A DOLARIZAÇÃO DA ECONOMIA ARGENTINA?

Lá estava ele, Chewbacca o peludo co-piloto, companheiro inseparável de Han Solo em Guerra nas Estrelas. Simpático, herói das Galáxias, não viu a Argentina chafurdar economicamente, tendo como seguidora o Brasil, nas ondas da hiperinflação. Resistente as fórmulas amargas e ainda acreditando em Papai Noel, na prática, teve sua economia dolarizada em caráter definitivo. Escapamos desta, sobrou a onda peronista e sua cartilha, que possui uma série de virtudes das conquistas passadas, mas defasada no enfrentamento de um cenário bastante distinto.

Nesse exato momento, os 99,28% dos votos computados são suficientes para dar a vitória de mais um candidato de perfil “anti-sistema”. É preciso ter claro, o nível de saturação da sociedade diante das categorias simplificadoras de análise direita-esquerda, surge uma proposta de campanha radical, a de extinção do Banco Central. Tem sido assim pelo mundo.

O ano de 2024 nos aguarda, com as maiores eleições democráticas do planeta, peso para os EUA e a de maior número de eleitores, a da Índia. Já pelo lado das eleições sem oposição, de ditaduras de fachada, teremos a Rússia como contraponto referendando seu Neo-czar.

A economia da Argentina, nosso 3o maior parceiro no Comércio, já é guiada pelo dólar. Sua inflação corrosiva do poder aquisitivo da população, guia todos para alguma forma de proteção, o dólar americano é uma espécie de tábua de salvação. Por ocasião do Plano Cruzado, havia acabado de assinar meu primeiro contrato de trabalho, na Era Funaro e Plano Cruzado de 1986. Resumindo aos senhores, congelamento de contratos e salários, como forma de desacelerar a inflação. Na época, alguns economistas de projeção daquela geração, Pérsio Árida e André Lara, propor a teoria da moeda indexada. Não apenas compreendi a proposta, como a apliquei na negociação do meu contrato. Não aceitei o congelamento e a perda que ele aplicava aos meus rendimentos, como comecei a distribuir meus panfletos, considerados ofensivos a Instituição na qual trabalhava.

Fui demitido, mas pude viver para ver a ideia rejeitada no Governo Sarney ser adotada por Itamar Franco, num dos poucos momentos em que uma solução acadêmica bem desenhada, encontrou uma forma de preservar o valor de uma moeda qualquer em circulação. De certa forma, não é diferente na Suíça, com sua moeda sempre muito “colada” ao dólar americano. É fato que por aqui deu certo, embora outros problemas tenham sido embutidos – não falarei deles aqui hoje – envolvendo a expansão de endividamento camuflado por crédito e limites de inadimplência, e geração de bolhas.

É impossível não lembrar dessas questões, que trago de minha passagem pela Fundação Getúlio Vargas e das horas dedicadas ao tema, e não olhar para aquilo que se vê hoje na Argentina. Só posso dizer a Los Hermanos que temos gente com um alto grau de conhecimento e bem sucedida nessa questão, e que a extinção do Banco Central pode até ser útil na retórica, tal como Sarney fez ao romper com o FMI no caso da Moratória. Foi um erro de aprendiz.

Esperamos que 40 anos depois, não se repita o mesmo erro, pelas mãos do nosso parceiro, que se não é uma anta, deve ser olhado como uma virgem inexperiente – só que no poder – nesse locus, onde habitam as putas e raposas velhas.

Por aqui, o fato concreto é que a população continua recebendo em reais e pagando contas em dólar. Com direito a extorsões governamentais, os impostos adicionais de 30% de tudo que importamos sobre-taxado. Receber em dólar, com redução de impostos transferiria mais benefícios a quem trabalha e as empresas. O real está desassistido nos seus reajustes, calcule o seu IPCA pessoal e depois me diga.