EXTREMOS AMEAÇAM A SAÚDE E NEGÓCIOS NO BRASIL

Saúde, Economia e sobrevivência. Interligadas, mas necessariamente nessa ordem. Foi essa a orientação dada pelo Fundo Monetário Internacional aos Governos de todo o mundo. Salvar pessoas e salvar empresas. Alguns inescrupulosos, gozando de privilégios e sabendo que não faziam parte do grupo de risco, decidiram inverter essa lógica, negligenciando o valor da vida, dos outros. Passado esse momento planetário, explicitado porque pandêmico, é preciso olhar para a nossa realidade predatória. Os conceitos adotados secularmente no país, desde colônia, é essencialmente predatório, no sentido de que destruir para enriquecer não é crime.

O aquecimento local é bem diferente de discutirmos de forma genérica, os prejuízos ao planeta. Diferentemente de países como os EUA, que dispõe de excelentes diagnósticos para cuidar do seu umbigo, a missão do Brasil é bastante difícil, não possuímos massa crítica para adotar a complexidade de ações na direção da melhor estratégia para a nossa sociedade. Recentemente publicamos um artigo sobre desertificação, uma espécie de nota inicial sobre esse desastre.
Alguns anos atrás, assisti uma reportagem sobre como idosos nos EUA utilizavam a estrutura de Shopping Center para fazer caminhadas sem correr riscos de vida, nas temporadas de alta temperatura. Muito tempo antes, usei a estrutura dos Shoppings para fugir do calor e economizar na conta de luz. Considerando que as luz elétrica nesse momento está sofrendo aumentos acima da inflação de 6% do ano. Quem poderá pagar? Impossível no Brasil, sobra para os mais pobres e para os mais espertos a opção do chamado gato.
Numa outra frente de batalha, vemos o aumento vertiginoso do preço de aparelhos para reduzir o sofrimento. O ventilador e o ar condicionado ficaram muito mais caros. Em poucos anos, saímos de uns 200 reais por um ventilador de teto, para números estratosféricos, de até 1.500 reais. Como enfrentar esse monstro sem políticas públicas que incentivem a fazer a coisa certa, aumentando o nosso cinturão verde, ao invés de destruir nossa principal riqueza, vantagem, meio de vida na economia global.
É certo que as projeções atuais falam de 5 vezes mais mortes por causa do aquecimento. É claro que na medida em que nossa população segue envelhecendo a toque de caixa, teremos mais vulneráveis a essa ameaça real. A proteção ao idoso é indissociável a proteção das condições do meio-ambiente.
Nossa agricultura potente, passará por apuros só vistos nas pragas citadas em capítulos da Bíblia, tamanho serão os desacertos. O arroz precisa de água na hora certa. Se não acontece, não haverá a formação do grão, por exemplo. O agricultor sabe disso e deveria estar preocupado já faz algum tempo.
São muitos os efeitos para todos, o precipício está apontado para um país que pouco ou nada fez, estruturalmente para modificar nossa matriz de prioridades, rumo a uma sustentabilidade de fato, que vá além das propagandas de governo, invariavelmente passando panos quentes no gelo seco.
Os frequentadores que leram Dante, o inventor da primorosa escala literária, envolvendo céu, purgatório e inferno, sabem do calor descrito pelo escritor, que nos inspira a imaginar, sem nunca ter pulado uma fogueira, ou enfrentado um incêndio. A espécie humana é homotérmica, como de resto todos os mamíferos. Um idoso me perguntou porque se morre de calor, e lhe respondi que todos sabemos que o limite da passagem da sanidade ao delírio que precede a morte, é a temperatura de 39 a 40 graus. Imaginem então os senhores, um corpo vivo, que funciona no limite, nessa faixa, encarando uma temperatura cuja sensação térmica é 58 graus?
Morte anunciada, do idoso, da economia, dos botos nos rios, das plantas em seus habitats que levaram sabe-se lá quanto tempo para chegar a uma certa estabilização. O Brasil é mais vulnerável a esses desequilíbrios, por ser mais natural, sem grandes avanços artificiais e bloqueadores de desastres extremos, frutos dessa destruição do nosso maior valor.
Instituições de pesquisa valiosas, como o INPE, que fornece de alguma forma seus dados para a imprensa, deveriam assumir parte de suas responsabilidades para além da produção científica e dispor em seus quadros de especialistas em disponibilizar informações diretamente a população em geral, escolas e lugares onde essa consciência pode ajudar.
A falta de um trabalho mais voltado para interlocução interna, em lugar do diálogo com os pares relevantes do exterior não é a melhor forma de mudar o que se dá aqui. Dá mais prestígio, mas o desafio está entre nós. O Observatório do Clima, é um exemplo claro disso. Qualquer um sente-se mais bem servido de formatos informativos no site da World Meteorological Organization, do que nas presentes entre nós, um descompasso a ser acertado.

Já vivemos no cu do mundo – acreditando que somos sua boca “autofágica” – quando o mais provável é que se o inferno tivesse cu, esse seria o vulcão Nevado del Ruiz, quando é mais provável que seja aqui.
Tragam os termômetros.