A BLASFÊMIA ATÔMICA DE ROSTOV-ON-DON

Me perdoem por não ter ilustrado com alguma fotografia esse momento. Me falta a imagem do blecaute.

A estratégia de cada um dos lados está bem definida. Já estamos bem distantes da 2a Guerra Mundial, e a verdade é que “os aliados” não eram exatamente “aliados”, apenas tinham um inimigo em comum, a tal “tríplice aliança”, o nacional socialismo alemão (nazismo) e seus parceiros italianos, japoneses, anexados e simpatizantes. Tudo isso reaparece entre nós, com novas configurações e roupagens. Do contrário, como acreditar que a Inglaterra se associaria a Alemanha para fabricar tanques de guerra de última geração, num acordo costurado em 2024? O jogo de interesses move as peças nesse tabuleiro sem cores, sem ideologias, sem bandeiras. Apenas interesses.

A história não é escrita no preto e no branco, há muitas nuances, a se olhar, décadas após a reconfiguração das forças geopolíticas do planeta. O José Américo Pessanha já apresentava essa dificuldade, filosoficamente falando. Já estava claro, a Rússia e a Ucrânia enfrentariam esse impasse culminado em guerra no território ucraniano. A expansão da zona de influência da Comunidade Econômica Europeia na direção daquilo que podemos chamar de Europa Oriental foi se expandindo de vento em popa, desagradando os russos.
Do mesmo modo que na intenção expansionista do Império Otomano, para chegar ao domínio do Império Romano, encontrando Vlad Drácula, o empalador de cabeças, que instituiu o Estado do Terror para promover a independência de seu poder político. Antes disso, seu território funcionava como um amortecedor entre os dois impérios, alternando sua relação de dependência e aliança, pagando impostos a um ou outro, numa clara relação de extorsão. É de se esperar que a Rússia queira ter a Ucrânia como um airbag, um território sem armas inimigas dirigidas a si.
Numa outra ponta, podemos entender a importância do território ucraniano de uma perspectiva da unidade imperial. A Rússia foi fundada tendo como capital Kiev. É meio inacreditável, mas bem parecido com as ideias existentes antes da unificação da China, que tornou a muralha chinesa apenas um item do turismo. Talvez a pastilha NETFLIX da história de Marco Polo ajude a ligar as pontas. Não se pode dizer o mesmo de Hong-Kong e Taiwan, considerados alvos para anexação pura e simples. Bem, não é bem assim. Pra quem tem um Porta Aviões como o que está estacionado no Rio de Janeiro, o George Washington é uma base militar flutuante, uma extensão móvel do território americano, só que armado, pronto para ser usado em alguma necessidade circunstancial.

Comparar todos esses movimentos que definem e redefine fronteiras pode parecer confuso, mas são relacionáveis. As fronteiras são arbitrárias e dinâmicas, assim nos mostra a história.
Quase fui assistir partidas da Copa do Mundo de futebol em 2018 em Rostov-On-Don. É nessa cidade fronteiriça que a Rússia vem montando seu circo com armas nucleares, mediante as bravatas de seus pares ocidentais e do comediante que chegou ao poder num país com lideranças políticas desacreditadas.
O botão vermelho, da grave crise já vivida no caso dos mísseis russos em Cuba, está de novo na cena geopolítica, dessa vez como uma verdadeira blasfêmia.