PLANTE QUE O JOÃO GARANTE

E foi assim que acabei indo parar numa fila, esperando por horas, o momento de levar as latas de óleo de soja para casa. Preço tabelado e quantidade a ser comprada também. A regulação de mercados se dá via estoque. O resto é oportunismo especulativo, que alguns chamam de “mercado”.
Há uma exceção, comumente aceita pela classe empresarial e setor financeiro. Quando quebram, acionam o Estado para salvar do desaparecimento. Uma vez mamado nas tetas do dinheiro público, voltam com a ladainha, com o mantra do mercado absoluto.
Desde tenra adolescência, fui informado sobre o prejuízo aos que produzem e aos que consomem, provocados pela ampla cadeia de intermediadores. Uma dúzia de banana que poderia chegar a mesa por 20 centavos, pode custar 20 reais. Em tempos de escassez, a situação piora, aparecem os oportunista da curva de demanda/oferta.
Por alguns anos de minha vida trabalhei, plantei, colhi e armazenei arroz. A seguir pesquisei essa que é a base da comida do brasileiro, junto com o feijão. O Brasil de minha época tinha produtividade de arroz sequeiro muito baixa para as médias de produtividade internacional. O Centro-Oeste portanto não é “competitivo”, frente a produção do arroz irrigado e de lugares com abundância de água.
O mercado internacional como justificativa para a elevação dos preços nos últimos anos. O arroz foi ultrapassado pela cerveja em valores de venda, na lista de produtos alimentícios faz décadas. Um dado assustador que só faz sentido se aceitarmos que nossa sociedade se tornou muito mais etílica do que saudável.
A oferta a preços acessíveis para o povo foi garantida até na ditadura militar. A distinção entre produtos de primeira necessidade e os que Delfim Netto chamava de supérfluos.
Cabe ao Estado a regulação do mercado e suas adequações. Os instrumentos de importação podem ser utilizados, afinal a exportação também é praticada como opção.

Na Suíça vi algumas regulações de bastante significado na prática agrícola e comercial. Nos supermercados, encontrava sempre para um determinado produto, uma marca genérica associada a marca do estabelecimento a um preço muito acessível, até para os padrões brasileiros. A seguir vinham os de marcas locais, com investimentos em embalagem e marketing, diferenciados em valor numa faixa intermediária. Por fim, as marcas importadas, muito taxadas, com preços altíssimos comparativamente.

Uma outra situação, que também se aplica ao Brasil, e que me levou a entrevistar um vendedor numa loja de vinhos é como lidam com o mercado e sua produção. O vinho suíço atende a população do país, auto-suficiente e não exportado. Possuem todos os melhores tipos, por terem terras nas fronteiras com todos os grandes produtores. O fato é que o fudido é quem produz, e com a cadeia de 20 atravessadores no meio, em lugar de comprar mais barato, o consumidor final vai junto pro sal.

Como mostrado acima, 60% das compras em sites internacionais são de roupas, seguidos por eletrônicos com 37%. Ou seja, nem a calcinha importada da Victoria Secret para o Dia dos Namorados vai rolar. Com valor abaixo de 50 dólares a mocinha podia comprar no site chinês e etc. Uma treta dos diabos, que pra desfiar todo o conjunto vai me obrigar a falar do inesquecível filme de pornochanchada, O Roubo das Calcinhas (1975). Filme que se fosse gravado nos dias atuais deveria ter como locação o maior puteiro côncavo/convexo do planeta. Nesse lugar, que insiste na hipocrisia do falso moralismo e da política de costumes, foram taxadas as roupinhas fashion das meninas bonitas da classe média. A questão é: deixaremos o lugar das mais belas só para as patricinhas internacionais, com dólar no bolso e que podem trazer malas e malas de roupas do exterior no valor que quiserem?

Enquanto isso, o que fazem os arrecadadores? Arrecadam. Merecem uma planilha detalhada, bem explicativa, de fácil entendimento do povão.