A Grande Família e a Gastronomia


Zapeando a variedade de programas com continuidade na televisão, considero “A Grande Família” como disparado o melhor. Fico me perguntando que competências um diretor de Núcleo de Produção precisa para reunir um elenco com a sintonia que vemos na realização de cada capítulo.

É uma fórmula meio assim: cada artista aparece com tamanha naturalidade que torna completamente crível cada cena, cada gesto, cada ação. Alegria ver essas pessoas realizando com esse grau de perfeição cênica.

Num mesmo plano, vejo a qualidade do roteiro. E esse último então, bateu muito forte. Quanta habilidade para reunir com inteligência elementos que compõe a dualidade entre o certo na disciplina espartana ao se alimentar e o prazer da vida cotidiana cultural de quem come e é feliz.

A ideia de apresentar o conceito de “reeducação alimentar” para uma futura geração de bebês, a partir da presença de um pastel estragado comprado numa lanchonete, logo depois vingada por um agente da vigilância sanitária, foi simplesmente uma teia montada por gênios também de grande harmonia na arte de escrever. O que mais me tocou nessa composição foi a capacidade de aglutinar:

1 – Total realismo na abordagem do assunto “Alimentação Saudável”

2 – Enorme didatismo maquiado de arte, inclusive na forma moderna de edição adotada para as cenas de treinamento do dono da pastelaria

3 – A presença de um tipo de humor que considero do maior grau de qualidade. Muito divertido mesmo, sem que os atores precisem “se rasgar de rir” ou assumir uma condição “caricata”, como é o caso de programas com formatos do tipo “Zorra Total” ou “Casseta e Planeta”.

As vezes, o público cansa de rir, quando se vê sendo forçado a fazer isso, por essa overdose de “riso”. Vejo nessa maneira, um respeito ao direito da espontaneidade da alegria. As risadas diante daquilo que nem é exatamente apresentado como tão engraçado é quase um paradoxo. Marco Nanini é tão sério em seu personagem que as pessoas em casa se mijam de rir. Marieta Severo é uma “cabeça d’água” com estrondo na floresta, arrastando o que estiver pela frente.

Sinceramente, se hoje fosse fazer programas educativos para a área de serviços gastronômicos, de cara utilizaria esse Programa e distribuiria uma cópia para cada funcionário assistir. Numa segunda etapa, realizaria um projeto de parceria entre o Núcleo de Produção e uma associação de treinamento para restaurantes e serviço de vigilância sanitária. Daria muito certo adotar o “padrão de linguagem” e “formato”. Mas não basta copiar. A chave é a química do Núcleo de Produção.

É impossível copiar o talento, quando o assunto é criação do novo.

Adoraria incluir nos programas de reeducação alimentar e saúde pelo alimento, vídeos como esses, que abordassem antes de tudo “o drama humano” em todas as suas vertentes. Abrindo assim o leque de diálogos com posições extremas nesse campo, tal qual o higienismo do Spa Maria Bonita, as dietas lacto-vegetarianas dos Hari Krishnas, a feijoada da Portela, os sucos dos Reis do Suco do Centro da Cidade do Rio de Janeiro, entre outros, dentro da pluralidade de usos e prazeres naquilo que se ingere e “alimenta” em cada cultura.

Claro está também que o “Conselho de Nutrição” da Alimento Cultural, que distribui cultura para os desnutridos culturais do país (incluso aí nossos governantes em estado de “inanição cultural” e “canibalismo predatório” da atitude pensante) , devem ser objeto de uma Ação Contra a “Miséria de Conteúdo”.

Um bom exemplo de uso inteligente e possíveis usos desse resultado genial é o Programa “A Grande Família”. Vida longa para um grupo que decodificou a estrutura basilar das famílias, essencialmente suburbanas da cidade do Rio de Janeiro e traduziu sua filosofia para o público brasileiro com tamanha arte!

Que meus parceiros e donos de estabelecimentos gastronômicos aprendam essa “lição” e o país seja cada vez mais saudável e assim, uma bela grande família.

Vladimir Cavalcante
New Executive Officer AREEVOL

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