SÃO PEDRO, VASCAÍNO POR UM DIA

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Era uma tarde abafada de domingo, programada para assistirmos a melhor de três, onde ao Vasco só caberia ganhar, e torcer para o tropeço dos seus concorrentes. O jogo era para iniciar as cinco da tarde, uma hora antes daquele envolvendo seu adversário da próxima rodada, numa partida que valeria seis pontos, dependendo dos resultados dessa. Quiseram os deuses do futebol que a partida fosse então cercada de cores mais dramáticas do que as já pensadas suficientes. As nuvens de um cinza escuro se avizinharam, dando o tom impiedoso e plúmbeo aquela cena, quase de terror, me avisava Márcio, um pouquinho antes do vendaval, da chuvarada e das decisões e informações truncadas sobre a realização ou não da partida naquela tarde que já se fazia noite. A conta era simples, o Santos teria o meio de semana para decidir com o Palmeiras quem será o campeão da Copa do Brasil. Na hipótese de adiamento, portanto, a partida do Vasco teria que acontecer após o jogo da última rodada do campeonato brasileiro, gerando um vazio de sentido a própria partida.
Numa bate-papo que antecedia minuto-a-minuto ao desenrolar dos fatos, previmos quase tudo com uma taxa de acerto bem elevada. Era um time informado e razoável. Não cabia apenas todos os desejos de resultados favoráveis, mas discernimento sobre o andar da carruagem. E ela andou bem. O sistema de drenagem funcionou de forma impecável, apesar dos vestiários terem ficado alagados, e os jogadores puderam transitar por entre a torcida, sem hostilidades. A chuva orquestrada por São Pedro, deixou o clima mais ameno, o jogo corrido, e pelo menos quatro oportunidades reais de gol para o time cruzmaltino, antes do penalti convertido com maestria.
Ao meu lado, sem que eu soubesse, uma profecia se cumpria. Um dos jovens mais talentosos que conheci, dessa geração apaixonada pelo futebol, mas que sabe também analisar a situação no campo de batalha, me acenava com seu pai, feliz por estarmos ali, naquele encontro tão sonhado, no mesmo dia. A vitória era o único caminho possível. E aconteceu. Nós, já sabíamos que a outra competição interferiria diretamente no resultado dos jogos dessa semana. Só não esperávamos que o mesmo fosse acontecer com o time do Palmeiras… Também falhamos no escopo da avaliação. Um time em sua própria arena, de tradição, perder para o frágil Coritiba não fazia parte do enredo. Mas até isso foi assimilado.
Numa partida de futebol, pode acontecer de tudo. Dentro e fora das quatro linhas. Emoções entre as partes, paixões, sentidos a flor da pele, injustiças, tudo isso lavado pelas águas, pelas bençãos de mãe natureza, a quem a grama agradece. O gramado ama água, e em muito breve estará mais verde, lindo mesmo, a espera de mais partidas, dos hinos, da trama de destinos insondáveis, como os que a próxima rodada reserva ao time de São Januário.

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