Captação de Água como Fonte de Renda para as Vítimas das Águas

Faz algum tempo um jovem, formado em Ciências Biológicas se apaixonou por tartarugas. A paixão foi tanta que ele conseguiu convencer os que viviam da morte delas a proteger as pobrezinhas. Seu argumento, além de conscientizador propunha uma guinada econômica na vida dos que dependiam da venda da carne daquelas criaturas. Ao invés de matar os belos animais, proteger os mesmos e se transformarem em educadores ambientais. Desde uma linha de comunicação, com o uso de camisetas, bonés, entre outros meios de publicidade, até o próprio apoio ao crescimento de bases de proteção as tartaruguinhas em santuários ecológicos. Essa iniciativa é hoje o Projeto Tamar.

A região serrana é conhecida pela abundância de água e alto índice pluviométrico. Muitas empresas do ramos de bebidas se instalaram por aqui em razão da farta disponibilidade desse recurso e de sua qualidade natural. Cervejas, uísques e a própria água, considerada por muitos como detentora do poder de cura. De fato, a fonte da Judith guarda em sua memória a presença de radônio, que é sabidamente um elemento importante no caso de certas enfermidades. Muitas grupos religiosos chegam a visitar o lugar com o intuito de levar em galões essa água abençoada.

A população de muitas localidades, hoje instalada nestes lugares, poderia muito bem transformar esse momento trágico, com alguma orientação e visão de longo prazo, numa reviravolta em sua história. Reescrever a história é as vezes muito difícil. Ainda mais quando se percebe que as pessoas que vivem a mesma, não são chamadas para decidir o modo de construir a mesma para o futuro, quando as oportunidades de fronteira são rechaçadas por respostas rápidas, faraônicas, sem qualquer controle social e principalmente apenas ao calor da reatividade ufanista que costuma assolar os que detêm o poder.

Tendo em vista algumas experiências de caráter promissor neste tipo de iniciativa, tomo a liberdade de citar uma ação de treinamento de populações para captação de água, em lugares do Nordeste. Claro está que no caso dos moradores da região Serrana do Rio de Janeiro, chega a ser vergonhosa a iniciativa de recebimento de doações de água potável. Certo dia estava em um supermercado e ouvi um pai, um pouquinho mais bem informado dizer ao seus filho: “veja essas garrafas de água, isso em certos países não é preciso, pois a água da torneira é totalmente potável. Não se pode dizer o mesmo do Brasil, o que é uma vergonha. Houve um tempo que pedíamos água no Português da padaria”. Muitas vezes os interesses econômicos legítimos ultrapassam os limites da ambição e extrapolam-se para o campo da ganância pura e simples.

Certas práticas devem ser rechaçadas e em seu lugar garantirmos a sustentabilidade (levar água para lugares que já possuem o recurso é depredar ainda mais o meio-ambiente desnecessariamente, como no caso das tartarugas), impedir o desenvolvimento econômico de regiões vocacionadas, que deveriam ser “protegidas por lei federal, estadual e municipal (com a simples adoção de mecanismos econômicos de isenção de impostos para localidades que produzissem para autoconsumo, por exemplo) e ampliar a base da população que poderia muito bem obter uma renda adicional com a captação de água da chuva, saindo da posição de vítimas para a posição de beneficiados de uma natureza que não é tão cruel quanto alguns, por absoluta falta de trato com o assunto, querem nos fazer acreditar.

Vamos transformar os números calamitosos apresentados como argumento para mais um faraônico projeto de criação de um “Sistema de Alerta para Catástrofes”, fundamentado apenas numa visão isolada dos 50% de inundações e 11% de deslizamentos no ranking de nossos problemas em uma oportunidade. Para isso, convidar os principais atores desse desafio, a sociedade a se pronunciar de forma mais criativa e principalmente de modificar o modo de olhar a contabilidade dos mortos. Eles e as tartarugas que quase foram extintas não podem ser vítimas em vão.

Desse modo, transformar adversidades em oportunidades e sair desse país onde a desgraça, a violência, a doença, e a fome e o analfabetismo se transformaram em modelo de desenvolvimento. Caminhando por essa estrada, só nos restarão postos de trabalho em lugares onde a felicidade deixou de existir…

A seguir, copio o resumo de uma sinopse sobre o treinamento realizado pela EMBRAPA no ano de 2009.

“Pesquisadora da Embrapa ministrou curso no 7o Simpósio Brasileiro de Captação de Água de Chuva(09/10/2009)
No período de 28/09 a 01/10, foi realizada, em Caruaru, PE, a sétima edição do Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva. O evento, que aconteceu na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru, teve como tema “Captação e manejo de água de chuva: avanços e desafios em um ambiente de mudanças” e objetivou promover e divulgar estudos, pesquisas e experiências de uso da água de chuva.

A pesquisadora Maria Sonia Lopes da Silva, da Embrapa Solos – UEP Nordeste, participou do evento ministrando dois mini-cursos. O primeiro abordou os aspectos técnicos relacionados com a seleção de áreas para construção de barragens subterrâneas e promoveu discussões sobre os diferentes modelos com seus respectivos princípios de funcionamento. O segundo teve como temática o manejo de solo, de água e de cultivos em barragem subterrânea, ressaltando-se as potencialidades e limitações da tecnologia.

Para Maria Sonia, os mini-cursos constituíram oportunidades de reunir a sociedade civil, técnicos, pesquisadores e agricultores para uma ampla discussão sobre as pesquisas e experiências com o uso da água de chuva em barragem subterrânea.”

http://www.uep.cnps.embrapa.br/noticias.php#noticia091

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