LIVROS SÃO OS NOVOS ROTEIROS DAS ESCOLAS DE SAMBA

Um Defeito de Cor, livro esgotado em suas duas últimas edições, graças a publicidade quântica obtida pela ação das asas da Portela. O livro mais vendido no site da Amazon, Um Defeito de Cor. Pode ser útil para quem deseja desenvolver sua cidadania ou estudar para o tema de concurso, “História dos negros no Brasil: luta antirracista, conquistas legais e desafios atuais”, aposto um almoço que vai cair na prova. Escrevi sobre nossa demografia utilizando os dados recentes do IBGE na véspera de Natal. Numa entrevista que recomendo com Capitão Guimarães – a memória viva não deixa escapar que no passado, o tema da escravidão não apenas circulou, como ganhou carnavais. Com absoluta propriedade e razão, ele sabe, esse movimento não começou ontem.

Está claro para mim que no ano de 2024 a novidade foi o livro, a literatura. Esse caminho reduz alguns riscos e apresenta certas vantagens. Mas também não começou ontem. Leandro Gomes de Barros e a Literatura de Cordel, cujo tema é a Cigana, acompanha a solução genial de pioneiros desse uso, dos quais cito Louzada que utilizou por ao menos duas vezes: As Mil e Uma Noites com Aladim e Miguel Cervantes com Dom Quixote. A seguir, aquela recente sacada literária, a insuperável Viradouro com a carta sobre tempos de doença que virou samba. Essas inaugurações dão acesso superficial, a ser aprofundado pelas e nas ESCOLAS.

Coube a Antônio Pitanga em entrevista no Estúdio Globeleza dizer que na noite do desfile da Portela, “O LIVRO FOI ESCRITO NO CHÃO DA SAPUCAÍ”. E de fato foi, mas não apenas esse livro a desfilar na comemoração de 40 anos do Sambódromo.

Miscigenação. Não custa lembrar, na acepção geográfica clássica, um continente não é um país. Nesse sentido o Brasil é uma exceção, pois é considerado por nós e nossos vizinhos como um “país continental”. Para além do ufanismo, é certo afirmar sobre a diáspora realizada pela escravização em massa de africanos. Muita coisa decorre daí. Ano passado fiz uma oficina de dança afro-brasileira, onde fui esclarecido sobre a distinção entre esse estilo e sua ancestral, a dança afro propriamente dita. Sutilezas e distinções necessárias a construção sem exageros da identidade do nosso país.

Me parece inevitável, já que os Estúdios de Hollywood fazem isso desde os primórdios. O gênio Walt Disney rodava o mundo em busca de direitos autorais de obras literárias como Pinóquio, Mary Poppins. A moda chegou pra valer na Sapucaí de 2024. Os livros vão servindo de base para as Escolas, que nesse caso levam o adjetivo de Samba, mas que são antes de tudo escolas. É certo que NÃO EXISTE ESCOLA SEM LIVRO.

O enredo se repetiu, também com o Salgueiro, que desfilou com uma história extraída do Meu Destino é Ser Onça, do escritor Alberto Mussa. Livro onde lá estão eles, os esmagados, exterminados, os índios. Nesse caso não houve a necessidade da diáspora, foi genocídio mesmo. Não há clamor que se orgulhe pelo continente do desterro ou diáspora. Os índios e as onças desapareceram do mapa do Brasil, junto com a Zona da Mata, no Rio e São Paulo. O movimento segue devorando o equivalente a 250 campos de futebol por dia, na região amazônica, impactando diretamente o agronegócio e toda a vida interdependente do país.

Três das seis escolas no Desfile das Campeãs utilizaram livros como base para realizar seus desfiles. A opção pelo escritor cordelista Leandro Gomes de Barros, em sua obra O Testamento da Cigana Esmeralda, confirma o desejo do carnavalesco Leandro Vieira por levar obras literárias brasileiras adaptadas para a Avenida. É bastante provável que o livro de Nelson Motta “De cu pra lua: Dramas, comédias e mistérios de um rapaz de sorte“, tenha sido reapropriado pela fantasia transformada em enredo por um dos mais talentosos dessa nova geração de carnavalescos.

Não tem saída, Hollywood será parceira dos filmes que advirão, a partir da compra dos direitos.
Começaria pela Onça.