E O OSCAR VAI PARA… CHEGA!

Vivemos uma era de equívocos irreparáveis e indesculpáveis. Um deles, cometido em Portugal, foi o de achar que o fim da Ditadura que os patrícios viveram daria salvo conduto e direitos infindáveis para se fazer o que bem se entendesse com a coisa pública. Nem só dos 50 anos da Revolução dos Cravos vive o homem, e esse acaba sendo o problema do voto ideológico: ele se basta. Foda-se a sociedade e o que ela pensa a respeito do governo que você, no poder, decide por exercer. Mas uma hora a casa cai. E caiu, justo no dia da entrega do Oscar…

Não adiantou essa babaquice de apelar para o voto útil. A galera desiludida e que viu a corrupção e outros bichos se tornarem um cancro para a população, cruzou os braços e deixou os responsáveis amargarem uma derrota, ainda que tardiamente, uma vez que já acontecida em outros países da Europa.

Vamos falar a verdade, a população está muito de saco cheio dessa política da turma do blá, blá, blá, seja aqui ou acolá. A classe política sofre das piores mazelas. Finge que não vê o que não lhe interessa, como se não assistisse documentários como o “Uma Verdade Inconveniente”. Prefere se azeitar de auto-elegias, se locupletar de feitos que envergonhariam aos candidatos ao inferno.
A alternância no poder é o mínimo.
O Partido CHEGA!, aparece tardiamente na realidade de Portugal, reeditando o Movimento 5 Estrelas da Itália, que na ocasião teve o comando de um humorista. Os cidadãos insatisfeitos, uma legião de jovens anti-sistema, cresce por toda parte. Estão entre nós.
Ops, mas peraí, nosso papo de hoje era sobre a premiação dos filmes e produtores da indústria do cinema? Sim, mas o aperitivo na Península Ibérica explica bem o tom político da cerimônia nos EUA. Leiam até o fim e me digam se não tenho razão…
O Oscar de melhor filme estrangeiro é sobre o Holocausto, baseado em livro. O livro como base para qualidade da produção audiovisual é uma consequência natural do fato, a história validada em livros onde a palavra basta. Por isso a Livraria Travessa tem sua vitrine desse mês com livros sobre ou transformados pela 7a arte.
Escrever um livro é um exercício de consolidação. Zona de Interesse está bem dentro do que estamos vendo acontecer hoje, com nova roupagem e muita maquiagem, em mais de 160 zonas de conflito no mundo. Começo com esse petardo político, que abre as feridas em torno das atividades de Estados que não fazem qualquer cerimônia em utilizar métodos hediondos para exercer seu poderio.
Pulo para uma praia mais leve, e como fã de Godzilla, sou suspeito pra elogiar, mas o orçamento apertado e a criatividade no método utilizado por uma equipe muito reduzida, são dignos de menção, já que o bicho está com a mesma potência de uma bomba atômica, em termos de destruição e essa imagem não para de ser usada para ameaçar a humanidade pelos humanos com cérebro godzilescos. Godzilla One vai para a 1a prateleira dos filmes de melhor efeitos especiais, sem grana, japonês tem know-how nisso faz tempo.
É curioso que o documentário sobre PROIBIÇÃO DE LIVROS, o ABC…, esteja contando uma história tão impossível de se acreditar, mas que é parte da nossa triste realidade: livros proibidos. Ao falar de um lugar antigo, onde queimaram livros, juraram de morte escritores e outras atrocidades. Não ganhou Oscar, mas ABCs of Book Banning deve ser objeto de nosso interesse, quando o assunto é censura.
O 1o Oscar da história da Ucrânia infelizmente é um documentário jornalístico sobre uma Guerra impensável, tecida ardilosamente e que aconteceu. O “20 Dias em Mariupol” é sobre a insanidade humana não resolvível. Nos auto-destruiremos. Se os 20 dias deram Oscar imaginem os dois anos de Guerra ou os últimos tempos em Gaza são capazes de revelar, sobre a crueldade entre humanos?
Mas o texto mais inteligente e bem elaborado pelos  apresentadores da noite coube a entrega do Oscar de melhor som. Que viagem no improvável, causada pela impossibilidade de usar palavras para falar, quando o assunto é música. O desafio de ocupar o vazio, que é explicar o que se ouve, na premiação de Ludwig Göransson, um dos protegidos de Cristopher Nolan, o fazedor de estátuas. Nessa edição, o time hegemônico.
O Oscar esse ano fez o trocadilho – usei um recurso parecido pra criar o Oscar de Araque – e botou na roda a marca Mitsubishi com CARS em sua forma plural e explícita.
A música de um filme trágico, sobre bombas atômicas e Barbies é uma combinação no mínimo esdrúxula, demonstrando que nada mais faz sentido, nem precisa fazer. E o Ken, no seu show que mais parecia do Prince, fez a casa cair mesmo. É que a cerimônia vai deixando de ser para a mera entrega e vai ganhando cada vez mais contornos de um show que vale a pena assistir pelos intervalos. Digo isso para quem estará lá e para quem está em casa assistindo.
Já no estúdio do lado de cá, as apresentadoras todas vestidas de Gala, como se fossem nossas representantes no Red Carpet. Por falar nele, todo ano fico de olho nos figurinos. Escolhi propositalmente o figurino da atriz premiada Emma Stone, de preço faraônico, produzido pela grife Louis Vuitton, deu ruim e virou tema da festa. Torci pro vestido da melhor atriz cair, quem sabe um arrependimento pela complexidade de um zíper!
“Para o bem ou para o mal, vivemos no mundo dele. Um projeto inumano. Um abraço aos pacifistas”
Foi a mensagem do ator ganhador do Oscar, dupla com seu coadjuvante.
Cristopher Nolan faz o hat-trick e agradece o amigo que lhe sugeriu o livro como roteiro, o que já eleva o status de leitores.
A gafe da apresentadora da TNT é coisa vergonhosa, de criança, dizendo que o filme a Lista de Schindler celebrava 50 anos com Spielberg. Só uma iniciante, sem matemática na cabeça ou falta de cultura cinéfila poderia dizer isso numa entrega do Oscar. É a prova do critério de seleção adotado em nossa época. O mérito não é a regra.