A TEIA DA SOBERANIA E O TIK TOK


A dependência tecnológica é um assunto estratégico ao extremo para as nações que atingiram status de potência. Que o diga o filme Oppenheimer e a submissão japonesa após os dois cogumelos atômicos em suas cidades. Mais recentemente, as disputas se instalaram também no território da informação, onde hardware, software-plataformas e dados passaram a representar uma vantagem competitiva para realizar um outro tipo de dominação muito mais sutil, em relação a outros povos e culturas.

Em anos recentes foi a vez da Huawei, empresa pioneira na tecnologia 5G, sofrer ataques e acusações sobre a infiltração de componentes de espionagem em seus produtos de infraestrutura, ter CEO preso e outros ultrajes decorrentes dessa guerra envolvendo a hegemonia nas telecomunicações. Em 2019, quando estive na Flórida para experimentar a transmissão com 5G para eventos esportivos, a Apple nem pensava em lançar seu iPhone com essa tecnologia, atrasada como sempre nesse item, embora dona do status no design e ecosistemas proprietários de seus bem sucedidos produtos. Foi nessa mesma ocasião que me dei conta de um novo player dominante no mercado das redes sociais chamado TikTOK. Isso, se deu, paralelamente ao acompanhamento do impeachment votado pelo Congresso Americano contra o então presidente, que não deu em nada, parte da campanha fora de época, que hoje todos chamam de “perseguição política”. Dá votos e cria o clima da polarização que hipnotiza as massas, que acabam esquecendo de observar o tamanho das incompetências em andamento.

No aeroporto de Miami, a quantidade de anúncios eletrônicos com a marca TikTOK chamava atenção, dominava o ambiente, envolvia muito dinheiro em marketing. De fato a adoção da plataforma criada na China possuía atrativos que recuperavam muitos elementos da dinâmica de interface que passaram a atrair os mais jovens, uma nova geração de usuários, que em breve se tornariam eleitores. E se tornaram.

Em 2024 o número de 180 milhões de usuários de TikTOK nos EUA já coloca a soberania da nação – seja lá o que isso signifique pra você – nas mãos dos mandarins, especificamente alojados no Partido Comunista Chinês. Isso porque, tal qual a PETROBRAS no Brasil da Operação Lava-Jato, e mais recentemente no caso da distribuição de lucros para acionistas, quem manda no Tik TOK é o governo. Lá de Pequim, a empresa responde pelo nome de ByteDance, então o melhor a fazer é não comer mosca pra não dançar.

Essa é a cortina de fumaça que levará o Congresso Nacional a votar por uma lei que impeça a empresa chinesa de ter seu aplicativo disponível para ser baixado em alguma das lojas dos EUA. Isso seria, na prática, o fim da atuação do TikTok em território americano. Esse era o desejo de Trump anos atrás, eu disse era. O candidato a eleição esse ano virou casaca, mudou de time, após uma conversa com bilionários americanos que na verdade são os donos do TikTok na China. Complexo isso não?
Para se entender essa teia, teríamos que ir até Henry Kissinger e ver como os EUA colonizou industrialmente a China, detentora do maior contingente de trabalho escravo do planeta, mas não vou fazer isso com vocês. Fiquemos com a soberania dos EUA.

A votação de quarta-feira conta com detalhes de última hora e muitas cartas marcadas nesses últimos dois anos. Há o jogo de cena. Há a concorrência entre o Facebook e sua Meta, que agora Trump acusa de ser a pior empresa do mundo, que faz mal ao povo americano. Cena contraditória, sabemos que o dono da Meta, é trumpista e apoiou explicitamente o candidato. O problema do ego entra no jogo, Trump teve suas contas de Facebook, Instagram, Twitter, bloqueadas em plena campanha eleitoral. É certo que com esse poder midiático teria ganho as eleições com sua linha extremista hater de atuação. Não vai perdoar, criou a rede social dele, ter o TikTok para fustigar as redes sociais americanas é parte de uma complexidade nos bastidores. Uma vela pra Deus outra pro Diabo.

Não paramos por aí, as redes sociais causam prejuízos a indústria de conteúdo de TV, fortes aliados fazem parte da dinheirama jorrando e dos interesses econômicos em torno da candidatura de um homem do mundo dos negócios. Para Binden, é uma questão de subscrever o que o Congresso votar. Trump é parte interessada nesses negócios midiáticos e representa interesses a favor e contra, sem pestanejar.

A conversa sobre soberania esconde apenas uma Guerra Comercial, que em meus bons tempos de Escola Superior de Guerra chamamos num documento escrito a seis mãos de Da Bipolaridade Militar a Multipolaridade Econômica. Todas as guerras do último século e todas as bombas acionadas nelas tiveram como ponto de partida e ponto de chegada motivações de ordem econômica.

O TikTok, ou ByteDance é de fato um negócio da China, o boi de piranha da vez. A legislação americana afetará de algum modo a forma como as redes sociais serão utilizadas no Brasil. Copiaremos com tudo, enfiando no traseiro a sina de colonizados de plantão em Brasília. Copia e cola mano.