DESENVOLVEDORES DA MAÇÃ À VELOCIDADE DA LUZ

Matéria, tempo, espaço. Os recursos escorregam pelas mãos. Cabe aos desenvolvedores a otimização. Fazer mais com menos exige pelo menos algumas unidades de medida, as chamadas métricas. Quero falar delas da perspectiva do custo de aquisição do conhecimento. Pouco tempo atrás, fui fazer passaporte, obter visto e preencher formulários, afim de participar de um evento presencial para desenvolvedores no lugar destinado pela Apple. Tudo isso custava muito tempo e dinheiro.

Durante a pandemia, a empresa se reestruturou e tomou decisões para garantir que o sangue continuasse circulando pelo corpo da organização, no caso o conhecimento. A Apple abriu as porteiras para que qualquer desenvolvedor, em qualquer parte do mundo, pudesse participar. E isso, sem cobrar sequer a assinatura anual. Em termos corporativos, foi uma micro-revolução. Passado o período de exceção, a empresa avança. Esse ano realiza essa mesma bateria de treinamento para desenvolvedores, com palestrantes distribuídos em diversas bases – são vinte cidades envolvidas com traduções ao vivo para 9 idiomas, inclusive português – tornando o evento um carrossel de 24 horas, ao longo de mais de um mês.

Aproveitei a bonde e me inscrevi naquilo que me interessava, tirando ainda uma casquinha para fazer uma avaliação comparativa, entre palestras semelhantes, conduzidas por diferentes palestrantes. Uma vantagem decorrente desse esforço foi descobrir que numa apresentação de 1 hora, tendo respeitado a prioridade do tempo para perguntas específicas, em cada região as perguntas são diferentes, o que na prática torna o material pelo menos 50% inédito, pois as respostas distintas entre Sidney e Cupertino, por exemplo enriquecem a dinâmica.

Navegar a essa velocidade da luz para interagir com pessoas diferentes, com esse grau de simultaneidade é um sonho antigo que cultivei para um negócio inovador no campo das festas. Lembro-me até que a NOKIA, nos seus melhores dias chegou a fazer na região do Boulevard Olímpico algo do gênero. A tecnologia está aí, agora bem mais robusta e facilitada, basta que exista networking e organização espaço-tempo, pra juntar todo mundo e fazer o que quiser, literalmente.

A experiência que realizei começou com a inscrição para 3 eventos, nos dias 8 e 9 de novembro, situadas em São Paulo, Sidney e Cupertino. Ainda confuso em relação aos fusos e de que horários a publicação no mural de avisos tratava, era necessário estar seguro para não pagar mico. Nisso o nível dos envolvidos e as ferramentas pouco ajudam, pois nesse nicho de pessoas, todos são internacionais.

Os três assuntos em questão, de interesse a toda e qualquer pessoa envolvida com produtos pouco conhecidos e montagem de vitrines nas lojas de aplicativos. Como fazer para que o meu aplicativo possa obter melhores resultados de vendas. Novas técnicas estão em curso, à velocidade da luz. Já não basta desenvolver e colocar na prateleira. A vitrine é concorrida, com milhões de outros produtos, dificultando a visibilidade do seu item. Um dia corrido, assisti das 22 as 23 horas a apresentação feita em Sidney, sabendo que os outros temas seriam repetidos nos próximos dias. Inaugurava ali minha 1a participação interativa, me limitando a não fazer perguntas, apenas como ouvinte. A ferramenta de interatividade utilizada para essas video-conferências é o Webex, equivalente a dezenas de outras que se espalharam pelo mercado de LIVES, ao longo da pandemia.

E tudo isso já não custa tanto dinheiro. Se alguém por aí se der ao trabalho de calcular o CUSTO DE AQUISIÇÃO DE CONHECIMENTO, verá que o maior obstáculo a esse acesso é a infraestrutura tecnológica. Desde a indispensável internet de alta velocidade – que insiste em nunca chegar nas cidades do interior do país – até as próprias máquinas, que desde a equivocada política de taxação alfandegária, torna produtos importados, hoje 30% de nosso consumo interno, proibitivos. Ao menos para o desenvolvimento de inteligência interna do país, exige mudanças tributárias bem diferentes das que temos assistido.

Há focos de resistência, mas apenas entre os bem nascidos. E isso não é suficiente para alcançarmos uma massa crítica expressiva, tal como em países intelectual e tecnologicamente desenvolvidos. A criatividade de nicho não é suficiente para internalizar conhecimento concentrado no estado da arte, mesmo que disponibilizado da forma como temos hoje.

A segunda etapa de minha experiência foi mais exaustiva. Começou as 22 horas do dia 13 em Sidney, com Jake White e terminou em Cupertino, as 16 horas do dia 14 de novembro com a Meghana Muppidi em um trio feminino, devidamente cenografado com fundo virtual identificável, porque idêntico para ela e sua parceira de cena, Melissa Manser.

Seguindo a cultura de padronização anglo-saxônica, as palestras idênticas dispõem de tradução nos idiomas acima citados. A tradução feita em tempo real, por máquinas não é perfeita, mas com índice de acerto muito alta. O conceito apresentado sobre o que chamarei de embalagem dos aplicativos não é novo. Qualquer prateleira com um produto embalado de duas maneiras diferentes, pode medir o efeito da embalagem nas escolhas de quem visita um supermercado, por exemplo. É uma analogia válida, que explica o porque um desenvolvimento de interface mais lúdico e direto pode aumentar em 42% as vendas e downloads do app da CBS Sports.

Essa aclimatação é apenas um degrau para a pesquisa sobre um novo degrau: o Apple Vision Pro, que se diz o 1o “computador espacial” da história. Seja lá o que isso signifique para você, falaremos dele ainda esse mês, trazendo uma visão menos romântica do que as propagandas oficiais. O acesso ao equipamento em laboratórios é reservado a desenvolvedores assinantes.