DESTINO DO MARACANÃ, O FUTEBOL E O CARNAVAL – PARTE I

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A foto é do jogo Espanha e Chile, Copa do Mundo 2014. Foi no dia que os chilenos invadiram a área de imprensa e acabaram com a atmosfera de tranquilidade no Rio de Janeiro. Dali em diante, os níveis de segurança foram elevados e lá fomos nós, da alegria para um ambiente repressivo que tornava muito melhor ir para as festas em Copacabana.
Mas o assunto não é esse. Com uma legião de informantes sempre muito atentos, recebo sem surpresa a notícia de que um dos sócios do Rock in Rio, detentor de 40% do negócio abriu concordata. O CEO foi demitido, e será substituído por alguém que represente a nova orientação do grupo.
Vocês podem estar se perguntando, qual a relação disso com o Maracanã e com o futebol? Digo a vocês que toda. Afinal, o Eike Batista foi durante um grande período da nossa história recente uma espécie de “testa de ferro” empresarial do grupo Lula S.A. Montaram uma operação de alavancagem do país, altamente especulativa e dependente de ações dentro do governo, que entrou em parafuso, sobrevivendo em estado de putrefação a céu aberto, com direito a moscas varejeiras, baratas, ratos e mosquitos.
O Maracanã está prá jogo. Mas não me refiro aqui a jogos de futebol. Aliás, o futebol é o que menos importa para essa turma de peladeiros, pela-sacos e pelegos. Não me surpreende que no final do ano passado, em pleno final de campeonato brasileiro, times daqui tenham ido para outras praças, enquanto o templo do futebol mundial, segundo ponto de visita da cidade mais turística do Brasil, se tornasse palco para o show do Pearl JAM. Adoro a banda, mas sei que a cidade tem pelo menos 10 lugares onde isso poderia acontecer. Priorizar shows no Maraca em lugar da sua atividade fim é coisa de quem só realiza um capitalismo predatório de curto prazo, fudido que está, pelas lambanças que fez.
Sem opções, esse grupo empresarial se tornou em minha opinião inimigo dos investimentos públicos e principalmente nada confiável para preservar o maior patrimônio, que é a identidade internacional de um dos mais importantes cartões de visita do país.
Olhei para a tabela de futebol do campeonato carioca durante esse carnaval e vi recesso. Me lembrei do dia em que ao mesmo tempo que fazia a video-instalação para a rainha de bateria do Império Serrano desfilar com Einstein em seu tapa-sexo, assistia e fotografava um belo jogo entre Fluminense e Vasco. Desses que entram para a história. O público composto de amantes da bola e de turistas do país e do mundo era agradável e levaria dali imagens para que esse ciclo de virtuosismo se mantivesse.
Essa galera que assumiu a parada é disruptiva para o mal. Em busca de amealhar enquanto podem alguns trocados, seguem fechando para jogos e abrindo para shows. Nada contra o Thiaguinho no dia 9 de fevereiro no Maracanã, ou contra os Rolling Stones no dia 20. A questão não é ser contra os shows, mas estabelecer com clareza o conceito de uso dos equipamentos esportivos, sempre privilegiando sua utilidade primária. Do contrário o Maracanã pode virar, da noite para o dia, um Hospital, por exemplo, nas mãos de um partido xiita desses, com apelo popular, tipo Jesus ou Barrabás.
As concessões impõe seus limites, a democracia também. E há uma coisa que não se pode esquecer, mas muita vezes se atropela: a especificação funcional, o projeto de desenvolvimento estratégico de uma atividade de alto potencial, hoje em frangalhos por falta de uma condução da coisa que possa ser levada a sério. Tem gente sem papel higiênico, limpando a bunda com a cueca, empresarialmente falando.
É uma coisa muito parecida com o que já vem acontecendo com as Escolas de Samba e com o Sambódromo. Hoje, muitas das Escolas que frequento já deixaram de ter nos eventos de razão de existência, sua missão e essência, a base de decisão para o funcionamento. Vidrados nos números, as diretorias seguem por muitas delas, retirando a bossa do samba, deixando de ensinar o que é único para trazer o que está em outros lugares como atração principal. O negócio é pouca feijoada e samba e muita balada no espaço. É um outro negócio que micos, nos termos que vem sendo conduzidos. Um camarada que não consegue criar o seu BARRAMUSIC, pega uma Escola de Samba e tenta transformá-la nisso, garantindo uma rentabilidade, din-din no bolso e sêfini.
Nessa pirâmide invertida das nossas principais atrações no showbusiness internacional, vamos assim, por falta de competência interna na gestão e de culhão, perdendo espaço em mercado promissor e crescente. No lugar de craques e estádios cheios, nossos, vamos de Champions League e transmissões internacionais enlatadas para esse que é o único PENTACAMPEÃO DO MUNDO, BRASIL.
Enlatados estamos, enlatados fomos, sardinhas de BRT’s, Trens, Metrôs. Bater palma prá essa cambada, isso não dá.
A resistência está aí. Cabe exercer.

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