Foi uma simples partida da Copa do Brasil. Tingida com cores dramáticas, diante de um Náutico limitado, menor do que a imprensa e os comentários minuto a minuto fizeram acreditar. Mas o que deu esse espaço a toda crônica jornalística? As atuações medíocres do time da Gávea.
Houve um tempo que o Flamengo saía em excursões ou partidas fora de casa para apenas fazer aquela exibição de gala, onde a torcida adversária saía para se deleitar assistindo craques jogarem. Mas os tempos dos times de luxo no Brasil se foram, e em seu lugar temos os times “nivelados”. E quando digo “nivelados”, quero dizer, por baixo.
A entrada de dois jogadores que representam uma linhagem de qualidade mínima, Sheik e Guerreiro, não significa que sejam craques. São apenas acima da média e tem mérito nisso. Mudam o rumo de uma partida, sabem como a movimentação coletiva e a precisão podem representar a vida ou a morte num jogo decisivo, mesmo com placar desfavorável, precisando ganhar na casa adversária.
Um quase desconhecido surge no elenco, para assumir a vaga pela lateral esquerda. Não podemos esquecer que Luxemburgo aturou o quanto pode os inaptos e ineptos para a vaga, Pico e o seu tão defenestrado anterior, a quem atribuiu com justiça o mérito do cruzamento preciso. E resolveu trazer um colombiano dessa leva que passa pela Europa e chega aqui com preço turbinado. Seria mais interessante prospectar direto na fonte, a Colômbia, e trazer até melhores, mais jovens e adequados a um projeto de futebol brasileiro de nível internacional e internacionalizado.
Nunca entendi essas transações trianguladas que vão fazendo o futebol nacional deter uma péssima relação de custo-benefício.
Nesse ponto, apesar de condenar a miopia estratégica de Cristovão, que consegue por tudo a perder quando poderia ter tudo a ganhar, dou a ele o mérito de escalações que trazem ao futebol o brilho de alguns jovens por onde passou, com alto potencial de desenvolvimento. Não que o brilho deles esteja garantido pelo toque de uma espécie de olheiro dessa safra na etapa de transição.
Mas sei da importância dessa chance, e devo tirar o chapéu para um técnico que colocaria num lugar que hoje o futebol ainda não tem. Será muito difícil ganhar uma competição, não entende os sacrifícios e pragmatismos que um resultado as vezes exige e o pior, não tem vocação ao pensamento estratégico. É uma figura livre, leve e solta, sem compromissos, senão com seus próprios botões. E como futebol não é apenas treino físico, tem as leituras do conjunto do jogo, na hora de apresentar a densidade, dança. Acredito em mudanças, e desejo elas ao técnico que tem em muitos amigos meus sua defesa por questões extra-futebol. Alguns defendem gêneros, outros apelam para o preconceito racial, sectarismo religioso. Para mim a coisa é muito simples. O que é ruim é ruim, o que é bom é bom.
Simplesmente Jorge é um exemplo dessa noção. Um feijão com arroz com fundamentos de uma boa baiana é o que as vezes nos falta no futebol. Bater bem numa bola, falta no Evérton, que não tem o cacoete e dificilmente o adquirirá. Pode ser útil como válvula em velocidade, mas decisivo, sem vocação.
Nas assistências, Marcelo Cirino até pode ir bem, desde que com espaço de contra-ataque para impor sua superioridade a partir dos 100 metros, corredor que é. Mas decisivo, não será. A linha de quatro do Flamengo estará reduzida a uma linha de dois mais um homem surpresa, que pode ser o Jorge. Ainda é cedo para apertar a tecla “confirma”.
Quanto ao gol rubro-negro, uma decepção seguida da excessiva babação de ovo dirigida ao goleiro reserva de Paulo Vitor. Criei até mesmo um neologismo para definir o que venho assistindo, o “afabalhoado”. Uma mistura de afobado e atabalhoado, desfigurado pelo peso da titularidade, não oferece a segurança que uma defesa merece receber de um goleiro de ponta.
No estilo faz o que pode, teve sua atuação classificada como excepcional pela imprensa, quando me parece ser apenas uma ilusão de ótica. As bolas chutadas em cima não são exatamente sinônimo de “defesa milagrosa”. Continua inseguro, saindo mal e dessa vez deu sorte, mas continua se atrapalhando, e esse amarelão pode significar que a camisa pesou…