OS NÚMEROS NUNCA MENTEM NO FUTEBOL?

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Mais fácil adivinhar os números das peças de roupa das modelos, ou usar a fita métrica? As duas coisas, para quem é do ramo. Assisto do camarote da matemática as previsões disseminadas pela imprensa especializada esportiva. É curioso que em pleno século XXI ainda sejamos submetidos as infelizes “verdades absolutas”, especialmente quando se arvoram de científicas. A estatística é uma ciência exata e aplicada, filha da matemática. Mas não é a fonte geradora dos fatos, apenas sua métrica.
Os algoritmos utilizados por sites como os da galera do INFOBOLA são úteis para uma primeira aproximação. Mas do ponto de vista mais refinado, são pobres. Porque precisam seguir a mesma receita de bolo, do início ao fim do ciclo de análises. A realidade é dinâmica e muda, mas a modelagem não pode fazer o mesmo, se enriquecer com a experiência, na medida em que o tempo e novas situações são identificadas. Isso exigiria algoritmos genéticos e outras ferramentas para melhorar um pouquinho a situação. O amigo Marcos Cavalcanti​ e outros cientistas do meio, amantes do futebol podem falar melhor disso do que eu, lá da COPPE, UFRJ.
Me interessa enfatizar aqui o caso da parte de cima, esses tais candidatos ao G-4 e os da parte debaixo, os candidatos ao rebaixamento, do Z-4. Começando por cima, com três vagas praticamente já ocupadas, só resta uma a disputar. E ali estão três times dançando em torno da cadeira: São Paulo, Internacional e Santos.
Nesse primeiro caso, explico porque os números mentirão. Há duas competições em curso, o Brasileirão e a Copa do Brasil. A final da Copa do Brasil terá uma influência DETERMINANTE nos resultados dos jogos envolvendo os times do Santos e do Palmeiras. E esse efeito já vem de antes. Dentro de uma estratégia de garantir a presença na Libertadores, o peixe colocou reservas e perdeu para o Cortiba. É claro que tem a maior parte de sua energia canalizada para vencer a Copa do Brasil. Então, a cadeira vaga do brasileirão ficaria entre São Paulo e Inter, empatados em número de pontos. Correm o risco de desempatarem no saldo de gols.
Indo para a parte de baixo da tabela, são cinco times diputando as três vagas de rebaixamento. Isso porque o Joinville já foi pro saco. Então, Goiás, Vasco, Figueirense, Avaí e Coritiba seguem na disputa, com “riscos” calculados em torno de uma realidade envolvendo todo o campeonato e o mesmo critério. E isso é uma falácia das maiores. Se pudermos limitar nossa realidade, veremos claramente que entre todos, o Vasco foi quem teve o melhor rendimento nos últimos jogos. Essa tal de média móvel que o modelo dos caras não usa, é bem aproveitada por analistas do mercado financeiro. Tem melhor rendimento para que ganha dinheiro investindo dinheiro com algum risco.
O Avaí e o Figueirense, constariam na minha lista para essa rodada de cadeiras que ainda sobram, por simples preferência. O Goiás, infelizmente na lista dos candidatos a segundona. E o jogo Vasco e Coritiba, a verdadeira decisão “invertida”. Fatores como “jogo com portões fechados ou abertos” por lá, e a intensidade das equipes no momento do “conflito final” são bem mais relevantes do que apenas os números. Quando você olha para uma contabilidiade ou uma tabela dessas, é preciso tomar cuidado para não tirar conclusões precipitadas. E isso, só considerando os componentes transparentes dessas disputas. Há um sem número de situações extra-campo que podem interferir decisivamente para um resultado qualquer, num jogo. O foco reduzido em apenas duas partidas faz com que alguns poderes possam se aplicar com mais controle.
Há muito que aprender nesse negócio de exercitar simuladores. Mas o que eles não podem fazer com a juventude é emburrece-la, apenas com os resultados imediatistas da última rodada, e aplicar esse critério para selecionar, por exemplo, os melhores do Brasil. As preferências existem. A torcida também. O analista idem. E as estatísticas, apenas uma, entre uma série de outras ferramentas de apoio a decisão. O número que você adotar hoje, pode ser o seu oposto em 24 horas. E o superficialismo de uma certa matemática, é descartado imediatamente, pelos que no dia anterior recorreram a ela para explicar tudo, caída, como um corpo combalido no cemitério do esquecimento.
O jornalismo do minuto-a-minuto continua a produzir falsos heróis. Mas é certo que continuarão tendo a melhor parcela da audiência e consequentemente dos lucros. Os negócios midiáticos tem esse alicerce de sucesso. Nada de novo. Mas uns gatos pingados podem ler, duas décadas depois, algumas palavras que mereçam alguma credibilidade. Espero estar contribuindo para que elas sejam escritas, fora das Centrais de Jornalismo da Obviedade.

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