A SELEÇÃO BRASILEIRA E OS FALSOS PICASSOS

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No exato momento em que a seleção brasileira vai para mais uma eliminatória para a Copa do Mundo da Rússia, estou apoiando um amigo artista plástico, do mundo do carnaval e da moda a contar sua história de propagação de referências e gostos, com o uso das paredes, roupas e linguagem carnavalesca. Sua exposição segue sendo preparada, de vento em popa, divertida e garantindo alegria e felicidade a quem participar. Na arte, a releitura de uma obra, por meio de incorporações criativas no original é natural, necessária e representa muitas vezes uma homenagem na hora de passar o bastão. Cultivar a liturgia da ancestralidade combina com ruptura e transgressão, mas só os do ramo sabem disso. Não há contradição.
Há no entanto casos em que quadros são realizados com a intenção de lesar compradores, querendo se passar pelos originais. Como por exemplo, se decidíssimos fazer algo identico a um Picasso, e nesse caso um falso, apenas com interesses econômicos, sem arte em mente.
A seleção brasileira vem sofrendo dessa espécie de mazela nacional dos últimos anos. Os falsários, que vem se especializando em tornar o país do carnaval e da fantasia, um lugar apenas de FACHADAS E MAQUIAGENS. Tenho a impressão que a seleção brasileira está mergulhada nesse grupo de coisas que “faz de conta que é”. Ela não representa a realidade de um país com o futebol como esporte de massa. Só representa o interesse dos que desejam vender a versão falsificada do que somos.
A começar por um técnico que na verdade nunca foi, seguimos com uma estrutura de critérios altamente anômalos, na escolha e nas práticas de seus representantes em campo. Colocar o melhor time para jogar? Não necessariamente. Escolher o melhor estádio para se apresentar? Não é o caso. E foi assim que o Brasil levou de 7 x 1, depois de 3 (por respeito e parcimônia dos adversários) e de 2 de um Chile que poderia ter enchido um balaio, não fosse o time do “quase”. Não faz tanto tempo, um pouco mais de seriedade e talentos de verdade, em 2005, apesar de todo o questionamento do tal quadrado mágico, tinhamos talentos em campo e de sobra. Afinal, era Kaká, Fenômeno, Ronaldinho e Adriano no ataque. E o Chile levou o balaio para casa.
Olhar as linhas de ataque do Brasil e perceber que o time entrou e foi escalado nitidamente para empatar foi uma tortura lacônica. Só quatro atacavam. O resto descansava, esperando para usar intensidade na defesa, contra um time adversário ruim. Mas com uma apresentação de tal modo medíocre, até o ruim vira bom. E nós, conseguimos operar essa proeza.
Tem um Tsunami se realinzado no país, nesse exato momento. Há uma parte dos humanos que simplesmente perderam a sensibilidade para perceber os sinais que qualquer forma de vida já sentiu. O mundo corporativista sofre desse mal. O discurso é para o público interno.
Mas as maquiagens de números das entidades financeiras que são patrimônio nacional, construídas em credibilidade secular, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES foram saqueadas sem pudor, do mesmo modo que o futebol está girando em torno de uma roda de autonomia que prefere prescindir e se furtar a enfrentar o calor ou a ira da torcida do nosso centro, eixo Rio-São Paulo-Minas.
É dessa forma que a incompetência desenha estratégias para mascarar resultados infames. Veja só. Engulimos a grande vitória da Copa das Confederações, acreditamos que amistosos insosos e séries invictas de vitórias do “não-técnico” seriam suficientes para aplacar a vergonha da derrota em Belo Horizonte, contra a Alemanha.
Nossos jogadores de hoje já não gozam de um sentimento de defesa das cores do país, pois cooptados pelo êxtase internacional, tal qual Alexandre quando chegou nas Índias, vem suas forças diluídas, e se disfarçam em fairplay. É claro, os chilenos foram brutos e faltosos? Sim. Mas e daí? Desejaram superar deficiências com garra e arriscaram mais pelo que desejam. Nosso grupo não deseja nada além do que já tem. Me lembra a Marianne do quadro “A Liberdade Guia o Povo”, que acabou sendo representada por uma modelo que gostava de Ferrari italiana e Whisky escocês.
Perdemos a vergonha e assumimos a inferioridade coletiva como superioridade individual. Faltou dizer que na fotografia, os de camisa amarela estão todos de mãos nas cadeiras…

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