BOICOTES, BLOQUEIOS, CANCELAMENTOS E XOXOTAS

Faça amor não faça guerra. A humanidade não funciona exatamente dentro desses princípios. É que nosso cérebro não é exatamente aquela brastemp. Pelo contrário, olhando pela perspectiva fragmentar, o hibridismo do qual derivamos e a complexidade incontrolável está submersa em enigmas cujo código só arranhamos a superfície. Mistérios.

A ideia de paz entre tribos é digna dos melhores discursos na ONU. Agora, coloque um pintinho de uma cor qualquer, diferente da cor dos milhares ao seu redor e veja a carnificina acontecer. A história do patinho feio não é sobre patos ou feiúra. Ela nos fala sobre a diferença e sua condenação pelos padrões de uma maioria populacional qualquer. A solução para enfrentar diferenças envolve desde o extermínio, tal como proposto pela Teoria da Raça Superior a submissão, tal como em sistemas de castas e filosofias que criam noções quanto a um determinado grupo ser melhor que outro. Sendo assim, em alguns momentos da história humana, aparecem pessoas que terão o poder nas mãos para colocar em prática projetos de homogeneidade globais.

O caso de Hitler na Alemanha sucede ao projeto de Napoleão na França e são objeto de razoáveis narrativas no filme Vozes da Segunda Guerra realizado pela Netflix e Napoleão Bonaparte da Apple Films, respectivamente. Há um ponto em comum entre as duas produções: elas permitem contabilizar a totalidade de genocídios produzidos sem consideração, por todas as partes envolvidas. Muito embora haja o esforço dos diretores para dourar a pílula, mostrando a exceção das atrocidades na desproporcionalidade dos minutos dedicados as putarias, amores em tempos de chumbo e xoxotas por onde adernam os prazeres carnais de assassinos, a realidade foi bem pior do que o retratado nas telas. Diante de tanto dinheiro, pesquisa, talentos e tecnologias envolvidas, só é possível esperar um excelente resultado. Enquanto arte vale como acervo, para aqueles que nunca lerão sequer no Wikipedia as Guerras e Revoluções superficialmente mencionadas, é válido como sinopse, permite invadir a praia do entretenimento alienante com algum conteúdo mais pesado que Batman ou Spiderman. Dentre os momentos, cito uma pérola do discurso vaselinado a uísque, quando da virada de mesa frente aos alemães: “Now this is not the end. It is not even the beginning of the end. But it is, perhaps, the end of the beginning.”
Winston Churchill

Os números que acontecem em nossa realidade atual são apenas o reflexo no retrovisor do crédito consignado, obtido com a mesma gente que mandou para o cemitério milhões e milhões, enquanto tomava champagne.

Aviso aos que vierem a assistir esses assuntos que por detrás das diferenças, envelopadas com a escaramuça ideológica, o que estava por trás, e ainda está são os interesses econômicos, disputas por mercados, bloqueios, boicotes e muitas xoxotas. Vale por ditadores, tiranos, imperadores, sheiks e matriarcas de falsos conventos, dessas que ganham grana em capa de playboy e anos mais tarde aparecem convertidas pedindo censura de suas travessuras. O direito ao apagamento da memória põe em risco alguns esclarecimentos sobre a realidade contemporânea, sem os quais estaremos fabricando uma sociedade de otários comandada por farsantes.

É curiosos, por exemplo ver a raposa-sultão al-Jaber, Presidente da COP28, se retratar quanto ao seu negacionismo explícito em entrevista recente expôs seu negacionismo retrógrado quanto aos dados científicos fartamente disponíveis, relacionados ao efeito estufa e sua relação direta com o uso de combustíveis fósseis, que representam 75% da responsabilidade total. Os termos “phase-out” e “phase-down”, parecem equivalentes mas não são. Deixar de usar não equivale a reduzir o uso. E por isso, as raposas do petróleo estavam todas em DUBAI, inclusive para convidar o Brasil para se tornar membro do poderoso oligopólio da OPEP. Parecia até um Congresso Internacional do Cartel de Medellin, comandado pela reencarnação de Pablo Escobar.

Como último ato, ler a frase copiada do livro de citações da frase de Churchill na 2a Guerra foi algo inacreditável. Quase caí pra trás na cadeira. Mais um vaselina sentado na cadeira da Nações Unidas. Vejam só:

“Whilst we didn’t turn the page on the fossil fuel era in Dubai, this outcome is the beginning of the end”
U.N. climate chief Simon Stiell

Isso me anima a oferecer material menos escorregadio, sem as incertezas de um inglês alcoólatra e culto:

“No mundo infernal, os inocentes serão condenados, e os culpados serão exaltados. Não haverá pena, graça ou generosidade. Só crueldade. E muitos acreditarão que isso é business”
@vladc