EFEITOS COLATERAIS DE UMA SELEÇÃO NEGOCIADA DO BRASIL

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Nunca tinha visto duas imagens tão contrastantes. De um lado, Neymar, assistindo na arquibancada os amigos da seleção brasileira jogarem a sorte, ao lado de figuras célebres como Justin Bieber.
Do outro lado, Suarez, cuspindo marimbondos, que viajou no sacrifício para carregar o Uruguai nas costas, como costuma fazer, meio time que é, artilheiro disparado do mesmo Barcelona de Neymar. Soca, vocifera, reclama com a sua Comissão técnica, por não ter ido para o jogo que desclassificou a Celeste.
O que essas duas cenas nos ensina sobre o que está acontecendo com a seleção brasileira? Uma delas certamente aponta para a ausência de brasileiros genuínos. Mas não apenas isso.
Um calendário confuso. Enquanto a Eurocopa 2016 começa após o jogo final da Champions League e de todos os campeonatos locais dos países europeus, assistimos com as orelhas em pé o Centenário da Copa América justo no momento em que o Campeonato Brasileiro começa!
Como justificar as contratações milionárias, incluindo jogadores de países sul-americanos, para que não joguem? A lista é enorme. Não gastarei o seu e o meu tempo na lista que o Gilmar preparou com suas ligações “implorando” para que aceitassem. Isso qualquer um que quiser pode fazer. Quero me concentrar nos efeitos colaterais.
O campeonato brasileiro é o mais equilibrado do mundo. Disputado ponto a ponto, como se fosse mesmo uma final de basquete do NBA, quem cochilar no início, pode dançar no fim. A contabilidade não é favorável a CBF. Enquanto a garotada está aí, comprando geladeira e TV para se casar com a grana do CARTOLA – propaganda principal do site da GLOBO – rodada a rodada, somos obrigados a acreditar na relevância das partidas de um Brasil distante do povão.
O torcedor brasileiro, está aí, incendiando – as vezes literalmente – os estádios pelo país inteiro. Vale vaga prá tudo quanto é coisa. E olha que nem falei da Copa do Brasil! Aí, meu amigo, num mata-mata de dois jogos, esses jogadores afastados podem derrubar as chances de atalho para a tão sonhada vaga para Libertadores.
Quero tratar de um assunto em específico. A invencibilidade do Vasco da Gama. Imaginem substituir um Martins Silva no gol! Como realizar essa proeza, num time com elenco encaixadinho, cujo ponto forte era seu forte bloqueio defensivo, leia-se segurança de Silva. O Jorginho perdeu a chance de entrar para a história, mesmo que de forma questionável – está disputando a segunda divisão – por causa da convocação para a Copa América de seu alicerce no gol. Não tenho dúvidas disso.
As colateralidades estão aí, cada um de vocês pode encontrar a sua. O nível de precariedade de nossa organização é evidente, e deveria proporcionar uma janela de oportunidade. Se a Eurocopa e a Copa América fossem em épocas diferentes do ano? Com calendários “dissociados”, os “locais” poderiam compor a seleção brasileira, fora do período das competições internas, o torcedor poderia torcer por jogadores de seus times locais e o futebol poderia voltar a construir uma relação de identificação mínima com os brasileiro daqui.
Os de lá, que me perdoem, já não se comportam como se fossem daqui, perderam a raiz, mas posam como muitos como salvadores da pátria, acima de todos, seres superiores que são, podem dizer quando vão jogar, em que termos. Me lembram os atores de cinema, definindo em cláusulas contratuais quantos beijos vão dar na mocinha. Há inclusive os que preferem garantir que não darão nenhum.
As competições por essas bandas tem mais virilidade. É América Latina, há sangue latino. Não sei se um He-Man enfrentaria a parada com sangue quente, melhor que os convocados, deixo a provocação. São tantas competições e temos tantos cenários e opções que poderíamos criar umas vinte alternativas. A galera da Copa América não precisa ser a das Eliminatórias, que não tem relação com a turma Olímpica. Uma atmosfera de maior competitividade, rotatividade, ampliação de oportunidades da vitrine de mercado. Bem diferente de ver uma CBF implorando para ter jogador.
A palavra “comprometimento”, que já critiquei aqui em artigo anterior, vem sendo usada como clichê. O Draymond Green, que foi suspenso do jogo 5, nem dentro do estádio pode ficar… O rigor como um atleta do NBA é tratado, comparada com a frouxidão da nossa condição atual, de uma CBF que goza de pouco ou nenhum respeito na atualidade, isso sim, “compromete” a consistência de nossa combatividade. O futebol é uma guerra entre civilizados. E o Neymar vai ficando cada vez mais parecido com Justin Bieber do que com o Pelé. Creio que há uma diferença.

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