UM ATAQUE RUBRO-NEGRO MEQUETREFE

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Acabara de chegar a casa de um conhecido e seu pai se preparava para assistir o grande clássico entre Flamengo e São Paulo. O mando de campo era do time carioca, mas o jogo aconteceu em Brasília. E isso não é uma crônica de ficção esportiva. Anos de chumbo para o futebol e a torcida do Rio, que acabou em papéis invertidos, vendo os jogos de seus times pela televisão. De 1977 a 1980, a situação era bem outra. Os cariocas no Planalto Central enlouqueciam vendo seus times com craques numa TV com imagens em preto e branco.
No portão, o assunto surgiu da bola na trave de CR7, ontem na Eurocopa, como uma premonição: quem era bom na batida de penalidades máximas? O primeiro nome mencionado, Zico. Mas até esse errou em momentos decisivos. Que eu me lembre, contra o Vasco de Mazarópi, fazendo o impossível, numa época em que o melhor batedor costumava bater por último e a grande maioria em jogo normal era convertido. O outro foi naquela entrada súbita, com passe para Branco em que perdemos nas cobranças para a França. As duas partidas fazem parte da história das tragédias da torcida flamenguista e brasileira.
No grupo houve discordância. Atribuíram ao Sócrates a melhor marca como batedor de penalidade. Discordei, mas não tiro o Doutor da lista dos melhores. Tinha classe. Mas quando o quesito era resolver, o negócio era apelar para um Roberto Dinamite, pela potência no chute aliada a precisão. Não concordei. E aí apareceram outros nomes, a patada atômica do Rivelino, o Nelinho, já numa opção por batidas em que o goleiro entrava com bola e tudo. Eu disse, entrava. Não entrariam mais, a bola que queimava a mão e pesava como ferro, passou a ter cerca de metade do peso. Isso muda muita coisa.
O papo se ampliou, fogos explodindo, de repente percebemos que a partida começara. Pior, a partida já estava adiantada, e os fogos eram da torcida flamenguista, comemorando o gol de empate. Já com antena de TV Digital Aberta, ligada a telinha, imagem maravilhosa e delay time mínimo, nossa emoção era antes. Mas o gol do ataque, já no intervalo, era contra, de um defensor são paulino.
O Flamengo, continuava o mesmo de sempre, com melhorias na defesa, que já vazada, por conta de um um-contra-um desnecessário, deixou o argentino marcar facinho. Vai então que surge uma jogada naquele péssimo gramado – não melhorou nada, desde o primeiro Flamengo X Vasco, porque não aprenderam nada sobre aclimatação, espécies de gramíneas, região do Cerrado, etc – onde Felipe Vizeu deixa quase caído no chão seu marcador, e com a faca e o queijo na mão, dá um chute que mais parecia uma bola devolvida para o goleiro, dos tempos em que a zaga podia devolver bola prá goleiro.
Aí aquela figura quem em 1947, antes que o Maracanã tivesse sido construído, estava lá, em São Januário, vendendo ingressos num Vasco e Sporting, não aguenta e grita: “isso é um MUQUIRANA!”. E continuou: “esse aí tem que mudar de profissão e ir vender Caranguejo na feira”. Não pude deixar de lembrar do Chef de Cozinha Popular, Sergio Bylucas Brilhante e seu prato “Caranguejo Metido a Besta”. Resolvi discordar do meu mestre sobre futebol dos antigos, e em respeito aos vendedores de caranguejo na feira, pedi a ele para não incluir atacantes muquiranas no rubro-negro na elite das feiras livres!
O ataque do Flamengo, vamos combinar, não faz gol. E simplesmente porque ninguém ali está na primeira linha de matadores. A regra de contratação para as posições de ataque é de elenco de apoio. Não tem jogador talhado para o protagonismo, que nada tem de relação com a palavra craque. O Nunes, por exemplo, era protagonista e nunca foi craque. Veio a leva de time B, e não nos libertamos ainda “disso”. Tinha um cara que poderia ter emplacado, deu sinais disso e… Foi vendido! Era o já não tão garoto Kayke.
Já não me preocupo tanto com essa história. A lista de não fazedores de gol não vou reeditar aqui. Estou colecionando as dezenas de gols que esse ataque não faz. E aí surge a solução da bola parada com quator caras com reais condições de cabecear prá dentro. E foi assim, de novo, que o Flamengo viu William Arão empatar, após a indecisão entre Réver e Muralha, lance parecido com aquele que assisti com Marcelo Barros, no Vasco e Botafogo, até pelo mesmo lado do campo. O argentino subiu SOZINHO, com um Réver assistindo de camarote. Assim vai mal.
Prá coroar a festa, a expulsão do homem-gol do tricolor paulista, muitos minutos e já com pleno domínio territorial, as circunstâncias exigiam ao Flamengo VENCER. Mas vencer implica em saber fazer gols. E o time não sabe. Dependeria inevitavelmente de mais bolas paradas. E elas vieram. Até o último minuto da prorrogação. E aquele que saiu do banco, depois de longa data de férias, que já tinha levado na cabeça, dessa vez levou um chute digno de uma luta de Taekwondo no rosto. O juiz não titubeou. Marcou a penalidade, embora para mim pudesse ter metido um pé alto.
Lá foi um tal Patrick, desses que usam a camisa do banco, lá do time grande e dizem que irá assumir a função de protagonista para a Nação. Sem qualquer preconceito, não é um cabra da peia, daqueles que vi por aí, como um Rivaldo. E do mesmo modo que Cristiano Ronaldo, no mesmo final de semana, perdeu o seu penalti. O do português, bem batido, bola para um lado, goleiro para o outro, bateu copiosamente na cara da trave e voltou para cumprimentar seu mestre marrento. O do Alan, passou longe do gol, batido por um cabra se borrando nas calças, diante da responsabilidade. Dizem que bate bem na bola. Concordo. Bate bem mal. Faltou apenas uma palavra na boca do narrador.

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