O Diabo Sonega Informação

Dia 08/08/2008, abertura dos jogos Olímpicos em Pequim. Foi em meio a um jantar com meu pai, em um de seus comentários sobre o filme “Ferrovia do Diabo”, que me dei conta das práticas diabólicas usadas pelos que detêm o conhecimento. Ele, como tantos outros, vítimas da ignorância sobre os perigos de se manter naquela região, correu risco de vida.
Sua viagem, felizmente, não terminou como a de uma montanha de pessoas que morreram para realizar uma obra nunca concluída. Desavisados, esses homens foram usados para realizar um projeto inexeqüível, onde o objetivo principal era simplesmente a venda de equipamentos de um país dominante para um outro colonizado.

Olho para o crescimento de Pequim e a exuberância das festividades e vejo uma nação orgulhosa de seu poder. Uma potência com a dimensão monumental que lhe é peculiar. Tudo em sua história zela por esse aspecto. Esse tal ninho de pássaro oferece uma visão romantizada e até mesmo ecológica da cidade. Estariam os chineses nesse momento preparando a guinada para deixarem de ser um dos centros mais poluídos e destruidores do planeta com suas taxas de crescimento incessantes?

Creio que não. A escolha pela indústria de ponta e as tecnologias limpas ficou para os países e cidades realmente desenvolvidos. Essa coisa de potencia e eixo monumental acarreta conseqüências de uma total incompatibilidade com os verdadeiros referenciais de qualidade de vida. E nesse sentido, cidades como Copenhague, Munique, Zurique, Helsinque, Estocolmo, Viena e Vancouver podem ser considerados lugares comprometidos com a qualidade de vida de seus cidadãos.

Mas a grande imprensa insiste em adotar a tática do diabo: sonegar informações. Desde sempre que as megalópoles são avaliadas como lugares de degradação dos índices de qualidade de vida. Milhões de pessoas encaixotadas não pode ser um bom parâmetro, apenas para a populaça alienada em busca da luz do enxofre que queima as narinas de quem as respira. Para atletas, o pior lugar para realizar esportes. Cheguei a ouvir o Galvão Bueno afirmar estupidamente que os atletas deveriam encarar as condições inaceitáveis da qualidade do ar em Pequim como mais um obstáculo a ser superado, seguindo a tradição dos atletas olímpicos.

Afinal, a quem o diabo quer convencer que o esporte existe para que as pessoas morram por causa da péssima qualidade do ar nos grandes centros urbanos infestados pela praga dos carros e fumaça das indústrias pesadas. Os países mais desenvolvidos possuem mecanismos bem mais rigorosos para coibir essa situação. Onde reina o conhecimento e transparência de informação as sociedades podem se resguardar da diabólica presença, que esconde com sorrisos e frases de conveniência a morte.

Na Ferrovia do Diabo, muitos morreram desinformados. Meu pai, anos mais tarde, pelo menos teve a sabedoria para refletir criticamente sobre como inocentes são usados para que inescrupulosos alcancem resultados que em nada beneficiam a sociedade humana. No curto prazo, apenas seus bolsos. Aqui, o cinema documentário permitiu uma revisão crítica. Mas para a grande maioria, a monumentalidade e o esplendor deixam os olhos ofuscados. As armas como comércio ou as ferrovias, tanto faz. Vale o que o diabo esconde, quando não se revelam as verdadeiras intenções. O representante americano naturalizado oriundo do Sudão, ataca subliminarmente os chineses que vendem armas aos assassinos de seu país. Mas empunha a bandeira do país que ocupa a posição de maior fabricante de armas do mundo.

Quando é que o diabo deixará de sonegar informação na mídia? Ao meu ver, nunca. Cabe a nós, perseguir o esclarecimento possível com sede pelo saber, investimentos em educação e sensibilidade.

Vladimir Cavalcante – NEO AREEVOL

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