Casa Rui Barbosa e o Silêncio dos Intelectuais

Acredito que o esforço de realizar mudanças é mais que necessário, quase que dentro de uma necessidade de reinventar o Brasil. Mas ter como marco os governos dos últimos anos é uma piada de mal gosto. Vivemos a patologia da banalização do absurdo. Banalizamos a desordem urbana, aceitando com o fatalismo tipicamente encontrado nas camadas mais desfavorecidas da população a questão da favelização do Brasil.

O Brasil virou o país da bunda, dos analfabetos funcionais, dos desdentados majoritários, dos favelados saciados pela distribuição das migalhas de territórios de risco, ilegais e incorporados como capital político ao voto dos oportunistas. Como os coronéis do nordeste, encontramos o neo-feudalismo. Ele se instaura nas entranhas do estado brasileiro. Como a prática de barganhar nas tragédias como da Região Serrana, o material de doações, para fins políticos de votos em 2012. Tem gente interessada em fazer cadastro unificado. Adivinha para qual uso? Exploração dos psicologicamente atordoados. Pior do que na ditadura…

Acho mais do que válido a produção de farto material sobre nossos governantes. Mas no lugar da Casa de Rui Barbosa, tenho alguns lugares como sugestão para esses estudos: A Controladoria Geral da União e seu programa Olho Vivo. A taxa de corrupção e mal uso do dinheiro público tornou a situação de equilíbrio dinâmico entre sociedade civil e classe política do país, insustentável.

Outra alternativa, mais no sentido da conclusão antes da pesquisa, seria usar os recursos do partido para escrever a história de seus preferidos. Há casos desse tipo na nossa história. Há partidos cuidando de seus interesses, sem aparelhamento e uso do dinheiro público para fins de propaganda e culto a personalidade de seus afiliados.

Quanto aos intelectuais, me lembro que sempre estiveram meio alijados. Em seminário muito interessante, “O Silêncio dos Intelectuais”, ouvi que a palavra “intelectual” já nasceu como palavrão usado na França, pelos setores conservadores para atacar com picardia aqueles que preservam seu pensamento mais crítico em relação aos acontecimentos. De lá para cá não mudou. Ser intelectual e saber escrever e ler com fluência é motivo de vergonha. Ser analfabeto funcional é sinal de potencial para ser alçado ao mito do herói analfabeto. Há crianças hoje nas escolas que ao serem provocadas para estudar pelas professoras dizem: “vou estudar nada, perder meu tempo? Melhor ser esperto e atento ao mundo, e quem sabe virar Presidente da República”.

O nosso militante Emir, que até é uma figura atuante, e batalhadora, vive as suas bandeiras. Uma Instituição como a Casa Rui Barbosa até deve mudar, mas não submetida ao pensamento desqualificado e superficial daqueles que são passageiros transitórios e de primeira viagem. Normalmente, em instituições suportadas por algum lastro de seriedade, são feitos debates, estudos, análise e planejamento estratégico, para só então promover a mudança.

Tive notícias de uma mudança substancial no sistema energético nuclear francês envolvendo cerca de 37 usinas nucleares. A discussão mobilizou a massa crítica desses lugares de importância estratégica para a França, o que ampliou-se com um estudo de detalhamento incorporando dois antropólogos de altíssima qualidade para conduzir as dinâmicas de participação das pessoas de 3 das 37 usinas.

 

Ficar a mercê de uma posição altamente política, parcial e superficial no lugar de um sistema que privilegie as competências específicas é uma armadilha que está destruindo a massa crítica que o Brasil tanto necessita. Há instituições que estão protegidas destes ataques, por meio de Conselhos Científicos em seus estatutos, como é o caso da FAPERJ, no Rio de Janeiro.

Emir, com o poder que está em suas mãos, aproveita e funda uma instituição para estudar, não necessariamente com metodologia científica e crítica a atuação do PT nos últimos anos no Brasil. Aproveite para consultar verdadeiros ícones honrados do partido e que não se encontram mais em suas fileiras. Outro dia ouvi um pensador acadêmico da PUC-RS sobre a morte das Utopias. Em sua opinião, lutas como a transformação da Educação, Orçamento Participativo entre outras, viraram peças publicitárias sem qualquer tipo de vigor dentro de nossa sociedade. A Utopia está morta. Crie uma Fundação ou um Museu. Há dinheiro de sobra no caixa do partido e farto material para produção de conteúdo…

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