A ÁGUIA, O DRAGÃO E LOS HERMANOS

Falta pouco para as eleições na Argentina, onde os humores mudam com uma derrota em casa para o Uruguai e promovem os desejos mais sombrios para uma partida de revanche, logo a seguir, contra o Brasil. Mas só no futebol. Nas relações comerciais, nossos vizinhos são o terceiro maior parceiro. A torcida para que recuperem-se economicamente passa pela crença de que se os três maiores em nossa base de trocas estiverem bem, estaremos melhores.

Os EUA e a China possuem os dois maiores PIB’s do mundo, com larga distância para o nosso. A belicosidade entre essas partes não nos beneficia, embora alguns acreditem, sem olhar para as trocas comerciais, que o Brasil deveria tomar partido nessas briga de cachorros grandes da geopolítica. Usar esse discurso, sobre nossa relevância no cenário internacional, funciona perante eleitores e militantes, produz votos. É a mesma coisa em outros países. Alguns se esqueceram das vantagens do ganha-ganha e partiram pra destruição.

Uma série de veículos de comunicação – CNNBloomberg e Reuters, se limitaram a falar sobre ao que chamarei aqui de agenda de retomada. Afinal, depois dos balões espiões chineses e a viagem para vender armas em Taiwan, o caldo, que já não estava ralo, engrossou. Se dermos alguns passos atrás, vamos ver casos envolvendo empresas de TI, como a Huawei e Tik Tok, objeto de comoção entre americanos, além das ameaças de boicote em bloco liderada pelos EUA, caso os chineses comprassem petróleo dos russos e iranianos, e principalmente a demonização promovida no período da pandemia. Foram dias difíceis, com narrativas a deixar de boca aberta até mesmo os adeptos de filmes pornôs, no estilo garganta profunda.

Numa conversa em São Francisco, Califórnia, já não era sem tempo, as arestas parecem estar sendo aplainadas. A necessidade de troca de informação entre os responsáveis pelas ações militares, que haviam perigosamente sido interrompidas parece que voltarão a acontecer. E Taiwan, assim como Hong-Kong, cairá cedo ou tarde nas mãos dos que se consideram seus legítimos donos, com ou sem venda de armamentos americanos, com ou sem produção do chip de uso militar mais importante para a guerra tecnológica. É claro que o Irã e sua influência na questão em curso hoje no Oriente Médio não foi esquecido.

É com sabor de vingança que os chineses assistem de camarote a venda indiscriminada de opióides nos EUA, cujo governo vem lutando para interromper. A China, que já foi vítima desse veneno, por ocasião das duas Guerras do Ópio, a primeira, liderada pela Inglaterra, que obrigou o comércio em portos chineses e a segunda, que resultou na legalização do ópio em território chinês. Certas tragédias se repetem na história humana. O fentanil, vem sendo responsável por mortes por overdose em uma escala nunca vista nos EUA. O pedido para que o governo chinês apele para que sua indústria de fármacos não forneça ao mercado americano é visto com olhos puxados, aparentemente humanitários. A frase de Biden parece ter saído de uma variação bíblica da célebre “orai e vigiai”, quando diz “trust, but verify”.

Os galhos mais fracos dessa resenha, envolvem um jogo de cena em torno das bandeiras democracia é melhor que ditadura, e Xi comanda um regime ditatorial, ou assuntos de interesse para os negócios nas frentes de comércio, agricultura, mudanças climáticas e o assunto da moda, inteligência artificial. Aliás, esse último assunto nos faz voltar as eleições na Argentina, onde um dos candidatos vem utilizando intensivamente esse recurso, muito mais econômico, pois dispensa mão de obra e automatiza tarefas, outrora realizadas por humanos. É assim mesmo, houve uma época em que eram necessárias telefonistas fazendo manualmente o papel da comutadoras, para que as pessoas pudessem se comunicar. E as telefonistas que faziam isso, foram substituídas por placas com circuitos eletrônicos.

Ficam alguns avisos para o Brasil. Toda agenda negociada entre esses três países, na forma de acordos bilaterais, nos afetam diretamente. Mudanças climáticas e agricultura em particular. Não custa lembrar que foi numa dessas rodadas de negociação internacional que entramos pelo cano no setor têxtil, hoje completamente sucateado em nosso país, de forma irreversível.