ELEITORES PORTUGUESES NÃO VOTAM

Era uma Revista Playboy, março de 1983, com a Christiane Torloni no auge de sua forma física, em meio aos turbilhões de fofocas sobre sua vida e seu divã, envolvendo o terapeuta que não resistiu aos seus encantos. Hoje em dia seria assédio. Lá pelo meio desse lugar onde jovens se perdiam, uma matéria sobre eleições… Como confiar nelas e neles? A classe política perdeu os escrúpulos que nunca teve, ou de fato o nível caiu muito nesses últimos capítulos? Se tornaram obsoletos, como os operários fabricantes de carros de Chaplin?

O título dessa nossa conversa está longe de ser uma piada de português, daquelas de mal gosto. O fato é que 50% DOS ELEITORES PORTUGUESES NÃO VOTAM, e você brasileiro, já deve ter ouvido falar que em alguns lugares do mundo civilizado, o voto não é obrigatório, nem o serviço militar, nem outras coisas menos nobres. É porque nesses lugares, já se entendeu que direito não pode virar obrigação. O dia em que direitos se tornarem algo que você faz a força, deixam de ser direitos e passam a ser deveres. Há lugares nos EUA onde 90% da população já deixou de votar faz tempo,  por bons motivos.

Mas, voltemos as terra de nossos patrícios. As eleições antecipadas em Portugal acontecem em meio a denúncias de corrupção, bem na véspera da Revolução dos Cravos. Os mais jovens, que nem sabem cantar “o cravo brigou com a rosa”, imagine se buscarão no Google a Ditadura pela qual os portugueses passaram? Com tudo apagado, e muito ceticismo, sobrou a janela de oportunidade para o discurso anti-sistema, padrão dominante na Europa, nos EUA, no mundo. São eles que vão ocupando o vazio político.

Pelas bandas do bacalhau do Porto e doces de Belém, 20% dos eleitores ainda não decidiram em que lado votar. Além desses, 40% dentro de suas opções partidárias ainda não decidiram que candidatos serão escolhidos. Esses números fazem das eleições um lugar de incertezas estatísticas, de imprevisibilidades e não aplicação de curvas de tendências. José Saramago não aprovaria? Como saber?
É importante lembrar que com esse trunfo na mão, vai ficar cada vez mais fácil para a bandidagem política que é capaz de qualquer coisa pelo poder, se auto-vitimizar, dizer que foi roubado e querer ganhar no grito, o que é bem diferente do caso PROCONSULT, dos tempos da Ditadura no Brasil, que tinha como objetivo fraudar o resultado das urnas que elegeram Leonel Brizola como Governador do Rio de Janeiro, que em 1992 simulou uma conversa por internet com o Primeiro Ministro de Portugal, .

A classe militar nunca lidou bem com o seu afastamento do centro do poder, o que é natural. O desmame é uma fase difícil, na vida de uma criança ou de qualquer animal selvagem. Décadas de estado de exceção e ditadura militar produziram certos vícios numa classe que se acostumou a mamar nas tetas do poder público, para muito além dos muros dos quartéis.
Deixar de lado toda forma de facilidade, instituída dentro e fora da caserna como se fora o quintal de casa, era uma hipótese inaceitável, tanto em 1982, quanto hoje. A dor do desmame ainda não passou, e não passará. Restarão apenas os eternos atormentados da caserna e as viúvas do período mais sombrio da história desse país. Nem terapia dará jeito nisso. O Univac 9480 que o diga, do alto das suas válvulas obsoletas.

O desgaste político perante a opinião pública de uma classe cada vez pior avaliada, colocam em xeque os sistemas de Estado vigentes ao redor do mundo, um mafuá da pior espécie, sem solução de médio prazo aparente. E isso interessa a turma do quanto pior, melhor.
Arrisca explodir, só não se sabe quando.