Sombria, é a palavra. Em lugar de “um minuto de silêncio”, em respeito as perdas, a melancolia invadiu a cena do Japão. Ficou difícil segurar. Não fosse minha imunidade a depressão, sairia dessa cerimônia direto pra algum consultório médico. Uma obra sem muito nexo, mais para o fim do que para o início, resultado das trocas e mais trocas realizadas na direção artística que efetivamente não comandou o evento.
Longe da alegria demonstrada na RIO2016, que prometia muito lá em Tóquio, os japoneses entubaram os Jogos e deram uma resposta de enorme má vontade, ainda que inconsciente. Não quer fazer, não faça. O problema econômico já estava dado, aliás bem antes, ultrapassados pela China que foram. Num regime de estagflação dolorosa e continuada, a pandemia só piorou a coisa. Os Jogos preparatórios com seletivas de LIMA2018 foram anos-luz mais energéticos do que o exibido hoje.
O Japão, no canto do ringue, se apequenou, passou vergonha. Quatro Diretores Artísticos e um Funeral. Uma descontinuidade que só pode ter sido importada das demissões continuadas que assistimos em clubes brasileiros. Fiquei passado, graças a Deus não fui testemunha presente desse vexame. Me perguntava, ainda sonolento, as razões daquilo. Encontrei pelo menos 5 justificativas.
O Japão é uma nação conservadora. Ilhados em muitas ilhas, distantes das relações continentais mais complexas, me lembram as formas vivas desenvolvidas nas Ilhas Galápagos, onde Darwin encontrou homogeneidade, tradição e estagnação no processo evolutivo das espécies. A metáfora se aplica. Imagine esses, naturalmente isolados por barreiras geográficas, agora mais isolados pelo temor que uma doença de alto grau de contágio? Se isolaram, física e mentalmente, muito mais.

Com razão, um segundo fator pesa. Sua população é composta de 30% de idosos. É o maior índice do mundo. Num país com hábitos que zelam pela qualidade de vida, a maioria vive muito mais do que em países de condições precárias, como o nosso. Exatamente por isso, e sabendo da preferência da COVID por grupos com sistema imunológico debilitados pela idade, obriga ao reforço de preocupações e barreiras. A população japonesa que não quer as Olimpíadas tem nesses 30% um grupo expressivo.
Numa terceira frente, o conceito-chave atribuído ao estrangeiro, chamado de gaijin, que bem poderia ser também chamado de kaijin, nesses tempos monstruosos. O estrangeiro é visto como inferior. No imaginário cultural, um estrangeiro é na verdade um portador potencial de uma arma biológica mortífera, mais letal e invisível que a bomba atômica, com a qual o país já conviveu no século passado. É claro que ter seu território “invadido” por cerca de 206 países é assustador, desnecessário, inoportuno. Assim pensa o cidadão comum.
Há um quarto elemento. A xenofobia de raiz, presente na mentalidade e cultura japonesa. Não são exclusivos nisso, aliás o mundo vive essa onda com grande volúpia, e de forma explícita, recentemente. Os regimes nacionalistas avançam, como se deu justamente na II Guerra Mundial. Barreiras e muros, desnecessários por lá. Já há o obstáculo linguístico, quase indecifrável. O Japão é outro planeta.
Não poderei deixar de fora a homogeneidade genética. Peguem a genotipia, façam testes de genotipagem de um grupo de japoneses e entenderão melhor o que digo. Não se limitem a forma, que por si só, morfologicamente já acusa essa padronização. Em qualquer ambiente biológico, o contraste evidencia a diferença. Para o bem ou para o mal. Não adianta querer negar o óbvio.
O Japão, logo no início da pandemia, foi um dos primeiros países envolvidos na disseminação COVID, proximidade com a China, ponto de origem, episódio do Cruzeiro, adoção de máscaras em lugares de grande intensidade de público, tal como metrô. Lembro-me bem disso, são muito cuidadosos, não seria diferente agora, só porque o Comitê Olímpico Internacional quer.
Não se pode comparar os 2 mil mortos por dia que o Brasil viveu em um de seus picos, com mais de 500 mil mortos, aos indicadores da Terra do Sol Nascente. Nos últimos 30 dias, observa-se um pico que eleva de 1.400 para quase 6.000 contagiados por dia e uns 10 mortos por dia. É claro que o aceitável por aqui é inadmissível por lá.
Nem mesmo o professor Yuno, Nobel e autor do livro “O Banqueiro dos Pobres” os salvou do vexame. Os três zeros: carbono, pobreza e desemprego como missão, já parece um projeto um tanto quanto defasado