A ÚLTIMA MÚSICA…

Não sei porque, lembrei do Último Tango em Paris, dos últimos, do último suspiro. A morte que persegue os vivos-mortos. As perseguições implacáveis, em busca, ao fim e ao cabo de força, do nada, enquanto ele ainda vale alguma coisa.
O circo, a exibição de números e demonstrações de excepcionalidades. Cantadas por The Doors, People Are Strange, o domínio midiático é dos bizarros, fórmula mágica da viralização, longe da genialidade, basta o golpe abaixo da linha da cintura, o vale-tudo, a bomba atômica, o sétimo selo, as cabeças decepada de crianças, as hediondades dominando um pó de terra saturado.
A banalização a todo custo vai arrastando a linha média, inevitável destino, equação resultante da repetibilidade padronizadora, lucrativa e animalizante.
A poesia já não habita entre nós, deixaram a cargo do programa de I.A. a árdua tarefa de extrair com nitidez a voz do John, do barulho inconveniente do piano. Na prática, transformaram em serviços prestados aquilo que poderia se transformar em mais um imbróglio de direitos autorais, de uma releitura da música, feita por alguém, vivo.
Era uma música chamada Now And Then. Era, é, ou passou a ser?

Vivo morto, nas entranhas das placas e circuitos do computador visual, em que minha visão se tornou. Fecho os olhos e vejo, não mais um puteiro e seus cheiros e texturas. É que trocaram as primas e os gastos por cenários indecentes, pela versão digital, em forma de avatares, que nesse momento substituíram os atores de Hollywood e arriscam demitir todos os roteiristas dali, por uma teclada no ChatGPT.

A poesia está morta.