O TORCEDOR NÃO É BESTA

O título original da Disney, Beauty and the Beast, tem na versão da Digital Domain – empresa bem sucedida onde John Textor foi Chairman – a Besta da imagem da matéria.

Lá estavam eles, na vanguarda, produzindo uma das obras mais representativas de uma via alternativa de misturas e criatividade na música. Os Novos Baianos e o Besta é Tu, resumem parte do uso que o termo bestial traz para o que acontece no futebol brasileiro, em pleno 2023. A letra é clara, “porque não viver, não viver nesse mundo?”. Então vamos lá, vamos parar de ser besta, e pensar besteiras, no lugar de curtir tudo que aconteceu de interessante esse ano.

Foi emocionante? Sim. A matemática não explica tudo, mas a gente olha para os números e lembra da Benford’s Law. Misture ela com os números ao final da 36a rodada. Faltando duas rodadas para o fim, o líder Palmeiras tem 66 pontos. Um time estável, onde já vimos craques como Edmundo, cujo apelido no auge era “Animal”. Certas palavras ganham peso no mundo da bola. Acompanhei o trabalho no Brasil do “novato” Abel, desde seu princípio. Posso dizer que começou de mansinho e foi ganhando espaço, poder e títulos. Pagou um preço alto, será recompensado na saída, apesar dos desgastes e deslizes. Pelo menos o prêmio de consolação, o brasileiro, está na mão. Só não pode deixar Endrick no banco, como fez ao longo da Libertadores.

A besta andou solta, a violência e a agressividade dispensável alcançaram a equipe do Flamengo, desde a vitória contra o Galo, deixando marcas colhidas no jogo em casa, estacionado no número 63 ao lado de seu adversário, bem mais harmonizado por Felipão. Números não dão bons motivos ao Botafogo, a linha de tendência realizada pela imprensa aponta um segundo turno digno de segunda divisão. Muitos fatores poderiam ser apontados.

Recentemente vi o Corinthians e o Palmeiras, mesmo com shows e festivais agendados, não abrirem mão de jogar no próprio estádio. Já vimos esse filme antes. A administração do Maracanã, pela rentabilidade mais baixa do futebol, comparada com o uso por shows com valor de ingressos muito mais altos, além de patrocínios, fazem do futebol uma presa fácil. Quem se deixar seduzir por essa noção, dispersa energia, perde títulos.

Pontos preciosos, estratégias equivocadas, clima de oba-oba e já ganhou fez muitas vítimas na história do futebol. A Argentina em 2014 comemorou antes da final, em São Paulo, perderam pra Alemanha. O Flamengo viveu o início de suas conquistas, com uma fase do Cheirinho, bem contada em meu livro “Os Filhos do Mário“. O Brasil já morreu de véspera, com as respectivas esposas dos “futuros campeões”, aguardando o título numa festa no bairro da Urca, enquanto o time era derrotado pelos uruguaios. Não se ganha antes.

E o torcedor, não é besta. Cada vez mais, olha o prêmio das casas de apostas e lá descobre rapidinho quem é gato e quem é lebre. Três times já estão matematicamente rebaixados. A briga agora é pelo só resta um, quatro times disputam a última vaga pelo rebaixamento para a segundona. Os números, nesse caso, são diabólicos e traiçoeiros.