MOSAICO ESPORTIVO E A NOSSA JUVENTUDE

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No IBERO AMERICANO 2016, com a reabertura do Estádio Olímpico do Engenhão, um encontro necessário entre atletas da equipe brasileira e os pouquissimos jovens que estiveram no evento.
O COB – Comitê Olímpico Brasileiro – perdeu sua maior oportunidade de trazer para o círculo do esporte uma geração inteira de jovens de todo o país, e muito especialmente do país. Ao entrar no espaço e encontra-lo praticamente vazio, entendi imediatamente que os objetivos Olímpicos foram desviados, dando razões de sobra para que os brasileiros com dois neurônios, incluídos aí até mesmo professores, se posicionassem contra o esporte.
Sabemos que as Olimpíadas, tal qual a Copa do Mundo de 2014 não será um evento frequentado por brasileiros desempregados, crianças e classe mais pobre. Os esportes praticados atrairão gente do mundo inteiro, em torno de uma variedade nunca antes experimentada por essas bandas. Quando criei a marca Mosaico Esportivo, pretendia expandir a cultura sobre outras possibilidades para tipos corporais tão variados quanto os que temos no país.
Os eventos-teste desse início do ano possuíam toda a chance de dar acesso pleno as escolas, as comunidades, a sociedade em geral. Muitos desses eventos trouxeram ao Brasil Mundiais das respectivas modalidades, como foi o caso do Pentatlo Moderno, do Tiro Esportivo entre outros.
O Comitê Olímpico Brasileiro ficará com essa mácula em sua história. Domesticado por interesses que priorizaram Construtoras e Obras superfaturadas, numa escala e distribição pela cidade que tornarão os investimentos ineficientes, do ponto de vista do aproveitamento para os cidadãos da cidade, dessa coisa chamada legado.
Fiz a fotografia abaixo como representação de um potencial desperdiçado. São crianças se apresentando, voluntariamente, sem saber exatamente porque, nos lugares onde puderam timidamente ingressar. Um desastre se deu. O trem da prosperidade descarrilhou. Nesse lugar em que assisti as competições de atletismo do PAN de 2007, continuamos com as piores práticas. A exclusão é bem mais consequência de um foco apenas nas relações prostituídas entre o Estado e o setor Privado. Os interesses da classe política, anomalia nacional, e a selvageria empresarial está exposta. E isso se aplica a todos os setores da Economia.

OS NOVOS INVICTUS DA COLINA

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Foi nos tempos dos três patetas, Lelé, Jair e Isaias, que surgiu o maior time da história do Vasco. Um time que deixou sua marca como Expresso e meio time da seleção brasileira de sua época. A razão pela qual minha tia se tornou vascaína, um goleador como jamais havia existido, chamado Ademir. Mais conhecido como Queixada. O tempo voa, os costumes mudam, mas minha tia, com oitenta anos ainda celebra as vitória do Vasco. Como as de hoje.
Feita a devida reverência a uma geração de tradição vencedora, vamos falar de hoje. Foi um domingo de renovação para o espírito. O Maracanã aberto aos sessenta mil torcedores, grande maioria de vascaínos, que notadamente já acreditavam mais no bicampeonato de seu time do que os botafoguenses presentes. E isso por inúmeras razões, incluindo a probabilidade.
O técnico Jorginho era o único invicto do campeonato. Teve que enfrentar, nos diferentes duelos que travou, Muricy Ramalho, Levir Culpi, Ricardo Gomes.
Penso que a geração representada por esse garoto com sua mãe e pai terão do que se orgulhar por muitos e muitos anos. Resgatar a credibilidade do time e sua tradição é um bonito de ver. O futebol carioca precisa disso. Títulos e posturas.
Quanto ao jogo em si, algumas considerações sem importância histórica, mas relevantes futebolisticamente. A primeira é que Rafael sai do jogo como herói da partida. Considero o autor do gol o melhor zagueiro de São Januário, com sobras. Pode não exercer a liderança que Rodrigo tem dentro do grupo, mas é tecnicamente superior, do alto de seus 1,88. Está em grande forma, para quem vive na reserva. E resolveu pelo lado esquerdo do time, inclusive a deficiente marcação pela lateral. Jogou nas três, tem meus parabéns.
A segunda é que a falta em Madson não existiu, e de qualquer lugar do Maracanã, 360 graus, era possível ver que o lateral projetou o corpo, cavando escandalosamente a falta. Mesmo tendo sido muito bem cobrada pelo Nenê, para mim, Jefferson falhou mais uma vez. Bola na pequena área e bem dentro do segundo pau, não se pode esperar que qualquer zagueiro dê conta, pois não tem ali qualquer espaço para impulsão.
Fora isso, um jogo tranquilo, de muitos cartões amarelos no primeiro tempo, a velha fominhagem com viseiras de um geração de jovens jogadores de futebol, cada vez mais rápidos mas nem por isso solidários. Especialmente o Botafogo, que martelou bastante, fez até ultrapassagens de alto nível, mas infelizmente acompanhadas de um toque a mais, no lugar de um passe para o melhor companheiro acompanhando para matar a jogada. Não dá para botar a culpa só no Ribamar, de quem se esperava um pouco mais do que a previsibilidade da finalização.

DOIS GOLEIROS DOIS DESTINOS

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Um Vasco X Botafogo jogado de forma contenciosa, como uma decisão sem vantagem exige. Os vencedores em potencial sabem que o primeiro golpe desferido com sucesso pode ser fatal num combate de equilíbrio.
Além disso, é bom não esquecer a proposta de jogo de cada treinador. De um lado, um Jorginho, caminhando friamente para entrar na história, a um passo da invencibilidade e do título. Qual a sua maneira de ver seu time em campo? Zerar o placar adversário, com duas fortes linhas de quatro, bem compactas, e apostar no erro adversário. E ele veio de quem menos se esperava. O goleiro Jefferson.
Já Silva, foi o melhor do Vasco. Isso dá uma ideia da superioridade alvinegra ao longo dos 90 minutos. Como frisou Marcelo Barros, antes do início do jogo, a partida anterior, que tirou do Botafogo a invencibilidade, foi injusta no placar. Essa talvez também tenha sido. Mas de injustiça em injustiça, vamos acabar tendo que chegar a uma conclusão antiga: futebol é gol.
Por mais que tenhamos visto uma postura tática muito mais vistosa aos olhos do Botafogo, ela não foi traduzida em bola na rede. O jogo de hoje deixou algumas certezas. Uma delas é a de que Jorginho não parece muito disposto a abrir mão da sua invencibilidade. E seus liderados seguem a cartilha, com uma aplicação que faz de um Jorge Henrique um segundo lateral, ao mesmo tempo que goleador que nunca foi. Essa põe na conta do arqueiro.
Quanto a Ribamar, revelação do campeonato, pode render mais, mesmo não sendo aquilo tudo. O problema é enfrentar Martins Silva. São dois goleiros que em condições normais não basta fazer o trivial. Em certos momentos do jogo, assisti lances de ataque que acreditaram poder vencer a última milha com um chute fraco e sem direção e de uma distância absurda.
O futebol brasileiro pode melhorar. A defasagem do modo de pensamento do atleta em campo, mesmo disciplinado taticamente, as vezes o faz esquecer que trata-se de um esporte coletivo, onde a solidariedade com o melhor colocado é uma vantagem muito grande para ser ignorada.
A vontade de garantir um protagonismo eterno e individual, um sonho. Mas dentro de campo, não somos nada sem os outros.

O MARACA E AS PORTEIRAS ARREGAÇADAS

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Um arregaço só, bastou para desmentir os motivos falsos e fazer as máscaras caírem. Estava lá o belo Maracanã, de ontem, hoje e sempre. A atmosfera, a melhor possível. O público nos trens e metrô, da melhor qualidade, povo de verdade, criando novos hinos. É um pouco diferente das torcidas pelo resto do mundo e do Brasil. Tipo assim: uma coisa é o CR7 dançar a música do Michel Teló, outra coisa é achar que alguém vai compor sertanejo universitário na Espanha.
Há certas coisas que tem raízes mais profundas, exigem a dedicação de um tempo um pouco maior do que aquele de assistir as partidas, comprar ingressos e camisas do time. Não que as últimas não sejam válidas. São apenas diferentes.
O clima no dia de hoje, após semanas de calor escaldante e vários dias de muito frio estava, por assim dizer, perfeita para a prática do futebol. O anel externo do estádio, repleto de gente bonita, muitos jovens, as duas torcidas tem seu apelo visual, e as mulheres vem chegando com mais facilidade no Maraca, que já é uma passarela, desde a sua reinauguração na Copa das Confederações, em alto estilo.
O que vi hoje foi uma mistura de gostinho de saudades com ritual de iniciação. Sabemos pouco sobre o público. Quando muito o número de pagantes, mas não se foi a primeira vez, faixa etária, etc. Falta interesse em visitar o caso de amor.
Por alguns instantes ao longo desse início de ano, cheguei a considerar que o maior absurdo que já vi, em matéria de investimentos esportivos no mundo estava prestes a acontecer. A submissão do interesse público aos desejos exclusivamente privados nessas circunstâncias levantou muitas suspeitas e gerou prejuízos intangíveis.
Quero apontar um em especial. Na Copa de 2014, vi muitas equipes de reportagem, com orçamentos enxutos, impedidas de cobrir um número maior de jogos – o que foi ruim para o realizador e para o Brasil – pelo fato de que a escolha por gastar rios de dinheiro foi feita por quem não precisa ganhar, apenas arrecada.
Com uma lógica política, hoje fica mais claro o excesso na dose, tantas sedes poderiam ter sido poupadas. Mas optamos pelo desperdício em lugar da otimização. As equipes brasileiras de comunicação e os veículos, em especial os mais pobres, como rádios, foram assim excluídos da cobertura dos jogos, em função da fatura de valor estratosférico.
Assim também vinha se dando com a decisão de times cariocas de alocarem seus jogos para localidades distantes. Hora meus amigos, uma das vantagens que a imprensa carioca possuía em relação aos demais de outras praças era exatamente seus custos mais baixos em termos de logística. Ter que ir fazer um jogo em Manaus ou em Brasília não é financeiramente tão trivial quanto parece. Salvo se o cidadão optar por transmistir de um estúdio, sem o calor do ao vivo, diferencial de seu produto para com patrocinadores.
Não vi esse assunto ser abordado por este ângulo. Lembro-me que no primeiro Flamengo e Vasco, no novo Mané Garrincha, no Campeonato Brasileiro de 2013, a percepção de que era uma “coisa legal” predominava. Não tinha caído a ficha, era tudo meio novo, a fórmula, o modelo de negócios, e ao limitar a noção de rendimento da cadeia de negócios ao item renda, realizou-se uma miopia que não pode ser criticada, sob pena de uma anacronismo insólito. Havia um frenesi pré-Copa, um clima de oba-oba, que evidentemen já passou desde o 7 x 1 e os números de nossa economia.
Tudo que foi inventado para justificar a separação entre os times cariocas e suas torcidas locais, para fazer um Cariocão, sem Rio de Janeiro, sem Cristo Redentor, sem Pão de Açúcar, sem ingredientes de uma linguagem, de um clima, sol ou chuva, foi por água abaixo quando os portões se abriram. Lá estava aquele que foi nesse primeiro de maio chamado de “O Mais Simpático Estádio de Futebol do Brasil” pelo locutor oficial do Maraca.
O nosso Marcelo Barros foi além e traçou um histórico sobre as redes mais charmosas do mundo, ideia que acompanhei sem piscar, atento a cada detalhe narrado e colaborando como neologismo “meio-chuá”, para definir o estado atual da rede que acompanha cada beleza de gol, como o véu o faz com sua noiva.
Assim como a Bastilha caiu, as porteiras desse feudo foram arregaçadas, em benefício dos serviços que o esporte de massa proporcionam aos cidadãos brasileiros, esse que é bretão e talvez o mais democrático jogo do mundo atual. Parabéns a todos que contribuíram para que isso fosse possível.
Ainda cabe discutir legalmente o que fazer a partir dos problemas que tão cedo se apresentaram dentro da nova fase do Maraca. Acredito que o Ministério Público e audiências públicas, além de um amplo processo de discussão sobre possibilidades nos ofereceria melhores horizontes do que os que assistimos em tempos recentes.

NEM TUDO NA VIDA SÃO FLORES

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Essa é Katrina Lehis. A estoniana medalhista de bronze no Grand Prix de Esgrima, evento-teste na ARENA CARIOCA 3. Tem os atributos para reinar no Olimpo. Mas caiu em desgraça numa semi-final enfrentando a russa que levaria o ouro para casa. Inconsolada, ainda na metade do duelo, parecia já saber o desfecho. Sua treinadora teimava em contrariar as evidências. As imagens olímpicas nos trazem gritos, sorrisos, brilho nos olhos, mas também dor, lágrimas, depressões, tristezas e inconformismos do fundo da alma. Um atleta de alta performance é feito disso tudo. Essa linda esgrimista não estará entre nós nas Olimpíadas RIO 2016. E isso me faz chorar.

TIRO, PORRADA E BOMBA

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Que final de semana cheio do cheiro de pólvora! Em Deodoro, terminou o Mundial de Tiro, que contou com a presença dos 800 melhores atiradores do mundo, em categorias que até perdi a conta. Um esporte de precisão e frieza, onde pouco se fala e a concentração anda sempre aliada a ondas de calor das balas.
Sem protetores profissionais para os ouvidos é impossível estar no topo desse grupo de elite. Por lá se vê as melhores tecnologias, mas a mais decisiva delas continuará sendo o material humano. Ao final do evento, numa rápida varredura pela tabela, não deu para ver uma presença pujante de brasileiros. Os espanhóis, belgas, russos, alemães, chineses, suíços, ucranianos enfileirados, em busca de medalhas a cada cochilo de oponentes.
Achei que ali era um presságio de que o Botafogo viria com tudo prá cima de um tricolor ressacado, Campeão da 1a Liga. E acabou sendo.

O MOSAICO VAI SE FORMANDO

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Quando propus o nome Mosaico Esportivo a iniciativa de desenvolvimento esportivo que tinha em mente não imaginei que seria tão apropriado ao que venho assistindo nesse período que posso chamar de pré-olímpico. Só vem quem é realmente fera. E por aqui, só nos eventos-teste já lamentamos algumas ausências. Dava para ver a tristeza em alguns rostos.
O fato é que a ARENA 3 está pronta e foi a quem me pareceu mais pronta em todos os sentidos. Os relógios TISSOT instaladinhos, com suas respectivas propagandas que me deixaram com a sensação de nunca ter visto nada parecido em termos de uma transmutação de painel.
Quanto a iluminação dentro da competição, fizeram cinema. As quatro pistas ao redor da pista principal, em formato de X, davam lugar a quatro duelos simultâneos, interferências inevitáveis, riqueza de emoções multiplicadas. Os vídeos projetados, em velocidade mais lenta, dão ao espectador possibilidades de participação que o real não oferece. Não há ali substituição ou redundância, mas complemento. E quando chegam as semifinais e a final, aí o jogo de luz se altera completamente. Ao proporcionar o fundo escuro, teatro e fotografias ganham outros caminhos. Pode variar de um Bunraku até a bela experiência de uma sala de cinema com um filme como Star Wars. É um esporte de outra galáxia.
Tudo ali difere do que vi em outras arenas, que me parecem desde então, mais convencionais e televisivas. Não que falte emoção na presença de luz em abundância. Mas um escurinho ali, outro aqui, faz bem ao coração, acalma a alma, prestes a ser espetado por um amor as cegas.

AS ESPADACHINS DE JORGE

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O simbolismo não poderia ser mais apropriado as crenças e a cultura da Cidade do Rio de Janeiro. E foi assim que no dia de São Jorge, assisti o Grande Prêmio de Espada, evento-teste para as Olimpíadas RIO 2016. Duas russas, uma chinesa e uma estoniana, são o quarteto fantástico que veio para dar mais brilho a uma celebração popular, hoje com o mesmo grau de força de um Reveillon, principalmente entre os mais sujeitos a violência da metrópole.
É um elemento de força, sem dúvida. Que mata o dragão, metáfora perfeita. Quando mencionei a importância do Grande Prêmio, não tinha ainda me dado conta da coincidência. Uma heresia para os devotos, mas é que comemoro tantos dias que o querido Jorge ficou ali, entre um Inconfidente, um Descobridor dos Sete Mares e muitas idas ao cinema. Já nem sei que dia é hoje. Mas as decisões se sucedem, tomara que não me perca.
Na tradição carioca, o espada, o bigode grosso, a sabedoria da música popular podem soar até machistas, piegas. Tudo, mas o grelo duro não soa. É estranho ver que o acarajé só tem um lado. O cozimento e a fritura é só de um lado. É estranho, é artificial, mas é. Lembrem-se da Capadócia, lembrem-se das Filhas de Jorge, nascidas aqui, de uma lista-guardiã, exímias, dessas que treinam para fazer jus ao ouro.

CONFESSO QUE GOSTEI DO QUE VI

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Pablo Neruda escreveu uma espécie de biografia de suas passagens pela terra. O livro é importante para quem não estava por lá. As poesias talvez a melhor parte. Mas aí é necessário mais livros.
Hoje foi dia de Ginástica Artística, preparatória e classificatória. Algumas das meninas que vieram participar levaram para casa a certeza de que estarão por aqui de volta em agosto. Não esconderam a felicidade. O primeiro escalão não veio. E a julgar pelo que assistimos, Bielorússia, Kazaquistão, China e Áustria já farão bem aos olhos de quem ama esportes e conjuga esse amor ao mundo das artes.
Não temos a tradição dessa integração por aqui. Um Teatro Municipal cuida de seu elenco para finalidade de peças de ballet, e olhe lá. Como imaginar uma moça fazendo embaixadinhas com os pés, acompanhada de música, usando o corpo em contorcionismos desses que vemos no Circo de Soleil. É muita coisa para conjugar. Não acredito que chegaremos a tanto, em um intervalo de tempo tão curto.
Mas já é possível levar filhas para assistir, se apaixonarem pelo esporte e se perguntarem: o que preciso fazer para ser boa nisso. Vai ter que começar lá fora. Mas o país tem agora uma estrutura para tocar o barco nos eventos internacionais em circuito local. E aí a torcida poderá fazer o resto. Já saiu feliz por torcer pelas incríveis e delicadas internacionais. Ovacionou a austríaca, que deu um show de simpatia, atleta carismática, com um ponto de vista sobre as coisas nesse tablado. Foi um caso diferente de amor. Ela sobrou em atitude. Mas foi a delicadeza das chinesas que me consumiu suspiros. Sei lá, coisa de Karma.

O AMARGO SABOR DO FRACASSO: CÉSAR E GUSTAVO

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A história do esporte olímpico no Brasil tem pouco espaço para cultivo. Estamos mais chegados a idolatria dos ídolos estrangeiros. E isso em todos os níveis. A importância de um Ricardo Prado, Xuxa e Gustavo Borges são exemplos de quem já passou por momentos como esse.
O homem de ouro dos 50 metros nado livre estava inconformado, não sabia o que dizer, numa espécie de despedida improvisada daquela que talvez tenha sido a sua Olimpíada mais sonhada, em casa. Não deu prá ele. Ficou o conforto dos amigos e de todos que estiveram presentes no Parque Aquático Olímpico.
Todos os esforços foram feitos para que seu brilho nos contemplasse na RIO 2016. Mais esforços deverão ser feitos nesse aprendizado sobre o cultivo de nossas referências, heróis de uma disciplina e dedicação exemplar para uma geração de jovens atletas, prestes a transformar o Brasil numa potência olímpica. Temos toda condição para isso. Não esquecer esses nomes e seguir em frente é um dos deveres de casa.

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AS LÁGRIMAS DE CIELO
A palavra cielo significa céu em português. O nadador que entrou para a galeria dos maiores que tivemos era, na conversa que tivemos com o Presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos era presença garantida. Não é mais. Primeiro na prova de 100 metros nado livre, terça-feira, enquanto assistíamos o ginasta Zanetti levar seu ouro para casa, fomos informados da desistência de Cesar Cielo. Sua última chance para entrar na equipe olímpica era a prova de 50 metros nado livre.
Pela manhã, atingiu índice e estava entre os dois melhores tempos, tempo esse que não resistiu ao ataque de seus companheiros na prova final da parte da tarde. Tendo que enfrentar uma cirurgia e ainda em processo de recuperação, Cielo caiu em lágrimas diante do inexorável.
Deixou o Parque Aquático comovido, uma torcida pequena, pois não houve venda de ingressos, fez barulho, gritou e chorou junto. Foi emocionante.

A FLOR DO CARISMA É BRASILEIRA

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Não se pode falar de Flávia Saraiva apenas como uma atleta de alta performance e graciosidade. Para além da perfeição, essa pequenina tem o brilho que equipara seus 1,35 metros ao tamanho das gigantes que enfrenta na cena da ginástica olímpica mundial.
Muito segura de si, sabedora de seu potencial e do que pode fazer com aquele corpinho minúsculo mas nem por isso menos gracioso, na trave e no solo.
Abocanhou sem misericórdia duas medalhas nessa memorável noite de preparação para o que vem por aí.
Por mim teriam sido duas medalhas de ouro. Mas aí tem um pouco da torcida, tamanha era sua confiança nos exercícios na trave. Deixou as concorrentes mais experientes preocupadas. Está evoluindo muito rápido, e pode chegar nas Olimpíadas muito melhor. Voando baixo, cheia de um carisma, todo nosso, coisa típica das baixinhas atrevidas do Brasil. Seus 16 anos são inspiradores para jovens do país inteiro, por favor não deixem de assistir essa talentosa e promissora atleta. As Arenas deveriam estar repletas de gente nesses eventos-teste. Mas com ingressos por 30 reais, o que vimos foram as arquibancadas vazias. Um contraponto a ser corrigido pelo bem dos nossos jovens, carentes de referências de uma outra estirpe.

O BEIJO GREGO DE ZANETTI

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A disputa era dura. Afinal o adversário era Eleftherios Petrounias, atual campeão mundial nessa competição. Com performances muito próximas, o brasileiro veio com sangue nos olhos, cheio de vontade de morder mais um ouro. Só que dessa vez em casa, já projetando seu êxito olímpico.
Um placar de 15,866 a 15,833 deixou muito claro que não vai ter moleza em agosto. Mas a cama já está armada para gregos e troianos. E Arthur Zanetti é sem a menor sombra de dúvidas o preparado com mais sede de vitória que assisti nesse início de 2016. Ao aplicar um beijo grego no oponente, retirou dele sua supremacia momentanea, o submeteu, o colocou no seu devido lugar, com firmeza e virilidade, como era prá ser.

A PROMESSA DE NOME DESCONHECIDO

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Quando cheguei ao Parque Aquático para acompanhar e torcer pelos atletas brasileiros em busca de índices para lutar pelas vagas das Olimpíadas, tinha um projeto em mente. Encontrar um atleta ainda sem a popularidade de um consagrado como Ricardo Prado, Xuxa ou de um Gustavo Borges, gigante dentro e fora das piscinas.
Na entrada ao local das competições, um dos voluntários pediu que eu seguisse um casal, que dali em diante se tornou meu GPS para o novo espaço. Pelo caminho, muita conversa e a notícia de que seu filho estaria ali, a centésimos do tempo que precisa para vir em agosto representando o Brasil.
Estava ali exatamente para isso. Encontrar o nome do Torneio Maria Lenk que poderia representar a nossa promessa de ouro, e que ao mesmo tempo não carregasse essa expectativa entre o público em geral. Encontrei-o quase ao final das provas dessa sexta. O nome dele é João Gomes Junior – seu xará, João Oliveira. Na prova de nado peito, já temos dois, que é sempre melhor que um.
Alguns minutos depois, trocando uma ideia sobre o que nos reserva essa viagem pelo esporte e quem serão os aventureiros em agosto, como estão se preparando, treinando para fazer bonito, o país merece, aparece o destaque da noite. Após parabeniza-lo e deixarmos nossa energia positiva, contei sobre meu propósito ali e que lhe faria essa reverência. Ele me respondeu que está na ponta dos cascos, com um objetivo muito bem definido e nos prometeu o presente da medalha em agosto.
Vamo com tudo garoto João! Não é a toa que o teu tempo é o segundo melhor de 2016!

UMA UKRANIANA CHAMADA OLENA

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Lá estava a final da prova de pistola de ar, do Mundial de Tiro, preparatório para as Olimpíadas RIO 2016. Após uma luta dura, num ambiente ainda em preparação, onde o ar condicionado da etapa eliminatória ainda não havia sido instalado para as finais, o panorama mudou. Mas como dizem os organizadores, “mudou para todo mundo”…
E Olena Kostevych, levou o ouro para a Ucrânia, feliz da vida. Olhei para a torcida e de repente avistei um grupo gritando seu nome. Olhei para as roupas, vi crianças, eram brasileiros. Fui desvendar o mistério. Trata-se da família de nossa atiradora esportiva, Ilka Castanheira, a 6a melhor do Brasil na mesma categoria da campeã.
Anos atrás, conheceram a atiradora da terra das belas mulheres e paisagens e uma amizade se fez. A força do esporte que ultrapassa barreiras, levou a esse carinho e admiração pela número um do mundo, que já tem a torcida brasileira garantida para as Olimpíadas.
O espírito olímpico, na prática, mesmo diante de tanto ódio, semeado por fanatismo e falsas ideologias, que na prática apenas escondem o desejo de poder, puro e simples de uma minoria insensível.

TRÊS COMPETIÇÕES E NENHUM MARACANÃ

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O Flamengo perdeu mais uma, e a imprensa especializada insiste num clichê: “quem não faz leva”, não explica o conjunto da obra. É compreensível que o Brasil não tenha jogado no segundo Estádio mais importante do mundo. A política extrapolou todas as lógicas a favor da contabilidade política – em todos os sentidos que incluem as planilhas da ODEBRECHT e milhares de outras espalhadas pelo mundo – esquecendo do futebol, da finalidade do Maracanã para os times locais.
Afundar a PETROBRAS se tornou compatível com mais um slogan de fachada, prometendo criar uma pátria educadora, como se educar estivesse no plano dos farsantes. No máximo doutrinar e fazer um número de mágica. Ao entregar a gestão do Maracanã a uma empresa como a ODEBRECHT e a um especulador com a leviandade de um Eike, garantiu-se a fragilidade do que era prá ser a maior força dos times cariocas: suas torcidas.
O Flamengo segue assim afundando, e tendo na sua diretoria os cúmplices desse movimento, por diversas razões. Ao venderem a proposta de arrecadar via sócio-torcedor parte do dinheiro que necessitam para ter um time à altura das tradições do clube, firmaram um pacto. Ele tem sido descumprido e convenientemente justificado pela suspensão dos jogos no Maracanã.
Esse mesmo espaço esportivo, que custou a bagatela de 1,2 bilhões de reais aos cofres públicos em sua última reforma, para estranhamente enxotar o povo da geral dali; eliminar a tradição da torcida em pé; destruir o fosso que tornava o custo operacional de segurança muito mais barato e garantido; para impedir a ida da imensa maioria de torcedores da Baixada e da Zona Oeste – com os horários das competições ao feitio da emissora de TV e sem o acordo com a Supervia, transportadora de trem responsável pela chegada da massa rubro-negra. Tenho sido testemunha de todos esses efeitos colaterais, cada um deles com sua parcela de culpa na perda de oportunidades.
A invencionice de quem nunca praticou esportes quer nos fazer acreditar que atleta é sinônimo de marmiteiro de ponte-aérea. Ou você aí acha que é possível treinar um profissional de alto rendimento arrastando ele de um lado para outro a cada 12 horas, ainda que de avião. E aí meu caro, de nada adiantam os investimentos em Maracanã, Centro de Treinamento, Infraestrutura Logística, Trans-isso, Trans-aquilo e o caralho de asas. Podem trazer o Muricy, o Guardiola e fazer ressuscitar o Cruiff. Comprem o Messi, o Neymar e tragam a metade dos alemães. A atividade esportiva de alto rendimento implica em treinamento local, com intervalos que a agenda da grade de programação não permite. Aí entram as três competições.
Sempre afirmei que em todas as últimas participações na Libertadores em que o Flamengo esteve, o foco errado acabou jogando por água abaixo as chances até possíveis de avançar com ambições ao título. Lembro-me perfeitamente que o calendário de pelo menos duas Libertadores coincidiam com a etapa final do Campeonato Carioca. Naquele tempo, a disputa entre os times locais tinha muito peso – ainda tem e sempre terão – e o intervalo entre a descarga do resultado positivo da conquista do título ou de sua disputa e a partida da Libertadores era pequeno. O resultado foram os fracassos que assistimos, não por incompetência dos jogadores, mas pela total falta de organização, planejamento e revisão crítica do modo como o assunto era tratado.
Tenho acompanhado alguns mundiais de modalidades esportivas que estarão entre nós nessa Olimpíada RIO 2016. A última foi o Mundial de Pentatlo. Entrevistando uma dupla de atletas de Cuba, nitidamente exauridos, perguntei se o fato de participarem em duas etapas – individual masculino, individual feminino e duplas – afetava a performance, dado que o intervalo de regeneração era de menos de 24 horas. A resposta padrão é de que o atleta está preparado para realizar esse tipo de atividade, é treinado para esse desgaste. Mas ao final, chegamos a conclusão óbvia que o rendimento do primeiro dia de provas não é de longe idêntico ao do último.
Times ruins viram times bons? A resposta é não. O Confiança é melhor do que o Flamengo? A resposta é não. Mas então a vitória nasce de onde? Há muitos fatores colaborando. Não quero poupar a responsabilidade dos atletas em campo. Mas há atenuantes. E não são poucos. O Campeonato Carioca, a Primeira Liga e a Copa do Brasil, sem Maracanã talvez seja mais parecido com os doze trabalhos de Hércules. O elenco não chega a ser heróico, mas a penitência a que vem sendo submetido o condena ao fracasso, me perdoem os mais otimistas.
Não sei se a torcida rubro-negra, assim como Hércules, terá um acesso de loucura. Diferentemente do herói, teria que enfrentar as disparidades atuais criadas por esse trinômio: Gestão do Maracanã, Diretoria e Sócio-torcedor, Logística e Calendário. Qualquer hora detalho os três trabalhos.

O FINO DA BOSSA E A INSUFICIÊNCIA

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É semana santa, tempo de ressurreição. Vou apelar para a memória afetiva dos mais velhos, que viram os meias jogar. Em que sejam feitas as honras aos teóricos da ocupação de espaços, vou me ater a um jogador que vi desde os primeiros passos como profissional no Maracanã. Trata-se de um meia-volante de alta potência no ataque, esse tal de Renato Augusto.
Sua passagem para o futebol europeu, via Bayer Leverkusen era para ter deixado a torcida rubro-negra de luto. Renato era para mim a maior esperança de craque feito em casa que o time carioca tanto precisava. Um jogador altamente técnico e que acompanho, inclusive os momentos difíceis da carreira com os acidentes que adiaram o destaque de seu futebol jogado discretamente mas com uma eficiência difícil de encontrar em todas as partes do campo.
Olhando para a situação da partida contra o Uruguai, creio que demos muita sorte. Pegamos uma seleção em casa, onde o aspecto defensivo é de extrema importância, e o adversário sem sua boa zaga titular em campo. O resultado é que o nosso ataque passou a falsa sensação de que estamos excepcionalmente bem. Estivemos suficientemente bem. Fizemos gols.
Uma celeste que ganhou dois ótimos no ataque que estavam afastados, e perdeu dois zagueiros. Somando e subtraindo, saiu ganhando assim? Para jogar fora de casa, acredito que não. E olhando para a situação do Brasil, reforço minha preferência: defense first.
O caso da defesa brasileira, principalmente depois do primeiro gol, torna muito evidente o problema de se jogar com um ataque eficiente com uma defesa vazada. Não chegaremos muito longe com esse desequilíbrio crônico. Dois matadores em campo, sabem fazer gols, e uma defesa que parecia mesmo a defesa reserva do time azul levou a melhor por mero acaso. Não me convence.
O time brasileiro poderia com um pouquinho mais de esperteza, cozinhar o galo após o segundo gol. Nas condições de competitividade atuais, os pontos valem mais do que o espetáculo. Já com vantagem, qualquer time bem treinado atualmente, sabendo do poder do oponente, só vai na boa. Levamos o primeiro gol como se estivessemos desesperados se lançando ao ataque e deixando a defesa um contra um.
Um erro de leitura de jogo e falta de orientação por parte de um técnico que continua sendo o mesmo e fraco Dunga. O desejo da goleada deixa para quando pegar uma seleção sem maiores ambições. Não é o caso de um time experiente, catimbeiro e muito longe de ser um daqueles piores que vimos nos últimos anos.
Neymar, infelizmente continua sem a necessária inteligência emocional para lidar com a adversidade. Levamos pancada depois de fazer dois gols? Sim. O juiz foi leniente? Sim, optou por deixar rolar mais duro. Levamos dois gols? Sim. Ficamos parecidos com o Brasil contra a Holanda daquele Dunga? Igualzinho. Mudam os personagens, mas o script da dinâmica, o mesmo.
Aproveito para deixar minha mensagem de amor ao povo belga, que passou pelo Rio de Janeiro na monótona partida Bélgica x Rússia. Um belo casal, celebração a vida, no lugar da nefasta conspiração para incitar a força, o péssimo nível de convivência entre povos, resultado de uma espécie de indiferença dos que já tem suas mazelas resolvidas e o fanatismo teleguiado.

 

O NOVO NOME DA PERFEIÇÃO: REN QIANG

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Semana passada fui avisado por amigos do campo da física de altas partículas sobre os avanços que nos farão ouvir mais o Universo no lugar de olhar com poderosas lentes telescópicas. Ontem senti falta de aparelhos de alta sensibilidade para captação do áudio relativo a um salto perfeito. Antecedido por um silêncio do público educado, que torce antes e se emociona depois, o som dos saltos desse fenômeno olímpico precisa de uma gravação especial, objeto de estudo.
Um talento talhado para a perfeição, e pude distinguir claramente o som que torna impossível obter a mesma sensação pela TV. Ainda não foram capazes de gerar uma captação de áudio com o grau de fidedignidade que permita a comentaristas predominantemente visuais a descrever esse resultado talvez intuitivo demais.
Ninguém me contou. Também não vi na TV. Nem era caso de ver para crer. REN QIANG, foi para a final e no último dos cinco saltos esculachou geral, saindo ovacionada. Levou SETE NOTAS DEZ – tendo que jogar fora QUATRO. Einstein chamaria isso de “extra-mundo”, sei lá – preciso de um neologismo melhor para a chinesa, por favor.
As ondas gravitacionais de que fala a Teoria da Relatividade existem como uma música, a ser compreendida pelo intelecto humano. Tive a oportunidade de desfrutar desse prazer, como se estivesse numa Ópera, ouvindo Villa Lobos, pois quando aconteciam aqueles momentos de rara perfeição, a platéia de atletas e seus ouvidos afinadíssimos aplaudiam em uníssono.
Com algumas promessas, quando decepcionados deixavam seus lamentos, aquela frustração de quem torce para que o nível seja elevado cada vez mais, são de uma mesma tribo, como acontece com os surfistas. Há bastidores, há competitividade, mas um desejo de avanço e aquela coisa gostosa que é assistir um diamante numa competição, acaba acima de tudo. Coisa dos deuses.
É por isso que considero importantíssimo a participação dos amigos e da população do Rio de Janeiro em especial. No futebol, por exemplo, já tivemos a oportunidade de viver esse privilégio com a safra de craques que frequentavam o nosso Maracanã, levando multidões para ver um Pelé, um Garrincha, um Zico, um Romário em busca de um tal milésimo gol…
Ondas vem, ondas vão. Chamados e popularidade, ficaram para os Rolling Stones no Estádio e sua legião de seguidores.
Foi assim que essa chinesa passeou no Parque Aquático Maria Lenke. Não teve raio, trovão, sol ou chuva, vento capaz de modificar sua performance.
A China domina a cena dos Saltos Olímpicos. Lugar onde nós não existimos. Temos que reunir muitos atributos num só grupo de competência. Há um lado todo voltado a uma estética, arte, como a ginástica de solo e artística. Não por acaso o treinamento em terra, com equipamentos que dão essa qualidade aos atletas. Há a água, elemento natural do esporte e há a altura, com quedas que outrora exigiam e ainda exigem coragem. Nem sempre a aterrisagem é confortável.
Um escorregão e alguém pode se machucar. E isso, pode acontecer.

UM BOM JOGO-TREINO RUBRO-NEGRO

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Não chegou perto das emoções de carnaval ou mesmo da final proporcionada pelo Denver Broncos na final da Super Bowl – uma aula de defesa que deve ser aproveitada por qualquer treinador de esporte coletivo. A destruição do armador no futebol é coisa de italianos…
O adversário não representava qualquer perigo. Se trancou nas linhas e sequer tinha bola de escape para colocar em perigo a defesa do Flamengo, um time que já apresenta uma naturalidade de jogo, montada em cima de um esquema bem resolvido, com flutuações e infiltrações que prometem se tornar elementos surpresas a cada jogo desse time no comando de Muricy.
É bem verdade que ainda não está na mão dele, mas pela qualidade dos envolvidos e o fim do jejum de Guerreiro, a boa chegada de Aarão e principalmente um jogador de precisão e mais cerebral como Mancuelo, vai ficando melhor.
Há peças ainda num nível abaixo do aceitável para maiores ambições e falta um banco de peso, que pode fazer a diferença numa hora decisiva. O caso de Wallace e Márcio Araújo seguem preocupantes. Mas saindo do carnaval, foi o treino necessário a uma véspera de clássico com o maior rival, que segue muito embalado, querendo manter a superioridade recente, obtida com melhores resultados em 2015. O Vasco é a pedra na chuteira, e para mim o time de melhores indicadores do Brasil, após o Coritnhians, ao final do ano passado.
As temperaturas altíssimas nos arredores do Pico da Pedra Branca inibiram meu apetite para assistir a partida programada para as 17 horas – na verdade as 16 horas – entre Bangu e Tigres no campo de Moça Bonita. Saindo de uma jornada de mais de seis horas acompanhando o Bloco Banguçando o Coreto, em seu enredo sobre a chegada do futebol nesse lugar de temperaturas infernais, acreditei já ter dado o meu melhor no último dia de carnaval. A lua estava pesada, e com as apurações das notas do desfile do Grupo Especial, num campeonato dos mais acirrados dos últimos anos, e a novidade de um rigor nas notas dos jurados, deixou tudo mais em aberto.
Acabei perdendo o gol mais bonito dos times pequenos dessa rodada, e a chance de estrear jogando em casa, minhas participações in locu desse campeonato carioca que se inicia. O amigo Marcelo Barros, que me garantiu presença nessa rodada, acabou exaurido por todas as atividades de carnaval, dentre as quais a mais que merecida homenagem as crianças, que desfilaram na terça-feira, em pleno Sambódromo, o ponto alto da festa da cidadania.

DESTINO DO MARACANÃ, O FUTEBOL E O CARNAVAL – PARTE I

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A foto é do jogo Espanha e Chile, Copa do Mundo 2014. Foi no dia que os chilenos invadiram a área de imprensa e acabaram com a atmosfera de tranquilidade no Rio de Janeiro. Dali em diante, os níveis de segurança foram elevados e lá fomos nós, da alegria para um ambiente repressivo que tornava muito melhor ir para as festas em Copacabana.
Mas o assunto não é esse. Com uma legião de informantes sempre muito atentos, recebo sem surpresa a notícia de que um dos sócios do Rock in Rio, detentor de 40% do negócio abriu concordata. O CEO foi demitido, e será substituído por alguém que represente a nova orientação do grupo.
Vocês podem estar se perguntando, qual a relação disso com o Maracanã e com o futebol? Digo a vocês que toda. Afinal, o Eike Batista foi durante um grande período da nossa história recente uma espécie de “testa de ferro” empresarial do grupo Lula S.A. Montaram uma operação de alavancagem do país, altamente especulativa e dependente de ações dentro do governo, que entrou em parafuso, sobrevivendo em estado de putrefação a céu aberto, com direito a moscas varejeiras, baratas, ratos e mosquitos.
O Maracanã está prá jogo. Mas não me refiro aqui a jogos de futebol. Aliás, o futebol é o que menos importa para essa turma de peladeiros, pela-sacos e pelegos. Não me surpreende que no final do ano passado, em pleno final de campeonato brasileiro, times daqui tenham ido para outras praças, enquanto o templo do futebol mundial, segundo ponto de visita da cidade mais turística do Brasil, se tornasse palco para o show do Pearl JAM. Adoro a banda, mas sei que a cidade tem pelo menos 10 lugares onde isso poderia acontecer. Priorizar shows no Maraca em lugar da sua atividade fim é coisa de quem só realiza um capitalismo predatório de curto prazo, fudido que está, pelas lambanças que fez.
Sem opções, esse grupo empresarial se tornou em minha opinião inimigo dos investimentos públicos e principalmente nada confiável para preservar o maior patrimônio, que é a identidade internacional de um dos mais importantes cartões de visita do país.
Olhei para a tabela de futebol do campeonato carioca durante esse carnaval e vi recesso. Me lembrei do dia em que ao mesmo tempo que fazia a video-instalação para a rainha de bateria do Império Serrano desfilar com Einstein em seu tapa-sexo, assistia e fotografava um belo jogo entre Fluminense e Vasco. Desses que entram para a história. O público composto de amantes da bola e de turistas do país e do mundo era agradável e levaria dali imagens para que esse ciclo de virtuosismo se mantivesse.
Essa galera que assumiu a parada é disruptiva para o mal. Em busca de amealhar enquanto podem alguns trocados, seguem fechando para jogos e abrindo para shows. Nada contra o Thiaguinho no dia 9 de fevereiro no Maracanã, ou contra os Rolling Stones no dia 20. A questão não é ser contra os shows, mas estabelecer com clareza o conceito de uso dos equipamentos esportivos, sempre privilegiando sua utilidade primária. Do contrário o Maracanã pode virar, da noite para o dia, um Hospital, por exemplo, nas mãos de um partido xiita desses, com apelo popular, tipo Jesus ou Barrabás.
As concessões impõe seus limites, a democracia também. E há uma coisa que não se pode esquecer, mas muita vezes se atropela: a especificação funcional, o projeto de desenvolvimento estratégico de uma atividade de alto potencial, hoje em frangalhos por falta de uma condução da coisa que possa ser levada a sério. Tem gente sem papel higiênico, limpando a bunda com a cueca, empresarialmente falando.
É uma coisa muito parecida com o que já vem acontecendo com as Escolas de Samba e com o Sambódromo. Hoje, muitas das Escolas que frequento já deixaram de ter nos eventos de razão de existência, sua missão e essência, a base de decisão para o funcionamento. Vidrados nos números, as diretorias seguem por muitas delas, retirando a bossa do samba, deixando de ensinar o que é único para trazer o que está em outros lugares como atração principal. O negócio é pouca feijoada e samba e muita balada no espaço. É um outro negócio que micos, nos termos que vem sendo conduzidos. Um camarada que não consegue criar o seu BARRAMUSIC, pega uma Escola de Samba e tenta transformá-la nisso, garantindo uma rentabilidade, din-din no bolso e sêfini.
Nessa pirâmide invertida das nossas principais atrações no showbusiness internacional, vamos assim, por falta de competência interna na gestão e de culhão, perdendo espaço em mercado promissor e crescente. No lugar de craques e estádios cheios, nossos, vamos de Champions League e transmissões internacionais enlatadas para esse que é o único PENTACAMPEÃO DO MUNDO, BRASIL.
Enlatados estamos, enlatados fomos, sardinhas de BRT’s, Trens, Metrôs. Bater palma prá essa cambada, isso não dá.
A resistência está aí. Cabe exercer.

UMA ADVERSÁRIA A SER BATIDA

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Na fotografia ela está de azul. O nome da fera é ADELINE GRAY. A frase do título é da nossa atleta Aline Silva, que levou o bronze após perder para essa que é no momento a imbatível na Luta Olímpica. A americana, além de muito bonita, está sempre confiante em seus combates. Ao encarar a canadense Erica Wiebe, numa luta nada fácil, chegou ao final sobrando. Diria a vocês que encarava molinho mais umas duas lutas.
Saiu sobrando, sorrindo e com a certeza de uma supremacia campeã. Nas chaves que antecederam essa final, pegou a brasileira logo no início, com força total e emplacou um dois a zero. A brasileira segue com sede vinagança, o que a meu ver não é bom. Esse é um esporte onde a ansiedade pode atrapalhar, precipitando golpes e dando assim a vantagem a adversária.
Nesse aspecto, a luta da final dos 75 kg’s foi certamente a mais emocionante do evento, equilibrada do início ao fim, demonstrando que é possível reverter um início em desvantagem considerável, que durou até os três primeiros minutos de uma luta de seis.
Muitas atletas contundidas pelo meio do caminho, me parece ser uma sina, nestes tempos onde o Olimpo pode se tornar o inferno e até mesmo o fim de carreira para muitos. Cada vez mais, a prática de esportes de alto desempenho segue numa encruzilhada, exigindo que sejam tratados com o máximo de respeito e cuidado.
O Brasil deve aprender nesse aspecto, e as iniciativas de criação de Centros de Referência Científica Esportivos devem tratar não apenas dos resultados de curto prazo, que interessam aos patrocinadores e as potências olímpicas, mas também a preservação de saúde dos atletas, Marcos Cavalcanti. Ou senão pode acabar virando uma reprodução daqueles fatídicos laboratórios de desenvolvimento de anticoncepcionais que garantiam 100% de resultados sem se preocupar com a saúde e os efeitos colaterais para as mulheres que inicialmente os utilizaram.
Ainda não foi dessa vez, e acredito sinceramente que não será no Brasil, que essa super-atleta será vencida. Uma medalha de prata da Aline e quem sabe um bronze em outra categoria já cairia bem, me deixaria orgulhoso e feliz.