O BRASIL PODE SER MELHOR QUE ISSO? JAMAIS MELHOR QUE A PERUANA QUE ENCONTREI…

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Já recuperando a noção de valores básicos, que citei aqui, entre os quais a identificação entre jogador e torcida, melhora o clima para o futebol brasileiro. Acabar com essa frescura de reserva de mercado, que assegura a jogadores que atuam fora do Brasil e primazia de titulares ou donos de uma vaga na seleção. Isso pode até ser o interesse da FIFA, mas não representa o interesse pela melhor prática do futebol do país. Numa realidade dinâmica como a nossa e dentro de circunstâncias onde entrosamento é determinante para um melhor conjunto, creio que agora melhora a cena. Todos os bem posicionados no campeonato brasileiro, assistido pelo brasileiro médio, tem uma chance.
Começar pelo time virtualmente campeão brasileiro, atitude acertada. Nada de protagonismo para um incompetente e limitado profissional, alçado a condição de técnico. Pega a fórmula pronta e usa. Prá quê mais? O Tite trouxe na ponta dos dedos essa galera a um ajuste muito fino. Ser capaz de negociar com Renato Augusto, que ele jogue em múltiplas funções, enriqueceu o repertório do melhor jogador produzido na Gávea dos últimos anos. Quando o vi jogar pela primeira vez e meter um gol de convicção observada em poucos, já sabia que seria um selecionável. Apesar das agruras de uma fratura facial grave (duas?) e de um estilo lacônico na comunicação, é craque, sem exibicionismos. Digo aos amigos, torcedores flamenguistas que encontro (que as vezes não me entendem), que ficaram com o time “B” do Corinthians por fatos como esses.
A dinâmica Elias-Renato Augusto é fruto daquelas felizes coincidências. No sábado, numa discussão apaixonada sobre futebol, sob o calor de sei lá quantos graus em Bangu, um jovem torcedor vinha me falando sobre os tais volantes… Não resisti, e ante a liberdade e intimidade para expor meu ponto de vista, ousei dizer que a função de volante, da forma como o brasileiro a enxerga, para o bem do futebol deve ser EXTINTA.
E para matar a cobra e mostrar o pau, citei os exemplos de Andrezinho no Vasco da Gama, do Elias, que antes de jogar no Corinthians e Flamengo como faldo-volante, passou uns anos do início de carreira disputando espaço no Palmeiras como centro-avante nas categorias de base. Um herói da bola esse rapaz. Faz parte desse grupo de faz de tudo no meio-campo e ataque. Com Renato Augusto, alternam-se as dinâmicas de jogo, mantendo a qualidade técnica e a consistência do meio-campo. Coisa bem diferente de se ter apenas os obsoletos jogadores de marcação. No futebol que tenho em minha cabeça, hailidade é o componente de nosso diferencial e aí, se tivermos em todas as posições, ganhamos fácil. E podemos ter.
Da leva de jogadores mais novos, vejo Willian Arão, que se destacou nessa temporada do Botafogo, como uma dessas peças que podem ajudar o Brasil a ser melhor nessa parte do campo que já é boa, graças a Tite e São Jorge. A questão que me leva a alça-lo a essa condição é que é um jogador excelente em todos os quesitos que mencionamos aqui, sabe realizar como pouco as jogadas de infiltração em velocidade e finaliza bem. Seus 1,81 o qualificam para tornar o time brasileiro ainda mais forte nas bolas altas, disputadas no meio ou nas jogadas ensaiadas de ataque ou quando necessário na defesa. Não seria ruim convocá-lo, quebrando mais um tabu. Já estamos provando como foi idiota a regrinha babaca de só convocar jogadores do exterior para protagonismos. Porque não um jogador que esteve na 2a Divisão, com um time que agora sobe para a 1a? São lendas que só prejudicam a utilização dos melhores talentos. Já disse aqui que Nilton Santos foi barrado por um técnico, desses mesmos, tacanhos, com 25 anos, na Copa de 1950. Porquê repetir os mesmos erros de um Flávio Costa, e deixar um jogador no auge de sua capacidade atlética e técnica fora do grupo que pode ter os melhores, independentemente da cor, religião, região de nascimento, time de origem ou divisão em que joga. São apenas tabus que hoje nos atrapalham a oxigenar o futebol brasileiro, que poderia escalar os que estivessem em melhores condições de nos representar de forma competitiva.
Quero terminar aqui, lembrando de uma das mais belas imagens que vivenciei, na Copa de 2014. Foi no Maracanã, por ocasião de um Alemanha e França, coincidentemente essa semi-final aconteceu após os 100 anos do conflito na Guerra de 1914, onde numa trégua improvisada, soldados de ambos os lados jogaram uma pelada. Mas a imagem me foi proporcionada por uma peruana, que emprestou sua beleza singular as minhas lentes, pelo tempo que necessitei, dedicada e amorosa. Somente hoje, buscando conexões entre o presente e o acervo, a reencontrei, e decidi nunca mais abandoná-la de meu coração. Aqueles olhos amendoados me perseguiriam dali em diante por todas as noites.
Independentemente do resultado da partida, essa noite me pus a serviço da beleza feminina da Terra de Machu Picchu e da que acredito será a nova onda gastronômica de aceitação universal, o Ceviche. Na passagem por Lima, após a primeira prova realizada da iguaria em 2009, no Natal de 2014, pude assegurar-me de que é uma das melhores comidas do mundo. Que venham mais Ceviches e belas peruanas, para abrilhantar os estádios e a beleza do bom futebol praticado nessa noite menos sombria que as encontradas no Stade de France.

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