OS ARRECADADORES E OS BEATLES

Tax Man é a primeira trilha do álbum Revolver.
É muito provável que uma boa parte dos mais jovens do Brasil nunca tenham ouvido alguma música dos Beatles. Muitos inclusive nem sabem que trata-se de uma banda de rock que mudou a cara da música no planeta. Tendo realizado mais de 250 shows ao redor do mundo, entre 1960 e 1966, é com o álbum Revólver que a quadriga atinge seu ponto de amadurecimento, sendo essa coleção a mais bem classificada, passados bem seus cinquentas anos.
Coube ao guitarrista George Harrison – com alguma ajudinha de Lennon – inaugurar as letras de caráter político da banda.
O contexto? Bem parecido com o dos governos do Brasil atual, só que na Inglaterra da década de 60. Acreditem, as taxas de impostos progressivos aplicados ao grupo alcançaram a marca de 90% e aí não houve outro jeito a não ser gritar, com a notória picardia que caracterizou diversas letras dessa turma de vagabundos, ao olhar da militância trabalhadora, que vive da riqueza alheia, frequentando hotéis cinco estrelas pra distribuir migalhas a quem merecia ao menos um salário mínimo digno pra chamar de seu.
O governo trabalhista de Harold Wilson foi só um aviso do que viria depois. A carga tributária aplicada em cascata no Brasil é braba? A Reforma aprovada esse ano não botou o dedo na ferida. Preferiu enganar o povão. Esperem pra ver o que aqueles que raparam o tacho das empresas brasileiras estatais e suas respectivas irmãs capitalizadas, bancos, fontes de riqueza controladas pelo Estado farão.
Na segunda etapa desse plano nefasto, que onera quem trabalha e produz riqueza, vem ganância vampiresca maior. E não é com intenções distributivas, pois o Estado, dissolvendo a luz do dia, afirma cinicamente, que a fila para quem tem direito a aposentadoria será eterna, mantém um milhão de pessoas na fila de cirurgia do sistema público de saúde epassa a vacinar contra COVID apenas quem é do grupo de risco, fazendo todos os demais pagarem pela vacina.
Não fosse suficiente, 40% de analfabetos funcionais mantidos, crianças do período da pandemia sem aulas de reforço, condenadas ao analfabetismo numa idade crítica para o desenvolvimento cognitivo.
Num contexto como esse, seria pedir demais que alguma segurança pública fosse oferecida, sabemos que não será, salvo para os chefes de milícias e tráfico, protegidos – tal qual Pablo Escobar na Colômbia – em presídios de segurança máxima, para não serem assassinados por facções inimigas.
O aparelhamento do estado ineficiente, povoado por celebridades populares, sem qualificação de qualquer espécie que não seja popularidade, vai deixando portas abertas para um futuro infernal.
Tax man, dos besouros de Liverpool é um aviso premonitório desse despenhadeiro. Enquanto a música do Brasil e seus criativos não acordam, ouçamos Beatles, com traduções de qualquer espécie.