Museu e Interatividade para o Futebol

Prefeitura de SP, Projeto das Organizações Globo, Governo Federal, três anos de preparação.

Nosso trabalho focalizado no espetáculo como um todo. O Museu da Língua Portuguesa tem grande destaque e é replicado como experiência a partir de um pedido de José Serra. Com a realização conduzida pela Rede Globo, o Museu foi lançado construído no prazo recorde de 3 anos.

A potencialidade do Museu ultrapassa o que se fez até aqui com Museus do futebol ao redor do mundo. A grande maioria está muito mais ligado aos aspectos da materialidade. Sendo assim, camisas utilizadas por grandes nomes do esporte, faixas de campeonato e troféus são os principais elementos que prevalecem nestes outros lugares onde a memória do futebol é enaltecida.

Já no Museu realizado no Pacaembu, a virtualidade ganha proporções predominantes. E desse modo o ganho se reflete em dinamismo. O aspecto audiovisual do museu será para o futuro próximo seu maior diferencial e preservará seu crescimento e desenvolvimento.

As videoinstalações, quem sabe no futuro, possam se conectar com o acervo do público de registros amadores no Brasil e fora dele, e se formar como o lugar onde cada um possa ver a sua obra. Fotógrafos e profissionais do jornalismo desportivo também podem se beneficiar dessa liberdade.

Decretos Unificadores e Autoritarismo

Manifesto a favor da Língua Portuguesa recebe adesão de milhares de portugueses intelectuais. Essa é a quarta tentativa de unificação por decreto. As três primeiras foram torpedeadas pelos praticantes locais de suas próprias especificidades.

Transcrevo aqui a posição oficial do portal da Academia Brasileira de Letras, publicada no dia 29 de setembro de 2008, com inserções críticas aos que se pronunciaram favoráveis a esse processo de empobrecimento da diversidade linguística do planeta. Esse assunto foi objeto de análise em outro texto aqui publicado.

“A Academia Brasileira de Letras realizou no dia 29 de setembro, às 15 horas, no Salão Nobre do Petit Trianon, sessão solene de celebração dos 100 anos de morte de Machado de Assis, culminando a extensa programação com que, desde março, vem homenageando o maior dos escritores brasileiros.

O Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, presidiu a cerimônia, na qual, assinou quatro decretos de promulgação do Acordo Ortográfico dos sete países de Língua Portuguesa.

Estiveram presentes os Ministros da Educação (Fernando Haddad), da Cultura (Juca Ferreira), o Governador do Rio de Janeiro (Sérgio Cabral) e os Embaixadores e Cônsules de Portugal, Angola e Moçambique.

O Acadêmico Eduardo Portella foi o orador oficial da solenidade.

A sessão solene teve transmissão ao vivo pelo portal da ABL.

Saiba Mais

O Presidente da ABL, Cícero Sandroni, afirma que ,”com esses atos, Machado de Assis será duplamente exaltado: de um lado, a Academia lhe rende a mais expressiva homenagem neste ano em que celebramos o centenário de sua morte com dezenas de realizações, entre as quais exposição sobre sua vida e obra já visitada por milhares de pessoas, na sua maioria estudantes. E de outro, a assinatura pelo Presidente Lula dos decretos que promulgam o Acordo Ortográfico dos sete países lusófonos, ato que concretiza uma aspiração de Machado, no discurso de encerramento do ano acadêmico de 1897: “A  Academia buscará ser a guardiã de nosso idioma, fundado em suas legítimas fontes – o povo e os escritores, todos os falantes de língua portuguesa”.

(Nota do blogueiro: sempre achei estranho que poetas e escritores tenham a data da morte comemorada. Algo do tipo, até que enfim morreu, ou depois de morto todo mundo vira santo. Acredito que a melhor maneira de homenagear escritores e poetas é incentivar suas atividades em vida. E considerar a assinatura de um decreto, como o nome já denota ato autoritário, realizado por um Presidente da República, torna um acordo sobre nossa língua um ato da esfera de competência política… Dois erros no modo de comemorar, cometidos por uma Academia…)

O Acordo Ortográfico:

O Acadêmico escritor Domício Proença Filho, filólogo, explica que a ortografia da língua portuguesa tem sido preocupação de estudiosos desde o século XVI. Só se torna, entretanto, objeto de regulamentação por acordos firmados por Brasil e Portugal, a partir dos começos do século XX. O último, que agora será promulgado no Brasil, representa a culminância de tentativas de superação de divergências que marcam os acordos vigentes: o de 1943, no Brasil acrescido das alterações de 1971, e o de 1945, em Portugal, com as medidas de 1973.

Mais um capítulo de uma história longe de ser tranqüila. No processo, a concretização, em 1975, de novas normas comuns, elaboradas pela Academia Brasileira de Letras e pela Academia das Ciências de Lisboa. Motivos de caráter político impedem a aprovação oficial dos cânones preconizados.

– Continua Proença Filho:

Os esforços prosseguem. E conduzem a um encontro que reúne, em 1986, no Rio de Janeiro, por iniciativa do Acadêmico Antônio Houaiss, representantes convidados dos países que, à época, adotavam o português como língua oficial, eram eles, além do Brasil, Portugal, as demais nações lusófonas agora independentes: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. O Timor Leste só mais tarde oficializaria o uso da língua comum. O acordo ortográfico elaborado na ocasião propiciaria a unificação da grafia de 99,5% do vocabulário geral da língua. Reações polêmicas ainda uma vez o inviabilizaram.

Novas negociações mobilizam, em 1989, os países oficialmente lusófonos. E um novo documento regulador é formulado em 1990. Na base dos conteúdos, o texto do Acordo de 1975 e, de estrutura, do Acordo de 1986. Consideradas as razões das divergências a ambos vinculadas. O texto final é assinado em Lisboa, em 16 de dezembro daquele ano, por representantes das nações envolvidas. Destinado a unificar a grafia de 98% do vocabulário geral da língua na dependência de aprovação pelos respectivos Congressos. Nesse sentido, ganha a anuência de Portugal, de Cabo Verde e, em 1995, dos congressistas brasileiros.

Por força da incompatibilidade entre data de vigência e de aprovação, um protocolo modificativo elimina a exigência de fixação da primeira. Tal documento é referendado por Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e, em 2002, pelo Brasil. Na agilização do processo, a Comunidade dos Paises de Língua Portuguesa, criada em 1996. No curso das discussões, estabelece-se, como regra, arriscada, que a concordância de três países representaria consenso. Tecnicamente, segundo o acadêmico, o novo acordo já poderia ter entrado em vigor.

Resistências acentuadas oficiais e editoriais, de várias origens, e dificuldades de ordem prática, entre elas o prazo de adaptação e as que envolvem a política do livro didático no Brasil, retardaram o processo, que agora chega ao ponto de conclusão com a decisão do Presidente Lula de firmar os decretos de promulgação no Brasil. – Finaliza Proença Filho.”

Dito isso, aqui começa o nosso problema. Decretos de unificação e suas associações com o autoritarismo. Há um enorme desconhecimento da população laica sobre o tema, o que obviamente inclui o atual Presidente da República. De certo que o desejo de homens advindos da política e portanto comprometidos com atos de concentração de poder, levam a crer que o instrumento do idioma pode ser utilizado para aumentar a opressão

Se Deus é Brasileiro, o Diabo é Nordestino

Os cineastas tem onde buscar inspiração. Glauber Rocha inaugurou a tradição com Deus e o Diabo na Terra do Sol. Na esteira de toda a perseguição que o vnaguardismo do cinema novo sofreu, uma provocação a valores consideráveis socialmente intocáveis. O cinema tocou.

A literatura também. E foi na obra de Saramago, com o Evangelho Segundo Jesus Cristo, proibida de circulação pela Igreja de Portugal que saiu das páginas dos livros para o cinema.

Deus é brasileiro, de Cacá Diegues, baseado num conto de João Ubaldo de Oliveira perfazem uma tradição. Extrair dos ditos brasileiros as imagens para realizar uma identificação com o público, em especial de brasileiros.

Do Car Free ao Carefree

Num trocadilho barato, o dia livre dos carros foi comemorado com pouca atenção da mídia, mais preocupada em desastres no mercado financeiro.

Mas a Marina deu ênfase a essa atitude. Ela come produtos naturais e defende uma atitude politicamente correta diante da vida. A proposição de vida santa para os mortais ultrapassa as iniciativas de mulheres honradas como Madre Teresa de Calcutá.

Marina foi mais longe no ano de 2010. Confrontando-se com modelos de desenvolvimento econômico defasados para o país, aos quais os que exercem o poder não tem como se desacoplar, ela demonstrou que era possível com sua votação expressiva. Contando com a ajuda de um vice do porte de um Presidente da NATURA. Logo depois multado de forma exemplar por biopirataria…

Nenhum exemplo é tão exemplar a ponto de não ir parar nas páginas das manchetes desmoralizadoras por causa de um boquete de duas prostitutas suíças, que cobraram uns 300 dólares para realizar a fantasia do nerd solitário, mas que podem receber muito mais para acusar o cliente e posarem de vítima. Foi assim com o pobre do Fenômeno, e olha que a extorsão nem envolvia assuntos de estado. Era coisa de mal profissional do sexo mesmo…

Mas a Marina e os sem-carro continuam juntos. Nas passeatas gays da Paulista, a afluência de espectadores que adoram dar uma fugidinha e ver o que anda se passando por ali, choca os que assistem pela TV os casos mais frequentes de homofobia. Ser ou não ser, eis a questão com que o aparelho repressor envolve a moralidade e o status de quem detem o poder. Felizmente os militares americanos vão doravante poder declarar sua homossexualidade. Isso é uma atitude de civilidade. Isolada, mas é. Só não combina com genocídios e massacres no oriente médio.

Os carros e as bicicletas não convivem juntos. Um polui o ar, o outro depende do ar para funcionar com os pulmões de seus donos. Não dá para pedalar na cortina de fumaça de poluição como a que vi em Bogotá periferia. É suicídio. Alguns até usam máscara. Mas já não combina com a proposta. Nos veículos motorizados, filtros de ar atenuam o problema de quem está assiduamente no trânsito.

O carefree está livre. O carro é liberado de impostos e o candidato do governo se reelege sem dar casas, institucionalizando a pobreza, a violência e a car nificina das oficinas da autolatina. Não tem mais lugar para eles, seja na política, seja nas estradas. Mas eles se reelegem. Enquanto os seringueiros e os seringais vão morrendo pelo caminho…

 

Vladimir Cavalcante

O lugar da Oralidade

Um decreto presidencial em outubro unificará a ortografia dos países de Língua Portuguesa. A justificativa de que essa iniciativa facilita a tradução de documentos em organismos multilaterais é no mínimo suspeita. Historicamente, os idiomas de países colonizadores, como é mais recente caso de Portugal, Inglaterra, França, decretaram a morte de milhares de línguas e dialetos.

O fortalecimento de uns implica no enfraquecimento de outros. Esse fortalecimento se deu numa época em que os processos de hegemonização não tinham telhado de vidro. Não é o caso no século XXI. O planeta despertou para uma palavra importante nesse e em outros casos: diversidade. A defesa da consulta pública encomendada para outubro de 2008 consta de matéria do JB de 26 de julho de 2008, cujo título na seção país é “Acordo ortográfico sairá em 2011”. Favas contadas, decisão presidencial, por decreto lei.

Nem todo mundo quer tomar coca-cola. Nem todo mundo quer ter como língua mãe o inglês ou o mandarim. Algumas pessoas do planeta entenderam que a hegemonização está associada a práticas autoritárias, que eliminam a diferença, oprimem minorias e reduzem o espaço para o novo. A inovação, incluída a linguística, tem seu ponto de partida em movimentos minoritários. Foi dentro de uma realidade multicultural que o estado soviético esvaziou-se.

O Brasil se situa isolado de seus vizinhos geográficos, que falam espanhol. Essa barreira impede muitas ações de cunho social, cultural e econômico. Um dos fatores decisivos para integração da América Latina e de seus povos, em especial o brasileiro, é o idioma. Iniciativas que atenuem o problema das barreiras do idioma, ao invés da solução clássica, surgem como alternativa: aprenda espanhol, para quem fala português e aprenda português, para quem fala espanhol. Uma Universidade do México trabalhou soluções que permitissem a essas línguas irmãs a possibilidade de que se compreendam. Ou seja, você, brasileiro continua falando português, mas é compreendido por quem aprende o que chamaríamos de “portunhol”.

É dessa perspectiva que um grupo de artistas e intelectuais latinos se agrupam em defesa de um movimento cujo título é “Portunhol Selvagem”. Essa vanguarda vem se reunindo em Assunção numa  jornada cujo nome é “Kapital Mundial da Ficção”. Livros, músicas, filmes e idéias são incorporadas a esse lugar dentro de um espírito, onde a preservação das coisas é mais importante que a sua unificação. O respeito a cultura oral é também uma novidade. O presidente brasileiro, oriundo de uma região pouco letrada do Brasil e no entanto riquíssima em literatura de Cordel, por exemplo, deveria estar sendo alertado sobre as posições de vanguarda que nosso momento admite, no lugar de assinar por conta de um assessoramento retrógrado decretos datados de cheiro de mofo dos séculos do imperialismo.

Esse grupo é contrário as noções-requisito a unificação proposta no decreto, pois “são contra o pensamento único” e consideram o portunhol a língua mais democrática da América do Sul.

Em novembro do ano passado a ONU realizou um evento onde alguns grupos de grande poder econômico como o Google, Yahoo, Microsoft, entre outros, apoiados por seus respectivos representantes de governo defendiam a unificação e localização de conteúdo. A fórmula proposta era muito simples. Para ter acesso a mercados, basta traduzir menus de programas de computador e páginas da internet. Se for um programa de  TV ou cinema, é só oferecer dublagem ou legenda.

Para esses países, que se aproveitam ao máximo da posição tecnológica, nem os domínios da internet podem ser publicados com nomes, letras e códigos não existentes no alfabeto anglo-saxão. Esse absurdo e a abertura para a diversidade serão corrigidos, graças as ações da ONU e dos países interessados em romper a hegemonia do idioma inglês ou de outros mais comprometidos com a diversidade.

O verdadeiro sentido da produção de conteúdo local não passa pela crença de que todos devem obrigatoriamente saber inglês para serem considerados cidadãos do mundo. O legítimo cidadão do mundo aprende a respeitar a realidade multi-idiomática que preserva a riqueza de um ambiente comunicacional complexo. A tecnologia existe para isso e pode servir ou não a esse objetivo. Nesse sentido, a afirmação de que “o acordo ortográfico facilitará os organismos multilaterais” é das mais falaciosas. A compreensão que se espera de representantes nesses organismos é de que esses sejam sensíveis a necessidade de compreensão da realidade do outro, no lugar de impor uma norma que esteriliza as possibilidade de convivência num ambiente culturalmente diverso.

Essa tem sido uma das principais preocupações da ONU em suas iniciativas por uma sociedade da informação e do conhecimento, com uso de uma internet em que todos os países e línguas do planeta estejam adequadamente representados em todas as suas diferenças e peculiaridades. Isso inclui evidentemente países e culturas de tradição oral, cuja preservação pode ser de valor inestimável para  futuro do homem no planeta.

Faria mais sentido o desenvolvimento de empresas de software capazes de criar programas que permitissem a tradução simultânea dos conteúdos locais minoritários para os idiomas de língua dominante. Ou softwares que permitissem que o ato de fala fosse transposto para escrita. Assim, analfabetos poderiam escrever. E guardar seus escritos, e aprender com eles. A tecnologia de reconhecimento de voz para essa finalidade se popularizou com programas de empresas como a IBM, a Dragon e a MacSpeech. A IBM desistiu do mercado. Sobraram duas, que não priorizaram línguas como o português. Apostam na unificação do mercado e na hegemonia do inglês.

Houve uma época que engenheiros americanos consideravam dispensável incluir caracteres além do padrão ASCII nas impressoras matriciais. Foram anos de impressão sem acentuação. Conheci brasileiros ligados ao setor de informática que defendiam em Congressos, “uma revolução no idioma português”, dispensando o acento, por exemplo, como prova de modernização da língua e atenção aos novos tempos. Anos mais tarde surgiram impressoras com capacidade de expressar imagens com cores e complexidade. A tecnologia evoluiu. A mentalidade hegemônica não.

Um proeminente pesquisador brasileiro, defendeu ano passado em plena Academia Brasileira de Letras posição semelhante, ao dizer que o Google ditará o modo como as pessoas escreverão o certo e o errado, baseando suas decisões na estatística de ocorrência das palavras…

Desenvolver softwares que incluam milhares de idiomas, seria um tiro pela culatra para países hegemônicos e para aqueles que fundaram as leis econômicas da demanda de escala e do volume de produção. Abriria seus mercados e fragmentaria a produção. Esse tipo de localização de conteúdo não será dada. Terá que ser conquistada.

Um exemplo incontestável dessa importância passa pela descoberta advinda de estudos sobre uma tribo indígena no Brasil, em que dogmas científicos sobre a natureza intrínseca dos números no aparelho cognitivo dos homens foi posta abaixo. Esses índios desconhecem os números em sua língua. E que portanto os números são um desdobramento cultural e não biológico. Esse fato leva a pensar que a extinção de uma língua significa a extinção de uma cultura. A unificação das línguas representa um modo elegante de se promover o que chamaria de “Genocídio Cultural”.

Em tempos de multiculturalismo, intercâmbios e ampliação da base de riqueza a partir da compreensão do outro, a unificação é injustificável e inaceitável. Quanto mais assinada por um presidente como o nosso, que se alertado defenderia e honraria a tradição oral de sua gente, de seu povo. O Brasil é um país sonoro e oral. O Ministério para Assuntos Estratégicos brasileiro deve estar atento as consequências da posição brasileira no tabuleiro do poder mundial.

A AREEVOL, participante ativa de iniciativas pelo desenvolvimento humano com o uso de tecnologias digitais, está comprometida com a diversidade.

Vladimir Cavalcante – New Executive Officer

O Diabo Sonega Informação

Dia 08/08/2008, abertura dos jogos Olímpicos em Pequim. Foi em meio a um jantar com meu pai, em um de seus comentários sobre o filme “Ferrovia do Diabo”, que me dei conta das práticas diabólicas usadas pelos que detêm o conhecimento. Ele, como tantos outros, vítimas da ignorância sobre os perigos de se manter naquela região, correu risco de vida.
Sua viagem, felizmente, não terminou como a de uma montanha de pessoas que morreram para realizar uma obra nunca concluída. Desavisados, esses homens foram usados para realizar um projeto inexeqüível, onde o objetivo principal era simplesmente a venda de equipamentos de um país dominante para um outro colonizado.

Olho para o crescimento de Pequim e a exuberância das festividades e vejo uma nação orgulhosa de seu poder. Uma potência com a dimensão monumental que lhe é peculiar. Tudo em sua história zela por esse aspecto. Esse tal ninho de pássaro oferece uma visão romantizada e até mesmo ecológica da cidade. Estariam os chineses nesse momento preparando a guinada para deixarem de ser um dos centros mais poluídos e destruidores do planeta com suas taxas de crescimento incessantes?

Creio que não. A escolha pela indústria de ponta e as tecnologias limpas ficou para os países e cidades realmente desenvolvidos. Essa coisa de potencia e eixo monumental acarreta conseqüências de uma total incompatibilidade com os verdadeiros referenciais de qualidade de vida. E nesse sentido, cidades como Copenhague, Munique, Zurique, Helsinque, Estocolmo, Viena e Vancouver podem ser considerados lugares comprometidos com a qualidade de vida de seus cidadãos.

Mas a grande imprensa insiste em adotar a tática do diabo: sonegar informações. Desde sempre que as megalópoles são avaliadas como lugares de degradação dos índices de qualidade de vida. Milhões de pessoas encaixotadas não pode ser um bom parâmetro, apenas para a populaça alienada em busca da luz do enxofre que queima as narinas de quem as respira. Para atletas, o pior lugar para realizar esportes. Cheguei a ouvir o Galvão Bueno afirmar estupidamente que os atletas deveriam encarar as condições inaceitáveis da qualidade do ar em Pequim como mais um obstáculo a ser superado, seguindo a tradição dos atletas olímpicos.

Afinal, a quem o diabo quer convencer que o esporte existe para que as pessoas morram por causa da péssima qualidade do ar nos grandes centros urbanos infestados pela praga dos carros e fumaça das indústrias pesadas. Os países mais desenvolvidos possuem mecanismos bem mais rigorosos para coibir essa situação. Onde reina o conhecimento e transparência de informação as sociedades podem se resguardar da diabólica presença, que esconde com sorrisos e frases de conveniência a morte.

Na Ferrovia do Diabo, muitos morreram desinformados. Meu pai, anos mais tarde, pelo menos teve a sabedoria para refletir criticamente sobre como inocentes são usados para que inescrupulosos alcancem resultados que em nada beneficiam a sociedade humana. No curto prazo, apenas seus bolsos. Aqui, o cinema documentário permitiu uma revisão crítica. Mas para a grande maioria, a monumentalidade e o esplendor deixam os olhos ofuscados. As armas como comércio ou as ferrovias, tanto faz. Vale o que o diabo esconde, quando não se revelam as verdadeiras intenções. O representante americano naturalizado oriundo do Sudão, ataca subliminarmente os chineses que vendem armas aos assassinos de seu país. Mas empunha a bandeira do país que ocupa a posição de maior fabricante de armas do mundo.

Quando é que o diabo deixará de sonegar informação na mídia? Ao meu ver, nunca. Cabe a nós, perseguir o esclarecimento possível com sede pelo saber, investimentos em educação e sensibilidade.

Vladimir Cavalcante – NEO AREEVOL

Saramago cego e Machado alienado

Estamos tentando saber com quantas forças materiais e espirituais um autor precisa embater antes que sua obra venha a público. A realização de um artigo, embrião de livro intitulado “O Autor Negociador” está próxima. Enquanto isso, que tal a promoção de encontros entre autores aparentemente distantes em suas produções?

Sinopse: No ano do centenário da morte de Machado de Assis, muitas foram as homenagens. O cinema perdeu a oportunidade de fazê-lo. A fábula do doutor Simão Bacamarte, que funda um hospício em Itaguaí e resolve internar nele a cidade inteira, é uma antecipação ao texto de Saramago, com os requintes adicionais de humor e picardia que o bruxo das palavras realizou. Fernando Meirelles, menos conectado com o mundo local do viajante que nunca saiu do país, preferiu aplicar uma jogada de marketing para ganhar visibilidade internacional. Perdeu uma oportunidade. Leia abaixo sobre o desperdício da oportunidade.

Duas obras se justapõe no espaço-tempo. O trabalho de Fernando Meirelles, cuja opção pela internacionalização de seus trabalhos, abdicando de uma visão que valorize a genialidade local. Tudo bem que a Academia estava a comemorar a morte de Machado de Assis. A tradição e o prazer mórbido de fazer da missa de sétimo dia o centenário, pode quem sabe ser substituído pela celebração do nascimento de poetas e escritores. O cristianismo fez isso com Jesus.

A Obra de Machado de Assis, suplanta na maioria dos aspectos a de José Saramago. Deixa a desejar nos quesitos que atribuem valor universal as mesmas. Sua cor, o coloca no lugar dos discriminados da época e de hoje. Sua nacionalidade o coloca na posição de detentor do domínio inferior do idioma português. Algo como se os americanos não pudessem ter ótimos escritores por terem herdado o idioma dos inglêses. A Unificação do Idioma Português faz parte inclusive desse contexto de dominação pelo controle do centro de poder sobre as decisões sobre a língua.

Ouvi dizer que Carlos Drummond de Andrade teria sido um poeta de quilate universal. Mas o universal, bem sabemos, tem suas restrições ao talento. Tem sido assim com o clube dos países mais ricos. Daí o Brasil fazer parte de um outro grupo, que contempla o diálogo entre vinte países. Talvez tivéssemos o dever de fazer pela literatura o mesmo que a diplomacia fez pelo país no campo da política internacional.

Conhecedor das regras do jogo internacional, Fernando aderiu ao ato mecanicista de utilizar as mesmas em proveito próprio. Sem rupturas, sem revolucionar. Diferentemente de um Glauber Rocha, por exemplo, Fernando é um representante típico da classe média paulista. E os paulistas são a vanguarda da retaguarda do país, todas as vezes que mergulham em suas aspirações em copiar em primeira mão o mundo que tanto admiram fora do Brasil. Para esses, pouco importa o mundo que existe dentro do Brasil. Há exceções. Mas o quadro atual é bem esse.

Como no caso do Oscar para o cinema, esse que o Fernando Meirelles almeja ganhar um dia como diretor de um filme global, ser laureado com um Nobel de Literatura envolve muito mais do que o simples talento e valor da obra. Ser branco, de uma cultura européia, de um país com tradição imperialista e disseminador da língua portuguesa são alguns dos fatores que colaboraram muito para  que José Saramago ganhasse o Nobel. E isso deu a ele o status que Machado de Assis não tem. É claro que ambos tem talento. É claro que Machado morreu faz 100 anos e que Saramago, que veio muito depois, ainda está vivo. Então o alcance da visão de Machado o alça a um nível de qualidade neste quesito que me faz admirá-lo como superior a Saramago. Lhe falta o status da CEE.

O Brasil teve  um escritor dos mais geniais, que no entanto perde terreno ao ser avaliado em sua qualidade por uma outra opção estilística. Enquanto Saramago faz bem aquele tipo amargo, de uma densidade de pessimismo compatível com a visão de Schopenauer, Machado, que também lia o filósofo, era acima de  tudo um escritor de um humor muito fino. E trazia para a obra, sua apreciação pelas mulheres. Por sua ligação com o humor e com o universo feminino, Machado de Assis perde pontos duas vezes  diante das casas que atribuem valor a uma obra humana.

Sua genialidade fica portanto mais obscurecida por se tratar de um negro no Brasil. Meirelles, evidentemente um cineasta oriundo de uma camada social brasileira elitizada, age como a elite brasileira em geral: como bom colonizado, ao invés de valorizar os talentos locais e pesquisar suas potencialidades, se rende a “genialidade” dos produtos consagrados globalmente. Jamais veria o cineasta realizando um filme como “Baixio das Bestas” ou “O Cheiro do Ralo”, por exemplo. É brasileiro demais, enquanto linguagem e conteúdo.

Meirelles faz uma obra tipicamente colonizada, para conseguir uma espécia de correlacionamento simpático com os ícones globais e se esquece da vida e da morte de Machado de Assis. Certamente não leu as obras completas do maior escritor da língua portuguesa no Brasil. Talvez nem saiba da existência de um livro do primeiro  presidente da Academia Brasileira de Letras: O Alienista.

Há diferenças entre O Ensaio Sobre a Cegueira, que Saramago realiza com densidade quase depressiva e O Alienista que Machado de Assis transforma em quase uma comédia. O que não significa que a seriedade ao abordar o tema retirem seriedade do trabalho visionário do nosso bruxo das palavras. Decepcionante é ver o filme de Meirelles, que a meu ver tem a estratégia certa numa alma errante. Para o cineasta, o mérito ficou limitado a capacidade de articulação com parceiros que alçaram a condição de celebridades internacionais. Nesse sentido, o filme é um projeto de êxito.

Mas do ponto de vista da oportunidade de fincar a densidade estética de sua obra, como vimos por exemplo em Glauber Rocha, Meirelles desperdiçou uma chance. A chance de capitalizar os 100 anos da morte de Machado, atribuindo uma justa homenagem de modo que aproveitasse toda a potencialidade da obra. Sem cair nas armadilhas de uma literalidade, se a envergadura de cineasta fosse a de um grande, se proporia a encontrar soluções estéticas que atualizassem o texto de Machado o colocando nos termos de uma linguagem cinematográfica para além do estilo descritivo de tantos trabalhos pobres feitos no Brasil com a nossa melhor literatura.

Foi assim com Brás Cubas, Escrava Isaura, e tantos outros sucessos de efeito internacional que incluem cinema e TV.

Os Hadróns o HEPGRID e o LONAGRID

Esse ano de 2011, Dr. Santoro pretende propor o que seria o projeto da sua vida: a realização de um acelerador de partículas em plena selva amazônica, colocando o Brasil no centro do mundo da física quântica. Quem, a não ser esse gênio brasileiro de ambição desmedida poderia propor algo tão ousado, num país onde se discute energia do milênio passado como a solução de soberania? Esse físico quântico é de fato um cidadão “arretado”. Esperamos poder contribuir para a divulgação de suas ideias, que não são poucas. Tem uma outra, de 2007 logo abaixo…

Lá em Genebra se devendará o místério do Universo. Em Bangu e vários bairros do RJ, centros culturais comunitários desenvolverão projetos de produção de conteúdo culturais. Ver texto integral do também revolucionário projeto do LONAGRID, com o vídeo do professor Santoro e matéria do Globo News.

Revolucionar a mentalidade científica e buscar o bem comum em cada projeto científico inclui apontar para cultura. Santoro é um lider nisso. Abaixo o projeto esboçado em 2005 para axecução após obsolescência dos computadores em uso no HEPGRID.

Resumo das Ações Discutidas sobre o Projeto Digital Divide
Esboço 001 de 28/01/2005.

“Daí-me um ponto de apoio que levanto o mundo”
Arquimedes

Coordenação Geral: Professor Alberto Santoro
Produção Executiva: Vladimir Cavalcante

1 – Mapa Mundial da Exclusão Digital

Situação atual: Já foi realizado um esforço significativo de mapeamento das topologias e taxas de penetração de recursos de informática e comunicação em todos os continentes. Este trabalho está consolidado na forma de um site e alguns relatórios internacionais, entre eles o “Network for High Energy and Nuclear Physics” de fevereiro de 2004. O site tem sua estrutura de navegabilidade baseada em mapas que são geográficos e em alguns casos incorporam a plotagem das arquiteturas e topologias de rede dos respectivas nações.

Ações Necessárias:

Realizar um breve levantamento do índice de completude por região. Por exemplo América Latina 20% de informações; América do Norte 90% e assim sucessivamente.
Baseado nesta informação definir o escopo para a nova versão do site. Conforme conversas preliminares, seria desejável: aprimorar e dar mais homogeneidade as formas gráficas dos mapas. Foi sugerido a utilização de formatos vetoriais que permitissem a ampliação para melhor legibilidade dos mapas, legendas e informações neles contidas. O uso de formatos como Flash ou mesmo PNG se adequam perfeitamente a este objetivo. O único impeditivo ao processo é que a maioria dos mapas, normalmente disponibilizados em formato JPEG ou GIF, deveriam ser redesenhados por um artista gráfico. Tivemos uma experiência muito bem sucedida com mapas de cobertura de telefonia celular realizados com esta abordagem.
Outro fator crítico a elevação da qualidade do produto final desta atividade é a garantia de continuidade na publicação automatizada das informações. Neste caso a infra-estrutura da plataforma tecnológica adotada é fundamental ao sucesso, pois seguindo o exemplo do projeto ALICE apresentado no CHEPS 95 o ambiente “Worldwide Collaborative” permite a distribuição nos processos de alimentação de conteúdo e através desta descentralização pode ser obtido com maior facilidade e investimentos de menor monta a qualidade da informação.
Para que seja iniciada esta etapa de atividades serão necessárias a seleção de um profissional com aptidões compatíveis com a visão de projeto acima mencionada e de dedicação em regime full time. Fica a sugestão de que até meados de fevereiro possamos submeter 3 a 5 nomes a este processo de seleção. Subsequentemente, elaborar em 15 dias um projeto a ser submetido a agências de fomento, FAPERJ, FINEP, etc. Uma vez viabilizado os recursos elaborar um cronograma de atividades compatíveis com o volume inicial de recursos, adotando uma estratégia de desenvolvimento modular, onde na medida em que mais recursos sejam captados possamos incorporar os módulos de maior custo financeiro.
A produção do documento/relatório sobre Exclusão Digital, na visão do professor Santoro deve seguir um modelo onde a partir da prospecção sobre o estado de exclusão digital das redes acadêmicas e as disparidades de condições para o desenvolvimento da ciência e da técnica, seja possível avançar no detalhamento dos mais diversos segmentos sociais. Ou seja tendo os backbones “de ponta” como início do fio da meada dentro de uma ampliação da disponibilidade de recursos e aumento da comunidade colaborativa em escala mundial, seria construída uma verdadeira GRID ao longo do tempo até 2010. Dado seu caráter estratégico e de estado da arte da ciência, a qualidade final deste relatório poderia ser de grande utilidade para nortear políticas de inclusão digital em todo mundo, em especial para governos de países sem recursos para o desenvolvimento institucional mais facilitado em países ricos. A ONU e a Information Society também se beneficiarão deste debate e conteúdo sem fronteiras, liderado por físicos de todo o mundo.
É desejável que na reunião regional, aqui no Rio de Janeiro, entre a realizada em Genebra em 2003 e a prevista para Tunísia seja produzido um esboço regional desta iniciativa com maior grau de capilaridade para o caso Brasil e América do Sul. Esta iniciativa vai depender da agilidade de captação e desenvolvimento obtida na fase inicial do projeto.
Existem vários outros sub-produtos desta iniciativa que serão objeto das atualizações deste documento ao longo de 2005.

2 – Infraestrutura GRID em Telecentros Culturais

O projeto HEPGRID que distribui o processamento da massa de dados do super-acelerador de partículas do CERN para que a comunidade científica da física do planeta possa participar e colaborar conta com participação do Brasil. A infraestrutura que dá suporte a esta iniciativa é composta de um binômio, internet de altíssima velocidade e computadores com processamento paralelo. A UERJ tem no grupo do Professor Santoro o primeiro nó desta iniciativa no Brasil, que inaugurou no dia 22 de dezembro a conexão de um cluster de computadores a uma velocidade de 1 gigabite por segundo, via internet, com equipamentos de países como EUA, CHINA, RUSSIA. Logo no início de 2005 a UNESP também fará parte desta iniciativa a qual o Professor Santoro sugere em seu projeto que seja acompanhada por nós em todos os estados do país, onde aja competência em centros de pesquisa de física. A iniciativa é digna de menção e tem tudo para dar certo, bastando para isto que as autoridades públicas no nível federal e estadual façam sua parte. Mas o que há de inovador no projeto capitaneado por Santoro no Brasil, não é o seu lado mais óbvio e dirigido para as questões circunscritas a Física. Na visão do pesquisador brasileiro mais citado no exterior, trata-se de aproveitar esta oportunidade, onde a utilização de equipamentos de uso comum em paralelo ( PC’s conectados em rede do tipo Pentium IV com discos rígidos de 40 gigabytes e 1 gigabyte de memória RAM) sejam ao final de 3 anos dirigidos a um projeto de inclusão digital para a sociedade.

E qual seria a configuração deste projeto? Certamente que não é suficiente apenas doar as máquinas. Sabe-se que esta fórmula não tem funcionado bem por onde é aplicada, sejam livros, alimentos ou microcomputadores. Um exemplo é que o governo federal distribui 120 milhões de livros e isto não tem ajudado a aumentar o hábito de leitura no país que continua estacionado bem abaixo do potencial que o Brasil possui.

Uma das alternativas mais bem recebidas pela equipe de físicos a frente desta iniciativa é o que está sendo chamado de LONAGRID. Os antecedentes do projeto são os seguintes:

Em 1992 aconteceu a Eco92 no Rio de Janeiro. Pouca gente lembra, mas em paralelo e não menos importante do que esta grande discussão sobre a vida no planeta também aconteceu o Fórum Global. O que foi esta iniciativa? A reunião de centenas de ONG’s no Aterro do Flamengo, onde se discutia a pauta dos assuntos dos chefes de estado, mas da perspectiva da sociedade civil organizada, ou seja do cidadão em si. Este contraponto foi acompanhado por um encontro promovido pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ por cientistas de todo o Brasil. As informações sobre ecologia entraram na pauta de agências internacionais e mídia alternativa com a ajuda de um novo aliado: a internet.
Neste mesmo instante, Betinho, o mesmo da Ação contra a Miséria e Fome, patrono um pouco esquecido do Fome Zero, agenciou junto aos orgãos de pesquisa do Estado do Rio de Janeiro a ligação deste povo de todo o mundo via internet, contando com o apoio de cientistas de Universidades locais e da FAPERJ que viabilizou a Central de Mídia Internet no Hotel Glória. Era simples atravessar a passarela que liga o Aterro do Flamengo ao Hotel, entrar no Telecentro e escrever em tempo real para qualquer continente uma matéria fresquinha que informasse o que tinha acabado de acontecer numa das Lonas instaladas no Aterro.
Sim é claro que omiti a informação de que toda a organização de grupos de trabalho temáticos se deu em Lonas de cor verde e branca, projetadas pelo Governo de Londres e que enriqueceram a paisagem do Aterro repletas de pessoas de todo o planeta, discutindo a vida. Um pouco como acontece hoje no Fórum Mundial de Porto Alegre. A diferença é que as atividades estavam mais focadas e aquele fato representou uma espécie de ato inaugural de uma prática que deu muito certo. A informação circulou com alto grau de liberdade e velocidade e deste modo as agências de informação que desejaram puderam realizar uma cobertura em escala mundial de altíssima qualidade. Devemos essa ao IBASE-Betinho e a comunidade científica do país.
Como sempre, tem um depois. Mas o depois neste caso não estava tão controlado e determinado, tanto é que aconteceram dois fatos que mudaram o cenário das atividades culturais na cidade do Rio de Janeiro e que foram vetores resultantes da ECO92. O primeiro fato foi que o governo britânico decidiu doar as Lonas para a cidade. O segundo fato que a Prefeitura decidiu por distribuir as Lonas para todas as regiões administrativas de modo bastante descentralizado, acreditando que a responsabilidade de cada administração de bairro daria a ela o melhor uso.
Por meio desta iniciativa do tipo geração espontânea, aconteceram inúmeras surpresas. Algumas Lonas foram transformadas em depósito de lixo, outras viraram abrigo para mendigos, outras foram simplesmente incendiadas por vândalos destes mesmos que queimam índios nas ruas. Mas a exceção a essa quase destruição em massa aconteceu em Bangu. Um grupo significativo de artistas, de um Bairro com 400.000 habitantes, resolveu se organizar e pintou a cara, foi para a praça 1o de Maio, escreveu marchinha de carnaval e pediu ao poder público que transformasse a Lona de Bangu em um espaço cultural comunitário. Naquela iniciativa nascia a alma de um movimento de ocupação cultural em regiões de grande ausência de espaços culturais para suas comunidades. O sucesso desta iniciativa que teve o apoio do setor público municipal, a participação na origem do setor público estadual e na raiz uma discussão mundial hospedada pelo governo federal dão a exata noção da inexistência de fronteiras nesta história de pleno sucesso.
Outro fato notório que cai por terra é esse antagonismo entre arte e tecnologia. O caso das Lonas Culturais espelha bem o oposto disto, pois na mesma Lona onde Dalai Lama, monge tibetano, falou em 1992 sobre a vida no Planeta, o nosso mestre Hermeto Pascoal, que emprestou seu nome como patrono a Lona de Bangu, fez inúmeras apresentações. Esse modelo construído tijolo a tijolo com a colaboração de toda a sociedade civil dá certo e deve ser incentivado pelo poder público. O outro, o que nos faz acreditar que basta o governante decidir que tudo acontecerá da melhor forma já se mostrou ineficiente nas Lonas destruídas. Não há geração espontânea, mas sim participação e comprometimento social nos casos de êxito dos projetos públicos.
Em 1997, já trabalhando em empresas de Telecomunicações, cheguei por acaso a Lona Hermeto Pascoal. O seu administrador era um artista com formação em Análise de Sistemas e entendeu rapidamente que a internet poderia ajudar muito a circulação de informações sobre as atividades das comunidades nas Lonas e muitas outras portas poderiam se abrir na forma de intercâmbios para artistas menos conhecidos do Brasil e do mundo mas que nem por isso tem menos talento. Visibilidade passou a ser um assunto na pauta daqueles grupos. No entanto, não se encontrou o viés de sensibilização necessários para unir parceiros e implementar nas Lonas Culturais uma infraestrutura capaz de oferecer aos artistas condições de produção de conteúdo na internet sobre suas atividades, como um canal de publicidade necessário e de difícil acesso pela mídia convencional, ao mesmo tempo que oferecer a cerca de 3.000 visitantes/semana da comunidade que circulam nestes espaços. Em 2004 o serviço de banda larga chegou as Lonas Culturais para atender a finalidades meramente administrativas, tais como controle de bilheteria e monitoramento da co-gestão com os administradores comunitários locais. A atividade meio tomou primazia em relação a atividade fim, que é a cultural e artísitica, mas esse fato não passou desapercebido aos frequentadores e artistas. Considerando que as sete Lonas Culturais estão estrategicamente localizadas em Bairros de menor taxa de penetração de Internet, Cultura, Transporte, etc, pode-se se afirmar que com o histórico que possuem deveriam se traduzir como candidatas número um a receber por meio de um convênio com o grupo internacional de físicos, liderados pelo professor Santoro do HEPGRID, que integra uma comunidade internacional de cientistas, a salvaguarda da Prefeitura, MCT, MCULT, e toda e qualquer apoiador público ou privado, para a execução imediata do projeto que oferte a infraestrutura e capacite jovens a cuidar de seus conteúdos pelos mais diferenciados meios que a tecnologia pode oferecer. O governo federal através de iniciativa similar como a Casa Brasil pode apoiar a iniciativa, mas o importante é entender o regime de cooperação e parcerias como núcleo essencial da iniciativa. A Isto o Porfessor Alberto Santoro batizou de LONAGRID, parafraseando as atividades de projetos colaborativos como o Genoma, para mapeamento de sequenciamento de DNA e o próprio HEPGRID, que nada mais é que uma grade de participantes onde cada um faz um pedacinho do trabalho, pois a magnitude do esforço não admite que apenas um seja capaz de realizá-lo isoladamente. Vivemos um mundo de grande carga de esforço, complexidade e que sem apoios mútuos desperdiçamos recursos e não concluímos projetos com qualidade.

3 – Custos Independentes de uma Rede Internet para o Ensino

Por fim, a temática da inclusão digital para além das fronteiras desta ação mais dirigida que é o LONAGRID, foi vislumbrada uma necessidade de aumento da velocidade das taxas de penetração da internet de modo geral para os públicos de escolas e freqüentadores de bibliotecas públicas. Em 2004 no LISHEP realizado no Brasil, um Físico do CALC na Califórnia apresentou um case cuja situação problema enfrentada é bem parecida com a das instituições de ensino em qualquer lugar do planeta, em maior ou menor grau. Segundo Newmann, a montagem em termos de valor de mercado de uma rede de alta velocidade que atendesse a todas as escolas públicas da Califórnia resultaria num valor proibitivo para os orçamentos destas instituições de ensino, mesmo considerados os padrões de riqueza americanos.

Sendo assim, a sociedade civil se organizou para montagem de uma rede de computadores, do mesmo modo que diversas multinacionais como a SANOFI, Ford, criam suas VPN’s e se protegem de abusos nas práticas de preços, usando infraestruturas próprias. Desse modo a primeira ação disparada pelo grupo, foi comprar fibra ótica a preços de mercado. E isso foi extremamente barato, como também seria no Brasil pela ociosidade e oferta existentes.
A entidade criada como uma espécie de consórcio inter-institucional a partir da adesão de várias entidades de ensino chamou inclusive o governo da Califórnia para participar. Neste caso o valor desembolsado por Schwazneger ficou limitado a apenas 5 milhões de dólares ao ano para atender a todas as escolas do Estado. Esta relação custo-benefício interessa sobremaneira aos países ou estados pobres, ou mesmo aqueles que até com reservas financeiras preferam investir em outras prioridades de governo, como por exemplo a violência. Uma vez que os valores são muito atrativos neste modelo de negócios é fundamental desenhar ações locais que ponham em prática este mesmo tipo de modelo, reduzindo a penalização que a estrutura de ensino vem recebendo por não possuir tratamento diferenciado pelos fornecedores de serviços no âmbito comercial.
Considerando que o Governo Federal tem suas ações para inclusão digital divididas em 5 programas: GSAC; SCD; Casa Brasil; Parcerias Inter-governamentais e o mais badalado PC-Conectado, entendemos que os recursos das parcerias deverão ser objeto de melhores soluções do ponto de vista custo-benefício. As propostas que circularam a partir da Consulta Pública 480 do SCD não atenderam no ano de 2004 esta prerrogativa, pois mantém os recursos do FUST numa relação de aprisionamento com as operadoras, mais interessadas em manter os preços de seus serviços. Portanto a forma alternativa proposta para uso destes recursos deve contemplar uma posição de independência gestora das entidades de ensino, onde a liderança das Universidades com seus quadros de competência e que podem ser alocados no nível de professores coordenadores e estudantes em equipes com recebimento de bolsas pode se traduzir num spin-up de todas as atividades nesta área, hoje adormecidas num regime de letargia e que produzem números cada vez menos favoráveis a posição do Brasil no ranking de desenvolvimento tecnológico no mundo. O Projeto deve ser discutido a luz de todos os marcos regulatórios e para isso iniciativas de parceira já foram realizadas junto ao grupo de Direito Eletrônico da FGV, na pessoa do professor Ronaldo Lemos que se colocou a disposição para endereçar questões de ordem jurídica e viabilizar sob forma da lei a iniciativa.
A proposta de um Coordenador Geral de notória competência encontra o nome de Alberto Santoro como em condições de manter este diálogo com entidades locais e internacionais para viabilizar a construção de uma rede exemplar inicialmente no Rio de Janeiro atingindo as escolas municipais de ensino fundamental, escolas técnicas de ensino médio e escolas de segundo grau.

A revisão deste documento deve ser o objeto encontro próximo a ser agendado para o período após o carnaval.

Vladimir Cavalcante


Desmatamento em Ritmo Quântico

Enquanto a Biodiversidade vem sendo apontada pela ONU como assunto mais importante do que as ações terroristas no planeta, acompanhamos a incapacidade de acordos internacionais darem conta do assunto. O Brasil possui 20% do total de biodiversidade do planeta. Nagoya foi um desastre, pois muito mais importante pelo efeito indireto na realiadde climática, não produz a ressonância necessária para ações de países, empresas e pessoas. Continuamos na fase “discurso”. Quem se prestar a produzir o melhor discurso, asfixia a realidade e você nem vê o que está acontecendo um palmo do seu nariz…

A destruição planetária é de fato acelerada com o crescimento da riqueza e do bem estar? Ou seria apenas um tipo de bem-estar, orientado ao consumismo e sem uma base educacional mais ampla, o divisor de águas? Quem desmata mais? O monocultivo dos grandes investimentos do agronegócio, ou os exploradores do varejo, que predatoriamente ocupam terras devolutas do governo de modo irresponsável, e se tornam elementos integrados da rede de desmatamento amazônico?

As indagações acima, encontram em lideranças governamentais, vozes que insistem em contrariar o que os satélites de instituições respeitáveis como o INPE, mostram:  o processo de destruição atingiu níveis quânticos.

É possível, nestas circunstâncias aceitar as posições negociadas do poder público, ou está na hora da população ocupar ruas e praças a favor de ações menos contemporizadoras?

Validar o exercício da representação direta, dentro de um sistema democrático falido é uma alternativa válida?

Essas e outras perguntas serão objeto deste ensaio, que desde já tem mais jeito de novela. Vai durar muito tempo. Mas isso, só se o desmatamento deixar.

(Texto Inacabado, sujeito a contribuições e pesquisa adicional)

Vladimir Cavalcante – New Executive Officer AREEVOL

Belíssimo, Orgásmico, Excepcional

Esse ano, MIO & PC fizeram a festa e me deixaram com vontade de esquecer o balé nacional da China, com uma coreografia óbvia do tema Lanternas Vermelhas. É claro que na categoria dos grandes espetáculos de dança do Teatro Municipal, o Momix que revisitei vinte anos depois me emocionou e elevou seu conceito ao se aventurar numa reflexão artística sobre a “Botânica”. A origem da vida estava no palco. A China, ao contrário pareceu-me um lugar esterilizado para a ação da criatividade. Caminham como bons copiadores com a maior escala. Agora, essa galera do MIO no Panorama de Dança, realmente veio para deixar sua marca. Tão bom quanto o ZOO, do Panorama de 2008.

Foi no Panorama de Dança. Sim, esse mesmo. O projeto institucional da Prefeitura de mais de uma década e que chegou a adolescência na condição de orfão da Secretaria das Culturas. Acabou com bons patrocinadores: Petrobras e Oi. Foi nesse espaço dedicado a dança que escrevi:

“Ah!, enfim respiro ar puro no movimento. Há alguns lugares comuns no mundo da dança. A técnica apurada, a vanguarda no uso de suportes tecnológicos, o discurso parafraseando o teatro com movimento. Mas puta que pariu, o que foi esse tal de Accords, da ZOO? Sinceramente? Inenarrável… De fato a complexidade torna impensável abarcar o espetáculo por meio de uma narrativa.

E a complexidade é algo melhor parido a partir da cabeça dos gênios. Tenho  certeza de que Thomas Hauert é um deles. A estilística adotada no que vi esteve concentrada no ato musical,  aquele que nasce dos ouvidos para invadir o corpo dos bailarinos? Não. Aquele que é ouvido no próprio corpo que escuta a antevisão do som.

O corpo como o próprio som, a nota de cada partitura, dançando aos olhos do músico que a executa. O ato de improvisação realizado no palco é a tradução da harmonia em fluxo, num vibrante e sonoro grito de vida. Fui impelido a reverberar um “belíssimo” para que todo o teatro ouvisse. Meu tributo foi o grito, e ele ecoou à altura do prazer orgásmico-cósmico que a simplicidade-complexa pode proporcionar aos bem afortunados!”

O trabalho dessa belíssima empreitada artística é sem sombra de dúvida revolucionário. Equivale ao ato sensorial de fazer ver cores com os sabores da língua, por exemplo. Lembrei de imediato de sacadas que mudaram o rumo da história. Ou melhor, de situações da tradição que remetem a experiências estranhas ao olhar do ocidente.

Numa das músicas, onde o tema é a dança espanhola, pude voltar no tempo e sentir os ensinamentos sobre o trabalho entre músicos guiados por dançarinas. É claro que ao utilizar música mecanizada, essa interatividade que coloca o bailarino com a batuta na mão, regendo o grupo musical que o acompanha torna tudo bem diferente. Mas por algum motivo, igual.

Vale a pena visitar:
www.panoramafestival.com

http://www.zoo-thomashauert.be/performance/get/?id=59

Vladimir Cavalcante – New Executive Officer – AREEVOL

Escassez de Crédito dos Bancos Privados

Tá chegando a bolha? Ela vem sendo alimentada a pão de ló. Mas o Brasil é tão rico que qualquer bolha aqui é engolida pelo sumidouro do buraco-negro nação…

Quando trabalhava no mercado financeiro, sempre tive a sensação de que as coisas mais importantes sobre as bolsas nunca eram publicadas nos jornais. Essas informações valiam muito porque davam muito dinheiro a quem as comprasse.

E foi assim que tive acesso a informações acionárias sobre os bancos. Naquela ocasião, as instituições financeiras estavam deslocando a lucratividade de suas operações de uma ciranda, chamada inflação, para uma outra: o crédito. Nessa época o Brasil viu nascer, uma atrás da outra, empresas que emprestavam dinheiro para pessoas, com grande facilidade. Olhei para a participação acionária delas e encontrei nas maiores apenas bancos .

A FININVEST foi a mais famosa daquele momento histórico. O momento do “pseudo-fim” do monstro inflacionário. Apenas recapitulando, esse monstro destruía uma grande parte do poder de compra dos trabalhadores. Os sindicalistas lutavam para obter a recomposição do pedaço perdido e nesse meio tempo os bancos embolsavam a lucratividade dessa operação. O trabalhador sempre perdia.

Perdia desde dos congelamentos de salário sem que os empregados tivessem o direito de reajuste de salários. Desde o saudoso Mário Henrique Simonsen, que ajudou a ditadura nesse projeto, com o brilhante PAEG. No seu tempo, sindicato não podia fazer greve e os ganhos previstos por produtividade, nunca foram repassados.

A quantidade de empresas semelhantes a FININVEST se multiplicaram. Emprestar dinheiro, oferecer crédito a juros extorsivos se tornou a atividade mais lucrativa do mundo. A hegemonização desse mercado dominado pelas grandes instituições financeiras, levou a extinção de uma classe de profissionais considerados pelo governo como criminosos: a figura do agiota.

O agiota passou a ser praticamente eliminado por concorrência desleal. O mesmo caso dos donos de casas de jogos ilegais. Só o governo e seus amigos podem explorar o jogo e o empréstimo vil no Brasil.

Ficou claro para mim desde então, que pelas prática dos juros altos o modelo se esgotaria. Calculei. Imaginei com os meus botões, o que aconteceria com o sistema e quem pagaria a conta. Era claro para mim que a inadimplência estaria diretamente associada a velocidade de compra do consumidor. Se o consumidor, do alto da sua ignorância, persistisse em se endividar enlouquecidamente o abismo chegaria mais próximo. Mas por etapas.

Na primeira etapa, em função da estrutura familiar multifacetada da economia dos brasileiros mais pobres, o cabeça da operação perderia sua capacidade de endividamento. Com seu nome no SPC e Serasa, suas certidões negativas passariam a impedir que ele comandasse a compra de um liquidificador que fosse nas Casas Bahia.

Numa segunda etapa, sua mulher. Numa terceira, o filho que vive na mesma casa. Enfim, numa família típica de classe com capacidade de endividamento, o ciclo poderia se repetir por umas quatro a seis vezes. Namorei uma menina de uma família assim. A família toda dependia de seus cartões de crédito. Foi a única deixada em regime de invulnerabilidade na mesa desta jogatina.

Mas a pergunta que me fazia era sempre a mesma: a quem beneficiava essa prática do dinheiro fácil? Aos ingressantes ao sistema financeiro. E foi por isso que dezenas de empresas do setor produtivo migraram parte de suas atividades e criaram um braço nessa praia cheia de oportunidades.

Os empresários de então, pareciam aqueles turistas aportados em ilhas de Turismo Sexual, ávidos por sexo fácil e barato. Nesse caso, dinheiro faturado mole, mole, as custas de pobretões que sonham em realizar consumo e sonhos a qualquer preço.

Vi os cartões de todas as redes comerciais se multiplicarem. Livrarias, lojas de celular como a Oi com o PAGGO, C&A, etc. Ganharam muito, mas muito dinheiro de todos que compraram com crédito. Aposta com jogo de cartas marcadas. Ganharam todas e ficaram mais gananciosos. E foi nesse lance paradoxal que os ganhadores se embriagaram neste rio de dinheiro e esqueceram de calcular o esgotamento do modelo.

O ganho fácil gera um desejo desenfreado de ganhar mais. Deixa as contas de lado e mergulha num condicionamento onde a experiência anterior acaba levando você a acreditar que ela vai se repetir ad infinitum. Mas o que acontece é exatamente o oposto. Esgotamento a partir de uma erosão calculável do sistema e crise profunda.

Nós chegamos a ela, felizmente antes de que a nossa própria, a interna tivesse chegado. Isso nos salvou de um quadro mais grave por um lado. Não estamos sozinhos na merda. Há merda para todos e principalmente para os mais ricos. Isso é muito saudável e nos permitiu inclusive os arroubos vistos de nosso ignóbil comandante da República. Sem nenhuma capacidade de calcular o que aconteceria nos meses seguintes, o que passou a ser chamado de Bufão da República, arrotou riqueza e saúde pelas política monetária “austera” adotada no país.

Olhei de Camarote o discurso capotar. Vi o presidente do Banco Central claudicante dentro do Congresso Nacional. A pompa foi substituída por um pouco mais de sobriedade. Tipo assim: “caralho, a situação tá preta, tô de orelha em pé e não sei o que vai acontecer…” Tenho amigos reclamando de não estarem mais “realizando”. Será que todo mundo achava que esta ciranda consumista, fagocitária e insana se manteria pelo planeta, do modo como o american way of life resolveu vender para todos nós?

A população endividada viverá um novo tempo. Quero dizer um tempo bem negro. Acostumada a acreditar que a inflação acabara, por conta de linhas de crédito fácil e impagável, chegou a um novo lugar. O lugar onde o agiota desapareceu e não terá a quem recorrer. Quem assinou os contratos para comprar moto da Honda antes, se deu bem. Acabou. Quem quiser, daqui para frente vai encontrar rigor e barreiras intransponíveis. Acabou a facilidade do crédito, antes que o últimos dos familiares tivessem seu nome sujo no SPC.

Não deu tempo Brasil. Valeu Wall Street. Vocês salvaram a integridade dos últimos dos moicanos tupiniquins, que mesmo querendo, não conseguirão ter o nome na lista negra. Valeu Wall Street. Vocês salvaram os brasileiros do único cartão de crédito do mundo que conheço que não realiza débito automático, o PAGGO. Graças a Deus descontinuado pela Oi. Enfim, os monstros do capitalismo estão com as barbas de molho e o primarismo amador será banido, ainda que provisoriamente.

A única coisa que não se resolverá é a inflação. Vocês acompanharão nos próximos anos, uma retomada dos velhos mecanismos de faturamento dos bancos. Pela erosão dos salários não reajustados. Pelo não reajuste do salário mínimo, nosso velho indexador para quem compra e consome na base da pirâmide da economia. As greves vão nos incomodar com mais constância e voltaremos a falar sobre isso nos jornais. O monstro da inflação voltou. Ele, na verdade nunca foi. Estava escondido por debaixo do tapete de créditos inflacionados (absurdos).

Quem vive de produtos e comércio, repassa. Quem tem renda fixa, entuba. E você? What about You? Tube or not Tube? Vai entubar a inflação ou vomitar na cara dos banqueiros de plantão, com cara de sabão em plena rede nacional de televisão?

Vladimir Cavalcante
New Executive Officer da AREEVOL

Quem Domina os Domínios?

Desnecessário dizer que é o ICANN e por isso o Iraque e o Wikileaks tiveram seus domínios retirados do ar. Essa é uma prática comum no faroeste da internet. A China também pratica esse mesmo procedimento com sua grande muralha de fogo. Não adianta discutir a livre expressão se a infraestrutura é um patrimônio vulnerável a esse tipo de prática.

Foi em Novembro do ano passado. A ONU se reuniu no Brasil para discutir modos de gestão para a Internet Mundial. E nós estávamos lá. Para semear idéias. E aproveitamos para lançar a AREEVOL.

Foi quando enfrentamos a questão crucial do Fórum, que trouxe ao Brasil mais uma vez VINT CERF. No primeiro embate, ele era presidente do ICANN. Dessa vez veio como vice-president do Google. Veio para nos evangelizar. Mas acabou tendo suas posições políticas questionadas em inúmeras dimensões.

A respeitabilidade de Vint como um dos criadores do protocolo TCP-IP, utilizado pela internet, oferece a vantagem que toda celebridade tem. E ele utliza essa influência para defender os interesses dos grupos que representa, mundo a fora. Como nos filmes, os americanos sabem usar as vantagens para ampliar o espaço de influência.

Leia abaixo, um trecho de uma das sessões do IGF, onde o Executivo da AREEVOL atirou a primeira pedra, contra o processo de evangelização proposto por Vint Cerf…

Internet Governance Forum – 2 Rio de Janeiro, Brazil 12 November 2007 – Critical Internet Resources

Note: The following is the output of the real-time captioning taken during the The 2nd Meeting of the IGF.  Although it is largely accurate, in some cases it may be incomplete or inaccurate due to inaudible passages or transcription errors.  It is posted as an aid to understanding the proceedings at the session, but should  not be treated as an authoritative record.

>>ULYSSE GOSSET:   Thank you very much. I would like to go back to the
audience.  There is a question from Vladimir Cavalcante.  Yes.

>> VLADIMIR CAVALCANTE:  Good afternoon. I have not my question, so I will try
to remember the question. Some years ago, we have —

>>ULYSSE GOSSET:   Would you introduce yourself.

>> VLADIMIR CAVALCANTE:  — we had a Rio ICANN meeting.  And the problem of
domains was mentioned as a — written calls in Portuguese, who (inaudible) the
domain. I think that there is a war between we and the problem.  Submissions,
who submits what to whom?  The process impedes people to express freely,
because they are submitted, right.  The governments cannot be — sorry — is
that okay?  Can you hear me?

>>ULYSSE GOSSET:   Yes.

>> VLADIMIR CAVALCANTE:  Right.

>>ULYSSE GOSSET:   Please.

>> VLADIMIR CAVALCANTE:  So —

>>ULYSSE GOSSET:   Just be short, please.

>> VLADIMIR CAVALCANTE:  It will help me a lot. Since ICANN meeting in Rio when
Vinton Cerf was here, and ICANN, and we had proposal, the restoration of
at-large membership, I don’t know if someone here remembers that, but it
existed a long time ago.  We are looking a world vision, a different world
vision, not dominated, but not with the management of domains, and with a
semantic functionality very limited.  That’s the point. Why it’s so difficult
to institutions admit that publicly, in the public space? And, second, how to
evangelize with a (inaudible) with a lot of innovation.  That’s the question.

>>ULYSSE GOSSET:   Thank you.  Vint.

>>VINT CERF:   I must confess that I’m having trouble fully understanding the
nature of the question. First of all, I don’t believe ICANN met in Rio seven
years ago.  It would have been Los Angeles or — sorry?

>> 2003.

>>VINT CERF:   2003.  But that was in Sao Paulo.

>> No.

>>VINT CERF:   It was here?  In Rio? [ Laughter ]

>>VINT CERF:   I don’t remember being in Rio. [ Laughter ]

>> Copacabana.

>>VINT CERF:   How quickly your memory goes away. Okay.  So but the question
you raise has to do with domain names and how hard it is to get them approved.
Is that what you were concerned about? I honestly did not follow the question.
So I’m just temporizing until you give up. I don’t have a good answer here.
I’m sorry.  I just literally do not understand what the question was. Mr.
Chairman, would you care to interpret the question?

>>ULYSSE GOSSET:   Any other member of the panel?  Yes, please.

>>CARLOS AFONSO:   I will take advantage of the question.  I think we do have
channels within ICANN for participation.  And it would be absurd if we said
there aren’t. One of the spaces for civil society organizations is the NCUC,
regarding the discussion of generic domain names.  If anyone wants to
participate, there are channels.  There is the NCUC.  And, of course, there is
user community, represented through associations in the ALAC, which is working
and is open. So I would really encourage people to participate through these
channels as well in the ICANN process and discussions.

>>ULYSSE GOSSET:   Thank you.  We have a question from Everton Lucero, please.
What about Bertrand de la Chapelle?”

Final da transcrição.

Leia a íntegra em:
http://www.intgovforum.org/Rio_Meeting/IGF2-Critical%20Internet%20Resources-12NOV07.txt

Vladimir Cavalcante – New Executive Officer AREEVOL

Identidades Locais e Universalidade

No mundo das artes plásticas, Fernando Botero é certamente o pintor mais famoso da América Latina. Sua arte, expressamente provinciana, de um cidadão de Medellin, não deixa dúvidas quanto a opção de universalidade a partir das localidades. Para ele “o artista é universal quando está fortemente enraizado na cultura em que nasceu”.

A cultura que dá identidade a uma cidade, em sua maior parte não aparece. A parte mais visível de uma árvore, são exatamente suas folhas, mas o substrato de uma identidade vem das raízes, que no contato com a terra e tudo que nutre o espírito local.

Trabalhar com interesse permanente nesta vertente, que nos leva a encontrar o “elo perdido” de lugares com referências apagadas ou mesmo negadas pode resolver a equação-chave, aquela mesma que oferecerá ao cidadão, toda a compreensão sobre o espaço que ocupa e desse modo incorporá-lo ao seu próprio sistema de referências existênciais.

Identidade e vocação, operam juntos a projeção da imagem presente e a realização das potencialidades num futuro imediato.

Cidades como Teresópolis, raras no planeta, por combinarem a água e o verde, esbanjam saúde para todos os cantos do país e do planeta. O patrimônio identitário da cidade precisa ser preservado. Esse capital simbólico deve nortear os demais componentes acessórios de uma condição singular da cidade, que possui dois parques: um estadual e outro federal. Segundo uma liderança da cidade, talvez o parque estadual tenha maior importância para a vida da cidade.

Alguns cuidados são necessários quando adotamos como prática a transposição de casos exemplares, como panacéia a nossos desafios locais. O caso da figura de Botero é exemplar. Seus quadros expressam uma realidade memorial de uma província que sequer pode visitar, por conta do tráfico de drogas que dominou sua cidade natal.

Quadros que remetem a lembranças, foi o que restou. Para ser acatado como universal, Botero aprendeu na Europa e em outras praças que chancelam a arte para o mundo.

Bogotá e Cartagena possuem características assemelhadas a Teresópolis e a cidade do Rio de Janeiro? Sim e não. Se considerarmos que 80% da cocaína produzida no mundo vem da Colômbia, certamente que há uma enorme distância.

Se considerarmos que a ajuda militar americana, muito expressiva no governo Clinton, colocou o paradigma de soberania da nação colombiana em xeque, ainda não chegamos a esse estágio. Após trinta anos, a Bolívia que é o terceiro maior produtor de coca do mundo, convida as tropas americanas do DEA a se retirarem do país. Independentemente dos resultados negativos iniciais, o princípio da soberania é acertado. Aos americanos, no lugar da máxima “we defend everyplace”, cabe cuidar de seus assuntos domésticos.

É provável que no Brasil, em especial no Rio de Janeiro, estejamos sendo preparadados, como um leitão de natal da vez, para esse tutelamento da nação hegemônica. As razões são muito distintas. Os pretextos também serão. Os mestres do discurso encontrarão seus motivos auto-justificáveis.

O Rio de Janeiro é um estado-alvo, dentro da estratégia militar americana de controle dos recursos estratégicos do planeta. Estamos nesse epicentro. Somos reservas de biodiversidade e de muita água. Para não falar do petróleo.

Há também muitas diferenças entre as cidades mencionadas. Bogotá é uma cidade capital do país. Teresópolis não é capital sequer de um estado. Os carros blindados que predominam em Bogotá, apontam para uma cidade cujo o contexto da violência coloca o cidadão em verdadeiro estado de sítio. Nesses casos, a propensão do uso da força de modo naturalizado é legitimada.

Os regimes de tolerância zero, fazem parte das peculiaridades e singularidades de lugares caminhando na direção de totalitarismo e ditaduras. Essas práticas não combinam com os ares da mais legítima prática das liberdades democráticas.

A extensão de boas referências de cidades, trata de sanear o pensamento ao reverso. No lugar de se pensar Teresópolis como uma cidade-saúde, a opção por atrelar sua vocação ao atendimento da doença em hospitais não nos parece enxergar as vantagens competitivas do espaço repleto de bem estar e pleno de vida.

O que atrai pessoas a uma cidade de qualidade ambiental intrínsica é seu potencial de realizar saúde, com práticas revigorantes e energizadoras. Ao olharmos a saúde como um sub-conjunto da doença, perdermos o traço distintivo da cidade.

Seguindo pelo mesma linha de raciocínio, é conveniente a “indústria administrativa governamental” ramificada em escala planetária sob o regime da cartilha única, apenas aumentar a escala de compra de serviços pelo governo, sem observar o rendimento dessas ações.

A ineficiência no uso dos recursos públicos hoje, deriva exatamente de operações de compra e venda, sem o cuidado com a otimização, para além das premissas de preço e especificação do produto.

Ao invés, por exemplo, de se aplicar cegamente o dinheiro na acumulação de lixo, quem sabe estabelecer leis que levem a redução da produção do mesmo. O “mais”, presente em todas as licitações esquece que a educação ambiental pode proporcionar “menos” gastos corretivos.

Várias políticas públicas apontam nesse sentido. Poucos são os gestores adotantes. Comprar “mais”, combina com o quadro de corrupção do aparelho do estado. A democracia direta, exige do cidadão que se manifeste a esse respeito de forma contundente.

A lei seca, por exemplo, demonstrou menos uma preocupação com a saúde e mais com os prejuízos econômicos decorrentes da banalização e uso irresponsável de drogas leves oficializadas, como é o caso do álcool.

Otimizar o aparelho público com seus recursos limitados, implica muitas vezes em afetar modelos arraigados a própria prática do estado e de sua relação com os setores empresariais. Mas a saúde da sociedade impõe esse ônus. O desconforto inicial produz a longo prazo bem-estar geral.

Teresópolis pode ser vista como uma cidade satélite e relacional, de peso e relevância tanto política, demográfica ou econômica menor.

Tom Jobim certa vez disse que “o Brasil era um país de muita floresta, muito passarinho e pouca gente que havia se trasnformado num país de pouca floresta, pouco passarinho e muita gente”. Os especialistas em meio-ambiente podem beber na fonte poética do Tom.

Acredito que esse ensinamento nos convida a pensar sobre a importância dos estudos de fluxo demográfico, para a partir destes valores, estabelecer políticas capazes de atingir alvos-vetores de maior significação e mudanças menos figurativas.

Projetos de efeito reduzido, do tamanho da timidez de nossas ambições, serão insuficientes para desacelerar a curva de crescimento dos problemas setoriais em estado emergencial.

A metodologia mais apropriada a solução de problemas, exige seu ataque na totalidade. Infelizmente, as maquiagens e teatralizações substituíram a competência e coragem para mudar na esfera do poder público. E esse é um fenômeno global.

Por esse motivo, cabe ao cidadão, exercer o seu direito de transformar com lucidez o lugar que vive. Esse é o papel de todos.

As cidades moram dentro de nós.

Houve um tempo em que as pessoas que habitavam uma cidade se viam como representantes legítimas delas. Cada vez mais, os dias atuais apontam para as cidades que viajam dentro de nossas memórias. A identificação com um lugar, estilo ou prática de vida nos torna cidadão eterno daquele espaço.

É importante para as cidade que ganhem  e distribuam chancelas de “cidadãos honorários” aos nobres passantes que deixaram declarações de amor e carinho, fixaram suas retinas no lugar de modo a torná-lo uma experiência inesquecível em suas vidas.

A virtualidade tecnológica ajuda a congregar essas pessoas, seja qual for o espaço físico em que estejam. É por isso que cidades como Berlim, NY e Paris estão ganhando status de TLDs na internet e brevemente serão encontradas como domínios raiz.

Quase uma década de lutas permitiu conquistar essa possibilidade. Expressar cidades em linguagem natural nos libertará da  centralização latente nos mecanismos de busca. A longo prazo, o Google tem por objetivo ser o único domínio do planeta para se localizar informação. Isso deve ser evitado.

Expressar cidades e publicar sua adesãõ num espaço cibernético, a trasnforma em lugar do mundo, para qualquer cidadão com desejo de habitá-la.

Como nos devaneios dos poetas, habitar em sonho. A virtualidade torna expensível o conceito de cidadania, multiplica nossa capacidade de expressar afeto e solidariedade por lugares, no caso cidades, e em específico por Teresópolis.

Volto a Botero, um descontraído viajante global colombiano,” alguém que traz o mundo dentro de si, que se sente à vontade em todo o lado e em lado nenhum  – apenas consigo mesmo. Primavera em Paris, verão em Petrasanta, Paris outra vez, fim de outono em Nova York, e chegada da primavera em Montecarlo.”

Um cidadão do século XXI transita e realiza escolhas e intercâmbios. Botero nos oferece uma solução possível. “Para sua obra singular, que procura ser nada mais que a expressãõ de sua identidade colombiana, esta é sem dúvida uma condição prévia. Em todos os locais, existem ateliês equipados por ele.”

A singularidade na obra de um artista, mesmo que ingênua, tradicional ou provinciano, é o atributo que aliado ao talento, o farão alçar a condição de universal.

Assim também ocorre com as cidades em seus processos de construção de identidade. Ao buscar o que lhe é único e projetar com a visibilidade que os recursos de comunicação oferece, Teresópolis pode ser universal, pois tem potencial alto para isso.

Vladimir Cavalcante – New Executive Officer

As Bolhas – PARTE I – Endividamento por Crédito

Faz uns cinco anos aponto para a falácia da modelo que substituiu a inflação por endividamento. O povo adora se endividar. Nos EUA não deu certo e a mercado imobiliário “alavancado”, produziu uma bolha de consequências devastadoras.

Vemos a Europa, em especial, Grécia, Inglaterra, Irlanda, entre outros seguindo pelo mesmo caminho, em desesperadas tentativas de DESACELERAÇÃO mal sucedidas e de prejuízo para aposentados e da pauta de conquistas sociais históricas, incluído aí o salário desemprego e sistema de ensino.

Quando trabalhava no mercado financeiro, sempre tive a sensação de que as coisas mais importantes sobre as bolsas nunca eram publicadas nos jornais. Essas informações valiam muito porque davam muito dinheiro a quem as comprasse.

E foi assim que tive acesso a informações acionárias sobre os bancos. Naquela ocasião, as instituições financeiras estavam deslocando a lucratividade de suas operações de uma ciranda, chamada inflação, para uma outra: o crédito. Nessa época o Brasil viu nascer, uma atrás da outra, empresas que emprestavam dinheiro para pessoas, com grande facilidade. Olhei para a participação acionária delas e encontrei nas maiores apenas bancos .

A FININVEST foi a mais famosa daquele momento histórico. O momento do “pseudo-fim” do monstro inflacionário. Apenas recapitulando, esse monstro destruía uma grande parte do poder de compra dos trabalhadores. Os sindicalistas lutavam para obter a recomposição do pedaço perdido e nesse meio tempo os bancos embolsavam a lucratividade dessa operação. O trabalhador sempre perdia.

Perdia desde dos congelamentos de salário sem que os empregados tivessem o direito de reajuste de salários. Desde o saudoso Mário Henrique Simonsen, que ajudou a ditadura nesse projeto, com o brilhante PAEG. No seu tempo, sindicato não podia fazer greve e os ganhos previstos por produtividade, nunca foram repassados.

A quantidade de empresas semelhantes a FININVEST se multiplicaram. Emprestar dinheiro, oferecer crédito a juros extorsivos se tornou a atividade mais lucrativa do mundo. A hegemonização desse mercado dominado pelas grandes instituições financeiras, levou a extinção de uma classe de profissionais considerados pelo governo como criminosos: a figura do agiota.

O agiota passou a ser praticamente eliminado por concorrência desleal. O mesmo caso dos donos de casas de jogos ilegais. Só o governo e seus amigos podem explorar o jogo e o empréstimo vil no Brasil.

Ficou claro para mim desde então, que pelas prática dos juros altos o modelo se esgotaria. Calculei. Imaginei com os meus botões, o que aconteceria com o sistema e quem pagaria a conta. Era claro para mim que a inadimplência estaria diretamente associada a velocidade de compra do consumidor. Se o consumidor, do alto da sua ignorância, persistisse em se endividar enlouquecidamente o abismo chegaria mais próximo. Mas por etapas.

Na primeira etapa, em função da estrutura familiar multifacetada da economia dos brasileiros mais pobres, o cabeça da operação perderia sua capacidade de endividamento. Com seu nome no SPC e Serasa, suas certidões negativas passariam a impedir que ele comandasse a compra de um liquidificador que fosse nas Casas Bahia.

Numa segunda etapa, sua mulher. Numa terceira, o filho que vive na mesma casa. Enfim, numa família típica de classe com capacidade de endividamento, o ciclo poderia se repetir por umas quatro a seis vezes. Namorei uma menina de uma família assim. A família toda dependia de seus cartões de crédito. Foi a única deixada em regime de invulnerabilidade na mesa desta jogatina.

Mas a pergunta que me fazia era sempre a mesma: a quem beneficiava essa prática do dinheiro fácil? Aos ingressantes ao sistema financeiro. E foi por isso que dezenas de empresas do setor produtivo migraram parte de suas atividades e criaram um braço nessa praia cheia de oportunidades.

Os empresários de então, pareciam aqueles turistas aportados em ilhas de Turismo Sexual, ávidos por sexo fácil e barato. Nesse caso, dinheiro faturado mole, mole, as custas de pobretões que sonham em realizar consumo e sonhos a qualquer preço.

Vi os cartões de todas as redes comerciais se multiplicarem. Livrarias, lojas de celular como a Oi com o PAGGO, C&A, etc. Ganharam muito, mas muito dinheiro de todos que compraram com crédito. Aposta com jogo de cartas marcadas. Ganharam todas e ficaram mais gananciosos. E foi nesse lance paradoxal que os ganhadores se embriagaram neste rio de dinheiro e esqueceram de calcular o esgotamento do modelo.

O ganho fácil gera um desejo desenfreado de ganhar mais. Deixa as contas de lado e mergulha num condicionamento onde a experiência anterior acaba levando você a acreditar que ela vai se repetir ad infinitum. Mas o que acontece é exatamente o oposto. Esgotamento a partir de uma erosão calculável do sistema e crise profunda.

Nós chegamos a ela, felizmente antes de que a nossa própria, a interna tivesse chegado. Isso nos salvou de um quadro mais grave por um lado. Não estamos sozinhos na merda. Há merda para todos e principalmente para os mais ricos. Isso é muito saudável e nos permitiu inclusive os arroubos vistos de nosso ignóbil comandante da República. Sem nenhuma capacidade de calcular o que aconteceria nos meses seguintes, o que passou a ser chamado de Bufão da República, arrotou riqueza e saúde pelas política monetária “austera” adotada no país.

Olhei de Camarote o discurso capotar. Vi o presidente do Banco Central claudicante dentro do Congresso Nacional. A pompa foi substituída por um pouco mais de sobriedade. Tipo assim: “caralho, a situação tá preta, tô de orelha em pé e não sei o que vai acontecer…” Tenho amigos reclamando de não estarem mais “realizando”. Será que todo mundo achava que esta ciranda consumista, fagocitária e insana se manteria pelo planeta, do modo como o american way of life resolveu vender para todos nós?

A população endividada viverá um novo tempo. Quero dizer um tempo bem negro. Acostumada a acreditar que a inflação acabara, por conta de linhas de crédito fácil e impagável, chegou a um novo lugar. O lugar onde o agiota desapareceu e não terá a quem recorrer. Quem assinou os contratos para comprar moto da Honda antes, se deu bem. Acabou. Quem quiser, daqui para frente vai encontrar rigor e barreiras intransponíveis. Acabou a facilidade do crédito, antes que o últimos dos familiares tivessem seu nome sujo no SPC.

Não deu tempo Brasil. Valeu Wall Street. Vocês salvaram a integridade dos últimos dos moicanos tupiniquins, que mesmo querendo, não conseguirão ter o nome na lista negra. Valeu Wall Street. Vocês salvaram os brasileiros do único cartão de crédito do mundo que conheço que não realiza débito automático, o PAGGO. Graças a Deus descontinuado pela Oi. Enfim, os monstros do capitalismo estão com as barbas de molho e o primarismo amador será banido, ainda que provisoriamente.

A única coisa que não se resolverá é a inflação. Vocês acompanharão nos próximos anos, uma retomada dos velhos mecanismos de faturamento dos bancos. Pela erosão dos salários não reajustados. Pelo não reajuste do salário mínimo, nosso velho indexador para quem compra e consome na base da pirâmide da economia. As greves vão nos incomodar com mais constância e voltaremos a falar sobre isso nos jornais. O monstro da inflação voltou. Ele, na verdade nunca foi. Estava escondido por debaixo do tapete de créditos inflacionados (absurdos).

Quem vive de produtos e comércio, repassa. Quem tem renda fixa, entuba. E você? What about You? Tube or not Tube? Vai entubar a inflação ou vomitar na cara dos banqueiros de plantão, com cara de sabão em plena rede nacional de televisão?

Essa primeira parte desse artigo foi publicada em novembro de 2008. Mas a ideia já vem desde a era FHC. E o que vemos agora? O quadro assustador, onde as pessoas finalmente atingem o esgotamento da sangria no pagamento de dívidas com juros indecentes.

Os agiotas, por precaução começam a se mover. Limitaram esse mês os valores de pagamento mínimo, que subirão. Isso significa na prática, restrição de rolagem de dívidas de crédito. Mas todo mundo já está comprometendo toda sua renda com crédito…

Acredito que a bomba, ou melhor, a bolha está mais próxima a estourar do que a outra, a bolha de commodities. Essa segunda tem uma natureza externa, bem diferente da nossa bolha tupiniquim produzida pela agiotagem do sistema financeiro nacional, muito feliz nos últimos 16 anos…

Vladimir Cavalcante
New Executive Officer da AREEVOL

Literatura no Cinema

Foi nesse final de ano, quase na virada que assisti um lindo filme em homenagem ao livro. O nome em português foi “Coração de Tinta” (inkheart). Uma verdadeira aula sobre as metamorfoses e o encantamento pelo qual passam os leitores dedicados a vida entre os livros.

Considero que uma das maiores virtudes do cinema americano é exatamente sua capacidade ficcional. E nesse filme, essa capacidade foi explorada de uma forma das mais inteligentes e lúdicas que já vi a favor de um objeto tão pouco considerado nos tempos das tecnologias e formas audiovisuais. A trama dá uma prova de que os recursos de cinema e televisão podem ser muito proveitosos para dirigir as pessoas a universos de tradição, como é o caso do literário.

Na terminologia adotada por todo o filme, alguns termos me saltaram os olhos. Por exemplo, língua encantada. Um leitor que conta histórias para sua filha de forma tão verdadeira que consegue materializar os elementos e personagens dos livros. Isso é considerado um dom. Linda metáfora. O Nirvana a ser alcançado pelos que almejam ler bem um livro.

Bárbaros capazes de queimar, rasgar e desprezar bibliotecas e livros é uma cena muito forte e remete as inúmeras vezes que isso aconteceu na história humana. Em “O Nome da Rosa” esse fato ganhou mais dramaticidade. A biblioteca de Alexandria talvez tenha sido a maior perda em volume. O nazismo se encarregou de fazer o mesmo.

Os filhos podem herdar de seus pais a “língua encantada”. E foi isso que aconteceu. A filha do protagonista é capaz de leitura com capacidade de materializar. Outros se aproximam dessa aptidão raríssima, mas só o faze pela metade. E isso o enredo explora bem. Personagens que saem do livro, mas que pelas palavras de leitores medianos acabam marcados por pedaços de trechos de livros na pele.

Ao entender o valor da leitura, até os vilões tentam se apropriar do controle sobre essa capacidade. Até que em um dado momento, entra em cena o autor. No caso, o escritor que realizou o livro “inkheart” é localizado para que o manuscrito pudesse ser lido pelo encantamento da língua do leitor.

Nesse ponto a história recebe uma inflexão interessante. O confronto entre o destino definido pelo autor e os personagens que ele criou. Ao fazer isso, deu aos personagens vida própria e percebe que os mesmo podem e querem se rebelar contra um destino pré-determinado. Novos tempos, novos rumos para as histórias. Um autor nunca terá o poder sobre seus personagens eternos. O grande controlador do livro, corre sempre o risco de que o mesmo seja reescrito ao longo de gerações. Isso, quase sempre acontece.

O desafio que se coloca então é reescrever histórias. De um lado, os vilões querendo fazer isso com o uso da força. Desejando viver uma espécie de mais-valia da maldade. Do outro lado a filha de língua encantada e o autor. Ambos trabalhando juntos.

A menina começa lendo o roteiro do autor e quando ele desaparece ele a convida, numa espécie de oficina de literatura. A menina começa a escrever sua própria história e vai pouco a pouco descobrindo sua capacidade de criar histórias. Nesse ponto ela se transforma em algo além da língua encantada. Ela é autora. O personagem é autor. E as histórias se misturam numa colagem que beira uma bricolagem de Maiacovsky, o pós-modernismo e o software livre de que nos falam os que produzem obras colaborativamente.

A posição do autor é portanto objeto de um questionamento sutil e educado, mas antes de mais nada, divertido. É claro que o próprio autor acaba sendo transformado num personagem que é convidado a desaparecer diante da caneta nas mãos da menina. O coração de tinta como título passa então a fazer todo o sentido.

Vladimir Cavalcante – New Executive Officer – AREEVOL

Enxergai o Povo!

(Sobre a cegueira dos governantes, que não habitam os lares dos humildes e nem lançam seu olhar à direção dos acontecimentos.)

A AREEVOL é uma empresa que lida com o olhar. Esse atributo tão especial dos seres vivos, tem muitas possibilidades de uso. Uma delas é a política em seu aspecto menos relacionada a cultura do poder pelo poder. Uma política da sensibilidade do olhar, objeto de uma ciência política e de um arranjo social mais exigente.

A arrumação das pessoas num espaço social como uma cidade exige faz tempo um novo modo de olhar as cidades e os que habitam este lugar chave na vida dos habitantes desse planeta que caminha para a marca de 8 bilhões de pessoas dentro de si. Uma espaçonave meio superpovoada de gente, é verdade. Mas antes disso, muito mal cuidada.

O olhar deve fazer  parte da agenda política? Certamente que sim. As decisões podem ser tomadas com base nele? Inclusive, porém não apenas. Olhar com a pele, tocando nas coisas para além do que a televisão e os jornais mostram. A fotografia acima por exemplo, um recorte da realidade na Mangueira aparenta inclusive uma beleza que na prática não tem. Passear pelas ruas desse lugar pode ser vital para entender como a degradação pode estar sendo naturalizada.

Para a maioria dos políticos profisisonais do estado do Rio de Janeiro, este tipo de realidade existe para ser “administrado”, no sentido fatalista de que as coisas são essas aí mesmo e pouco ou nada pode ser feito. Lembro-me que uma vez disseram-me que para que Londres e Paris existissem, com toda sua capacidade industrial, sem pleno emprego mas com salário desemprego capaz de estabelecer cidadãos onde não há pleno emprego, era necessário exportar o exército de reserva e a miséria.

Onde ela veio parar? Na periferia do mundo. A perifieria está neste momento migrando para dentro das fronteiras inexpugnáveis dos castelos de estabilidade e bem-estar dos países desenvolvidos. Fala-se de uma cisão americana em três pedaços: um mexicano, um europeu e outro chinês.

Zonas de inlfuência geopolítica das esferas de dominação que invadiram o sangue que circula nas veias da nação mais poderosa do mundo. Acho exagero. Acho parte de um discurso alarmista dos que insistem em polarizar ao invés de pensar um mundo melhor e de respeito ao conjunto de seres vivos. Preferem raciocinar a luz apenas de sustentar privilégios para um grupo, desde que pertençam a esse grupo evidentemente.

Acabamos de sair de uma eleição munícipo-planetária, e me perdoem o neologismo. É porque a crise de moralidade e absurdos nos levou de um boquete na mesa oval, a um genocídio para despejar armamentos e manter economias bélicas girando, até a indicação de um negro para presidência dos EUA.

É claro que isso refletiu nos lugarejos, no caso os municípios com eleições no Brasil. Fenômenos como a substituição das listras horizontais utilizadas como vestimenta pelos irmãos metralhas da política estabelecida deram lugar a muitas listras verticais das zebrinhas que apareceram nas prefeituras. Muitos advogarão a idéia de que isso foi o pior que poderia acontecer. Na lógica dos conservadores, o resultado previsível é sempre melhor que a surpresa.

Nenhum desses raciocínios me fascinam. Prefiro insistir que a fórmula mais eficaz para o enfrentamento dos assuntos que giram faz décadas sem solução, passa por um ato de olhar, com sensibilidade os arredores de nossas ações executivas. Os políticos estão distantes disso faz tempo. A sociedade sabe disso e já não espera por eles, o que em si é muito mais inteligente. A democracia direta vem tomando vulto a cada dia.

Mas para aqueles que quiserem experimentar um novo modo de governar, uma dica simples: enxergai o povo! Quem sabe alguns absurdos simples e fáceis de resolver não registrem seus nomes na história?

Vladimir Cavalcante – New Executive Officer – AREEVOL

O Homem Água

Já faz algum tempo, o Carlinhos Brown apareceu num desses Rock in Rio, na fase cidade do Rock decadente e convocou a toda o público a cantar uma espécie de jingle como campanha para que se bebesse água mineral: “bebeu água? água, água, água, água mineral… você vai ficar legal”. Parecia uma campanha promovida por um grupo econômico que não se revelou, e um alegre garoto propaganda em prol de um produto politicamente correto.

Acontece que alguns anos mais tarde, em 2008, esse mesmo Carlinhos Brown pode ser visto numa propaganda nos horários de alta audiência, os mais caros, nos canais de TV ao lado de uma marca de cerveja. Acredito que nos dois casos, a presença do músico será inesquecível. Ele associou sua imagem a duas campanhas sobre venda de líquidos em alta no mercado. Sabemos que as pessoas se matam no trânsito por conta dos índices de álcool nas veias.

Mas talvez ainda não tenha ocorrido a os leitores que as pessoas se matarão por causa de um copo de água. No Oriente Médio, existe a figura do “homem bomba” que por razões religiosas entrega sua vida a causa de combate de seus adversários. As razões são complexas. O que leva uma pessoa a ser um cordeiro voluntário disposto ao ritual de sacrifício da própria vida é para muitos um aspecto insondável.

Talvez dentro de uma cultura onde princípios e valores são mais importantes que preservar instintivamente a vida, essa posição faça sentido. Isso os distingue e torna suas famílias respeitadas em muitos casos. Há como no toureiro que morre na arena, uma nobreza em seu papel social e mítico. Trata-se do papel do Herói. Esse papel aparece na mitologia de diversos povos em muitas dimensões e cultua a morte como um maior dos sacrifícios.

No entanto, num outro extremo, um jovem em situação de risco nas ruas de uma grande cidade, influenciado pelas quadrilhas adultas que dominam o espaço urbano, pode já ter perdido a noção do valor da vida e nesse caso se transforma em um instrumento indispensável as máquinas de guerra. Numa máquina de guerra, os países mais industrializados entram com a tecnologia e as armas. Os países pobres, com a mão de obra que as operará.

Para que um homem vire uma bomba, é necessário a bomba e o homem. A bomba, mesmo que caseira utiliza material fabricado pela indústria cada vez menos artesanal para aqueles que disponham do dinheiro para alimentar essa fogueira. Pessoas se matam e isso é natural. Jovens morrem sem expectativa de um desenvolvimento natural de suas vidas, com direitos básicos como respirar, beber, comer e dormir com qualidade. Nada disso está garantido.

Então, dentro da nova ordem internacional, onde a lei da selva de mercado institui valor a bens insdispensáveis ao funcionamento da vida social, cria-se um impasse. Quem não dispuser de recursos para comprar esses bens, ficará sem eles. Se for o ar, morrerá em 5 minutos. Se for a água, em alguns dias. No caso do alimento em semanas ou meses.

É possível pensar que se a água é um bem de tal modo vital a vida humana, se os instintos de sobrevivência prevalecerem, se este componente ganhar portanto status de líquido vital e sagrado, uma religião se consagre. Não será o chá do Santo Daime. Será o copo da água sagrada. Não no cálice do Santo Graal dos Cavaleiros da Távola Redonda. Será a água sagrada para matar a sede dos que dela precisam. E nesse momento nascerão os “homens água”. Não serão como nos filmes, moléculas de água na epiderme, muito menos fabricantes de H2O.

O “homem água” viverá uma religião que considera sagrada a vida, e diferentemente do “homem bomba”, não matará, pois seu princípio e lutar obstinadamente pela vida. E nesse caso pelo direito sagrado a água. Aquele direito que em rituais religiosos levam ao batismo. E para os católicos ao momento da Ave Maria com a presença do copo de água abençoado pela oração e que será bebido com reverência e devoção.

Nesse dia, as fontes de água públicas, responsabilidade do poder público, que deve se organizar para desenhar as soluções técnicas e empresariais que garantam essa condição onde possível, devem atuar de forma vigorosa para garantir esse direito inalienável a toda população que representa.

Até lá, continuaremos convivendo com barbárie, bombas e muita truculência, desprovida de qualquer sensibilidade e inteligência, mas apenas numa luta insana por controle, poder e instauração de um terrorismo barato que congele a capacidade de iniciativa dos cidadãos.

O “homem água”, apesar de simbolicamente constituído de líquido, uma forma mais maleável é como a água mole em pedra dura. Tanto bate, até que fura.

Vladimir Cavalcante – New Executive Officer – AREEVOL

Juros e Banqueiros

Bancos no Brasil não modificarão a lucratividade em suas pizzas de distribição no dinheiro. Vamos cobrar da FEBRABAN e promessas maiores do banco de fornecer informações.

O cinismo do presidente da entidade, negando os problemas crônicos que diagnosticamos muito antes da crise no exterior, essa tal de turbulência econômica.

Todos sabem que a inflação foi subsituída por endividamento sob forma de juros abusivos? Talvez não. A linha de raciocínio adotada torna fácil entender o que acontece com o seu bolso. Mais ou menos assim: tiravam seu dinheiro com a erosão do salário, resultado da diferença entre o que você comprava com o dinheiro ganho no início do mês e o que compraria se deixasse para comprar no final do mês.

No final do mês, o fato é que seu dinheiro valia menos e você perdia. Perdia muito mais se a inflação fosse muito alta. Uma inflação de 10% ao mês gera perdas irreparáveis a quem vive de ganhos pré-fixados. Seu salário no final do mês não virá com reajuste do valor de inflação. E desse modo, seu dinheiro era tarifado pelo sistema.

Como na natureza, tudo que sai de um lugar vai parar em outro, pode-se afirmar que quem ganhava a diferença desse valor perdido era o sistema financeiro. Tarifa inflacionária que parecia com o juros que hoje o sistema cobra de você, na compra com uso de crédito, por exemplo.

Nada de novo. Apenas a sensação de prazer quando consumimos antecipando dívidas. Vai rindo para depois sair chorando e com o nome sujo no SERASA. Mas é claro que todo sistema atinge seu limite de esgotamento e saturação.

Foi então que o vice-presidente da República, voz isolada no governo nestes oito anos de exercício ao lado dos setores produtivos da economia ganhou um aliado de ocasião. O Mantega e a pasta do Ministério da Fazenda. Este passou a dar declarações de que os juros no Brasil são altos. Criou uma linha de pensamento onde ao manter os juros altos, tornaríamos a dívida impagável.

Isso me lembra o tempo em que o FMI vinha cobrar juros da dívida externa. Os juros e tudo que isso envolvia era absolutamente arbitrário e muito parecido com a chamada política de autoregulação proposta pela FEBRABAN. Isso cheira mal hoje, depois de pedidos de ajuda aos governos, do sistema financeiro internacional, que desabou por falta de autocrítica e diálogo com algo além de sua ganância e egoísmo.

Hoje, os incompetentes do exterior ainda posam dentro do Brasil como os cínicos de plantão, que insistem em aplicar a formuleta que leva a bancarrota. Quanto mais tempo levar-mos para fazer o que precisa ser feito, pior para todos, mas principalmente para a sociedade.

Ou será que você acha legítimo que um cheque especial com juros de 12% possa ter sua taxa alterada por uma circular do Banco Central que autorize os bancos a fazer uma aplicação arbitrária de 20% de juros sobre o valor total devido, e não ao valor excedente?

Essas e outras anomalias, ou porque não dizer sombras das figuras bizarras, aberrações de uma distorção autocrática financeira que submete a sociedade a suas regras sem qualquer respeito a inteligência e ao conhecimento sobre o único valor desses picaretas fardados, de um cinismo que depois pede esmola aos contribuintes para corrigir seus equívocos jamais admitidos.

Vladimir Cavalcante
New Executive Officer

Turismo Infinito

O que faz de um espetáculo teatral, uma obra de arte do mais alto nível, é uma pergunta que pode ser respondida após assistirmos a peça “Turismo Infinito”.

Uma viagem pelo interior do ser pode ser muito mais divertida e plural nos desdobramentos do que a visita a 88 países. Isso é o infinito para dentro de cada ser humano. Podemos mergulhar, mergulhar, virar ao avesso e mesmo assim ficar extasiados de surpresa.

Fernando Pessoa e seus textos inspiram esse tipo de percursso. É um poeta cuja palavra trata do tipo de viagem somente possível aos mergulhadores de profundidade. E como em Sidarta, de Herman Hesse, há sempre a hora de voltar da apnéia. Pois é impossível mergulhar indefinidamente. O mergulho ao infinito do ser nos trás a superfície com seu resultado último. A caça resulta do que encontramos e expressamos com as palavras.

O encontro com o teatro é na verdade o encontro com a arte das palavras associadas a infinita perspectiva de expressarem de forma lisonjeira a espécie humana, até naquilo que nela nada há de humanidade. Até naquilo que habita de animal espécie. Naquilo que advirá em nova espécie. Naquilo que nos espera, logo ali, no infinito.

Vale assistir o espetáculo no Teatro SESC Pinheiros. Devemos essa aos nossos amigos portugueses.

Vladimir Cavalcante
New Executive Officer – AREEVOL