TRÊS COMPETIÇÕES E NENHUM MARACANÃ

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O Flamengo perdeu mais uma, e a imprensa especializada insiste num clichê: “quem não faz leva”, não explica o conjunto da obra. É compreensível que o Brasil não tenha jogado no segundo Estádio mais importante do mundo. A política extrapolou todas as lógicas a favor da contabilidade política – em todos os sentidos que incluem as planilhas da ODEBRECHT e milhares de outras espalhadas pelo mundo – esquecendo do futebol, da finalidade do Maracanã para os times locais.
Afundar a PETROBRAS se tornou compatível com mais um slogan de fachada, prometendo criar uma pátria educadora, como se educar estivesse no plano dos farsantes. No máximo doutrinar e fazer um número de mágica. Ao entregar a gestão do Maracanã a uma empresa como a ODEBRECHT e a um especulador com a leviandade de um Eike, garantiu-se a fragilidade do que era prá ser a maior força dos times cariocas: suas torcidas.
O Flamengo segue assim afundando, e tendo na sua diretoria os cúmplices desse movimento, por diversas razões. Ao venderem a proposta de arrecadar via sócio-torcedor parte do dinheiro que necessitam para ter um time à altura das tradições do clube, firmaram um pacto. Ele tem sido descumprido e convenientemente justificado pela suspensão dos jogos no Maracanã.
Esse mesmo espaço esportivo, que custou a bagatela de 1,2 bilhões de reais aos cofres públicos em sua última reforma, para estranhamente enxotar o povo da geral dali; eliminar a tradição da torcida em pé; destruir o fosso que tornava o custo operacional de segurança muito mais barato e garantido; para impedir a ida da imensa maioria de torcedores da Baixada e da Zona Oeste – com os horários das competições ao feitio da emissora de TV e sem o acordo com a Supervia, transportadora de trem responsável pela chegada da massa rubro-negra. Tenho sido testemunha de todos esses efeitos colaterais, cada um deles com sua parcela de culpa na perda de oportunidades.
A invencionice de quem nunca praticou esportes quer nos fazer acreditar que atleta é sinônimo de marmiteiro de ponte-aérea. Ou você aí acha que é possível treinar um profissional de alto rendimento arrastando ele de um lado para outro a cada 12 horas, ainda que de avião. E aí meu caro, de nada adiantam os investimentos em Maracanã, Centro de Treinamento, Infraestrutura Logística, Trans-isso, Trans-aquilo e o caralho de asas. Podem trazer o Muricy, o Guardiola e fazer ressuscitar o Cruiff. Comprem o Messi, o Neymar e tragam a metade dos alemães. A atividade esportiva de alto rendimento implica em treinamento local, com intervalos que a agenda da grade de programação não permite. Aí entram as três competições.
Sempre afirmei que em todas as últimas participações na Libertadores em que o Flamengo esteve, o foco errado acabou jogando por água abaixo as chances até possíveis de avançar com ambições ao título. Lembro-me perfeitamente que o calendário de pelo menos duas Libertadores coincidiam com a etapa final do Campeonato Carioca. Naquele tempo, a disputa entre os times locais tinha muito peso – ainda tem e sempre terão – e o intervalo entre a descarga do resultado positivo da conquista do título ou de sua disputa e a partida da Libertadores era pequeno. O resultado foram os fracassos que assistimos, não por incompetência dos jogadores, mas pela total falta de organização, planejamento e revisão crítica do modo como o assunto era tratado.
Tenho acompanhado alguns mundiais de modalidades esportivas que estarão entre nós nessa Olimpíada RIO 2016. A última foi o Mundial de Pentatlo. Entrevistando uma dupla de atletas de Cuba, nitidamente exauridos, perguntei se o fato de participarem em duas etapas – individual masculino, individual feminino e duplas – afetava a performance, dado que o intervalo de regeneração era de menos de 24 horas. A resposta padrão é de que o atleta está preparado para realizar esse tipo de atividade, é treinado para esse desgaste. Mas ao final, chegamos a conclusão óbvia que o rendimento do primeiro dia de provas não é de longe idêntico ao do último.
Times ruins viram times bons? A resposta é não. O Confiança é melhor do que o Flamengo? A resposta é não. Mas então a vitória nasce de onde? Há muitos fatores colaborando. Não quero poupar a responsabilidade dos atletas em campo. Mas há atenuantes. E não são poucos. O Campeonato Carioca, a Primeira Liga e a Copa do Brasil, sem Maracanã talvez seja mais parecido com os doze trabalhos de Hércules. O elenco não chega a ser heróico, mas a penitência a que vem sendo submetido o condena ao fracasso, me perdoem os mais otimistas.
Não sei se a torcida rubro-negra, assim como Hércules, terá um acesso de loucura. Diferentemente do herói, teria que enfrentar as disparidades atuais criadas por esse trinômio: Gestão do Maracanã, Diretoria e Sócio-torcedor, Logística e Calendário. Qualquer hora detalho os três trabalhos.

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