UM BRASIL RECICLADO A LA MÉXICO

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Uma noite a mais na Argentina. Forças da natureza enxarcaram o Monumental e mantiveram o time de Dunga refém. A audiência que competiria com “Os Dez Mandamentos” acabou vítima das chuvas e depois da ação terrorista na França. Já dava prá sentir o cheiro dessa carnificina, num lugar muito dependente do turismo e aberto ao que vem de fora. Se fecharão. Um novo casulo espera Paris.
A identificação da torcida brasileira com o time, a grande questão para o jogo em Salvador. E a nova estratégia resolve dois problemas. Primeiro, aproveita o conhecimento e o entrosamento obtido com o melhor time nacional, e o melhor técnico do Brasil. Ao levar Elias, Renato Augusto, Gil e Cássio, gera mais empatia e conjunto. Os caras jogam juntos. E um dos lances legais nessa história é que no caso do Renato Augusto com o Elias, quando um vai o ouro fica. Isso dá um dinamismo incrível ao meio-de-campo.
Outro que se destacou nas funções defensivas de fechamento de espaços foi o Willian. Jogou dando total proteção pela direita a Daniel Alves, que correspondeu inteiramente, jogando mais solto, como faz no Barcelona.
Aliás o gol do Brasil teve cara de Barça. O lançamento primoroso de Neymar encontrou Daniel na posição onde levanta a cabeça e coloca no pé ou na cabeça de quem quiser. E colocou. A bola no travessão, um quase-gol, e depois a finalização do Lucas Lima, ainda devendo uma atuação de gala.
No ano da Copa do Mundo e até antes disso, cheguei a defender a alternativa de um time com jogadores do “mercado nacional”. Costumava ir assistir amistosos da seleção que não precisava jogar para conquistar uma vaga na Copa do Mundo. E foi num Brasil e Equador que vi um time desafeiçoado, sem empatia com a torcida, que mais parecia de torcedores turistas de uma nação estrangeira, bem ali, no Maracanã.
A falta de convivência com o elenco, seja para o bem ou para o mal, acaba prejudicando a liga. Esse tal de “tamo junto”, já não rolava. Não fosse o drible inventado aquela noite por Robinho, que entrou para a história, com um gol (se não me engano de Kaká), teríamos vivido uma noite insípida.
As razões que fizeram os técnicos de seleções recentes só convocarem jogadores que estivessem atuando no futebol europeu nunca foram suficientemente esclarecidas. E atualmente as considero insustentáveis mesmo. A começar pelo tempo de preparação para que os caras que estão pela Europa, em diferentes agremiações, espalhados e sem qualquer entrosamento, se encontrem e joguem plenamente em conjunto.
Conjunto é uma qualidade que se obtém com o tempo de convivência e a repetição da mesma. Adivinhar um movimento do parceiro ao lado, saber mais ou menos o que vai ser feito, vem das relações dentro de campo, jogando junto e fazendo parte de um grupo. Ou você tem o tempo para construir isso, ou já vem com isso pronto. No caso atual, melhor pegar o que já está funcionando. E esse ano, é o futebol paulista.
Há que se considerar outras questões. Não temos uma zaga convincente faz algum tempo. Em que pese a consistência de um Miranda, encontra a figura do David Luiz, perdida em inúmeros lances simples. Todo mundo sabe que a zaga brasileira não dá conta das bolas cruzadas pelas pontas… A expulsão dele pode representar a oportunidade de observarmos o Gil, que considero um bom zagueiro-zagueiro. Inventa pouco, é alto e falha o mínimo. Já é melhor do que nada. Nem precisa ser craque.
O Brasil escapou do pior contra a Argentina, e pode melhorar ainda mais. Sob a batuta do Tite, nos bastidores. A turma do Parque São Jorge traz na bagagem a cola que Dunga pode utilizar para armar melhor seu time. Quem sabe ir aprendendo a ser técnico nesse curso por correspondência, apoiado por inúmeros pombos correios, e assustado com os fantasmas das comparações. A declaração bizonha sobre não ser pai de ninguém, referência explícita ao Felipão e seu “modo família”, era desnecessária, falta do que dizer, falta do que dizer, falta de inteligência, insegurança de um técnico que nunca foi isso, mas “o patrão botou lá”.

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