UM FLAMENGO SEM CAPACIDADE OFENSIVA

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Há coisas no futebol que dificilmente mudarão. Quer uma simples? O fato de que o gol define a história do jogo. Vi times medianos, que ganharam aos trancos e barrancos sequencias de jogos e pasmem, foram campeões. O Flamengo vem sofrendo de uma doença crônica defensiva, se é que posso chamar assim a sua situação.
Muitos crucificaram Ronaldinho Gaúcho, pelo fracasso de um time que na verdade quando o ataque fazia dois gols levava três, e quando fazia três a defesa levava quatro. Desse jeito, o ataque tinha que fazer cinco, para ganhar, como aconteceu naquele jogo épico contra o Santos de Neymar, que ali levou o prêmio de melhor gol do ano, e carimbou de vez seu passaporte para Barcelona, onde hoje fez o gol da Copa do Rei, já que o Sevilla mesmo com um a mais em campo não fez gol. A tese do gol perdura.
Mas sem esquemas defensivos confiáveis, nem assim. Mais tarde ao Flamengo e Grêmio, onde o time do sul cansou de perder gols, poderia ter goleado, assisti um Botafogo perdendo gols com linhas de 4 atacantes contra três na defesa. Mandava os 4 tirar férias, é inaceitável no futebol moderno perder esse tipo de oportunidade valiosa. Seja por ansiedade, falta de orientação, condicionamento pavloviano, ou ruindade congênita, não merece vaga em time de pelada. Logo depois assisti uma aula de defesa do Thunders frente ao fortíssimo ataque do Golden State Warriors. Um placar de 133 X 105 deixou o campeão da NBA do ano passado com as barbas de molho para as próximas partidas e a certeza de que alguma coisa tem que mudar. Me pareceu que faltava energia, aquela força a mais que vemos no vencedor. Quero falar sobre isso.
O Flamengo de hoje é um time sem casa e sem rumo. Olhando para a jogada do escanteio, contei OITO JOGADORES rubro-negros – sem incluir o goleiro – na grande área e SEIS JOGADORES do Grêmio. Acompanhando a linha da bola, ela foi alçada NAS COSTAS de CINCO deles, aos quais coube apenas rezar, e mais um deles, fora do lance, apenas na condição de observador passivo. Ou seja, sobraram apenas DOIS no lance da bola, contra TRÊS gremistas. Fica muito difícil.
Mas isso nem foi determinante. Você pode estar se perguntando, então, o que é determinante? Defender com força, vigor e atacar com eficácia. Sinto falta daquela pegada no modo do Flamengo jogar. Me lembra um pouco o caso daquele cara que a mulher pegou as roupas depois da traição e jogou tudo pela janela, mandando ir morar em outro lugar. Um time sem referência, sem saber prá onde vai, está pronto prá levar uma coça de qualquer um por aí.
Temo que o que já vinha sendo ruim, mesmo com um Maracanã episódico, ficará muito pior esse ano, sem que a torcida local possa dar seu gás, ou seja injetar a identidade e a localidade a um time que pode até fazer bilhetagem, mas não convence dentro de campo. Não tenho notícias de um campeão sem terra. Não é possível imaginar um time cosmopolita como o Barcelona, sendo campeão apenas com jogos fora de seu campo, onde a pressão e identidade se forjam, do mesmo modo que de quando em quando temos que parar em casa e encher o pneu da bicicleta. Não se faz isso na casa de um estranho pelas ruas. Você pode acabar de pneu vazio, sem rendimento.
Acho pouco provável que um time inglês dependa de sua torcida na França para se reenergizar e forjar uma carcaça de campeão. E assim para o campeão alemão, português, holandês, russo, turco ou japonês. Na América do Sul, muito menos. O vínculo umbilical é demasiadamente relevante para ser colocado a serviço de marketeiros sem princípios básicos sobre a organicidade das coisas vivas. Um time de futebol tem uma energia vital, enraizada em algum lugar, a partir do qual todo o restante acontece.
Alguns amigos me falaram da verdadeira batalha travada entre o time colombiano e seu adversário argentino, dias atrás. Um resgate importante desse combate à moda antiga foi o desejo de vencer, dispendendo toda a energia possível. Um episódio que pretendo assim que possível assistir.
Recuperar conceitos elementares sobre o futebol pode ser necessário, principalmente para aqueles que nunca tiveram sequer a oportunidade de encarar um adversário tecnicamente mais fraco, mas que pela força da determinação ultrapassaram esses limites e venceram as partidas impossíveis. Neutralizar para golpear. E o golpe no futebol tem nome: gol.
Nesse quesito, a linha de ataque do Flamengo permanece irreconhecível.

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