Do Cidadão ao Soldado Universal

Nos tempos de Karl Mannheim, pensador que colaborou para criar a sociologia do conhecimento, a noção de universalidade dos valores humanos se confrontava com a localidade dos costumes. É daquela época a noção de que dentro de homem universal, estaria a base de uma civilização com valores a compartilhar e dos quais nos orgulhar. Foi com esta ótica que genocídios e outros crimes foram cometidos pelos grupos humanos dominantes. A ideologia do centro do poder que sustentou um padrão contra a multiplicidade das formas.

Foi assim também, que a ONU adotou o direito universal do homem, daqueles que independem do lugar onde o cidadão nasce, cresce e se desenvolve. No entanto, a teoria social desenvolvida no século XX aponta para um totalitarismo inevitável, caso as sociedades se submetam a essa biopolítica, estaremos sendo normatizados e submetidos ao comando e as diretrizes de um poder central.

Essa governabilidade baseada num consenso sobre como todos os habitantes do planeta devem se comportar é sem sombra de dúvidas uma das formas mais supressoras da liberdade que a humanidade já vivenciou.

Todas as formas de realizacão humanas passaram a ser submetidas a uma espécie de conselho editorial internacional que dita, nas mais diversas áreas de produção humanas, os parâmetros e as métricas de desempenho. Essa cartilha homogenaizadora nivelou a humanidade a um cardume. Peixes seguindo a mesma correnteza, inexorável e de fácil adesão.

Foi daí que nasceu a idéia iluminista de homem universal, adotada pelas instituições do século. Foi daí que nasceu a inspiração para filmes como Soldado Universal. Neste roteiro mórbido, soldados mortos são reanimados para se tornar armas letais quase perfeitas.

Vivemos um momento em que o processo de unificação, aliado direto da globalização, encontra a resistência dos que buscam a preservação da diversidade. Qualquer idioma universal esteriliza a possibilidade de variedade linguística, por exemplo. Uma universalidade artística torna improvável a participação em mesmos termos de uma certa categoria de artistas, aqueles sem os meios de produção equivalentes aos disponíveis para os bem sucedidos e situados, por exemplo.

Assim, o deserto como ponto de partida para se chegar a floresta, vira o desejo fixado de se ter apenas a floresta como referencial de resultado. As normas estabeleceram como devemos nos colocar para alcançar a condição universal. A quem possa interessar, a localização do fazer, do dizer e do criar deve conviver, sem se submeter de forma colonizada aos detentores dos padrões universais.

A diversidade do olhar não combina com a unificação proposta pelas políticas dos Impérios. Sejam eles os Estados-nação, as grandes corporações transnacionais, as linguagens unificadas para modelagem de sistemas (UML) ou metodologias que necrofilizam o tecido criativo daquilo que mais enobrece os seres vivos.

A diversidade do olhar está na base do pensamento criativo AREEVOL.

Vladimir Cavalcante – New Executive Officer – AREEVOL

Deixe um comentário