IN THE NAME OF MERCY GIVE

O poster realista “In The Name of Mercy Give“, de Albert Herter retrata bem a falência de valores que deveremos enfrentar sem medo. A arte e a política se comunicam, a propaganda e os panfletos, informação e intenção. A misericórdia não anda em alta nesses tempos sombrios. É preciso reconhecer isso, para a seguir atuar, de alguma forma, evitando o que chamo de “alinhamento automático”, muito comum no gado político, legião de seguidores das palavras de ordem. Prefiro recorrer a história.

Foi difícil costurar acordos e regras para ações de guerra. Nunca foram cumpridas, em tempos de guerra. O esforço diplomático para reduzir os impactos de uma guerra na vida das pessoas comuns é praticamente um pedaço de papel, uma promessa sem lastro. É um privilégio conhecer quem estava lá, na Convenção de Genebra, lidando com potências militares, que decidiriam sobre as regras do jogo para lidar com a proteção de civis em tempos de destruição.
Observando a uma certa distância o que vem se passando em áreas de conflito – que são os principais mercados para os fabricantes da indústria de armamentos – fica claro o desprezo pelos inocentes, esses que pagam o pato, o justo que paga pelo pecador, o que recebe a bala e o míssel perdido, quando não a bomba atômica.
O caso apresentado em detalhes por Claudio Savaget não deixa dúvida quanto ao grau de atrocidades com que convivemos: saber que num conflito assimétrico, o Timor-Leste perdeu 25% de sua população e o massacre do cemitério Santa Cruz, é um exemplo do que a desumanidade é capaz, e de como essas lições precisam urgentemente servir para intervenções no presente, em conflitos am curso atualmente e em futuros, de maneira mais preventiva. A essa altura do campeonato, não se pode ainda ser favorável ao lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, transformada em canção de Vinícius de Moraes, na voz de Ney Matogrosso.
Conflitos com raízes externas, provocados por disputas geopolíticas entre potências, já afetaram nações com alguma unidade cultural, como foi o caso da Coréia Norte-Sul, Vietnã ou mesmo Alemanha Oriental-Ocidental. É quase inacreditável, que os assuntos da atualidade sejam tratados pelos noticiários apenas como fatos pontuais, sem a devida vestimenta histórica e crítica.
Ao resumir as narrativas em bolhas informacionais, perdemos a oportunidade de evoluir no entendimento amplo de um mesmo problema, que afeta a todos os moradores de lugares onde a polarização cria o terreno fértil para desertos democráticos e ditaduras armadas, aliadas de fabricantes da escalada na venda de armamentos.
É assim que se impõe uma lógica de poder, capaz de ignorar e na prática extinguir as 4 Convenções de Genebra, adotadas – pelo menos parcialmente e no papel – por 196 países signatários.
O adeus a atuação da Cruz Vermelha, pude assistir na prática, em Teresópolis, na maior Tragédia Natural do Brasil, pelas mãos de um Prefeito inescrupuloso, tanto quanto milhares de políticos hoje em atuação.

Estes não leram e nem sabem da existência dos princípios associados a misericórdia, jamais considerarão “as condições de feridos e doentes das Forças Armadas em campo de batalha ou no mar”, as “condições de tratamento a prisioneiros de Guerra”, bem como as “condições de proteção a civis em Tempos de Guerra”, previstas na Convenção de Genebra.
Os mandatários das guerras e demais conflitos em curso pelo planeta, não seguem regras, pois se instaurou a barbárie como prática. Na prática, burocratas denunciam a situação, mas nada podem fazer. Os casos de maior evidência, envolvendo Ucrânia-Rússia e Palestina-Israel são exemplos explícitos da carnificina.
Na prática, a Convenção de Genebra foi extinta.