A BELEZA NO FUTEBOL E SEUS REVEZES

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Considero trágico, mas reversível, a goleada histórica que o Internacional deu no time vascaíno. Mas aqui vale a repetição do mantra da organização defensiva, com ou sem zagueiros. O que importa ali, nas bolas paradas é apenas o estudo da marcação, pura e simples. As cabeçadas livres que estamos assistindo defesas como as do Vasco e do Flamengo levarem são inaceitáveis. Num dos gols, um dos zagueiros cruzmaltinos “assistiu” a subida de dois jogadores do inter, que até ensaiaram bem uma jogada de finta, até desnecessária tamanha era a fragilidade adversária.
Mas não quero ficar apenas nas falhas. Num jogo com dois gols de placa, prefiro enaltecer a beleza das pinturas que Valdívia e Nilton nos presentearam essa noite. Sempre gostei de gols desse tipo, bolas fortes, bem atacadas e com endereço certo, indefensáveis.
A beleza não ficou por aí. Ela resolveu aparecer também num jogo em que quem jogou melhor e teve uma penca de oportunidades não levou. O Atlético Mineiro esbanjou qualidade em todos os quesitos modernos, só pecando na frase mais importante para o futebol no meu livro de mandamentos: futebol é gol. Seus goleadores, costumeiramente infalíveis como Bruce Lee, dessa vez ficaram no “quase”. Coube a um jogador emblemático das armadilhas do belo na arte do futebol, de uma certa forma uma espécie de “patinho feio”, execrado publicamente até pela imprensa esportiva especializada, o papel de herói. Sua cobrança de penalti foi tecnicamente perfeita. Como disse o narrador, a bola saiu “queimando a grama”, numa velocidade só possível se batida com o peito do pé. Difícil ver isso nos dias atuais. Creio que o Atlético-PR no G-4 nesse momento do campeonato, deve muito ao Valter, pela liderança técnica que exerce, sem fazer esforço. As brigas com a balança, revezes de um ser humano. Os malefícios da passagem pelo Fluminense são agora apenas ensinamentos.
Continuo achando que o futebol jogado por Sheik sobra no Flamengo. Tem uma condição física privilegiada, sempre soube dosar essa vantagem e alia essas virtudes a uma grande consciência coletiva na prática de um esporte acima de tudo coletivo. Difícil encontrar outro igual, até na sua espontaneidade, onde nos serve até mesmo a merda, como símbolo de aplauso.
Tenho certeza de que muitos amigos acreditam na redenção originada em cores e classe social como panaceia das agruras do futebol e até mesmo dos problemas do mundo. Sei que as questões de gênero, raça e religião não foram extirpadas do conjunto de preconceitos aos quais aderimos, conscientemente ou não. Mas quero tentar ficar ao largo deles, e me firmar na proposta simples, a mais simples que encontrei para definir o que me faz gostar de futebol em específico e no esporte em geral: o que é bom é bom, o que é ruim, é ruim. E esses estados, apenas dois, são visíveis aos olhos da platéia, que se atenta, saberá distinguir o belo, mesmo quando não apresentado em suas formas puras idealizadas pelos planos aristotélicos que aprendi nos cursos caseiros de filosofia, a convite de Alvaro Vasconcellos, longo tempo atrás. As idealizações são cada vez menos úteis para compreender o mundo. As categorias, evoluem de um binário para séries infinitesimais. Vamos seguindo a bola, até que o juiz decida apitar o final da partida. Apesar do revés, o Palmeiras continua sendo um dos times que mais gostei de ver nesse campeonato brasileiro de 2015, pelo que representa de melhor, comparado aos anos anteriores. Um bom trabalho, que cedo ou tarde renderá ótimos frutos.

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