SEM DADOS OU TEMPO A PERDER

A Inteligência Artificial está na pauta das reuniões em Davos. Chegamos ao ponto de enviar o Presidente do STF para participar dessa roda de especulações. A justiça, minúscula na fronteira tecnológica, tenta pegar o bonde andando. Vai continuar assim.

De onde vem essa certeza? Do grau de ignorância sobre o tema. Lembro do caso conduzido pelo autor da frase “code is law” Lawrence Lessig, processando o monopólio da Microsoft. A tremenda dedicação acadêmica, aliada de uma cultura integrada aos donos dessa onda que as empresas de T.I. trouxeram, dá ao professor de Harvard na época, a autoridade relativa. Ficamos com o Zé Mané, que aliás, em nossa realidade, também decide.

Faria melhor ao Brasil ter nas cadeiras acadêmicas de Direito, profundidade no tema digital. Para isso, treinamento específico é indispensável. Não basta conhecer o CEO da empresa do ChatGPT em um Forum de natureza política.

Em 2015 tive a oportunidade de conhecer de perto algumas das plataformas de nuvem, que vinham sendo oferecidas como opções para Instituições da Colômbia. Lá estavam a Amazon, Microsoft, Google e outras empresas dedicadas a esse mercado. O escritório da empresa de Bill Gates e seu Azure davam mostras de potência, ao lado da solução AWS, oferecida pela empresa de Bezos, que vim a conhecer com mais detalhes, em 2022.

Nesse período de mais de 20 anos, algumas novas camadas foram acrescentadas, incluídas aí a Inteligência Artificial e os Modelos Linguagens Ampliadas que facilitariam o uso por não iniciados nesse matagal semântico que são os códigos de computadores. Essa semana me matriculei em um curso oferecido por uma empresa parceira da Microsoft, a Snowflake. Confesso que não tive o entusiasmo que vejo nos mais novos diante das ofertas de sonhos. Tenho meus motivos.

O primeiro, esses jovens fascinados, estão sendo enganados. A estrutura que lhes é oferecida como base existe faz décadas, mas eles não dominam. São os Bancos de Dados, que costumo chamar de Centros de Cálculo. A manipulação e análise destes está na base da pirâmide do conhecimento prometido. Já passou por modismos, tipo Data Mining, Big Data, Data Science, entre outros nomes dessa coisa que é extrair conclusões a partir da tabulação de dados.

A segunda parte diz respeito a Inteligência Artificial, aplicada aos dados, que pode concluir sobre padrões não perceptíveis por um ser humano, em tempo recorde. Isso sugere o que chamamos de previsão do futuro, graças ao poder de processamento de altíssima velocidade, capaz de entregar a resposta sobre o futuro em alguns segundos. É aquela frase marketeira, de que a Inteligência Artificial aprende em tempo quase real.

Parece fantástico? Não é. Vou problematizar.

Com um mundo dinâmico, complexo, em estado permanente de transformações híbridas, já não temos padrões – se é que um dia tivemos – e ao contrário, lidamos com realidades crescentemente disruptivas. O que me dá garantias de que os dados do passado não ajudam muito a prever o momento atual. A vantagem de uma Base de Dados de décadas pode servir como histórico, mas não vai te ajudar no curto prazo. O exemplo apresentado sobre as bicicletas públicas Citi deixou muito claro essa limitação do método em seu estágio atual. Pessoalmente, não usaria para projetar o futuro.

O outro problema é o tempo da máquina. Há um delay. O pé no freio do computador me faz lembrar as transmissões de partidas ao vivo por meio de satélites. Tá ruim por causa da infraestrutura, já foi pior, mas é ainda bastante instável na nossa realidade. Vamos melhor observando a realidade com nossos próprios olhos.

Se me perguntassem, em que situações não recomendo o uso de Inteligência Artificial com Linguagens Ampliadas para ter respostas? Em todas aquelas em que não existissem dados tão frescos quanto aos últimos acontecimentos – dados antigos e mofados não ajudam a interpretar merda nenhuma, só valor histórico – e que exigissem respostas instantâneas, daquelas em que não temos sequer um segundo para apertar um botão.

Em outras palavras, zerados de dados e na ação instantânea, o que vai prevalecer é a contraditória e eficaz inteligência humana. Usar máquinas nessas circunstâncias é de uma burrice abissal. É que no NADA não há previsibilidade baseada em alguma coisa, muito menos tempo em qualquer medida.