargou cheirinho e quase, mas segurou a onda até a chegada de uma tropa mais pesada, a qual foram agregados Filipe Luis e Diego Alves.
Essa trinca experimentada do circuito europeu comandava tática e emocionamente o time do Flamengo dentro de campo, a ponto de me fazer imaginar ao aposentar os três, criar uma junta técnica para tornar o time economicamente invencível na América, campeão hegemônico local e dessa forma candidato a mais títulos mundiais, estabilizando uma história de altos e baixos, com saudosistas pedindo a volta do recordista Jorge Jesus.
Criar uma condição de independência vitoriosa, nos moldes de um Manchester City ou mais recentemente Bayern Leverkusen seria uma meta alcançável.
Entregar a camisa 10, do Zico demonstrou o grau de desconhecimento do valor de uma mística tantas vezes narrada como “dez é a camisa dele, indivíduo competente”, na voz indefectível daqueles que já não habitam nossas casas. Essa semana foram Apolinho, Luiz Mendes e Greco, o que me obriga a assistir partidas de futebol ouvindo música clássica, sem a contaminação dos medíocres atualmente ocupando a posição de destaque em audiência, meros gerentes das prateleiras de torcidas e boleiros, tão mal preparados quanto as celebridades de ocasião dos 24 anos de BBB.
A nova geração vai se entupir de estrume, dos que não tem mais acesso aos gramados, comentam e narram futebol de baias chamadas de estúdio, onde quem dirige o olhar são as câmeras. Adeus ao narrador que cheira sangue e gás lacrimogênio, ficando na jaula dos projacs enquanto o couro tá comendo nos estádios.
No máximo, a diretoria financeira autoriza enviar um repórter de campo, mesmo com toda a dinheirama que rola, um pelotão de árbitros em campo e de vídeo, e o caralho de asas.
Não vejo futuro pra um jornalismo esportivo onde o assunto Gabigol recebe mais audiência no Instagram do Hugo Gloss, com seus 35 milhões de seguidores, que sequer sabem o que é impedimento ou tiro de meta, no máximo gritam gol.
Nesse cenário, vou montar um exército de Bots, com várias vozes e multiplicar por 100 minha Central de Jornalismo, porque esse que está aí, condena o futebol brasileiro a morte entre amigos.

O PROTECIONISMO NU E CRU PARA PRODUTOS INOVADORES? CONSULTE O BRASIL E A RESERVA DE MERCADO DE INFORMÁTICA

O atraso que vivemos tinha nome. Os produtos obsoletos e a completa ausência de competitividade também. Fui orientado no mestrado em parte por uma dessas autoridades que instaurou essa política no Brasil, como forma de desenvolvimento de soberania local da nação. Eram pessoas bem intencionadas, ligadas aos quadros militares, com ideias comuns sobre soberania, nacionalismo, visionários daquilo que aconteceria no mundo 40 anos depois…

Enquanto isso, a China… Abriu as pernas, recebeu tudo de todos e se tornou em poucas décadas a maior potência na produção de tudo. O mérito maior atribuo a Kissinger, que criou a rusga entre russos e chineses, levando os ventos do capitalismo para arejar aquelas bandas. Tudo bem, os ventos mudaram de novo, lá estão eles, Putin e Xi, juntinhos por dois dias em uma região chinesa que se parece com a Rússia. São colados historicamente, tal qual a Ucrânia, Taiwan e Hong Kong. Quem viu Marco Polo sabe do que se trata, a unificação do Império e a muralha foram resultado de muitas guerras e sangue. O desmantelamento de Impérios começa por dentro…
O que deu errado no raciocínio nacionalista dos estrategistas como meu orientador e um de meus colegas de turma, também deputado responsável pela orquestração da Lei de Reserva, proibindo o uso de Apple ou qualquer coisa produzida fora do território brasileiro?
Nem tudo deu errado.
Nem tudo dá certo.
O mesmo deputado chegou a ocupar a Presidência do Clube do qual sou sócio faz 40 anos. Também chegou a Presidência de uma Fundação que importa para a UFRJ os itens estratégicos para laboratórios de pesquisa, sem impostos. Costumávamos voltar do Fundão para a Zona Sul, onde trabalhava, eu de carona, conversando com ele, a quem meu pai respeitava e que já havia sido competente Presidente da CEDAE. Em suma, suas convicções deram certo para ele. Uma economia de Estado alça políticos aos cargos de empresas. Não é o caso das empresas privadas, cujos critérios são outros, incluem a forma como nascem e depois o desenvolvimentos da lucratividade para atrair investidores. Até na Rússia desestatizada foi assim. Nasceram os oligarcas bilionários, que inveja.
Agora, os EUA em ano eleitoral, vão adotando práticas protecionistas pesadas para os produtos sensíveis da lista negra. Recebi essa lista do Ministro chinês na Escola Superior de Guerra, a batalha é econômica. Os chineses tem 4 meses pra vender o Tik Tok pra algum americano, a BYD de carros elétricos taxados em 4X mais do que já eram, dando fôlego a incensada Tesla do Elon Musk e as atrasadas empresas automobilísticas americanas do setor, a taxação dos painéis para produção de energia solar, mais baratos faz mais de 15 anos na China, estudei esses custos para adoção em Teresópolis, e o malfadado 5G, sobre o qual os EUA está tecnologicamente atrasado 10 anos…
Falar de Livre Mercado num contexto como esse é piada.
Sabemos, guerras comerciais protecionistas geram elevação de preços internacionais, a população se fode, os comerciantes vendem menos. O tiro já saiu pela culatra.
Melhor parar por aqui e voltar a assistir a série Marco Polo na NETFLIX. Beber um pouco de inteligência e cultura daquele que se misturava com todas e enriquecia sua visão de mundo.

O SONHO OLÍMPICO SUSPENSO PELA TRAGÉDIA NATURAL NO SUL DO BRASIL

Em 2023 fiz uma entrevista com um praticante de kitesurf em Araruama. Estava testando a ciclovia de 14km beirando as margens daquela água e de seu sal. Na conversa, o assunto sobre os pré-requisitos ao esporte surgiu. Foi definitivo ao dizer que não há esporte sem a natureza. Surfista precisa de onda, mas também precisa de água limpa, adequada a saúde na atividade.
O que estamos assistindo é a destruição do meio-ambiente onde os esportes em pouco tempo já não serão praticados, tal os níveis de destruição.
No Sul do país, atingiu o futebol de nível e padrões FIFA, afinal os dois times estão na prateleira da 1a divisão. Antes da Copa do Mundo de 2014, o Rio Grande do Sul foi o único estado a contar com investimentos na realização de estádios no “Padrão FIFA”. Naquela ocasião já sabíamos sobre a elevação dos níveis da água dos oceanos, a uma taxa calculável e de todas as consequências para as populações de regiões litorâneas. As recomendações para que as obras de construção civil seguissem precavidamente métodos de urbanismo atualizados foi feita por desenhas de arquitetos e urbanistas internacionais.
No maior evento sobre negócios de futebol, as melhores práticas eram disseminadas, por exemplo, o compromisso com causas sociais por times localizados em Manchester e a noção de que o dinheiro gasto nos estádios deveriam ser feitos incluindo suas multifuncionalidades, para outras necessidades, não apenas de entretenimento, mas de educação e de emergências como as que vivemos em Teresópolis em 2011, onde o “Pedrão “, ginásio da cidade, exerceu importante papel em toda operação logística no momento de pico.
Nada desses ensinamentos foram aplicados, e por essa razão estamos assistindo, dez anos depois da Copa, os estádios de Grêmio e Internacional alagados, em lugar de servirem a população como lugar de acolhimento. As planilhas financeiras, a corrupção na construção e a cegueira estratégica dos larápios da ocasião somam pontos nessa verdadeira falta de preparo de nossa realidade reativa frente a problemas antigos, que continuam se arrastando ano após ano, sem uma mudança radical de posicionamento.
É graças a ausência de combate a promissora da MÁFIA DA TRAGÉDIA, operando livremente no país, que permaneceremos fazendo dessa destruição o equivalente ao que em outros países são as guerras. O Brasil não precisa de terroristas, já temos a comprovação da responsabilidade de nossa classe política pela inépcia, satisfeita com a ideia de endividar os estados da federação e alimentar os setores que lucram com a desgraça alheia.
Essa canalhice tem um custo social bárbaro, insuportável, é preciso enfrentar isso. Não basta que apareçam cartolas competentes de clubes privatizados decidindo sobre o que fazer, usando planilhas de lucratividade que provam por A + B que não sairá um centavo dos cofres públicos. É mentira, a planilha financeira não utiliza os parâmetros que a contemporaneidade exige, são fabricadas por idiotas da miopia financista, que nada sabem de custos para a sociedade. Alguns de nossos atletas, candidatos as vagas olímpicas, ligados emocionalmente ao Sul do país decidiram não tentar as vagas no pré-olímpico e ajudar as vítimas.

O QUE É UM SHOW GRÁTIS, QUEM PAGA A CONTA E O NEOLIBERALISMO DE ARAQUE

Tenho encontrado um bando de Pantaleão, reminiscentes do coronelismo nacional – bem ultrapassado mas ainda muito presente – que preferem não entender o significado da palavra “GRÁTIS”.
Vamos lá. Entrada grátis é quando a pessoa não paga o ticket pra estar na festa, no evento, no acontecimento. Exemplo, baile funk na favela. Imagino que você, morador de alguma comunidade carioca, já foi a algum. Outro exemplo, show de ensaio de quadra de Escola de Samba, no meio de semana, com gratuidade pra comunidade. Fico com dois exemplos clássicos da nossa realidade, para dizer que em nossa tradição, cidade cultural que somos, a gratuidade é uma marca. Diferentemente dos cercados com abadás do carnaval da Bahia, por aqui, renasceram os blocos de rua, com milhões de participantes, não pagantes. São peculiaridades exclusivas da vida carioca.
Tudo isso não significa no entanto que a realização desses eventos não tenham um custo, e que alguém pague por ele.
Quero falar sobre a articulação invejável, que levou a viabilidade do único show da Madonna na América do Sul. Repito a palavra ÚNICO, dessa vez em vários sentidos. Primeiro porque a relação da Rainha do POP com a cidade do Rio de Janeiro é única e longeva. Não será a inveja que separará nosso lugar dessa estrela de primeira grandeza. A escolha foi dela, o amor pelo lugar existe. O momento é perfeito, Copacabana é dos milhões, em toda sua extensão faraônica, mesmo sem ser deserto. Frequento os Reveillons desse bairro faz mais de meio século, quando meu avô nos levava para a cobertura do seu irmão, no Lido, de onde presenciei de camarote as cascatas do Hotel Le Meridien, pioneiro da festa popular. Estive nessas areias na gravação do DVD – coisa antiga – de um dos namorados da Madonna, o Lenny Kravitz, que certamente faz parte dessa história que só tende a crescer. Ano passado, vi com melancolia o show de celebração do Alok se tornar palco de assaltos, roubos, facas e muita desorganização. Faltou muita coisa, a violência crescente da cidade retirou parte do brilho do evento. Nunca é possível saber o que vai acontecer numa ocasião de larga escala como essa, a própria Madonna já teve show suspenso na França por conta de um palco que caiu. Os atentados terroristas crescem em ousadia e o caso envolvendo Israel e o pai do Alok no conflito do Oriente Médio, além do atentado num Teatro no centro de Moscou esse ano, são prova de que não existe sistema invulnerável. O que nos salva é a vibe, seja lá o que signifique isso pra você.
O futuro é o Brasil, quero falar disso pra vocês. Os negócios envolvendo a imagem da Madonna no Brasil atingiram seu ápice agora, no exato momento da sua leitura. E eles não se limitam aos valores da planilha da produção do evento, a qual o Folha de São Paulo teve acesso. Está numa outra dimensão, noutro patamar, diriam os rubro-negros que garantem que a diva é flamenguista.
A valor da associação das marcas está no futuro. Mas não passa exclusivamente pela disputa de perfumes da Jequity versus Avon ou Hinode. Entrou em cena o abstrato de uma campanha sobre o futuro, liderada pelo banco Itaú. Estudei cada personagem icônico escolhido pela empresa, Ronaldo Fenômeno, Fernanda Torres, Jorge Benjor inclusos. É alguma coisa de arrepiar, justamente no momento em que estou idealizando a entidade Kaza do Futuro, que já começa a ser o lugar que você habita. O futuro é parte da nossa mitologia pessoal, nesse coletivo inédito, de uma Cidade-Palco. Somos donos do maior espetáculo da Terra, esquece, e ele é GRÁTIS.
A cereja do bolo da campanha de marketing de uma constelação de astros valiosos, escolhida pelo Itaú, o mesmo que assina as bikes da orla carioca, é a Madonna. Com a transmissão ao vivo, repetindo o que já se faz na festa de fim de ano e o que foi feito com Alok, o investimento vai alcançar as regiões planetárias com as marcas envolvidas.

Do lugar que me encontro, nuvem do tempo, vi muitos eventos. Espero ver muito mais. O Rio de Janeiro é uma Cidade dos Mega Eventos. Essa vocação não nasceu hoje. Possui vários formatos.
Duas décadas atrás, escrevi o Plano Estratégico para um grupo de empreendedores ambiciosos, desejavam ser os maiores do país. Usei números, escolhi os maiores do Rio:
– Reveillon
– Carnaval
– Passeata LGBT
Os jovens tinham restrições as minorias com orientação de gênero diferente da deles. Não fizeram. Só nesses últimos anos abriram essa vertente.
O show da Madonna me faz lembrar de gente que incitou o “não vai ter Copa” em 2014, o “sou contra as Olimpíadas”, ou o “eu odeio o Rock in Rio”, e “derrubaria o Sambódromo pra construir uma igreja”.
Provavelmente não acompanham as votações para que a classe empresarial de eventos e restaurantes mamem 15 bilhões de reais esse ano via PERSE.

O bando de descontentes, recalcados e contrários a existência de mais uma data equivalente ao Reveillon, no mês de maio, deveriam fazer uma visita a São Petersburgo, que celebra todas as noites do ano, no abrir das pontes uma espécie de mini-Reveillon. Que delícia, moraria lá nos meses mais quentes do ano. É uma cidade que me adotou na Copa de 2018. Madonna é apenas a cereja do bolo de uma campanha de marketing de um banco celebrando seus cem anos, abrindo caminho para o futuro. A playlist com 18 itens no youtube é uma aula.
Ainda estou produzindo a planilha de resultados. Aos invejosos, deixo a certeza de que ainda há tempo para conversão. A inteligência exige copiar as melhores práticas.
Ou, quem desdenha, quer comprar.

AS LUAS DE SAUL SÁ

Pela graça dos Vagabundos de Deus, de Mario Mendoza, esse texto anagramático começa de trás pra frente. E pouco me importa se você chegará ao fim dessa longa história, na condição de um leitor, de um hábito em extinção, tanto quanto a escrita, ou se continuará seguindo a tendência da produtividade de nossa época, utilizando como substitutivo produtos fabricados em formato audiovisual. Alerto apenas para o fato de que com a escrita e a leitura na mão, o ganho é a reflexão de profundidade. Os alicerces são outros. Aviso dado, sigo.

Foi no ano de 1933, no dia 25 de abril. Quero dizer que hoje o gênio incompreendido da família Sá, se vivo, estaria completando 90 anos +1. Levando em conta os arquétipos revolucionários envolvidos pelas datas que antecederam seu nascimento, a morte e o esquartejamento de Tiradentes – o Jesus brasileiro – no dia 21 de abril, seguido do atual protetor da população da Cidade do Rio de Janeiro – 0 originário da Turquia, São Jorge, celebrado no dia 23 – ficou muito mais fácil lembrar de seu aniversário. Circundar datas por outras em modo associativo, ajuda a lembrar do calendário. Desse modo, resolvi comemorar as três datas em uma única noite, dedicando as anteriores a contemplação dos acontecimentos ao meu redor. Devo dizer que fui agraciado pela decisão, na sucessão dos fatos.

De trás pra frente, lá estava o dilema de fazer parte da 2a geração de uma linhagem de Titãs, tal como mencionado por Michael Douglas em sua mais que sincera entrevista com Pedro Bial. Filho de um monstro do cinema americano, o judeu Issur Danielovitch, de nome artístico Kirk Douglas, trouxe a mim a certeza de que filhos de grandes homens sempre estarão em desvantagem. Coube ao garanhão protagonista de Atração Fatal, fazer vários links familiares, entre eles com a sua neta de nome Lua, parte do meu anagrama, embora no plural.

É que nesse dia 23 de São Jorge, a Lua que a ele pertence na música de Caetano Veloso, iniciava seu período completamente cheio, e o que é melhor, estando nesse estado voluptuoso, com céu de nitidez cristalina e a meia-noite, exatamente no pino, como se fora um sol. Foi dela que se irradiou uma energia transformadora, inebriando uma população específica do planeta, que tomou algumas decisões coletivas, fora das garras do Planalto. E bem fora desse lugar de fala dos tais “territórios”, de uma política caduca, suplantada pelas sensações telúricas.

É que pouco a pouco, a população carioca vai se distanciando do santo que dá nome a cidade do Rio, São Sebastião, uma vez cansada da posição de vítima, corporificada na imagem do herói flechado, amarrado num tronco de árvore. A realidade de 2024 é outra, São Jorge dominou o espaço público nos subúrbios do Rio de Janeiro, como um Santo com o qual todos se indentificam pelas batalhas, não apenas aquelas que usam armas em filmes medievais épicos, mas a luta do povo no seu cotidiano mais simples. A batalha de pegar o trem lotado pra trabalhar e ganhar uma merreca, a luta pra pagar as contas no final do mês, o número infinito de batalhas que vocês podem anunciar de viva voz, e que resumo aqui a uma coisa: a luta pela vida.

O ato de estar vivo é uma eterna luta, uma guerra contra a morte, e nesse sentido mais amplo, São Jorge é o Santo que oferece garantias de vitória aos que desejam viver dignamente, ainda que um dia. É esse caráter de crença viva que leva, necessariamente as festividades que irradiaram a noite e o dia de São Jorge. Deu meia-noite e os fogos já entravam em cena, acompanhados de balões que emitiam fogos de artifícios nas cores vermelha e verde, fazendo com que algumas crianças, ainda acordadas, achassem até que eram balões comemorando alguma vitória do Fluminense. Nada disso, era Jorge chegando em seu cavalo branco. Alguém sabe o nome dele? É certo que não se chamaria bucéfalo, pois esse já tem dono famoso.

Mas foi na dose dupla, as cinco e as seis da manhã, que assisti o firmamento de Jorge. Ao redor de meu ponto de observação, aconteceu um fenômeno equivalente ao da queima de fogos do Reveillon. Num crescendo e em duas etapas, uma balbúrdia incontrolável tomou conta dos céus. É certo que algum profeta, se estivesse vivo hoje poderia até confundir o momento com a segunda vinda de Cristo. No âmbito da Cidade do Rio de Janeiro, já está feita a escolha: o carioca vai guerrear até o fim.

E qual seria a logística, quem garantiria os mantimentos para alimentar a tropa? Afinal, a laranja sofreu aumento de 39% nesse último ano, e Zeca Pagodinho, que chegou atrasado na feijoada que lhe deu a música, não teria sequer o bagaço da laranja no fim da feijoada. O feijão foi parar na estratosfera, junto com o arroz, numa combinação pérfida do inimigo, que elevou seus preços em 28 e 22% respectivamente, só de 2023 pra 2024. A turma da picanha com cerveja tá de sacanagem, quando afirma que “a massa salarial” foi elevada. Adoram essa filhadaputagem, diante da luta frente a precariedade habitacional, envolvendo quase de 7 milhões de famílias brasileiras. Ou estão fudidas por terem casas que não poderiam ter esse nome, ou estão fudidas por não ganharem o suficiente para pagar o aluguel e honrar com as contas cotidianas. “O que será que será, que andam suspirando pelas alcovas?”, perguntaria Chico Buarque, se fosse mais jovem e menos alinhado ideologicamente. A domesticação atingiu a todos os que outrora eram anti-sistema, hoje comprometidos com ele.

Pulando de pau e com o cacete na mão, segue a boiada, comendo no cocho ou no balde. A cevada faz esquecer os milhares de problemas em casa. A solução pragmática não é o conforto do colo do menino Jesus, esperando resignadamente que a morte venha para nos salvar, enquanto nos mantemos narcotizados numa paz que nos mata cruelmente. Para a grande maioria da população brasileira, só o Pix salva.

Mas afinal, e essa tal de Lua? Como definir? Começo pelas 297 luas existentes no Sistema Solar? Há lista de preferidas? Devo dizer que vivo no mundo da lua ou pluralizar seus mundos e planetas? E quanto aos imundos, as más línguas, as incompreensões? Até aqui, o cálculo de fabricação do nosso sistema solar nos leva a 4,5 bilhões de anos da Terra. Cada lugar tem seu calendário particular. Qual é o seu? Seguir os passos da lua, pode ser a única forma de sobrevivência de certas espécies, em tempos de aquecimento global.

Se estivéssemos em Saturno, uma olhadinha para sua maior lua, Titã, cor sépia pela presença de metano e nitrogênio reagindo, com fortes tempestades de areia nos fascinaria, suponho. Por ali há forma líquida, mas não de água. Estranho tudo isso não? Um dragão que voa será lançado pela NASA em 2028 pra aumentar nosso conhecimento e incertezas. Um DragonFly só pode ser nome de quem não é devoto de São Jorge, mas certamente viu a simpática franquia “Como Treinar o Seu Dragão”.

Poderia passar duas semanas aqui, apreciando as belezas e partes sombrias, inexploradas de tantas luas por aí espalhadas, Phobos, Epimetheus, Callisto, Hyperion, Atlas, Janus, Pan, Rhea, são muitas e muitas formas e circunstâncias, uma vida não basta. Quem quiser que vá em busca da sua preferida, compre um bom telescópio e mergulhe nesse universo apaixonante que é o céu, com suas luas e variações de um  mesmo tema. Quem sabe inverter a lógica atual, que deu ao sol poder supremo, e reverenciar a sutileza da lua dons a serem redescobertos, possa reduzir a temperatura e as tensões em fluxo contínuo de nossas circunstâncias planetárias.

Olho para os olhos e vejo cada vez mais vidros prismáticos, desprovidos do banho de lua. Seres noturnos e sapiência podem salvar alguma coisa desse mundo destroçado e turbulento, entusiasmado com a ideia dos políticos lobistas de aumentar o uso do PIB para aquisição de mais armas para um Armagedon digno de Juízo Final, decretado por injulgáveis em fim de carreira, carvoeiros da caldeira da pulsão de morte.

Ainda há vida na Terra, Salve Jorge, feliz 90+1, seu Sá. Tudo que me foi ensinado, aprendi, justamente pra fazer ao contrário. E nos espírito dos anagramas, escrevi e desvendo, AS LUAS DE SAUL SÁ, é o próprio anagrama, no título de uma revolução, uma volta em torno de si, como a lua faz, examinando minuciosamente a Terra.

 

 

 

BODAS DE PRATA -1, DO GRANDE IRMÃO DO ROUND 6

Big Brother, O Grande Irmão. Na linguagem de rua, brother é o amigo. Nas Redes Sociais, amigo do Orkut virou seguidor. Essa rede social foi pras cucuias, mas o Google se tornou seu “Grande Irmão”, no sentido do acompanhamento de todos os seus passos, onde quer que você vá, nem precisa estar em confinamento, como na pandemia ou nos 100 dias na Casa Mais Falada do Brasil. Afinal, num país com mais de 230 milhões de celulares, ter o recorde de 230 milhões de votos na 24ª edição é um fato a se pensar. Uma rotina de 24 horas por dia, para quem participa, disponível para quem vê é de fato de enlouquecer. Pode até ser que não aconteça ao longo dos 100 dias, mas certamente deforma um país inteiro, em 24+1 anos de existência, uma verdadeira Bodas de Prata que celebro por antecipação.

Senão vejamos.

No BBB de número 1, fazia parte da época o atrativo de fuder por embaixo do edredom. A expressão se tornou lugar comum, aquilo que você não via, imaginava do Oiapoque ao Chuí. O vencedor, Babam se notabilizou com um bordão, e chegou esse ano desafiando Popó, campeão mundial aposentado desde 2017, para ganhar muito dinheiro e ser vergonhosamente nocauteado. Ano após ano – pelas mãos da dona do formato, a ENDEMOL –  o reality foi ganhando versões que mais se pareciam com um trecho daquela música do Raul Seixas, uma metamorfose ambulante.

Logo após inaugurar bombadões com edredom, embarcou com Caubói num Brasil profundo, essencialmente sertanejo, de chapéu de vaquejada e sotaque ao estilo Barretos. Colhe os frutos das festas de interior, transmitindo os shows em sua grade, a maior identificadora de tendências do país. Demora mas não falta. Na 3ª edição revelou a estrela Sabrina Sato, notabilizada pelo Pânico mas que é a maior performática do mundo da moda, incluindo programa na Globo e presença nas pistas do samba. Um talento unânime agregado de simpatia. Perdeu mas ganhou.

Coube a 5ª edição, comprovar a utilidade política do programa em função de posicionamentos de minorias e uma enorme audiência para majoritárias, que dali em diante se capilarizaram. Foi Jean Wyllys, ao lado de Grazi Massafera que formaram a dupla paz e amor ao final, levando a moça ao estrelato como atriz e Jean ao Congresso Nacional. Quem pretende se candidatar deve urgentemente aprender com os realities dinâmicas ágeis que a casa oferece. De fato, tudo muda o tempo todo agora.

As mudanças não seguiram juízo de valor, apenas uma experiência sobre comportamento humano, projetada para alimentar projetos mais ambiciosos dos donos do mundo. Assistir reações em tempo real e medir as reações de uma parte significativa da opinião pública de um país inteiro tem um valor econômico ainda não avaliado. Já lá pelo ano de 2006 uma das coisas que mais ouvia eram pedidos para preenchimento dos formulários online para inscrição no BBB. O sonho de se tornar da noite para o dia uma celebridade está presente na maior parte dos jovens, uma vez que os mesmos encontram-se encurralados, sem acesso a empregos com salários dignos, que preservem nos de melhor imagem, aquilo que preservaram pelos bons cuidados na adolescência. O maior valor da imagem é retratado pela ausência de uma parcela de desdentados da nossa população, inclusos aí os remanescentes Yanomami. Certo que estão no DNA da representante de Manaus, que conquistou o 3º lugar na competição desse ano. Apenas mais um belo exemplo da falta de representatividade do reality. Ou será que paira alguma dúvida quanto ao vencedor Diego Alemão do BBB 7 e a disparidade entre ele e a realidade social brasileira?

Uma das disputas que acompanhei por dentro foi a do então artista plástico Max e Priscila. O dono dos bonecos de qualidade Hollywood suou para ganhar da queridinha de Bial, que escreveu seu texto consagrador na Revista Playboy. Era impossível trocar a preferência por uma gostosona a favor de um artista apoiado por uma turma de Guerrilha Cultural, com poder de fogo nas redes sociais. A vitória foi nos pentelhésimos. É certo que o trabalho de edição já manipulava bastante o fluxo das narrativas.

Me permito aqui um salto quântico, quem quiser mais que compre a consultoria, e chego ao BBB 20, com Thelma enfrentando a Rafa Kalimann, numa daquelas finais de triunvirato feminino. Um ensaio preparatório para criar um sucesso de laboratório com uma mulher quase perfeita, a Juliette. Coube a ela vencer o maior talento do BBB 21, o Gil do Vigor, garoto propaganda de Deus e o mundo. A saúde física e mental são ainda difíceis de se controlar, as empresas fazem de conta que tá tudo bem…

Embora tenhamos a Constituição cuidando da transparência dos dados públicos, graças a lei LAI e a garantia de privacidade prevista desde 2018 pela LGPD, todos os dados coletados ao longo do processo desenvolvido nesses 24 anos não passam nem por perto de um questionamento legal, uma investigação sobre a forma de uso, uma auditoria internacional mais séria. Não dispomos de instrumentos mínimos de soberania, ou de freios ao processo de uso dos dados para interferir nas opiniões via Redes Sociais. É uma zona. O Big Data, o Data Science e a IA passam ao largo dos olhos das autoridades. Não entendem do que não sabem, não cogitam o que desconhecem. Não assistem BBB.

As “quase” Bodas de Prata do BBB trouxeram um choque de realidade. Estamos atravessando um momento dominado pela lógica do tiro, porrada e bomba. Não houve fairplay, as regras garantiram a guarda baixa, me lembrando Jogos Vorazes e Round 6, que se tornou a série mais vista da história da NETFLIX. Creio que transformar o país numa espécie de lugar do vale tudo não é novidade. Já ocupamos esse lugar. Agora é assistir, brother.

 

 

 

MEU CARO AMIGO, SEM PERDÃO E SEM FAVOR

Meu caro amigo, nessa viagem de final de semana, não pretendo parafrasear a genialidade desafinada do Chico Buarque. Apenas começo, como se fosse uma carta, lamentando a ausência. Sei que estarei longe de você, por diversas razões. É que andar de bicicleta, nadar, escrever, ir a cenas de espetáculos, sem interrupção, cobra seu preço. Uma semana que valeu por cinco. Novas rotinas, seres vivos importam, tempo que se dedica, muitas vezes exige cortes de pequenos atos cotidianos. É inevitável.

Você tem razão em não se sentir motivado para assinar certos camarotes, incompatíveis com a sua trajetória. Mas nada contra ir pro meio da massa, ouvir o coro daquelas letras que você não sabe uma frase. Hoje é facinho, só precisa saber o nome da música com o uso do Shazam e procurar a letra no Spotify. Ah, mas você não sabe cantar, eu lembrei. A solução então é falar da “experiência musical”, de uma perspectiva antropológica, mesmo sem se-lo. Sei lá, as roupas dos presentes daquela tribo, ou os hábitos etílicos dos presentes, preço das bebidas, etc. Faça ali um bom trabalho de cobertura e deixe as suas impressões. Sua história permite.

As promessas de Sexta se cumpriram com sobras, num encontro artístico saudável e despropositado, desses sem compromisso com audiência, sucesso ou lucro. Não que isso seja proibido ou não possa acontecer, mas é que o propósito é outro. O movimento de que situa a rua como um lugar legitimado para intercâmbios e trocas de gente interessada em se expressar, realizando Saraus onde a música, a poesia, as artes plásticas e formas mescladas de manifestação humanas possam se expressar é digno de nota. Para o Sarau do Calango, levei uma experiência que foi provocar reflexão a partir da adulteração da letra Caçador de Mim, como ponto de partida para abrir o convite-desafio aos presentes para participação no concurso para o samba cujo tema desse ano na Portela será Milton Nascimento. Sinopse na mão e calendário, o lance é jogar a turma na roda e ver o que vai dar.

O sábado que aparentemente seria ocupado por mais uma edição do Festival Geração 80, foi bem além disso, mostrando que nesse seu 18º aniversário, essa legião de amantes da música daquele momento, atingiram seu maior nível de realização. Com representações, quase simulacros de Renato Russo e Raul Seixas, os intérpretes proporcionaram um revival de enorme potência saudosista e utópica. Mas como disse Guilherme Lemos, do alto de sua lucidez, a presença dos “construtores” no palco, fizeram total diferença, pois Toni Platão, Marcelo Hayena, Avellar Love, Sylvinho Blau Blau, invocaram os deuses da década de 80 e entregaram histórias e recados ainda pertinentes para esse ano de 2024. A produção pode finalmente se lambuzar numa ótima torta de chocolate, fazendo coincidir o aniversário com o aniversário. Lágrimas e sorrisos se espalharam pelo estacionamento do Shopping, que descobre assim, para além dos corredores consumistas e sem relógio uma vocação ancestral, a conexão com as ruas via estacionamento. É muito provável que uma das intenções de transformar a Fábrica Bangu em uma mistura de Museu e Centro Cultural da Zona Oeste do Rio de Janeiro, se materialize décadas após essa luta ter sido travada, pela compreensão de que essa infraestrutura existe para cuidar da sociedade em seu entorno e de seus interesses de lazer. Lugar melhor não há.

Da minha parte, no domingo, fui obrigado a optar pelo conforto do sofá – exausto e virado que estava – de onde fiquei assistindo a 1a rodada do brasileirão. Contando com amigos em São Januário, e vendo a justíssima homenagem ao aniversário de Roberto Dinamite, o maior artilheiro da história do brasileirão. Desde que interrompi minhas visitas aos estádios, por meio da Associação de Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro – e mesmo antes disso – costumo assistir com alguma simultaneidade, as partidas que somadas, podem resultar em pelo menos uma. O tempo de bola improdutiva no futebol exige de quem assiste alguma criatividade para superar a esterilidade na qual estamos mergulhados. O atraso vai nos engolindo, sem sentirmos.

Já antevejo que nesse 2024, será um verdadeiro pega pra capar, sem escrúpulos, uma questão determinada por distâncias orçamentárias abissais.  É impossível misturar orçamento de pelada com orçamentos e comportamentos de padrão europeu. Times que ascenderam de divisões inferiores tem elenco e riscos menores que agremiações em que os atletas valem milhões. Colocar uma Ferrari pra andar numa rua de barro, usar terno a pé em estradas cheias de lama, absurdos praticados no país que não se vê.  O número de pernas de pau complica mais ainda essa equação. Há uma forte tendência em se querer substituir futebol por UFC, coisa de quem não acompanhou a evolução e não assiste o praticado nas melhores praças. Campos de futebol em condições incompatíveis com o nível de qualidade dos melhores espetáculos, me fazem pensar sobre essa palavra: espetáculo.

Uns caras pensadores atribuíram problemas ao modo como os espetáculos são manipulados em ambientes totalitários ou privados, o que se chamou de Sociedade do Espetáculo: “Na sociedade capitalista, o poder espetacular está disseminado por toda a vida social, na qual há simultaneamente produção e consumo de mercadorias e de imagens, constituindo-se na forma difusa desse poder, conforme definição dada por Debord em 1967, ou ocorre vinculado à ação do Estado, de forma concentrada, com a produção de imagens para justificar o poder exercido por seus dirigentes.”

Pra nivelar, jogo de tabelas sobrepostas, e o Flamengo, como falei, terá 6 jogadores titulares fora nas datas FIFA. Com o dinheiro que tem poderia ter 3 times pra resolver. Poderia. Em lugar disso,  vai chorar.
Quanto ao show perdido – que já assisti na Marina da Glória –  optei por substituir pelo maior Festival de Música da Califórnia, no deserto, que nessa edição, pelas mãos da Beyoncé levou Ludmilla. O bagulho é doido, estamos atrasados milhões de anos, mas temos as melhores platéias do planeta. A cena da produção musical evoluiu. O que vemos aqui é quase um artesanal acústico. Já nas pistas, um espetáculo audiovisual que dispensa psicodélicos.
Aqui, palcos e telões gigantescos, vaZzzzZios de arte. Precisamos de muito mais. Ver as Flores com DJ Snake e uma representação de Bansky ao lado de ET’s foi transcedental, genuinamente belo, sem trocadilhos. Agora, quem lacrou foi Doja Cat, ponto no fim da linha, algo a ser estudado. Ocupou integralmente o palco merecido, uma aula de espetáculo, recheada de arte.

MANDA QUEM PODE, DESOBEDECE QUEM DISPENSA O JUÍZO

O mundo vem sendo comandado por descumpridores da lei. Essa é minha máxima, meu algoritmo, meu diagnóstico. Podemos começar pelo descumprimento das leis internacionais, seja no caso da invasão da Embaixada do México no Equador ou do bombardeio atribuído a Israel a outra Embaixada, classificada como QG de um Comando inimigo.

Anos atrás, assistimos ao ato promovido por um ex-Presidente dos EUA, incitando seus eleitores a invadir o Congresso Nacional, num espetáculo sombrio associado a um mal perdedor. A cena se repetiu, sem qualquer criatividade no Brasil.

A desobediência a recomendação de cessar-fogo em resolução da  ONU de nada adiantou para que a Guerra em Gaza fosse interrompida. Mesmo com a repreensão do seu principal aliado e fornecedor de armas e voto favorável na ONU, ir adiante solitariamente e isolado parece não incomodar desobedientes poderosos.

A justiça e seus mecanismos aparecem cada vez mais frágeis, pouco efetivos aos olhos do cidadão comum. Do contrário, como explicar a certeza de impunidade sob a qual se escondem os detentores de imunidade parlamentar no Brasil, que tiveram inclusive suas prerrogativas ampliadas em recente votação no STF? Atualmente o sonho de consumo dos maiores criminosos nacionais é alcançar uma cadeira no Congresso Nacional e se perpetuar ali, seja pelo preço que for, custe o que custar.

O Brasil é apenas um pedaço desse lugar, que podemos chamar de Terra de Ninguém. A reprodução das mesmas práticas executadas em território estadunidense, durante período eleitoral, que promoveram de forma persistente o desenvolvimento de uma comunidade de haters, inexistentes no período que antecedeu a ascensão das redes sociais. Lembro-me perfeitamente da importância e da responsabilidade da função do moderador de grupos, nas listas de grupos de discussão. Era um outro tipo de ambiente. Na ocasião em que implementei os grupos para uso em Universidades, ficou claro que sem esse filtro básico de civilidade o ambiente poderia se tornar uma espécie de pandemônio.

Esse momento chegou, vivemos num ciberespaço tóxico, deliberadamente “pandemonizado” por interesses extremistas. De um lado o falso moralismo que pretende proibir a exibição da Estátua de Davi, personagem bíblico, por ter sido esculpida em corpo nu. Do outro lado, a indústria pornográfica americana e a cidade de Las Vegas com gordas indenizações para que se mantenha em segredo as travessuras dos poderosos que podem pagar para fazer o que quiserem.

As Redes Sociais são o lugar determinante para a formação da opinião pública e circulação de fatos inaceitáveis. O bloqueio ao uso das mesmas segue a lógica dos territórios ditatoriais. Na lista temos os mais óbvios: China, Rússia, Coréia do Norte, Irã, EUA. Peraí, você leu que os americanos estão nessa lista? Sim. Decidiram recentemente que o Tik Tok, rede social chinesa usada por 180 milhões de americanos, tem três meses para se tornar uma empresa americana, sob pena de ter seu aplicativo retirado das lojas que o distribuem. Essa medida mataria a capacidade competitiva da Rede Social chinesa em solo americano. É assim que funciona.

Então vamos entender o quadro de competitividade do Mercado de Redes Sociais e seus respectivos donos. A Meta, com ações hoje 506; valor de mercado 1,3 US$ trilhões. Compreendida como a soma de 3 Redes Sociais usadas no Brasil: Facebook 83%; Instagram 91% e WhatsApp 93%. É certamente a empresa com maior força de influência em nosso território e já esteve envolvido em escândalo de fornecimento de dados para manipulação de eleições por tudo quanto é lado. Não incluí o Threads, que também pertence a Meta, e que foi criado para ocupar o vácuo deixado por ocasião da compra do Twitter por Elon Musk. Na realidade esse aplicativo está sendo incorporado ao WhatsApp para acelerar de um outro modo o povoamento e crescimento de sua base de usuários, pois esse é o fator determinante ao sucesso de uma rede social na bolsa de valores e para captação de investidores.

Na pegada do Meta, temos o russo Telegram, objeto de uma extensa negociação de posse e segredos, que levou seu criador a sair do lugar onde morava para viver feliz sem se meter nos negócios de natureza política que o aplicativo pode promover. Foi nesse aplicativo que Moro e Dallagnol se enroscaram, crendo em privacidade absoluta. Trata-se de um WhatsApp mais elitizado, utilizado por 57% dos brasileiros, mais corporativos e em atividades “sensíveis”.

 

A seguir, o chinês Tik Tok, utilizado por 65% dos brasileiros, com o CEO Chou Zi Chew tocando o barco. Com a peculiaridade de ser a base de maior velocidade de crescimento, em especial entre os jovens, o que não é objetivo dessa conversa detalhar, mas pode ser pesquisado por quem interessar. Seu destino esse ano depende dos acontecimentos nos EUA.

O X, ex-Twitter, de uso para fluxos instantâneos de informação, substituiu Centrais de Editoria Jornalística e a função do Porta Voz de Presidentes ou candidatos a cargos políticos. Instrumento poderoso, elegeu Trump. Em estado quase falimentar e sem uma rota de desenvolvimento clara, foi comprado por Elon Musk, com a promessa de que destruiria toda e qualquer moderação por parte do veículo no qual manda. Uma atitude parecida com a do comprador de um carro, que não tirou carteira de motorista e decide que seu carro pode usar as ruas públicas da forma que bem entender. Acontece que existe as leis de trânsito, as placas são internacionais, inclusive para veículos elétricos de uma outra empresa, a TESLA.

Na outra ponta desse iceberg político, abre-se um outro flanco com a criação da Rede Social Truth (DJT), apropriação sem medidas da palavra VERDADE. Fui colaborador de um jornal em Teresópolis com esse nome, “A Verdade de Teresópolis”, nome forte, que exigiria por parte dos donos uma enorme responsabilidade. O candidato em questão, que já atacou o Tik Tok em sua passagem pela Casa Branca, hoje é inimigo da Meta, a quem considera inimiga pública da sociedade americana. Há muito a se conversar sobre essa mudança de posição e os apoios financeiros de campanha.

Como encontrar a verdade de um lugar? Nunca cheguei a essa fórmula, acredito que os donos também não, mas há certos nomes que provocam certos efeitos na esfera pública. As mentiras ganharam o nome de fake news e os mentirosos mentem sobre suas próprias mentiras ou sobre verdades, tornando o lugar da informação um lugar sem credibilidade. De fato, quando a informação qualificada impõe respeito, alguns ganham poder, outros perdem. E nesse caso, o melhor é eliminar por algum meio qualquer tentativa de produção qualificada de informação ao público, porque ela acaba tendo a capacidade de distribuir o poder.

Portanto, as redes sociais são hoje esse lugar de disputa entre o poder dos donos, que desejam a centralização do poder, baseada em suas opiniões, simplórias ou sofisticadas, e a disseminação do conhecimento baseado no método de validação por pares. Dito de outra forma, a lei exige o bafômetro, o poderoso considera desnecessário para efeito de sua vontade de ser livre para atropelar embriagado e sair impune. Chega a ser ridículo ter que participar de debates públicos desse nível. Mas é isso que assistimos, está acontecendo. Uma pobre coitada copiou e colou uma imagem com dois desenhos, um representando Xerxes e o outro Gladiator ou algo do tipo, “afirmando que a imagem já dizia tudo”, quando na realidade a imagem é do tamanho do vazio semântico da reflexão acrítica sobre o absurdo e bizarro de que trata.

A dispensação do juízo esquece, premeditada e propositalmente que em seu lugar teremos não mais marcos regulatórios, mas a máxima da lei do mais forte, um atraso de aproximadamente 800 anos em relação a criação do conceito de Estado.

Falando em Estado e Constituição, é importante avisar que existem duas leis que regem as atividades no mundo digital no Brasil. A primeira é a LAI, Lei de Acesso a Informação, que em linhas gerais dá o direito ao cidadão de ter acesso a informações sobre questões da Esfera Pública, garantindo a transparência de compras, licitações, editais, entre outros assuntos. Está muito mal operacionalizada, para um cidadão exercer esse direito é um parto, algo difícil de acreditar, pior que fila de atendimento de paciente de câncer no SUS. O camarada morre antes, demonstrando aí a distância entre a lei e sua aplicação. A segunda é a LGPD, de 2018 e portanto mais recente, que trata da privacidade dos dados dos cidadãos, frente as coletas massivas feitas pelas empresas públicas e privadas. Garantir que esses Big Datas não serão utilizados para atos persecutórios, práticas de extermínio e ações discriminatórias são apenas alguns exemplos do mau uso atualmente em curso. Nesse sentido, qualquer empresa em atuação em território brasileiro, não pode ser aproveitar de brechas e vulnerabilidades de nossa infraestrutura para levar vantagem ou impedir a atuação e aplicação das leis vigentes no país.

Não será uma Corte Internacional ou mesmo o julgamento numa cidade qualquer americana, como por exemplo a Califórnia, que irá decidir se a empresa de lá, atuando aqui, fornecerá ou não informações para a justiça, sob pena de conivência com práticas ilícitas de grande magnitude e prejuízo a organização social do Brasil. A quem interessa o bundalelê? Sabemos todos. Aos que almejam extirpar do país a sua Soberania, transformando-o num flagelo sem bandeira, só a dos piratas e saqueadores. Esse modelo de neocolonialismo a gente já conhece, e é verdade, estamos muito vulneráveis a isso.