UM FUTEBOL DE VELHAS LEMBRANÇAS (E NOVAS LAMBANÇAS)

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Bem que disse um amigo meu, em sua sala, diante do home-theater e das imagens chocantes que acabara de assistir. Não se tratava de uma chacina na Grande São Paulo ou de um terremoto. Era a forma de atuação da defesa do Flamengo, protagonista, mas desta vez acompanhada das lambanças da linha de defesa adversária, a do São Paulo, do técnico Osório.
Em primeiro lugar, os gols. E aqui incluo os feitos por ambos os times e os desperdiçados, em especial pelo Flamengo. Foram lambanças atrás de lambanças. Desde o primeiro gol, outra vez de escanteio, a bola parada que deixa a torcida rubro-negra de cabelo em pé. Com uma participacão mais do que especial do goleiro flamenguista. Lá estava ele, no centro da pequena área, claramente adiantado, pedindo para que o batedor colocasse a bola nas suas costas, o que aconteceu.
Andar para trás é bem mais difícil do que para frente, ele não chega na bola, dentro do seu perímetro de domínio e ainda conta com a ajuda nula dos nanicos Samir e Pará, que facilitam a vida para todos os times que enfrentarem o time da Gávea. Mas isso não é novidade para ninguém. Todos os times que enfrentarem o mengão vão investir nas bolas pelo alto, elegendo jogadores de estatura para ganhar a primeira bola e até encontrar um parceiro para o passe de cabeça.
O ataque do Flamengo corre, é verdade. Mas a defesa vaza, e não é de hoje, com escalacões que não são compatíveis com o futebol de bolas paradas e jogadas ensaiadas de hoje. Defesa baixa e pouco técnica, se pegar time bom, leva dois gols no mínimo por partida.
No empate improvável, a defesa são paulina, consegue ser pior: decide por alimentar sistematicamente o Guerreiro com passes açucarados… Não fosse a má fase do artilheiro, assistiríamos uma sacolada… Foram de fato muitos lances de gol, diante de um paulista desfigurado, irreconhecível, tamanhos os desfalques e o desmonte. Nem o técnico está garantido nessa altura do campeonato.
Mas quero voltar as velhas lembranças. Vimos defesas exemplares, darem estabilidade ao time tantas vezes campeão. Pelos pés de Leandro, por exemplo, lances que entraram para a história do futebol, de uma bola nas costas que o mesmo mata de calcanhar/puxeta de costas e joga no próprio peito, aterrisa no gramado e tranquilamente sai jogando com um passe zen. Isso é um pouco diferente do que estamos assistindo esse pessoal em campo fazer, que insistimos em chamar de jogadores de futebol ou atletas.
Muitos por aqui tem escrito que em tal lugar, nos campos de várzea até mesmo do Rio de Janeiro, encontramos vinte ou trinta melhores. Não duvido que sejam, lá, nos confins da várzea em que jogam. Mas suportar o que o futebol exige hoje desses seres humanos, é outra história.
Nunca consegui fechar a conta onde a produção em massa das fábricas de queijo superassem em qualidade os métodos de produção artesanal, em termos de uma qualidade particular de sabor. Assim é com qualquer atividade humana. Massificou, complica a entrega da qualidade. No impasse entre a produtividade e genialidade, desafio os marmiteiros de aeroporto a enfrentar quem come feijão com arroz em casa, todo dia.
É uma covardia acusar quem está em campo de não nos oferecer o que merecemos assistir. Creio mais pertinente responsabilizar quem dirige os critérios de escolha, colocando diante de nós, linhas de fesa que não terão como se defender, com laterais e volantes de 1,70m, por exemplo. Não que o futebol seja basquete e a altura seja determinante. Mas uma média de idade e de estatura será e fará a diferença, quando você estiver diante de um adversário que te estuda e usa suas fraquezas para te vencer.
Um jogador como o Wallace, por exemplo, capitão do time, merece um olhar em particular. Vem sendo quase sempre aplicado a ele os amarelos, nas paradas de jogada na intermediária. E porque? Porque infelizmente o time joga com dois volantes e no entanto o primeiro combate está caindo na sua conta. Aí, depois do primeiro amarelo, ter o camarada em campo como último homem? Bem, forçando as jogadas nele, levará o segundo e será expulso. Líquido e certo como 2 + 2 = 4.
O futebol tem um abecedário e uma artimética simples. O cidadão nem precisa aprender a fazer conta de divisão ou multiplicação. Não vejo técnicos aplicando métodos de decisão simplificados para redução de riscos em suas formações, antes ou durante o jogo. Gostaria que aprendessem com esportes onde certas atitudes já se universalizaram, fazem parte do script de qualquer técnico, seja ele de nível diferenciado ou iniciante.
O fato é que esse “bumba meu boi” medíocre que vimos assistindo nos jogos do Flamengo, e cito aqui apenas o Flamengo x Palmeiras, Flamengo x Vasco e Flamengo x São Paulo, dão poucas esperanças a melhores dias a nação. É muito sofrimento desnecessário, com um time até razoável, após a chegada de Guerreiro e Sheik, com seus coadjuvantes no ataque. Ainda não fazem linha de passe, não olham o melhor posicionado para finalizar, mas já dão esperança de pelo menos um ou dois gols por partida, o que é pouco se a defesa continuar nessa situação.
Que me perdoem os amigos da “Festa do Boi”, mas ela não é um bom exemplo de como se faz um espetáculo de futebol. Recorram as velhas lembranças e ensinem as defesas a se comportam com a tranquilidade que a posição exige. Um pouco de cadência e classe podem fazer toda a diferença.

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