PALAVRAS E NÚMEROS: SOBRE ENTENDIDOS E PITAQUEIROS

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Tenho sérias críticas ao futebol visto apenas pelo prisma das estatísticas. Não estou sozinho nessa. Acompanhei recentemente com amigos da Equipe Mosaico Esportivo​ um caso muito particular, o atacante Rafael Sóbis e seus chutes a qualquer preço, de qualquer lugar, para nada. Nada é força de expressão. Até o considero um jogador com algumas qualidades em potencial, mas não dá para mascarar e trocar futebol por scault.
É fato que em torno da palavra mágica Neymar, giram números. Os dele, os da imprensa ávida por audiência e os de figuras sem o nível de visibilidade de outrora em busca de projeção rápida. Jogar prá torcida é fácil. Fazer análise vende menos. Não sei quem da equipe de qualquer um dos países que estivesse em campo, com um olho na cadeia, alguns anos de prisão prometidas e outras dezenas de milhões para perder para o fisco, se concentraria com tanta tranquilidade numa competição sem relevância, no contexto atual.
Considerando o andar da carruagem, e o fato de que o Presidente do Barcelona que o contratou também está na alça de mira da justiça, temo dizer que essa bomba relógio no colo, pode ser programada para explodir no dia que quem tem o controle remoto decidir. E os mais velhacos do futebol sabem que isso é rotina normal até. Guerra é guerra, inveja é inveja e o pouco humilde sempre capitaliza para si o ressentimento dos menos afortunados.
Acaba que o comportamento das celebridades fica over, seja para um policial na rua, seja para um juiz dentro de campo, chilenos ou não. E veja você que os dois casos de transgressões dentro e fora das quatro linhas não penderam para alvejar os de nacionalidade “A” ou “B”. Aquela coisa do “sabe com quem você está falando?”, ou ainda, “olha para quanto eu ganho e olha prá você”, é o que muitas vezes passa pela cabecinha de muitos caras, deslumbrados com as facilidades que a ascensão pelo talento natural proporcionam, de forma meteórica e por um tempo curto, a ser aproveitado da forma mais intensa e plena possível, sem limites.
Um dos grandes desafios dos grandes nomes do mundo esportivo ou artístico é saber lidar com o sucesso, porque ele é quem pode os derrubar. Cair em desgraça nos tempos atuais é muito mais fácil. Um mundo que já foi muito mais equilibrado, na arte de balancear a luz e a sombra, hoje peca por exagerar na quantidade de luz nos ambientes.
Essa superexposição, assim como na fotografia, acaba por “queimar o filme”. Com câmeras por todos os lados, e um volume de pitaqueiros, muitos apenas picados pela inveja do que já tiveram e perderam ou nunca terão, vende-se a falsa noção de que somos perfeitos. Nada disso. É certo que 100% da humanidade tem seu lado sombrio, normal pois pecadores e humanos em demasia, amém! Sair um pouco de cena pode fazer bem.
Atribuo uma parte do sucesso de Messi, além do seu talento, o modo “low profile” de ser, equivalente ao nosso “mineirinho come quieto”. Não sendo a melhor pessoa para dar o exemplo sobre isso, sei que o estardalhaço pode atrapalhar muita gente. E nesse muita gente, incluo o nome do nosso protagonista, que acaba de se despedir mais uma vez de uma competição, sem ter sido decisivo na etapa final delas. Lembro sempre, que essa coisa de ser decisivo sempre não precisa acontecer. Não foi assim quando Lucas resolveu numa final, e ganhou meu respeito. Sucesso também pode ser dividido. A não ser que você entre na loucura dos lobos do marketing, que ficam ali, sussurrando no seu ouvido que a cena é toda sua.
A noção de planejamento varia de caso a caso. Falo pelas que adotaria. E nesse caso, a Copa América não foi boa para Vidal, Neymar e Guerreiro. Perderam a oportunidade de dirigir suas energias para desafios de mais médio prazo, onde serão certamente heróis. Trocar a Itália por um camburão chileno não foi, pode-se dizer assim, a melhor escolha para o jogador do Juventus.
A transição de arbitragem que vivemos confunde muito. Não é decisiva, mas irrita. São processos sutis e cumulativos, que os mais jovens, menos preparados mentalmente para enfrentar vão viver seu desequilíbrio. Lá na China, Cuca apanhou e ainda levou um gancho de meses! O campeão dos campeões do volei de ouro brasileiro, Bernardinho, está lá, impedido de entrar em campo com a sua equipe, por decisão da Federação Internacional de Volei, após os desentendimentos na Polônia. Perder é ruim? É. No esporte é preciso ter espírito esportivo? É. Há uma conspiração contra nós, brasileiros? Não. Vencedores convivem mal com a derrota? Sim. Há solução para esse tipo de situação? Não sei. E você, o que acha? O Chile está sendo preparado para jogar a final?

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