U2 3D e Barão Vermelho

Numa dessas madrugadas de domingo, o Serginho do Altas Horas apresentava entre seus convidados o Barão Vermelho com Frejat e Cia. Um dos quadros do programa cuida de passar o primeiro clipe da banda. Ficou       então uma dúvida, colocada muito educadamente pelo Frejat. Qual poderia ser considerado o primeiro clipe. É que toda banda tem sempre uma dificuldade de definir seu início. Quanto ao fim, já é outra história.

Mas, politicamente, quando o clipe entrou e a marca da Globo apareceu, Frejat não teve dúvidas e afirmou: “é o primeiro clipe do Barão”. Nele, o atual líder do grupo quase não se via. Na época, usando óculos e sem muita expressividade dentro do grupo, ficou realmente ofuscado pela fumaça dos “efeitos especiais”.

No mesmo final de semana, me dei ao trabalho de ir ao cinema assistir numa sala 3D o primeiro filme de Rock com essa tecnologia. Produzido pelos Shapiros e dirigido pelo olhar artístico de Catherine Owens, o filme foi considerado uma obra de arte pelo NYT.

Nesse momento, lembrei-me do Frejat, coitado, considerando o primeiro clipe do Barão um verdadeiro lixo. E procurei identificar quais os motivos de uma distância tão brutal entre o que vimos na TV e o que assistimos no cinema. Mas a resposta não coube apenas em itens como orçamento, tempo de trabalho, recursos técnicos, linguagens, suportes, entre outros.

Procurei mergulhar nas raízes dessa manifestação que é o Rock. Vi uma banda irlandesa de alta linha de realização, situada no berço desse território, onde diferentemente do futebol, a exportação das competências depende de fatores como domínio de técnicas complexas e principalmente de uma linguagem e uma língua ainda não transferida para países latinos.

Na esteira dessa febre por realizar filmes de grandes grupos de Rock, tivemos em exibição no Brasil do circuitão do cinema os filmes sobre os Rolling Stones e Bob Dylan. Coisas bem diferentes enquanto proposta estética. No primeiro, o diretor buscou enquadrar numa cenografia controlada e aparelhada com câmeras projetadas para um set de estúdio de cinema. Uma espécie de Ópera Cinematográfica. Já o filme de Bob Dylan, segue um roteiro bem mais histórico, buscando compreender de forma onírica como se construiu o cantor e compositor protagonista.

O Rock brasileiro, coitadinho, ficou muito mal representado nesse campo, e a meu ver carece dos elementos que turbinam essa gênero musical nos lugares de origem. Acho que nossos filmes sobre Carnaval são bem melhor realizados e acredito que se alguma investigacão sobre linguagens pudesse ser feita para as rodas de samba e pagode, teríamos muito mais para mostrar sobre nossa criatividade do que o que foi feito em “Mistérios do Samba”.

É claro que quando Frank Sinatra comemora 80 anos, a estrutura industrial da máquina de produção americana se coloca disposta a produzir livros, shows, filmes, bonecos, festas e uma verdadeira idolatria de seu herói. Já o nosso Dorival Caymmi terá no máximo uma festinha numa boate inexpressiva com a presença de umas cinquenta pessoas batendo palmas e cantando animadamente “Feliz Aniverário”.

Nossa concepção de celebração de nossa identidade é simplesmmente rizível. Nossa tentativa de copiar a história alheia, pior ainda. Ser quem não somos, já basta a declaração de Renato Russo de que queria ser loiro, de olhos azuis e branco. Se fixou tanto no objetivo que acabou esquecendo que ele era ele mesmo: um brasileiro.

Vladimir Cavalcante – New Executive Officer – AREEVOL

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