PREENCHENDO A GRADE DE PROGRAMAÇÃO (OU NOS TEMPOS EM QUE CUMPRÍAMOS TABELA)

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Observando o comportamento de profissionais do futebol em tempos atuais, é importante ressaltar o efeito “grade de programação”. Numa série infinitesimal onde só encontramos equivalência nas salas de cálculo dos cursos de matemática, chega um momento em que seis se transforma apenas em meia dúzia.
Essa fórmula amarga produzir uma persistente atitude repetitiva, que ao final se traduzirá em marasmo para uma grande maioria, que não quer ou não pode fazer diferente, pela impossibilidade do tempo para crescer dentro do exercício da profissão. Os números de atratividade da programação ao vivo, no business de televisão não deixam dúvidas. É aí que mora a grana, a ponto de ter criado espaço para a efervescência dos realities. Reprise de jogo não tem o mesmo sabor. É como comida do dia anterior, melhor comer fresquinha do que requentada. Claro, há exceções. Certos pratos (ou jogos), ficam até melhores depois de algum tempo.
Mas em geral, o que move o espetáculo é a emoção da surpresa quanto ao resultado de um jogo e conclama as torcidas a fazerem parte da festa, como numa votação política. Ruim é quando a massificação das tarefas e etapas que sucedem cada jogo se transformam em saturação generalizada para todos. E há motivos para isso.
O esgotamento provocado por mandos, desmandos e uma ausência de profissionalismo, compatível com os valores envolvidos nessa história são inúmeros. E os valores não se restringem aos financeiros, há o amor que a emoção envolvida desperta, como quando vamos a uma sala de cinema para sonhar.
Tem uma galera que está entrando só para cumprir tabela. Me lembrei daqueles banners no campo com a galera sentada na grama, em uma espécie de um minuto de silência, quando surgiu o Bom Senso Futebol Clube. Nas últimas rodadas, assisti cenas amargas de muitas matizes, que foram de um time do Náutico já na segundona, feliz da vida em estar no Maracanã, fotografando muito o templo reformado (antes da Copa do Mundo), sabendo que para eles já não valia nada. A não ser que aparecesse um cara da mala branca prá dar um gás na disputa, não havia muito a fazer, e de fato não fizeram. Em outros momentos, também vi chantagem, com a surpreendente iniciativa de condicionar entrar em campo ao acerto do salário. Foram momentos interessantes, movimentos de um novo futebol, repleto da precariedade do velho mundo.
Participar de forma mecânica dessa atividade humana não está em meus planos. Todos podem cair em ciladas, inclusive eu. Mas pelo andar da carruagem, até quando resolverem apenas preencher a grade de programação, vou reagir e lembrar de torcidas mais exigentes, embora bárbaras: “seu bando de pulha, bota aí uma partida decente prá gente assistir. Pro nosso time do coração, pago até pay-per-view”
Não há coisa mais chata do que jogo de comadres, com resultado combinado ou que não vale nada, aquela onda de cumprir tabela é foda, tira todo o tesão, não deixa liberar nem uma adrenalinazinha, graças a essa experiência catártica que é o futebol, para muitos até com status de “religião”. Se um dia resolverem fazer isso com os espetáculos esportivos, eles serão substituídos na grade de programação por Guerras Urbanas e Shows de Reality de algum tema de nicho. E aí, as moças da imagem acima estarão prontas para dominar o mundo.

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