UM CERTO FLUMINENSE DE UM CERTO TORCEDOR

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Foi com esse amigo da velha-guarda tricolor que vi alguns lances da história do time das Laranjeiras passar. Não pelos meus olhos, mas pelos dele. Trata-se de uma espécie em extinção. Desses que vão para o quarto, concentrar-se em dias de jogo. Já não frequenta os estádios. Até poderia. A idade já permite no Rio de Janeiro a gratuidade na entrada. Mas a televisão e o conforto e segurança do lar falam mais alto a uma certa altura da vida.
Um figurino completo, uma alegria na vitória ou na derrota, uma certeza de ser o melhor, mesmo quando há dúvidas semeadas pelos antagonistas. O torcedor tricolor já nasce com uma certa vantagem sobre os demais nascidos.
Um tipo de torcedor-olheiro, sempre atento a prata da casa, foi quem me avisou sobre Gerson. Que em suas primeiras aparições fez chover e depois sumiu, no chinelinho clássico de quem já havia sido negociado rumo “a um lugar melhor”. No mundo de hoje, há certos atletas de potencial que já chegam pensando só em conquistar o mundo. A própria casa não existe. Mas o seu Carlos não liga prá isso não. Dá moral prá garotada de Xerém, quer mesmo é ver a evolução e todo mundo se dar bem. Afinal não deixa de ser a continuidade daquilo que projetou para seu filho bom de bola que não teve a melhor sorte e nenhuma paciência para esperar a roda da fortuna girar a seu favor.
Foi com essa figura que vi o Fred forçar entrada para “decidir” contra o Palmeiras naquela partida decisiva, onde entregou o ouro. Nos tempos atuais, escalar jogador sem condições para jogo, só quando o cara manda no time. O caso do Suarez é o exemplo mais recente. Mas diferentemente, nas Laranjeiras o garoto-propaganda mandava. E isso fez mal ao time, a partir de um certo momento. Um metalúrgico aposentado que tem no currículo passagens curiosas por esse mundo do trabalho, Scavagima e outros bichos mais, batalhador da vida.
O Fluminense que enfrentou o Corinthians já sem Tite me lembrou um pouco o jeitão daquele que foi campeão com Muricy Ramalho. Levou pressão. Foi dominado na maior parte do tempo. Não teve a maioria das oportunidades de gol. Mas teve sorte e jogou como time pequeno. Adotou o lema do Cleveland, “Defend the Land” – defenda o pedaço. O time jogou boa parte do tempo com a vantagem de um a mais, jogador adversário expulso.
O que faz um time qualquer, muito bom ou mediano ser exaltado não é o domínio e controle do jogo, ou o toque refinado de seu elenco, ou as palavras de seus diretores e técnicos. O que faz a diferença é o resultado. Ter ganho ontem é tão significativo quanto ter ganho no Engenhão a partida contra o time verde, com gol de Emerson, contundido. Não fez uma partida brilhante, mas produziu o resultado necessário para levantar o caneco. É assim que o futebol funciona. O velha-guarda da foto sabe disso. Tomara que o Brasil reaprenda.

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