Belíssimo, Orgásmico, Excepcional

Esse ano, MIO & PC fizeram a festa e me deixaram com vontade de esquecer o balé nacional da China, com uma coreografia óbvia do tema Lanternas Vermelhas. É claro que na categoria dos grandes espetáculos de dança do Teatro Municipal, o Momix que revisitei vinte anos depois me emocionou e elevou seu conceito ao se aventurar numa reflexão artística sobre a “Botânica”. A origem da vida estava no palco. A China, ao contrário pareceu-me um lugar esterilizado para a ação da criatividade. Caminham como bons copiadores com a maior escala. Agora, essa galera do MIO no Panorama de Dança, realmente veio para deixar sua marca. Tão bom quanto o ZOO, do Panorama de 2008.

Foi no Panorama de Dança. Sim, esse mesmo. O projeto institucional da Prefeitura de mais de uma década e que chegou a adolescência na condição de orfão da Secretaria das Culturas. Acabou com bons patrocinadores: Petrobras e Oi. Foi nesse espaço dedicado a dança que escrevi:

“Ah!, enfim respiro ar puro no movimento. Há alguns lugares comuns no mundo da dança. A técnica apurada, a vanguarda no uso de suportes tecnológicos, o discurso parafraseando o teatro com movimento. Mas puta que pariu, o que foi esse tal de Accords, da ZOO? Sinceramente? Inenarrável… De fato a complexidade torna impensável abarcar o espetáculo por meio de uma narrativa.

E a complexidade é algo melhor parido a partir da cabeça dos gênios. Tenho  certeza de que Thomas Hauert é um deles. A estilística adotada no que vi esteve concentrada no ato musical,  aquele que nasce dos ouvidos para invadir o corpo dos bailarinos? Não. Aquele que é ouvido no próprio corpo que escuta a antevisão do som.

O corpo como o próprio som, a nota de cada partitura, dançando aos olhos do músico que a executa. O ato de improvisação realizado no palco é a tradução da harmonia em fluxo, num vibrante e sonoro grito de vida. Fui impelido a reverberar um “belíssimo” para que todo o teatro ouvisse. Meu tributo foi o grito, e ele ecoou à altura do prazer orgásmico-cósmico que a simplicidade-complexa pode proporcionar aos bem afortunados!”

O trabalho dessa belíssima empreitada artística é sem sombra de dúvida revolucionário. Equivale ao ato sensorial de fazer ver cores com os sabores da língua, por exemplo. Lembrei de imediato de sacadas que mudaram o rumo da história. Ou melhor, de situações da tradição que remetem a experiências estranhas ao olhar do ocidente.

Numa das músicas, onde o tema é a dança espanhola, pude voltar no tempo e sentir os ensinamentos sobre o trabalho entre músicos guiados por dançarinas. É claro que ao utilizar música mecanizada, essa interatividade que coloca o bailarino com a batuta na mão, regendo o grupo musical que o acompanha torna tudo bem diferente. Mas por algum motivo, igual.

Vale a pena visitar:
www.panoramafestival.com

http://www.zoo-thomashauert.be/performance/get/?id=59

Vladimir Cavalcante – New Executive Officer – AREEVOL

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