Comunicação na Estácio

A AREEVOL participou da semana de Comunicação da Universidade Estácio de Sá, apresentando dois temas de interesse para os jovens estudantes de jornalismo, publicidade e comunicação. Na galeria de fotos, um apanhado visual do clima que predominou na festa de encerramento do evento.

Na primeira palestra, “A criação de uma empresa de novas mídias numa economia globalizada”, procurei demonstrar o percurso da glocalização adotada pelo grupo AREEVOL nos últimos três anos. A partir da escolha de um local, o bairro suburbano de Madureira, a invasão cultural de um shopping seguida da criação em parceria com uma rede de restaurantes e bares da franquia TV NO BAR.

Todavia, em função das características inerentes as novas mídias, dentre as quais a internacionalização com custos muito reduzidos, o desafio de inserção num cenário global condicionado ao cuidado com a identidade local se tornara um passo inevitável. Assim nasceu a AREEVOL. Em três palavras a idéia pode ser resumida: Madureira, TV NO BAR, AREEVOL.

Após essa breve introdução, foi a vez de Marcos Guimarães, um dos fundadores do TV NO BAR falar sobre “O Comunicador como profissional de Mídia”. Sua experiência pessoal, como artista, autodidata e comunicador foi apresentada aos alunos da Universidade Estácio de Sá, como uma “via impossível” que vem dando certo. Sem carteira assinada – afinal para quê assinar carteira se você pode ser seu próprio patrão? – e com muita criatividade, “Marco Palito”, como costumava ser chamado pelos amigos da rua onde nasceu, apresentou seus personagens e projetos ( www.marcopalito.com.br ) contando com grande entusiasmo da platéia.

Mas a noite era mesmo de festa e a abordagem acadêmica deu lugar a música anos 80, para celebrar o Campus de Madureira da Estácio como um case de sucesso. Maiores detalhes nos vídeos das palestras.

Novas Mídias em Economias Globais

Sexta-feira passada, estive na Semana de Comunicação da Universidade Estácio de Sá para falar sobre a criação de um novo negócio de novas mídias em economias globalizadas. O recado principal neste campo envolve duas referências obrigatórias: A Cauda Longa e O Oceano Azul.

Na Cauda Longa, deslocamos a atenção desses marinheiros de primeira viagem, em busca do Eldorado dos empregos num grande veículo de comunicação de massa. Ao invés de preparar jornalistas, repórteres e comunicadores para a fila de desempregados, esperando que abram uma das duas vagas de âncoras de telejornalistas do JN, preferi oferecer como possibilidade muito mais real de êxito profissional os meios subversivos que dão acesso ao mercado de nicho.

Ao subverter a lógica do mercado atual, por canais de baixo custo nas etapas de produção, distribuição e de redes de recomendação de conteúdos, senti a sensação do dever cumprido. Normalmente a Universidade não costuma preparar seus alunos para as adversidades que as taxas de desemprego atuais representam para a grande maioria desses jovens. Seria antipático demais. Mas é a esse espinhoso assunto que dediquei meu tempo.

Nem tudo está perdido. As novas mídias criam novos campos de oportunidade. Oceanos Azuis, onde ao invés de gastar uma energia que nem sempre temos. Oceano azul, nada mais é do que uma metáfora sobre criar novos mercados. Isso é essencial ao pequeno talentoso. Ao invés de viver sofrendo com os tubarões da concorrência espremendo você a cada minuto, crie. Reinvente modos de fazer.

O que é a Bolacha Digital?

Há cinco anos atrás nascia o TVNOBAR. Realizar a modernização por meio de ambientação de bares. Essa franquia revolucionou os serviços de bares, inicialmente no Rio de Janeiro, com serviço de imagens, o registro dos artistas de bares e principalmente de você, frequentador deste lugar onde a alegria está sempre presente. Seja num chopinho na Sexta-feira, na sua festa de aniversário ou em alguma data comemorativa, o TVNOBAR deixa em suas mãos uma lembrança para guardar e mostrar aos amigos, família e principalmente para se ver!

No Bar, a Bolacha tradicional conta o número de Chopps consumidos. No TVNOBAR, a Bolacha Digital vai com você para casa com vídeos, fotos e muita animação. O Blumenau Grill, nos Shoppings de Madureira e Campo Grande oferece este presente para todos os seus clientes.

E você, já tem a sua?

TV DIGITAL Rio de Janeiro

A TV Digital entrou em operação no Rio de Janeiro na segunda-feira, 16/06/2008. Diferentemente da enorme divulgação que o assunto teve no dia 04/12/2007, quando o serviço foi inaugurado em SP, o assunto foi comentado de forma bastante discreta pela mídia. Especial atenção para mobilidade da transmissão. Nossos estúdios devem estar preparados para captar os sinais em UHF oferecidos pelo sistema HDTV.

Clique abaixo para ver maiores detalhes:

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM842411-7823-COMECAM+AS+TRANSMISSOES+EM+SINAL+DIGITAL+DA+TV+GLOBO+PARA+O+RIO+DE+JANEIRO,00.html

No caso do Rio de Janeiro, o grau de atenção e expectativas sobre o resultado da implementação dos sistemas foi rapidamente assimilado por uma nova forma de comunicar ao público a vantagem: o símbolo que as emissora passaram a adotar para informar que aquela programação utiliza a Alta Definição.

Se isso representará um grau de diferencial para as empresas, é uma questão a ser vista. Para nós, a mobilidade parece ser o território mais promissor, e nesse caso, os equipamentos celulares ou correlatos que ofereçam acesso ao sinal digital levam vantagem.

Mas a alta definição nesse caso fica restrita a um nível mínimo de resolução, pelas dimensões do aparelho e tecnologia das telas.

Vladimir Cavalcante – New Executive Officer – AREEVOL

TVNOBAR

Alguns anos atrás, nosso grupo de prospecção de oportunidades identificou uma lacuna para desenvolvimento de uma sociedade baseada no conhecimento e conectada ao homem comum. A ausência de um espaço social onde a tecnologia de comunicação e informação pudesse estar ao alcance das mãos do cidadão. Daquele que vai se divertir tomando um suco, um choppinho e batendo papo para relaxar. Nascia o TVNOBAR de uma vontade de incluir digitalmente, num lugar popular. Anos depois, esta franquia foi incorporada ao negócio da AREEVOL.

Para entender o que o TVNOBAR vem fazendo, leia o artigo anexado em formato PDF. (a ser anexado)…

Internet, Ecologia e Domínios v.1.0

Posição Oficial do ICANN (diagnóstico)

“Em 2007, a Internet já havia se tornado multi-dimensional e seu desenvolvimento ditado por uma popularização de tecnologias de comunicação de baixo custo em muitos lugares do planeta. Além disso, viagens pelo mundo se tornaram de baixo custo, eficientes e prontamente disponíveis para uma diversidade de viajantes. Como consequência, os cidadãos passaram a não mais se associar a noção de países de origem, mas ao contrário mantém identificação com comunidades internacionais de linguística, cultura, ou de interesse profissional que independem de suas localizações físicas. Muitas pessoas exercem atualmente seus direitos a múltiplas nacionalidades, falam vários idiomas e quase sempre moram longe de onde nasceram ou foram educados.

O Livro da OECD de 2007 oferece uma estatística bastante esclarecedora sobre o impacto da migração para os países membros da Comunidade Econômica Européia. Em resumo, muitas populações são flúidas e mudam por conta dos movimentos de restrição a postos de trabalho, mas também porque a tecnologia permite aos trabalhadores morarem num lugar e trabalhar em outro com relativa facilidade. Como resultado, empresas e organizações operam globalmente em várias fronteiras geográficas e jurídicas. A figura abaixo mostra quão rapidamente o número de domínios tem crescido e que podemos esperar que essa tendência continue a exigir a introdução de domínios de topo de nível. (O sistema atual possui 20 extensões e estará liberado desta restrição a partir de 2009).”

Um olhar ecológico sobre a posição oficial do ICANN (crítica)

Por Vladimir Cavalcante – Agência AREEVOL

Em 1992 aconteceu a ECO-92 no Rio de Janeiro. De lá para cá, a questão ambiental ganhou espaço nas conversas sobre o futuro do planeta, do homem e da vida. Naquela mesma ocasião, as Lonas instaladas no Aterro do Flamengo serviram para que cidadãos de todo o mundo se fizessem representar para discutir em paralelo no Fórum Global esse assunto que afinal pertence a todos. Betinho, o maior articulista de movimentos sociais do Brasil providenciou com seus amigos do poder, entre eles Fernando Peregrino, que estas instituições internacionais pudessem utilizar um novo recurso para informar num nível internacional os acontecimentos locais. Sem intermediação do dirigismo dos grandes grupos de comunicação de massa. A internet foi instalada no hotel Glória e o acesso daquele telecentro adaptado foi determinante ao sucesso das ações de cidadania dedicadas as causas ecológicas. Então, já naquela época a internet prestava sua colaboração para que o planeta fosse menos sacrificado pelo homem.

Todavia, uma das melhores contribuições que este recurso poderia oferecer a cidade do Rio de Janeiro foi subaproveitado. O Governador de ocasião, vitima de computadores em uma contagem de votos para governar o estado era um traumatizado. Via a computação como um inimigo político. Afinal, tudo aquilo que aqueles que almejam o poder não dominam se consubstancia como uma ameaça ao seu poder. Não seria diferente com a internet.

E foi assim que assistimos os pesados investimentos para construção da Linha Vermelha, como uma de suas maiores realizações. Sim, daquelas que permitem aos pobres circular para os bairros ricos. Que ampliam a condição de ir e vir para todos. Como no caso do discurso da cúpula da internet em sua carta explicativa, esses senhores enxergam a realidade como capaz de absorver os custos ambientais de bilhões de carros e computadores e viagens de todos os cidadãos para todos os lugares. Ta na cara que não freqüentaram cadeiras interdisciplinares e por isso enxergam soluções míopes para problemas bem complexos.

O tal cidadão do mundo, citado no texto acima é no mínimo uma construção utópica sem qualquer possibilidade de sustentabilidade pelos recursos não renováveis do planeta, em franco processo de esgotamento. Isso é tão patente que nem precisamos consultar a figura dos especialistas em meio-ambiente. Até a indústria de entretenimento vem aproveitando essa obviedade para apresentar o problema de uma forma lúdica, romântica e neutra. O filme WALL-E é um reflexo desse quadro. O herói é um robô gari. Como em a dama e o vagabundo. Ele é o vagabundo. Uma espécie de Chaplin cibernético. Um gari, sem grandes programas e funções sofisticadas, ele simplesmente cata o lixo e vive em seu mundo simples.

Enquanto isso, Eva, a personificação de todas as qualidades da Dama, e ao mesmo tempo uma espécie de Deusa da Fertilidade (veja o filme e confira o que ela carrega dentro dela). Poder destruidor para preservar a qualquer preço a si própria em sua diretriz e a vida que deve buscar e multiplicar.

O super-consumo e a obesidade, somados ao processo de atrofia físico dos seres humanos substituídos por máquinas e em busca do conforto absoluto, esbarram na impossibilidade material de construir esse tipo de sociedade para todos.

Então, como aceitar as argumentações sobre a inexorabilidade do modelo de intensificação de viagens e seres que transitam de uma cidade para outra, com custos ambientais inaceitáveis? Seria mais Sábio por parte do governo, ao invés de fazer uso do dinheiro público para exacerbar estas despesas insustentáveis ao meio ambiente, dirigir o recurso para que as pessoas se movimentem menos. Isso sim, a tecnologia da informação e comunicação pode fazer.

Foi por essa razão que em 1992, quando se discutia a Linha Vermelha, propus as Linhas Invisíveis. Que seriam simplesmente a base de infraestrutura para o tele-trabalho e tele-lazer. Assim, um trabalhador da Baixada Fluminense poderia ser poupado em 4 horas por dia de engarrafamentos e outros gastos pessoais, colaborando para redução dos custos ambientais da produção e tornando o mundo mais limpo e ecologicamente correto.

As idéias aqui esboçadas devem requerem uma dedicação profissionalizada. Mas uma coisa é certa: quando um modelo se esgota, devemos pensar. Pensar para sair de um condicionamento provocado pelos veículos de comunicação de massa, que reproduzem muitas vezes o resultado de pensamentos isolados em suas esferas de interesse em particular, acreditando-se detentores das panacéias desvairadas. A internet e os computadores não são, por si a solução para os problemas do planeta em geral. Pelo contrario, como demonstra criticamente o ingênuo mas útil filme de Walt Dysney, só ajudam a fabricar de modo bem irresponsável um crescente e alarmante nível de lixo eletrônico. E esse, nem um milhão de WALL-E’s poderão limpar.

Efeitos Colaterais da Decisão (competência decisória)
Fornecido pelo site G1

Muitos executivos sugeriram que o novo sistema será muito custoso para as empresas que quiserem preservar suas marcas. Para o coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas, Ronaldo Lemos, a decisão pode aumentar os conflitos sobre nomes de domínio que envolvem marcas.
– A Icann é uma instituição ligada ao governo dos EUA. Existe uma disputa entre a ONU e a Icann sobre quem controla a internet pelo entendimento de que a web é um fenômeno global e não pode ser controlada por um país específico. A questão que circula a decisão da Icann é: ela está ligada a só um país? – contesta Lemos. – Durante a Guerra do Iraque, a Icann suspendeu os domínios do país do Oriente Médio, o que mostrou claramente sua parcialidade. Se começarem a aumentar os conflitos sobre domínios, depois será esta entidade parcial a resolver os problemas?

Vladimir Cavalcante – New Executive Officer – AREEVOL

Marionetes e Copistas

É muito comum, na tradição popular, a referência as pessoas sem atitude própria, serem criticadas por esse traço de caráter. Os termos que servem de adjetivo variam muito. “Maria vai com as outras”, “marionete”, “pau-mandado”, “capataz”, e assim por diante.

Essa situação, caracterizada por substituir a vontade própria e o livre arbítrio pela simples obediência ao desejo de terceiros é cada vez mais incutida no comportamento do homem moderno. Isso porém se dá de uma forma mais sutil, subliminar. O que comemos, vestimos e falamos é simplesmente ditado pelos sistemas de comunicação de massa, pelos regimes de tradição das culturas hegemônicas e seus mais diversos mecanismos.
Entre eles, o teatro não pode ser excluído.

Embora originalmente tenha sido criado com a função de fazer com que o homem se visse em suas características mais marcantes, ao se tornar uma prática mecanicista, ele perde seu viço e razão primordial que justifica seu exercício. A originalidade inerente a essa descoberta, ao ato de responder a uma pergunta simples, a de quem somos nós, é rapidamente substituída pela ditadura do consumo e do mercado.

É desse modo que acabamos vitimizados, transformados em “bonecos” de uma realidade que reduz as atividades humanas a um mero apêndice do sistema.

Nesse contexto, sendo o mais critico possível, até a inovação pode ser vista como um instrumento chave no processo de cooptação do homem a ordem do consumo. Pois se uma bicicleta pode ser usada por trinta ou quarenta anos, para transportar um membro de uma igreja nos confins do interior de uma cidade dos “velhos tempos”, essa mesma bicicleta vai encontrar na mente dos jovens a necessidade de troca pelo modelo mais novo do ano, com todos os recursos de inovação que justificam perante aquele jovem a necessidade da troca. Isso se traduz numa relação liquida com os objetos de consumo cotidiano.

A cultura pop está fundamentada nesta premissa. O descartável entra na cena artística e desloca toda a produção contemporânea. Cada artista está situado num plano, dentro deste quadro de uso e descarte. É preciso rever a função das atividades inovadoras e sempre que possível dissociar seu uso da mera condição de instrumento a serviço do consumo. Inovar pode e deve ser muito mais que isso.

Há portanto um divisor de águas aplicado a nossa condição de seres planetários: os civilizados criam, enquanto os colonizados copiam. A criatividade não está ao alcance dos que herdam. A herança cultural se coloca como um desafio ao lugares novos. Ao Novo Mundo cabe descobrir caminhos locais. Oriundos de seus traços em específico. Respeitar as características climáticas, geográficas, etnias, genéticas, sociais e econômicas, todas as vezes que desejarmos fazer. Seja o que for. E isso inclui as artes.

No mundo moderno, o valor financeiro que o mercado dá aos produtos está fortemente vinculado ao diferencial do produto. Esse valor é, em boa parte, definido como conseqüência da utilização do design. Ao pensarmos um óculos, necessariamente somos obrigados a admitir a secular capacidade criativa dos italianos, que ditam as formas que prevalecem como padrão de qualidade mundo a fora. O design italiano determina o valor de um óculos. Isso se aplica a muitos outros campos de produção.
O Brasil, sendo um dos maiores fabricantes de sapatos do mundo, encontra como barreira de acesso ao mercado internacional, o fato de que seu produto não possui a qualidade criativa.

Ou seja, o sapato brasileiro é “bom de couro”, mas ruim de design. Perdemos mercado, correndo o risco ainda de ter a preferência dos consumidores locais dirigindo seu olhar aos produtos que vem de fora. A falta de criatividade e dedicação a capacitação nestas competências menos óbvias, a longo prazo nos coloca na condição de colonizados. Populações inteiras, incapazes de criar estéticas de interesse a si mesmo. Esse assunto chega a mexer com a auto-estima das populações.
No campo da produção áudio-visual de massa, a situação também não é das melhores. Apesar de possuirmos a 4a maior empresa de TV do mundo, a facilidade com que a replicação de fórmulas bem sucedidas fora do país vem se instaurando como padrão de consumo já é quase hegemônica. Alguns dos programas que são considerados como de altíssima qualidade pelos formadores de opinião e mesmo diretores dos núcleos de produção só deram aos mesmos o trabalho de ligar a TV a cabo, ou no máximo viajar para Nova York e ver os sucessos da Broadway. Essa é a lógica do sucesso do colono. Na lista, posso citar sem receio de estar cometendo injustiças, Jô Soares e Luciano Hulk como casos mais evidentes desse quadro de mediocridade criativa.

Os argumentos a favor dessa lógica apontam sempre para a questão da escala, dos rendimentos e custo-benefício, muito mais favoráveis a importação de formatos. É mais barato dirão alguns. Essas pessoas, pouco ou nada sabem sobre história econômica. Nenhuma nação desenvolveu-se como civilizada baseando seu crescimento na cópia. Foi por essa razão que os países ou grupos colonizadores impuseram severas leis contra suas colônias, como o caso do algodão na Índia, o chá nos EUA, e no Brasil o próprio sistema gráfico. Sim meus caros, para quem não sabe, o Brasil já importou jornais e era proibido de produzir informações localmente.

Sapatos sem competitividade, à altura de seu couro, a parte, o fato é que a televisão vem sendo ocupada por formatos cada vez mais descolados de nossa realidade. A importação de formatos trará a longo prazo dois efeitos nocivos aos interesses da população local: sermos aquilo que não somos (perda da referência e identidade); inibição dos criativos locais (e eles existem aos borbotões); diminuição da renda pela compra da item mais caro da cadeia produtiva (o maior valor agregado não é mais a mão de obra).

Até mesmo as universidades de comunicação e jornalismo, se contentam hoje a fazer programas para as monografias de curso, desistindo do uso de suas criatividades e jovialidade. São enquadrados para aplicar as receitas de bolo copiadas dessa TV que se copia, mesmo dentro das instituições de ensino e pesquisa tidas como superiores. Certamente não será do interior desses aparelhos de reprodução e cópia que nascerão novos formatos. Mais provável que apareçam de algum lugar, no meio da rua, no meio dos jovens que reprovam esse caráter estéril e paralisante, que argumenta a favor dessa reprodução com o argumento da necessidade de prepara profissionais para o mercado. Sim, assumidamente  o mercado de copiadores.

Porque os postos de trabalho para os que agregam valor por meio de novos formatos, estes estarão concentrados nos países sede de empresas como ENDEMOL com seus BBB’s, LOST, etc.
Os chineses e japoneses trabalham com categorias interessantes no campo da competitividade criativa. Os produtos podem até não ser originais. No lugar da originalidade, o produto pode ser clonado, copiado ou uma réplica. A réplica introduz arte no ato de copiar. É para poucos, e muito usada para gerar produto tão semelhante a um outro que chega a ser considerado uma obra-de-arte. Custa por essa razão muito caro. A cópia tem em sua principal característica a dramática redução de custos pela escala atingida. É ela que populariza marcas inalcançáveis ao de baixo poder aquisitivo. É ela que dá aos chineses seu maior trunfo para ocupar mercados globais.

Marionetes ou copiadores. Eis as opções que nos restaram. No teatro ou nas estruturas de produção modernas, vale pensar sobre que papel social exerceremos. A partir desta decisão, se colonizados ou civilizados, aí sim iniciar o nosso processo de desenvolvimento profissional. Independentemente do setor produtivo que participamos. Futebol e carnaval são bons exemplos de nosso potencial criativo e de sua permanente condição de inovação. Há muito a se fazer pelo teatro, empobrecido em todos os sentidos. Há muito a se fazer pela TV. Reduzida ao um modelo de audiência, lucro e escala. Sem futuro para realizar o sonho de uma civilização emergente a partir de um país chamado Brasil.

O Brasil, sob muitos aspectos ainda é um pais com alto grau de colonização. Mas graças a criatividade de seu povo, menos a de sua elite, vem aos poucos conquistando a condição de expressividade em inúmeros aspectos da vida produtiva. Isso inclui a arte.

Vladimir Cavalcante – New executive Officer

A Imbecilização Planetária…

“Só as palavras contam, o resto é conversa”
(Eugène Ionesco, Teatro do Absurdo)

Que bom ver mulheres cuidando de assuntos tão espinhosos como a filosofia. Márcia Tiburi deu uma aula sobre pensamento no Programa do Jô. Vale a pena ouvir essa moça. E se isso não for possível, ao menos ler seu livro de “Filosofia em comum”, pela editora Record. Crítica a lei que torna obrigatório o ensino de Filosofia, em termos do “vamos contar a história do pensamento”, ela acredita que o que falta é a capacidade humana de saber pensar. Embora sejamos biologicamente habilitados a isso, o desenvolvimento do pensamento exige palavras e um exercício de organização de idéias em frases que expressem isso de forma coerente e inteligível para um outro.

Esse é um dos livros que eu teria escrito. Na verdade vivi essa experiência com várias pessoas em meu dia-a-dia, provocando o que na época chamei de “Ajudar a Pensar pode começar por Pensar Junto” (o que seria o primeiro passo para quem quer aprender a pensar). Daria esse livro especialmente as pessoas com quem convivo, de quem gosto, mas que infelizmente percebo uma dificuldade de articular pensamentos ou de compreender o significado deles.

O Brasil tem 70% de analfabetos funcionais, o que significa que ler palavras e falar frases não significa a compreensão sobre elas. É uma mediocridade só e não apenas no Brasil. No mundo, vale a opinião e os pensamentos construídos por outros, transformando a população em meros seguidores de campanhas de marketing, publicidade e palavras de ordem. Pensar é outra  coisa. Fiquem de olho no que essa moça talentosa faz. Ela segue uma linha de ação raríssima nos templos do consumismo e das conversas óbvias.

Esse assunto faz parte da revolução do olhar.

Vladimir Cavalcante
NEO – AREEVOL

Autoral versus Comercial

Há muitos anos atrás, quando ainda iniciava minha carreira de escritor, ouvi uma entrevista pela TV que confirmou um ponto de vista que já possuia sobre a diferença entre ser autor ou ser jornalista. No trabalho autoral, o escritor é livre para assinar sua obra, do modo que lhe for mais interessante. A última palavra é sua.

Já um jornalista, empregado de uma agência de notícias, tem um salário a garantir no final do mês e deve obediência a linha editorial do veículo que escolher para exercício do ofício. Desde então vivo aliviado com o fato de que posso não ganhar dinheiro como escritor, mas ganho o direito de escrever o que julgar apropriado a representar com palavras as idéias, os pensamentos, os sentimentos, enfim alcançar aquela tal de liberdade de expressão, que muitos jornalistas julgam e querem fazer a sociedade acreditar que possuem.

Esse privilégio exige o ofício do trabalho autoral com todos os custos daí advindos. E o preço cobrado pelos mecanismos de controle social dos dias atuais pode ser muito alto. Mesmo assim, adoro a sensação de ser escritor, nestes termos.

Essa situação se aplica a outros campos da arte, onde os custos de produção são muito mais altos e exigem uma negociação com mecanismos de financiamento para viabilizar o trabalho de um autor. O cinema é bem um desses casos.

O cinema vem sendo cada vez mais entendido como um forma de expressão humana primordialmente mercadológica. Quase uma unanimidade dos que pensam e se pronunciam sobre o assunto, colocam o mercado como um componente chave. Mas o cinema autoral contraria essa regra, simplesmente porque do ponto de vista da realização de uma obra de arte, no real sentido desse conceito, submeter a assinatura artística ao requisitos do mercado transfere o cinema da dimensão arte para a dimensão produto.

A velha história do jornalista enquadrado pelo mecanismo editorial e do autor de livros que pode expressar-se assumindo as consequências do resultado do trabalho de sua caneta no papel. Mesmo que seja papel de padaria. O valor não está nisso.

E foi em meio a esse assunto que me lembrei sobre como as pessoas tendem a se referir ao trabalho autoral. Muitos profissionais chamam esse modo de produção de cinema experimental. Outros arriscam o nome de cinema-arte, o que dá um certo status. Pode se considerar até mesmo os filmes como Cult. E tudo isso significa uma total dissociação da produção cinematográfica do mercado.

De minha parte, vejo da seguinte forma. Seria muito bom que todos os seres criativos do planeta se concentrassem em fazer primeiramente de forma autoral, espelhando seu universo naquilo que criam. E depois disso, evidentemente deixar que as questões mercadológicas fossem aplicadas as suas obras. Mondrian, Picasso, Miró entre outros artistas plásticos desse mundo mais mercantil servem bem de exemplo. Foram o que acreditavam, enquanto concepções estéticas expressivas. Mas nem por isso deixaram de ter valor de mercado. Obviamente sem priorizar esse aspecto não de forma imediatista e volátil. Ganharam valor definitivo na galeria das artes que a humanidade produziu.

Gostei da matéria do JB que apresentou a visão bastante distinta entre o pensamento de Júlio Bressane “A idéia de fazer cinema pensando em se aproximar do público é cafajeste e oportunista” e o de Paulo Pons, para quem “Se sinto necessidade, mexo no meu filme para torná-lo mais atraente para o espectador”.

Nos últimos anos venho me posicionando de modo bastante crítico a política cega de audiência e lucro como vetores que definam a produção de valores para a sociedade do espetáculo. Acho que ela tem o direito de olhar para outras coisas. O convívio com amigos do circo eletrônico, extremamente sensíveis aos índices de audiência e aos aplausos sempre me fizeram perguntar: shows lotados são sinônimo de um trabalho artístico de valor? Ou resume-se a um mero surto de sucesso?

Foram essas as razões que levaram a criação da AREEVOL, para a qual a frase abaixo cai como uma luva: “Viva o cinema de invenção! Invenção que está presente no filme que fecha a competição brasileira de Gramado, hoje à noite: A festa da menina morta, que marca a estréia na direção do ator Matheus Nachtergaele. Protagonizado por Daniel de Oliveira e Jackson Antunes, o filme chega a serra gaúcha com selo da mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes, voltada para filmes com um olhar não convencional.

O resultado comercial de qualquer empreitada humana pode ser fruto de um trabalho autoral ou sob encomenda. Quando o pagador impõe seu olhar naquilo que é produzido, o resultado é a esterilização da criatividade humana a favor do poder do dinheiro sobre o que esta mesma humanidade produz.

Historicamente, os produtos mais relevantes em nossos tempos vem sendo obtidos de iniciativas cujo objetivo primário foi a coisa em si. Assim, entendo que as coisas mais importantes que venho fazendo não me valem um real sequer. O que não significa que não tenham valor inestimável para a sociedade a qual pertenço. Do mesmo modo, pode ser que me dedique a produzir algumas coisas que são, em meu entendimento, da mais absoluta inutilidade e paradoxalmente ganhar rios de dinheiro com isso.

O sucesso, incluindo aí o comercial é completamente relativo e sujeito a referências cada vez mais múltiplas. As pedradas, ameaças de morte e outras ações típicas da barbárie e do nazismo cultural, uma prática cada vez mais presente e ao mesmo tempo velada. Recebo notícias de que  pessoas do MST vem ameaçando um escritor em Belo Horizonte. O assunto requer resposta dos autores livres das amarras de práticas comuns em tempos de ditadura.

Um abraço do autor,

Vladimir Cavalcante – New Executive Officer

Filosofia do ócio é dos mais Rápidos

Há os que ainda acreditam que a labuta cotidiana gera os melhores resultados. Usain Bolt contrariou essa crença, ao dizer: “Eu nunca tomo café da manhã. Gosto de acordar lá pelas 11h, vejo televisão e como uns nuggets. Depois volto para o meu quarto e durmo mais umas 3 horas. Aí como mais uns nuggets e saio para a prova.”

Esse cara que corre rindo dos outros é alguma coisa para pensarmos sobre a vida dura dos dedicados e sofredores na luta competitiva pelos melhores resultados e os que vivem do talento inato. Como é diferente ver um talentoso na palco, na passarela ou nas arenas desportivas. Eles normalmente sobram. E ao sobrarem deixam uma dúvida sobre o que devemos fazer de nossas vidas.

Sofrer para tentar ser como eles, lançando-se a projetos suicidas de beleza e desempenho, incompatíveis com a nossa capacidade, ou simplesmente “rodar” dentro das nossas capacidades, de acordo com a especificação do manual vida  que recebemos ao nascer. Eis a questão.

Essa história de superação de limites vai ter que ser repensada depois que o “saci de duas pernas” ao invés de correr, resolveu inaugurar uma nova modalidade no atletismo: corrida voadora sobre sapatilhas douradas. Seria Bolt a reencarnação de Perseu, com suas sandálias aladas?

Sua rapidez fascina, menos pelo tempo alcançado e muito mais pela facilidade com que chega a ela. A simplicidade no ato pertence aos que já nasceram talhados para desempenhar o papel de semi-deuses. E nesse caso, ele come nuggets.

Fiquei me perguntando se o efeito dos anabolizantes aplicados nas aves utilizadas nesse tipo de refeição teriam algum efeito sobre o metabolismo de Bolt. Afinal, a galinha caipira precisa de meses para atingir o ponto de abate que um frango alimentado com todos os aminoácidos nas rações alcança em apenas 60 dias.

Não obstante todos essas perplexidades, acredito em população mutante, assisto X-Man desde pequeno e tenho certeza que Usain Bolt será recrutado pelo Dr. Xavier. As revoluções decorrem de processos mutagênicos, muitas vezes não rastreáveis.

Congratulações olímpicas à Domênico de Massi, pelo belo livro, “O Ócio Criativo”, que deve ter sido inspirado nos rastafaris da Jamaica que levam a vantagem de competir se divertindo após gozarem dos que lutam para competir até a morte.

Vladimir Cavalcante New Executive Officer – AREEVOL

Vantagens do Cinema 100% Digital

Assistia ao canal Brasil, às conversas de Paulo César Pereio com gente do mundo da fotografia no cinema. Num certo momento ficou patente que o poder daqueles que usavam orçamentos altos, onde para cada 4 minutos de película eram necessários 1.600 reais, passaram a concorrer com o mundo digital. Neste último, para gravar uma hora são necessários 20 reais.

Uma hora, 60 minutos, representariam em termos econômicos para a produção em película cerca de 12 vezes 1.600 reais. O que significa produzir ao custo de 18.200 reais um filme em película de uma hora. Ninguém em estado de consciência normal gastaria 1.820 vezes a mais para fazer a mesma coisa. Por razões principalmente econômicas, a fotografia do cinema foi digitalizada.

E desse modo, nasceu um novo mercado de produção audio-visual. O que antes era um privilégio de uma elite com alta formação e qualificação para aproveitamento dos recursos – ou pelo menos deveria ser – acabou se tornando um lugar onde qualquer um pode fazer. Para além da visão glauberiana, “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”, a tecnologia digital, para o bem ou para o mal, na Terra do Sol, acabou por decretar o fim de uma forma de produção e o controle de uma estética restrita apenas aos inseridos nas relações comerciais de mercado.

Hoje, um simples assalariado pode com seus recursos fazer uso de uma fita, se qualificar e produzir uma bela fotografia para o cinema. No entanto a possibilidade não obriga necessariamente ao alcance de resultados de melhor nível técnico ou estético. Conceitos como enquadramento da fotografia entre outros, continuam sendo cruciais para se realizar um bom filme. Isso a economia não resolve. A massificação do acesso não garante a massificação da qualidade de produção. Ao contrário, torna sua presença até mesmo dispensável.

Afinal, do ponto de vista econômico, somos muito mais criteriosos para gastar 18.000 reais do que para usar 20 reais na compra de material para registro. E essa pressão de seleção do passado, ao deixar de existir nos leva a um momento intermediário que nivela por baixo o total de filmes produzidos. Produzir mais não é necessariamente o mesmo que produzir melhor.

Mas a revolução digital da fotografia no cinema é inevitável e nos reserva mais surpresas para um futuro próximo. Na parte seguinte, tratarei dos aspectos relacionados a finalização e distribuição em meios digitais do cinema 100% digital, para o qual a AREEVOL dedica 100% de sua energia.

Vladimir Cavalcante – New Executive Officer – AREEVOL

O Relógio, O Tripé e as Palavras

Três situações e o mesmo pano de fundo. Pergunto a vocês o que pode haver em comum entre um tripé fotográfico, um relógio e um lote de palavras? Bem, se fosse em 1917, certamente que nada. Mas em pleno século XXI, o que une esses três objetos para além de suas funções específicas é a sofisticação na forma como são produzidas e os resultados daí advindos. A tecnologia e o conhecimento são determinantes no resultado do que fazemos no mundo moderno.

Sabemos que palavra sempre teve poder e esse poder, transferido para homens que faziam pleno uso dela, acabou sendo transferido para estes. Mas a partir dos centros de cálculo sobre o uso da palavra, como por exemplo o Federal News Service Transcripts, o poder das palavras se deslocou das mãos dos homens talentosos para grupos que operam estruturas que estudam detalhadamente o comportamento humano e seus discursos, reações em massa, usando estatísticas.

Vamos a alguns números práticos da convenção do Partido Democrata Americano, por exemplo. Sabendo que o número médio de palavras ditas num único dia da convenção gira em torno de 25.000 vamos ver que palavras tiveram maior ocorrência por dia, ou seja a cada 25.000 palavras ditas. Em Denver, 2008, o nome do adversário republicano MacCain (78), Energy (49) e Change (89) tiveram forte ocorrência. Isso indica o rumo da campanha graças a uma nova modalidade de estratégia eleitoral: o caça-palavras científico, aplicado a eleições. Se no passado o candidato era dono de um discurso, hoje o discurso é dono dos candidatos, tornando os vencedores marionetes das máquinas de cálculo que definem, como o ventríloco faz, o que o candidato deve ou não dizer.

É claro que num momento de crise econômica, palavras como Economy (32) e Jobs (39) estão em alta no ranking das mais ditas. No entanto, na convenção de Boston em 2004, o nome do candidato republicano Bush (9) e a palavra Change (11) tinham peso muito baixo, comparadas a resultado do ano de 2008 mencionadas acima. War (43), Terrorism (29), e Health Care (47) eram as palavras de maior peso de ocasião. Fazer sucesso pode significar apenas estar atento aos números que as máquinas produzem sobre as palavras ditas. Mal ditas, ou bem ditas, elas controlam as forças do poder mundializado. Existem recursos computacionais em quantidade suficiente para gerenciamento da realidade. A noção de que todo o poder emana do povo, está cada vez mais fragilizada e comprometida e a democracia direta torna-se cada vez mais urgente.

Os tripés para fotografia e filmagem seguem pela mesma esteira. Empresas como a Gitzo oferecem alternativas que fazem a diferença no momento de produzir uma imagem do nível adequado aos nosso tempo. A era do aço e do ferro passou e deixou em seu lugar as ligas de alumínio e magnésio ou a fibra de carbono.

E os preços acompanharam esse desenvolvimento meteórico. Coisa para poucos. Enquanto um tripé chinês de plástico pode custar no máximo uns 50 dólares, os tripés construídos com tecnologias de alta precisão começam nos modelos de função e tamanho equivalentes são vendidos por 700 dólares. Tanto no caso dos políticos candidatos, quanto no caso dos profissionais do mercado audiovisual, a excelência custa caro e a tecnologia que te leva ao paraíso continua sendo para poucos.

É claro que a entrada nesse clube seleto envolve outros custos. Conhecer e saber fazer funcionar a seu favor esses novos recursos implica em anos de dedicação das equipes envolvidas, que também custam muito caro e estão concentradas nas mãos dos grupos capital intensivos. Centenas de opções e variações.

A paradoxal síntese entre o conceito de rigidez que dará a imobilidade necessária as filmagens e fotos, associada no mesmo pacote a uma enorme flexibilidade para obter ângulos e movimentos jamais experimentados e desse modo oferecer a proliferação de novas linguagens e estéticas para o mundo da fotografia e do cinema.

A arte dependendo dos novos suportes e de recursos intensivos para se desenvolver, acaba por virar escrava desta lógica. Muitos artistas mais críticos a essa “subordinação” estão atentos e buscam soluções a as imposições do desenvolvimento estético contemporâneo.

E o relógio? O que mudou no relógio? Bem, o tempo continua sendo a base das medidas derivadas. Mas hoje, por 700 dólares, um mergulhador pode ter todas as informações necessárias para saber o que deve fazer em cada circunstância de mergulho. Ao mergulhar em apnéia, os procedimentos seguem por um caminho bastante diferente do mergulho feito com garrafa. E se ele decidir utilizar as duas formas num mesmo mergulho, o relógio lhe indicará riscos para as próximas 48 horas, proibindo-o terminantemente de pegar um avião. Se insistir em desobedecer o conhecimento que o relógio tem sobre seu corpo, corre o risco de sofrer uma embolia pulmonar. No novo mundo, o escafandro não é mais o instrumento para despressurização. A escala de tempo e o conhecimento sobre o funcionamento da máquina homem transferidas para um chip que o acompanha no pulso, a cada mergulho e simplesmente calcula.

A vastidão desse mundo cada vez mais complexo vai levando o homem a assumir o desafio do conhecimento para realizar sonhos, e ultrapassar limites. Fica a impressão clara de que esse universo continuará por muito tempo a ser habitado por poucos, muito poucos. Um mundo tão vasto e ao mesmo tempo tão limitante ao acesso, é para poucos. Isso é especialmente crítico num país onde o airbag não é obrigatório nos carros em circulação. Nossa população desconhece que deveria ter direito a vida no trânsito, na exata medida do que as tecnologias e o sistema de leis admite nos países mais civilizados.

Vladimir Cavalcante – New Executive Officer – AREEVOL

U2 3D e Barão Vermelho

Numa dessas madrugadas de domingo, o Serginho do Altas Horas apresentava entre seus convidados o Barão Vermelho com Frejat e Cia. Um dos quadros do programa cuida de passar o primeiro clipe da banda. Ficou       então uma dúvida, colocada muito educadamente pelo Frejat. Qual poderia ser considerado o primeiro clipe. É que toda banda tem sempre uma dificuldade de definir seu início. Quanto ao fim, já é outra história.

Mas, politicamente, quando o clipe entrou e a marca da Globo apareceu, Frejat não teve dúvidas e afirmou: “é o primeiro clipe do Barão”. Nele, o atual líder do grupo quase não se via. Na época, usando óculos e sem muita expressividade dentro do grupo, ficou realmente ofuscado pela fumaça dos “efeitos especiais”.

No mesmo final de semana, me dei ao trabalho de ir ao cinema assistir numa sala 3D o primeiro filme de Rock com essa tecnologia. Produzido pelos Shapiros e dirigido pelo olhar artístico de Catherine Owens, o filme foi considerado uma obra de arte pelo NYT.

Nesse momento, lembrei-me do Frejat, coitado, considerando o primeiro clipe do Barão um verdadeiro lixo. E procurei identificar quais os motivos de uma distância tão brutal entre o que vimos na TV e o que assistimos no cinema. Mas a resposta não coube apenas em itens como orçamento, tempo de trabalho, recursos técnicos, linguagens, suportes, entre outros.

Procurei mergulhar nas raízes dessa manifestação que é o Rock. Vi uma banda irlandesa de alta linha de realização, situada no berço desse território, onde diferentemente do futebol, a exportação das competências depende de fatores como domínio de técnicas complexas e principalmente de uma linguagem e uma língua ainda não transferida para países latinos.

Na esteira dessa febre por realizar filmes de grandes grupos de Rock, tivemos em exibição no Brasil do circuitão do cinema os filmes sobre os Rolling Stones e Bob Dylan. Coisas bem diferentes enquanto proposta estética. No primeiro, o diretor buscou enquadrar numa cenografia controlada e aparelhada com câmeras projetadas para um set de estúdio de cinema. Uma espécie de Ópera Cinematográfica. Já o filme de Bob Dylan, segue um roteiro bem mais histórico, buscando compreender de forma onírica como se construiu o cantor e compositor protagonista.

O Rock brasileiro, coitadinho, ficou muito mal representado nesse campo, e a meu ver carece dos elementos que turbinam essa gênero musical nos lugares de origem. Acho que nossos filmes sobre Carnaval são bem melhor realizados e acredito que se alguma investigacão sobre linguagens pudesse ser feita para as rodas de samba e pagode, teríamos muito mais para mostrar sobre nossa criatividade do que o que foi feito em “Mistérios do Samba”.

É claro que quando Frank Sinatra comemora 80 anos, a estrutura industrial da máquina de produção americana se coloca disposta a produzir livros, shows, filmes, bonecos, festas e uma verdadeira idolatria de seu herói. Já o nosso Dorival Caymmi terá no máximo uma festinha numa boate inexpressiva com a presença de umas cinquenta pessoas batendo palmas e cantando animadamente “Feliz Aniverário”.

Nossa concepção de celebração de nossa identidade é simplesmmente rizível. Nossa tentativa de copiar a história alheia, pior ainda. Ser quem não somos, já basta a declaração de Renato Russo de que queria ser loiro, de olhos azuis e branco. Se fixou tanto no objetivo que acabou esquecendo que ele era ele mesmo: um brasileiro.

Vladimir Cavalcante – New Executive Officer – AREEVOL

Do Cidadão ao Soldado Universal

Nos tempos de Karl Mannheim, pensador que colaborou para criar a sociologia do conhecimento, a noção de universalidade dos valores humanos se confrontava com a localidade dos costumes. É daquela época a noção de que dentro de homem universal, estaria a base de uma civilização com valores a compartilhar e dos quais nos orgulhar. Foi com esta ótica que genocídios e outros crimes foram cometidos pelos grupos humanos dominantes. A ideologia do centro do poder que sustentou um padrão contra a multiplicidade das formas.

Foi assim também, que a ONU adotou o direito universal do homem, daqueles que independem do lugar onde o cidadão nasce, cresce e se desenvolve. No entanto, a teoria social desenvolvida no século XX aponta para um totalitarismo inevitável, caso as sociedades se submetam a essa biopolítica, estaremos sendo normatizados e submetidos ao comando e as diretrizes de um poder central.

Essa governabilidade baseada num consenso sobre como todos os habitantes do planeta devem se comportar é sem sombra de dúvidas uma das formas mais supressoras da liberdade que a humanidade já vivenciou.

Todas as formas de realizacão humanas passaram a ser submetidas a uma espécie de conselho editorial internacional que dita, nas mais diversas áreas de produção humanas, os parâmetros e as métricas de desempenho. Essa cartilha homogenaizadora nivelou a humanidade a um cardume. Peixes seguindo a mesma correnteza, inexorável e de fácil adesão.

Foi daí que nasceu a idéia iluminista de homem universal, adotada pelas instituições do século. Foi daí que nasceu a inspiração para filmes como Soldado Universal. Neste roteiro mórbido, soldados mortos são reanimados para se tornar armas letais quase perfeitas.

Vivemos um momento em que o processo de unificação, aliado direto da globalização, encontra a resistência dos que buscam a preservação da diversidade. Qualquer idioma universal esteriliza a possibilidade de variedade linguística, por exemplo. Uma universalidade artística torna improvável a participação em mesmos termos de uma certa categoria de artistas, aqueles sem os meios de produção equivalentes aos disponíveis para os bem sucedidos e situados, por exemplo.

Assim, o deserto como ponto de partida para se chegar a floresta, vira o desejo fixado de se ter apenas a floresta como referencial de resultado. As normas estabeleceram como devemos nos colocar para alcançar a condição universal. A quem possa interessar, a localização do fazer, do dizer e do criar deve conviver, sem se submeter de forma colonizada aos detentores dos padrões universais.

A diversidade do olhar não combina com a unificação proposta pelas políticas dos Impérios. Sejam eles os Estados-nação, as grandes corporações transnacionais, as linguagens unificadas para modelagem de sistemas (UML) ou metodologias que necrofilizam o tecido criativo daquilo que mais enobrece os seres vivos.

A diversidade do olhar está na base do pensamento criativo AREEVOL.

Vladimir Cavalcante – New Executive Officer – AREEVOL

Museu e Interatividade para o Futebol

Prefeitura de SP, Projeto das Organizações Globo, Governo Federal, três anos de preparação.

Nosso trabalho focalizado no espetáculo como um todo. O Museu da Língua Portuguesa tem grande destaque e é replicado como experiência a partir de um pedido de José Serra. Com a realização conduzida pela Rede Globo, o Museu foi lançado construído no prazo recorde de 3 anos.

A potencialidade do Museu ultrapassa o que se fez até aqui com Museus do futebol ao redor do mundo. A grande maioria está muito mais ligado aos aspectos da materialidade. Sendo assim, camisas utilizadas por grandes nomes do esporte, faixas de campeonato e troféus são os principais elementos que prevalecem nestes outros lugares onde a memória do futebol é enaltecida.

Já no Museu realizado no Pacaembu, a virtualidade ganha proporções predominantes. E desse modo o ganho se reflete em dinamismo. O aspecto audiovisual do museu será para o futuro próximo seu maior diferencial e preservará seu crescimento e desenvolvimento.

As videoinstalações, quem sabe no futuro, possam se conectar com o acervo do público de registros amadores no Brasil e fora dele, e se formar como o lugar onde cada um possa ver a sua obra. Fotógrafos e profissionais do jornalismo desportivo também podem se beneficiar dessa liberdade.

Decretos Unificadores e Autoritarismo

Manifesto a favor da Língua Portuguesa recebe adesão de milhares de portugueses intelectuais. Essa é a quarta tentativa de unificação por decreto. As três primeiras foram torpedeadas pelos praticantes locais de suas próprias especificidades.

Transcrevo aqui a posição oficial do portal da Academia Brasileira de Letras, publicada no dia 29 de setembro de 2008, com inserções críticas aos que se pronunciaram favoráveis a esse processo de empobrecimento da diversidade linguística do planeta. Esse assunto foi objeto de análise em outro texto aqui publicado.

“A Academia Brasileira de Letras realizou no dia 29 de setembro, às 15 horas, no Salão Nobre do Petit Trianon, sessão solene de celebração dos 100 anos de morte de Machado de Assis, culminando a extensa programação com que, desde março, vem homenageando o maior dos escritores brasileiros.

O Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, presidiu a cerimônia, na qual, assinou quatro decretos de promulgação do Acordo Ortográfico dos sete países de Língua Portuguesa.

Estiveram presentes os Ministros da Educação (Fernando Haddad), da Cultura (Juca Ferreira), o Governador do Rio de Janeiro (Sérgio Cabral) e os Embaixadores e Cônsules de Portugal, Angola e Moçambique.

O Acadêmico Eduardo Portella foi o orador oficial da solenidade.

A sessão solene teve transmissão ao vivo pelo portal da ABL.

Saiba Mais

O Presidente da ABL, Cícero Sandroni, afirma que ,”com esses atos, Machado de Assis será duplamente exaltado: de um lado, a Academia lhe rende a mais expressiva homenagem neste ano em que celebramos o centenário de sua morte com dezenas de realizações, entre as quais exposição sobre sua vida e obra já visitada por milhares de pessoas, na sua maioria estudantes. E de outro, a assinatura pelo Presidente Lula dos decretos que promulgam o Acordo Ortográfico dos sete países lusófonos, ato que concretiza uma aspiração de Machado, no discurso de encerramento do ano acadêmico de 1897: “A  Academia buscará ser a guardiã de nosso idioma, fundado em suas legítimas fontes – o povo e os escritores, todos os falantes de língua portuguesa”.

(Nota do blogueiro: sempre achei estranho que poetas e escritores tenham a data da morte comemorada. Algo do tipo, até que enfim morreu, ou depois de morto todo mundo vira santo. Acredito que a melhor maneira de homenagear escritores e poetas é incentivar suas atividades em vida. E considerar a assinatura de um decreto, como o nome já denota ato autoritário, realizado por um Presidente da República, torna um acordo sobre nossa língua um ato da esfera de competência política… Dois erros no modo de comemorar, cometidos por uma Academia…)

O Acordo Ortográfico:

O Acadêmico escritor Domício Proença Filho, filólogo, explica que a ortografia da língua portuguesa tem sido preocupação de estudiosos desde o século XVI. Só se torna, entretanto, objeto de regulamentação por acordos firmados por Brasil e Portugal, a partir dos começos do século XX. O último, que agora será promulgado no Brasil, representa a culminância de tentativas de superação de divergências que marcam os acordos vigentes: o de 1943, no Brasil acrescido das alterações de 1971, e o de 1945, em Portugal, com as medidas de 1973.

Mais um capítulo de uma história longe de ser tranqüila. No processo, a concretização, em 1975, de novas normas comuns, elaboradas pela Academia Brasileira de Letras e pela Academia das Ciências de Lisboa. Motivos de caráter político impedem a aprovação oficial dos cânones preconizados.

– Continua Proença Filho:

Os esforços prosseguem. E conduzem a um encontro que reúne, em 1986, no Rio de Janeiro, por iniciativa do Acadêmico Antônio Houaiss, representantes convidados dos países que, à época, adotavam o português como língua oficial, eram eles, além do Brasil, Portugal, as demais nações lusófonas agora independentes: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. O Timor Leste só mais tarde oficializaria o uso da língua comum. O acordo ortográfico elaborado na ocasião propiciaria a unificação da grafia de 99,5% do vocabulário geral da língua. Reações polêmicas ainda uma vez o inviabilizaram.

Novas negociações mobilizam, em 1989, os países oficialmente lusófonos. E um novo documento regulador é formulado em 1990. Na base dos conteúdos, o texto do Acordo de 1975 e, de estrutura, do Acordo de 1986. Consideradas as razões das divergências a ambos vinculadas. O texto final é assinado em Lisboa, em 16 de dezembro daquele ano, por representantes das nações envolvidas. Destinado a unificar a grafia de 98% do vocabulário geral da língua na dependência de aprovação pelos respectivos Congressos. Nesse sentido, ganha a anuência de Portugal, de Cabo Verde e, em 1995, dos congressistas brasileiros.

Por força da incompatibilidade entre data de vigência e de aprovação, um protocolo modificativo elimina a exigência de fixação da primeira. Tal documento é referendado por Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e, em 2002, pelo Brasil. Na agilização do processo, a Comunidade dos Paises de Língua Portuguesa, criada em 1996. No curso das discussões, estabelece-se, como regra, arriscada, que a concordância de três países representaria consenso. Tecnicamente, segundo o acadêmico, o novo acordo já poderia ter entrado em vigor.

Resistências acentuadas oficiais e editoriais, de várias origens, e dificuldades de ordem prática, entre elas o prazo de adaptação e as que envolvem a política do livro didático no Brasil, retardaram o processo, que agora chega ao ponto de conclusão com a decisão do Presidente Lula de firmar os decretos de promulgação no Brasil. – Finaliza Proença Filho.”

Dito isso, aqui começa o nosso problema. Decretos de unificação e suas associações com o autoritarismo. Há um enorme desconhecimento da população laica sobre o tema, o que obviamente inclui o atual Presidente da República. De certo que o desejo de homens advindos da política e portanto comprometidos com atos de concentração de poder, levam a crer que o instrumento do idioma pode ser utilizado para aumentar a opressão

Se Deus é Brasileiro, o Diabo é Nordestino

Os cineastas tem onde buscar inspiração. Glauber Rocha inaugurou a tradição com Deus e o Diabo na Terra do Sol. Na esteira de toda a perseguição que o vnaguardismo do cinema novo sofreu, uma provocação a valores consideráveis socialmente intocáveis. O cinema tocou.

A literatura também. E foi na obra de Saramago, com o Evangelho Segundo Jesus Cristo, proibida de circulação pela Igreja de Portugal que saiu das páginas dos livros para o cinema.

Deus é brasileiro, de Cacá Diegues, baseado num conto de João Ubaldo de Oliveira perfazem uma tradição. Extrair dos ditos brasileiros as imagens para realizar uma identificação com o público, em especial de brasileiros.

Do Car Free ao Carefree

Num trocadilho barato, o dia livre dos carros foi comemorado com pouca atenção da mídia, mais preocupada em desastres no mercado financeiro.

Mas a Marina deu ênfase a essa atitude. Ela come produtos naturais e defende uma atitude politicamente correta diante da vida. A proposição de vida santa para os mortais ultrapassa as iniciativas de mulheres honradas como Madre Teresa de Calcutá.

Marina foi mais longe no ano de 2010. Confrontando-se com modelos de desenvolvimento econômico defasados para o país, aos quais os que exercem o poder não tem como se desacoplar, ela demonstrou que era possível com sua votação expressiva. Contando com a ajuda de um vice do porte de um Presidente da NATURA. Logo depois multado de forma exemplar por biopirataria…

Nenhum exemplo é tão exemplar a ponto de não ir parar nas páginas das manchetes desmoralizadoras por causa de um boquete de duas prostitutas suíças, que cobraram uns 300 dólares para realizar a fantasia do nerd solitário, mas que podem receber muito mais para acusar o cliente e posarem de vítima. Foi assim com o pobre do Fenômeno, e olha que a extorsão nem envolvia assuntos de estado. Era coisa de mal profissional do sexo mesmo…

Mas a Marina e os sem-carro continuam juntos. Nas passeatas gays da Paulista, a afluência de espectadores que adoram dar uma fugidinha e ver o que anda se passando por ali, choca os que assistem pela TV os casos mais frequentes de homofobia. Ser ou não ser, eis a questão com que o aparelho repressor envolve a moralidade e o status de quem detem o poder. Felizmente os militares americanos vão doravante poder declarar sua homossexualidade. Isso é uma atitude de civilidade. Isolada, mas é. Só não combina com genocídios e massacres no oriente médio.

Os carros e as bicicletas não convivem juntos. Um polui o ar, o outro depende do ar para funcionar com os pulmões de seus donos. Não dá para pedalar na cortina de fumaça de poluição como a que vi em Bogotá periferia. É suicídio. Alguns até usam máscara. Mas já não combina com a proposta. Nos veículos motorizados, filtros de ar atenuam o problema de quem está assiduamente no trânsito.

O carefree está livre. O carro é liberado de impostos e o candidato do governo se reelege sem dar casas, institucionalizando a pobreza, a violência e a car nificina das oficinas da autolatina. Não tem mais lugar para eles, seja na política, seja nas estradas. Mas eles se reelegem. Enquanto os seringueiros e os seringais vão morrendo pelo caminho…

 

Vladimir Cavalcante

O lugar da Oralidade

Um decreto presidencial em outubro unificará a ortografia dos países de Língua Portuguesa. A justificativa de que essa iniciativa facilita a tradução de documentos em organismos multilaterais é no mínimo suspeita. Historicamente, os idiomas de países colonizadores, como é mais recente caso de Portugal, Inglaterra, França, decretaram a morte de milhares de línguas e dialetos.

O fortalecimento de uns implica no enfraquecimento de outros. Esse fortalecimento se deu numa época em que os processos de hegemonização não tinham telhado de vidro. Não é o caso no século XXI. O planeta despertou para uma palavra importante nesse e em outros casos: diversidade. A defesa da consulta pública encomendada para outubro de 2008 consta de matéria do JB de 26 de julho de 2008, cujo título na seção país é “Acordo ortográfico sairá em 2011”. Favas contadas, decisão presidencial, por decreto lei.

Nem todo mundo quer tomar coca-cola. Nem todo mundo quer ter como língua mãe o inglês ou o mandarim. Algumas pessoas do planeta entenderam que a hegemonização está associada a práticas autoritárias, que eliminam a diferença, oprimem minorias e reduzem o espaço para o novo. A inovação, incluída a linguística, tem seu ponto de partida em movimentos minoritários. Foi dentro de uma realidade multicultural que o estado soviético esvaziou-se.

O Brasil se situa isolado de seus vizinhos geográficos, que falam espanhol. Essa barreira impede muitas ações de cunho social, cultural e econômico. Um dos fatores decisivos para integração da América Latina e de seus povos, em especial o brasileiro, é o idioma. Iniciativas que atenuem o problema das barreiras do idioma, ao invés da solução clássica, surgem como alternativa: aprenda espanhol, para quem fala português e aprenda português, para quem fala espanhol. Uma Universidade do México trabalhou soluções que permitissem a essas línguas irmãs a possibilidade de que se compreendam. Ou seja, você, brasileiro continua falando português, mas é compreendido por quem aprende o que chamaríamos de “portunhol”.

É dessa perspectiva que um grupo de artistas e intelectuais latinos se agrupam em defesa de um movimento cujo título é “Portunhol Selvagem”. Essa vanguarda vem se reunindo em Assunção numa  jornada cujo nome é “Kapital Mundial da Ficção”. Livros, músicas, filmes e idéias são incorporadas a esse lugar dentro de um espírito, onde a preservação das coisas é mais importante que a sua unificação. O respeito a cultura oral é também uma novidade. O presidente brasileiro, oriundo de uma região pouco letrada do Brasil e no entanto riquíssima em literatura de Cordel, por exemplo, deveria estar sendo alertado sobre as posições de vanguarda que nosso momento admite, no lugar de assinar por conta de um assessoramento retrógrado decretos datados de cheiro de mofo dos séculos do imperialismo.

Esse grupo é contrário as noções-requisito a unificação proposta no decreto, pois “são contra o pensamento único” e consideram o portunhol a língua mais democrática da América do Sul.

Em novembro do ano passado a ONU realizou um evento onde alguns grupos de grande poder econômico como o Google, Yahoo, Microsoft, entre outros, apoiados por seus respectivos representantes de governo defendiam a unificação e localização de conteúdo. A fórmula proposta era muito simples. Para ter acesso a mercados, basta traduzir menus de programas de computador e páginas da internet. Se for um programa de  TV ou cinema, é só oferecer dublagem ou legenda.

Para esses países, que se aproveitam ao máximo da posição tecnológica, nem os domínios da internet podem ser publicados com nomes, letras e códigos não existentes no alfabeto anglo-saxão. Esse absurdo e a abertura para a diversidade serão corrigidos, graças as ações da ONU e dos países interessados em romper a hegemonia do idioma inglês ou de outros mais comprometidos com a diversidade.

O verdadeiro sentido da produção de conteúdo local não passa pela crença de que todos devem obrigatoriamente saber inglês para serem considerados cidadãos do mundo. O legítimo cidadão do mundo aprende a respeitar a realidade multi-idiomática que preserva a riqueza de um ambiente comunicacional complexo. A tecnologia existe para isso e pode servir ou não a esse objetivo. Nesse sentido, a afirmação de que “o acordo ortográfico facilitará os organismos multilaterais” é das mais falaciosas. A compreensão que se espera de representantes nesses organismos é de que esses sejam sensíveis a necessidade de compreensão da realidade do outro, no lugar de impor uma norma que esteriliza as possibilidade de convivência num ambiente culturalmente diverso.

Essa tem sido uma das principais preocupações da ONU em suas iniciativas por uma sociedade da informação e do conhecimento, com uso de uma internet em que todos os países e línguas do planeta estejam adequadamente representados em todas as suas diferenças e peculiaridades. Isso inclui evidentemente países e culturas de tradição oral, cuja preservação pode ser de valor inestimável para  futuro do homem no planeta.

Faria mais sentido o desenvolvimento de empresas de software capazes de criar programas que permitissem a tradução simultânea dos conteúdos locais minoritários para os idiomas de língua dominante. Ou softwares que permitissem que o ato de fala fosse transposto para escrita. Assim, analfabetos poderiam escrever. E guardar seus escritos, e aprender com eles. A tecnologia de reconhecimento de voz para essa finalidade se popularizou com programas de empresas como a IBM, a Dragon e a MacSpeech. A IBM desistiu do mercado. Sobraram duas, que não priorizaram línguas como o português. Apostam na unificação do mercado e na hegemonia do inglês.

Houve uma época que engenheiros americanos consideravam dispensável incluir caracteres além do padrão ASCII nas impressoras matriciais. Foram anos de impressão sem acentuação. Conheci brasileiros ligados ao setor de informática que defendiam em Congressos, “uma revolução no idioma português”, dispensando o acento, por exemplo, como prova de modernização da língua e atenção aos novos tempos. Anos mais tarde surgiram impressoras com capacidade de expressar imagens com cores e complexidade. A tecnologia evoluiu. A mentalidade hegemônica não.

Um proeminente pesquisador brasileiro, defendeu ano passado em plena Academia Brasileira de Letras posição semelhante, ao dizer que o Google ditará o modo como as pessoas escreverão o certo e o errado, baseando suas decisões na estatística de ocorrência das palavras…

Desenvolver softwares que incluam milhares de idiomas, seria um tiro pela culatra para países hegemônicos e para aqueles que fundaram as leis econômicas da demanda de escala e do volume de produção. Abriria seus mercados e fragmentaria a produção. Esse tipo de localização de conteúdo não será dada. Terá que ser conquistada.

Um exemplo incontestável dessa importância passa pela descoberta advinda de estudos sobre uma tribo indígena no Brasil, em que dogmas científicos sobre a natureza intrínseca dos números no aparelho cognitivo dos homens foi posta abaixo. Esses índios desconhecem os números em sua língua. E que portanto os números são um desdobramento cultural e não biológico. Esse fato leva a pensar que a extinção de uma língua significa a extinção de uma cultura. A unificação das línguas representa um modo elegante de se promover o que chamaria de “Genocídio Cultural”.

Em tempos de multiculturalismo, intercâmbios e ampliação da base de riqueza a partir da compreensão do outro, a unificação é injustificável e inaceitável. Quanto mais assinada por um presidente como o nosso, que se alertado defenderia e honraria a tradição oral de sua gente, de seu povo. O Brasil é um país sonoro e oral. O Ministério para Assuntos Estratégicos brasileiro deve estar atento as consequências da posição brasileira no tabuleiro do poder mundial.

A AREEVOL, participante ativa de iniciativas pelo desenvolvimento humano com o uso de tecnologias digitais, está comprometida com a diversidade.

Vladimir Cavalcante – New Executive Officer