A (RE)INVENÇÃO DA BICICLETA DE EXIBIÇÃO

É difícil saber por onde começar esse assunto. Quem sabe pelas corridas de bike improvisadas ao redor do nosso quarteirão, com aquela turma toda, do futebol, do pique bandeira, do queimado, a criançada que caçava moedas na rua de paralelepípedo na festa de Cosme e Damião. Lá se vão décadas, onde minha monareta nunca foi páreo para a Tigrão do grande amigo da rua ao lado, que entre nós não corria, desfilava. Era nosso objeto de desejo.
Esse ano encontrei no Ponto Chic das Bikes uma garotada que só anda junto, diferentes e curiosos. Cada um se orgulhava de ter seus pedais destruídos em manobras radicais, em bicicletas inventadas por eles, em alguma comunidade da vizinhança. Queriam saber tudo e claro, nunca falta a pergunta, “ quanto custa essa bike tio?”. Aprendem tudo naturalmente, a eles o assunto é motivo de vida na liberdade da rua.
Vida e época de esportes radicais.
Em uma loja de materiais esportivos de todos os tipos, sigo em busca de uma roupa de neoprene para enfrentar o frio na água. Conversa vai, conversa vem, pergunto a quem nos atende várias coisas e se ela sabia quais as 4 modalidades de esportes radicais que a partir das Olimpíadas do Japão fazem parte do grupo olímpico e que terão representantes brasileiros em Paris 2024. A jovem sorriu e disse que não. Aproveitei para deixar o recado e dizer que era minha intenção cobrir esses que são mais cobiçados pelo público mais jovem.
No tanque de águas caudalosas do Parque Radical de Deodoro, temos a canoagem slalom e nossa braba Ana Sátila. Já no surfe os campeões Toledo, Medina e o novato de Saquarema Chumbinho emplacam chance de reeditar o 1o ouro da história olímpica, Ítalo. A fadinha do skate dispensa apresentações e corre evoluindo na coleção de ouros e cidadania, como exemplo para as crianças. Chegamos então ao representante das bikes BMX, que fazem das pistas motivo de temor pela vida e saúde dos filhos. Essa última modalidade não admite erros, sua prática é de fato rodeada de um tipo de loucura e talento difícil de encontrar.
Foi dentro desse espírito que decidi tentar o incentivo da modalidade radical de menor popularidade, no caso a BMX, e trazer para o palco dos parques elementos de potencialização que atraíssem futuros campeões ao contato e experiência. Foi assim que nasceu a bike azul e branca, exibida pelo Leozinho de Madureira, na quadra da Portela. Sucesso entre a juventude da bateria e apoiada como iniciativa que linkasse o Parque de Madureira e as cores da Escola, nesse período pré-Olímpico. A agenda lotada do nosso astro e dificuldades envolvendo a logística tornaram difícil levar adiante o que já se mostrou promissor.
Agora, em pleno mês onde se comemora o Dia Internacional do Meio-Ambiente, e que desafia a sociedade a enfrentar os problemas com a questão climática, teremos a inauguração do Parque Verde de Realengo, bairro do subúrbio carioca, onde habitam comunidades como as da Vila Vintém. Os jovens com suas bikes (re)inventadas, com bancos que se fundem ao bagageiro para facilitar as manobras radicais são uma novidade que me faz relembrar da Tigrão e que me surpreende ao descobrir que com a simples compra de um kit, é possível adaptar uma BMX nesse tipo adotado pelos pequenos.
Encontrei uma novinha, nas cores amarelo e preto, montada para esse tipo de manobras, e deixo a dica do kit para aqueles que em lugar de comprar um bagageiro e adaptar espuma para fazer o banco, quiserem algo já pronto e de design honesto. Não se compara ao estilo das antigas, mas é funcionalmente muito mais eficiente do que as de 1973.
O próximo desafio é montar da sucata de uma BMX de 40 anos atrás uma bike pra o filho de um amigo meu, que promete dar o que falar. Diferente das atuais, o quadro remete aos tanques blindados. Foram feitos para durar até o final dos tempos, pesadões e sem firulas.