VOCÊ NÃO PRECISA DE ARMAS FILHO

Faz um mês que a tragédia para a humanidade foi (re)detonada no Oriente Médio. Ninguém sabe quantos já morreram, os números oficiais não existem. Parafraseando Criolo, “não existe amor em território oriental”. Armas, sempre elas, objeto de fetiche, status e símbolo de poder. A história misturada aqui é sobre isso. E a cada parágrafo, sugiro que feche os olhos e repita um mantra: “você não precisa de armas, filho”.
Abri os olhos no domingo e encontrei Belo no palco do (agora) Domingão do Huck. O motivo, mais que justo, celebrar o aniversário de 30 anos do Grupo de Pagode SOWETO. A marca tem um dono, o ex-jogador de futebol Denilson, que andou desacertado com o astro que seguiu carreira solo e certamente é um dos maiores expoentes do gênero. O Pagode – uma variante do nosso samba –  guarda em sua  galeria um exército de talentos e detêm atualmente o gosto popular musical da maioria dos brasileiros, junto com sertanejo e o funk.
Olhei para o Luciano Huck e imediatamente pensei se ali aconteceria a mágica de Nelson Rodrigues, no estilo “A Vida Como Ela É“, trazendo fatos do cotidiano do intérprete, com tudo que tem direito. A vida de Belo, nos palcos e fora deles, daria um livro que se a seguir fosse levado a Hollywood nos traria um Oscar. Mas necessitaríamos ultrapassar a rasgação de seda e falar sobre os grampos de 2002 onde expressões como “tecido fino” e “tênis AR”, levaram o cantor para a cadeia.
De fato, a pobreza cantada por Djavan, falando do subúrbio pobre da África do Sul, Soweto, assim como a Faixa de Gaza ou a Crimea anexada convivem com nossas mazelas e violência.
Na segunda-feira, revisitei o filme O PROTETOR 2, um épico do gênero de ação. Isso, além das nossas circunstâncias específicas, essa tal de GLO, me obriga a traçar um breve paralelo, entre as  violência que gira repetidamente a indústria armamentista e seus diversificados clientes. No filme, o jovem negro, adotado pelo herói possui todos os atributos para comoção do público, ao mesmo tempo em que produz esteriótipos que qualquer personagem convincente exige. Há uma mensagem clara, que contrapõe armas e arte. Afinal, pintar muros pela cidade, como os Gêmeos, ou matar para vingar o irmão, vítima de uma gangue rival,  faz parte de uma, entre tantas reflexões que o sistema armamentista mundial permite.
Uma coisa é certa, fábricas de armamentos e a indústria armamentista não vão ser extintas. O painel recente no Oriente Médio colocou frente a frente, na fronteira de um conflito histórico, uma festa da indústria do entretenimento como pavio ideal ao desencadeamento de um conflito previsível. Faltava a data, o que uma festa e um feriado explicitaram.
As consequências estão aí. A festa perdeu para as armas.
No fundo, a contradição do personagem de Denzel Washington, como protetor, é que nas cenas finais, a solução para o conflito de interesses não se dá utilizando um tabuleiro de xadrez ou uma gincana de perguntas e respostas, baseadas na leitura de livros. É só tiro, porrada, bomba e armamento pesado. São esses, os mesmos que circulam por aqui, cada vez em maior quantidade, sem sequer contabilidade confiável quanto ao número de armas nas mãos de civis e dos que vivem fora da lei.
Na fórmula derradeira que interessa a quem fabrica, vende,  ou faz parte direta ou indiretamente desse mercado, a liberação do território brasileiro para a temporada de caça está nos acréscimos, seguindo os mesmos passos já instaurados em várias regiões do planeta, é uma questão de tempo, tik tak bum…
Tal como já acontece em países vizinhos, como Paraguai e Colômbia, caminhamos para que armas letais sejam vendidas em qualquer comércio de esquina, expostas a céu aberto, inclusive para venda por informais, sem qualquer restrição. Não vejo qualquer tipo de iniciativa contundente por parte de nossos governos, que oscilam entre seguir para o matadouro ou fazer de conta que a realidade não existe.
Do ponto de vista de quem vende armas, quanto mais fronts melhor. Lá na Síria, no Líbano, Iraque, Ucrânia, Gaza ou num passado recente, no pequeno país ilha, Timor -Leste. Quanto ao Rio de Janeiro, sabemos, tem alto potencial.
O futuro está escrito, e não há protetor solar pra ele.