DO JORNALISMO DO ESPORTE LOCAL À LITERATURA ESPORTIVA MUNDIAL (CARTA CONVITE AOS AMIGOS ESCRITORES)

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Sei que pode ser uma empreitada mal sucedida. E será. Sei também que da parte de muitos (tomara que seja a maioria) a incredulidade se manifestará. Mas ainda que tenham a verdade e a razão para enfrentar essa ousadia, os incríveis somos nós.
Faz algum tempo que visitei a terra dos donos de uma literatura soberana, que ganhou o mundo, menos pela cópia modernista dos bem nascidos de São Paulo e Cia. Brasilis e mais pelo toque de originalidade genial. Foi assim com Gabriel Garcia Márquez. Para os que quiserem reverenciar o idioma espanhol, só tenho duas recomendações: Miguel de Cervantes e esse parceiro da Colômbia, ganhador do Nobel de Literatura, por notável contribuição. Era, coincidentemente, jornalista. Mas não somente isso. Ambicionou um pouco além, uma certa liberdade autoral e dirigiu seus melhores esforços ao tempo da literatura, que continuará sendo o livro.
Quando escrevemos sobre esporte, é possível escolher muitas rotas laborais. Num final de semana, há tanto acontecendo, em modo contínuo, de relevância ou não num longo prazo, mas indispensáveis ao instante de quem assiste. Essa costuma ser a linha de objetividade comercial obedecida por quase 99% dos profissionais em atividade na cobertura de eventos esportivos. É disso que vivem, é para isso que são pagos, é esse o combustível econômico com poder comercial que sustenta os sistemas de informação existentes. É uma rota válida.
Mas existem outras. Afinal, o universo conspira para a pluralidade das formas e conteúdos. Cauda Longa, é assim que chamam esse fenômeno da relevância para todos, na nova economia do infinito. Há pensadores, literalmente putos da vida com essa diluição, que retira a densidade das formas escritas. Não estou aqui para fazer militância contra nada. Sempre achei que os cinco minutos de fama era uma fatalidade, para a imagem, texto, etc.
Por ler muitos jornais e revistas de toda parte do mundo, sedimentei uma percepção de que estão, todos os grandes, circulando em torno de assuntos correlatos e de mazelas locais específicas, sem entrecruzamentos de maior complexidade estética. Ou seja, como veículos de comunicação, perderam significativamente o poder de enriquecimento dos recursos literários e estéticos, sempre disponíveis.
E isso por diversas razões, que não se limitam a frase de efeito “porque não vende”. Trata-se de uma ambiência voraz, de profissionais muitas vezes extenuados, em outras com carga horária de sobrecarga, numa velocidade imposta mais para a transpiração. O resultado é quase sempre pouca inspiração. Acumular experiências para agrupá-las pode levar tempo.
Elevar suas ambições pode não te levar aonde imaginou poder chegar. Mas ninguém pode te impedir de querer chegar. Então, quando escrever um texto sobre basquete, por exemplo, não é preciso se espelhar tanto no modo americano de olhar para esse jogo. Porque isso eles farão melhor que você.
Lançar-se num mergulho pela língua e seus códigos, observar as referências simbólicas de alcance universal, conquistar um estilo literário com uma menor preocupação descritiva, pode levar você a ter alguma coisa diferente a dizer, e também a dizer de alguma forma diferente.
E no caso específico do esporte, aplicaria a consciência de ao escrever num mundo globalizado, uma LITERATURA ESPORTIVA MUNDIAL faça algum sentido. O conceito está lançado, o convite feito, um bom desafio, escrever local e ser lido global. Isso Gabriel e Jorge Amado conseguiram. Com ou sem Nobel.

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