O TORCEDOR NÃO É BESTA

O título original da Disney, Beauty and the Beast, tem na versão da Digital Domain – empresa bem sucedida onde John Textor foi Chairman – a Besta da imagem da matéria.

Lá estavam eles, na vanguarda, produzindo uma das obras mais representativas de uma via alternativa de misturas e criatividade na música. Os Novos Baianos e o Besta é Tu, resumem parte do uso que o termo bestial traz para o que acontece no futebol brasileiro, em pleno 2023. A letra é clara, “porque não viver, não viver nesse mundo?”. Então vamos lá, vamos parar de ser besta, e pensar besteiras, no lugar de curtir tudo que aconteceu de interessante esse ano.

Foi emocionante? Sim. A matemática não explica tudo, mas a gente olha para os números e lembra da Benford’s Law. Misture ela com os números ao final da 36a rodada. Faltando duas rodadas para o fim, o líder Palmeiras tem 66 pontos. Um time estável, onde já vimos craques como Edmundo, cujo apelido no auge era “Animal”. Certas palavras ganham peso no mundo da bola. Acompanhei o trabalho no Brasil do “novato” Abel, desde seu princípio. Posso dizer que começou de mansinho e foi ganhando espaço, poder e títulos. Pagou um preço alto, será recompensado na saída, apesar dos desgastes e deslizes. Pelo menos o prêmio de consolação, o brasileiro, está na mão. Só não pode deixar Endrick no banco, como fez ao longo da Libertadores.

A besta andou solta, a violência e a agressividade dispensável alcançaram a equipe do Flamengo, desde a vitória contra o Galo, deixando marcas colhidas no jogo em casa, estacionado no número 63 ao lado de seu adversário, bem mais harmonizado por Felipão. Números não dão bons motivos ao Botafogo, a linha de tendência realizada pela imprensa aponta um segundo turno digno de segunda divisão. Muitos fatores poderiam ser apontados.

Recentemente vi o Corinthians e o Palmeiras, mesmo com shows e festivais agendados, não abrirem mão de jogar no próprio estádio. Já vimos esse filme antes. A administração do Maracanã, pela rentabilidade mais baixa do futebol, comparada com o uso por shows com valor de ingressos muito mais altos, além de patrocínios, fazem do futebol uma presa fácil. Quem se deixar seduzir por essa noção, dispersa energia, perde títulos.

Pontos preciosos, estratégias equivocadas, clima de oba-oba e já ganhou fez muitas vítimas na história do futebol. A Argentina em 2014 comemorou antes da final, em São Paulo, perderam pra Alemanha. O Flamengo viveu o início de suas conquistas, com uma fase do Cheirinho, bem contada em meu livro “Os Filhos do Mário“. O Brasil já morreu de véspera, com as respectivas esposas dos “futuros campeões”, aguardando o título numa festa no bairro da Urca, enquanto o time era derrotado pelos uruguaios. Não se ganha antes.

E o torcedor, não é besta. Cada vez mais, olha o prêmio das casas de apostas e lá descobre rapidinho quem é gato e quem é lebre. Três times já estão matematicamente rebaixados. A briga agora é pelo só resta um, quatro times disputam a última vaga pelo rebaixamento para a segundona. Os números, nesse caso, são diabólicos e traiçoeiros.

UMA ÁRVORE CENTENÁRIA CAIU

Estou velha demais para morrer, disse a árvore, diante da tentativa de cancelamento a sua presença no baile de gala na Rice University. Como lidar com noções como “apagamento de memórias” e ao mesmo tempo se dizer oponente do negativismo? Considerando o que pude acompanhar, Henry Kissinger foi o diplomata mais polêmico e famoso do século XX. Então aceita que dói menos. Aqueles que puderam assistir por dezenas de vezes sua presença midiática nos mais diferentes lugares e ocasiões diriam que ele era, para o bem ou para o mal, uma entidade.

A desavença artificial construída ardilosamente entre as tão próximas ideológica e geograficamente, Rússia e China? Só poderia ter sido executada pela sua obra e graça. O poder de barganha que empurrou o país “comunista” a se vender as atratividades que o capitalismo oferecia foi um veneno que tornou esse casamento tão irreversível, que o centenário partiu, mas não sem antes garantir o aperto de mãos entre os dois atuais líderes das duas maiores potências econômicas do mundo. Um velho amigo dos chineses, que fez ambos se abraçarem, tornando impossível o caminho da Guerra, pela teia de interesses recíprocos.

A história não pode ser contada pelos seus protagonistas, sob pena de distorções de conveniência, de maior efeito contrário aos fatos que as já conhecidas. A política da Guerra Fria, o Vietnã e as Ditaduras da América do Sul também fizeram parte do pacote dos assuntos conduzidos pela pasta de Kissinger. A leitura, ao contrário da negação, pode ser muito mais esclarecedora, embora pouco provável. Estudos recentes mostram que 66% dos estudantes brasileiros entre 15 e 16 anos estão lendo apenas, até 10 páginas por ano. Não há formação cognitiva, muito menos criação de senso crítico ou capacidade abstrata, com esse nível de leitura, que desqualifica completamente a validade de nossos testes de ENEM.

Para compreender o peso, a partir da Nova Ordem Mundial, do Playboy da Casa Branca, que nunca foi Presidente – mas foi eminência parda por todos os mandatos americanos de sua época – que não nasceu na China, mas esteve com mais de cinco comandantes daquele país, no momento da virada capitalista, e depois, e ainda termina a vida discutindo com lucidez e clarividência aspectos relacionados a Inteligência Artificial e seus efeitos nos rumos da humanidade, só sendo rato de biblioteca virtual.

Fontes não faltarão.

A VIDA DE GADO E UM POETA DO POVO

A primeira vez que assisti a um show de Zé Ramalho já vai tão longe que explica o desinteresse da garotada pelo cantor e poeta. Existia o Projeto Pixinguinha, em Brasília, e por meio dele era possível conhecer a obra de artistas nacionais de relevância para a cultura nacional, a um preço popular. Ainda vivíamos a ditadura militar e a ideia dos shows de circo, com platéia reduzida pela dimensão do espaço era dominante.

Tudo mudou, os custos e a escala para shows são outros, o modelo de negócios inclui como pilares de sustentação a venda de bebidas e verbas adicionais por meio de leis de incentivo que deduzem dos impostos o valor que empresas aportam para shows. Uma das coisas que acontecerá com a mudança na ordenação tributária vai mexer com as leis de incentivo, como já está mexendo com a corrida para elevação de alíquotas de ICMS, prestes a extinção.

Quem quiser olhar um acervo de mais de 400 fotografias e matéria da cobertura Areevol, do primeiro show de Zé Ramalho no Shopping, basta clicar no link abaixo:

Fotografias do Primeiro Show de Zé Ramalho no Shopping Bangu

Em seu segundo show no Estacionamento do Shopping Bangu, que se transformou no modismo pasteurizante em “arena” – clara falta de criatividade e perda de identidade cultural local – tal como o assassinato simbólico promovido pela Prefeitura, ao retirar o nome das Lonas Culturais e gastar fortunas para rebatizar os equipamentos culturais dessa categoria de “areninhas”, Zé Ramalho entregou a emoção de sempre, para um povo que cada vez mais se distancia do refrão “vida de gado, povo marcado, povo feliz”, pelo negativismo que o leva a não se olhar no espelho, mesmo quando o poeta repete “o povo foge da ignorância, apesar de viver tão perto dela”. Essas palavras faziam mais sentido num tempo distante, para os mais revoltados com a situação de suas existências. A pauta política mudou, tornando inútil a noção simbólica de um povo-gado, irreconhecível no espelho, mesmo diante de seu cadáver e ossada.

Na oportunidade dos encontros que se acumularam ao longo do show, vejo Alberto, que insistiu em negar sua condição de produtor da região, para logo a seguir me confessar ter trazido em 1996 o autor de Avôhai para a Zona Oeste. Só estava 30 anos adiante dos atuais, nessa iniciativa disruptiva, onde o acesso a cultura sempre foi limitado.

Livre das amarras, dessa vez o show do nosso respeitado menestrel começou com a música do meu querido amigo Geraldo Vandré – sobre quem ainda alimento a ideia de escrever um livro – deixando saudades das flores. Creio que essa escolha não autoral para o repertório traz a mensagem da desnecessidade dos limites autorais para se expressar. Essa noção se repete ao chamar ao longo do espetáculo a presença de Raul Seixas. Uma coisa é ser cover do Raul, ou fazer um álbum em homenagem a ele – como vimos recentemente Xande de Pilares fazer com a obra de Caetano – outra coisa é pinçar um traço identitário e o incorporar a sua própria obra, harmoniosamente. Casamentos perfeitos e criteriosos não ressuscitam gênios, mas os eternizam.

Ouvi de uma pessoa da platéia a afirmação de que Zé Ramalho não havia entregue o bastante pelas bandas de Bangu. Me ocorreu uma metáfora, informei a ela que havia ficado brocha. Já não dava mais 17 fodas a cada noite selvagem, destituído pela idade só seria capaz de 3 com direito a tempo de hidratação. A idade nos obriga a trocar quantidade por qualidade. E no meu entendimento estético, a entidade no palco, entregou a magia.

Quanto a mim, pude pelo menos produzir alguns registros, de qualidade um tanto duvidosa, mas que na interação com o público presente pode ser que deixe alguns felizes. Quem quiser dar uma olhada, é só acessar na nuvem clicando no link sublinhado em azul, a seguir.

FOTOGRAFIAS DO ENCONTRO ZÉ RAMALHO

 

 

 

 

RIDLEY SCOTT E O SEU BONAPARTE

Certa vez, na casa de um amigo em Madrid, a única coisa que poderia fazer no avançar da noite era ler o excelente livro sobre Napoleão Bonaparte, do qual só me lembro da capa. Infelizmente os filmes e documentários produzidos atualmente acabam desembocando num retrato pouco histórico e muito caricata do personagem protagonista. Vale como diversão, bem mais inspiradora que ler livrinhos atuais, produzidos por candidatos medíocres em campanha. Há exceções, quero crer que o diretor do filme, Ridley Scott seja uma delas, transformando o Coringa num Imperador.

Para os que ainda gostam de livros, a crítica especializada considera Napoleon A Life, escrita por Andrew Roberts, a melhor biografia sobre essa lenda humana, “que veio do nada para conquistar tudo”. Só não esperava enfrentar os russos, numa guerra pouco convencional…

Enquanto Duna 2 não vem – esperava para esse novembro, mas anunciaram seu lançamento para março – e May December só estará liberado para NETFLIX em dezembro, fico feliz em saber que Oppenheimer, o filme mais bem recomendado do ano, super cotado pela crítica e público, – os mais altos pontos no Rotten Tomatoes – já está disponível para streaming em algumas plataformas, Amazon Prime e Youtube, em regime de aluguel.
É uma prática estranha, pagar para assistir como assinante e depois pagar de novo, para lançamentos. Nunca consegui me acostumar com essa ideia, mas é assim que vem funcionando o “Universo Plataformas de Streaming”.

Na soma, isso não cabe no bolso da maioria da população brasileira. O sucesso da Globo não é resultado do acaso. É fruto da pobreza do povo, financeira e educacional, que encontra na programação de TV aberta o único lugar com qualidade para alguma diversão.

A BLACK FRIDAY E A PEGADINHA DA POLISHOP

CUIDADO COM A BLACK FRIDAY
Há uma lista de 78 sites não recomendados, feita pelo PROCON-SP. Mas e as lojas físicas? Bem, essas eu conto uma experiência pra você…

Foi numa Black Friday de 4 anos atrás. Decidi ver na prática, já ao final do dia, como estava na prática o BarrasShopping. E lá estava ele, na loja da Polishop: de R$ 800,00 por quase a metade do preço. Havia uma dúvida entre um blender Ninja, marca mais vendida nos EUA, ou o VIVA Smart Nutrition com copo de vidro e sistema a vácuo. Optei pelo menos conhecido por conta de um projeto para conservação de sucos por um período maior de tempo, evitando a oxidação do mesmo. No dia da compra, fiz uma live inserindo trechos gravados dessa compra e de outros eletrodomésticos. Adaptando o ditado, alegria de comprador dura pouco, a minha durou os vinte minutos da gravação.

A escolha, mesmo cercada de cuidados, se transformou num desastre, um pesadelo pelo qual nenhum consumidor deverá passar outra vez. Sabendo que os produtos da Polishop são importados e possuem a dificuldade da assistência técnica, aceitei a recomendação do vendedor e acrescentei o seguro terceirizado da Zurich, recomendada pela Polishop. Por uma falha de projeto do aparelho, a base que realiza o acoplamento com o motor tem a peça que recebe a carga do giro de plástico, pela robustez e preço do aparelho, em pouco tempo começou a vazar. Durante a pandemia os contatos ficaram bastante dificultados, as empresas em dificuldades, em especial a Polishop que é dependente de importações que sofreram impacto.

Quando finalmente consegui o contato, não havia assistência. Passaram a bola para a seguradora, que tirou o corpo fora, afirmando que meu CPF não constava no cadastro de segurados. E o contrato assinado na loja na mão não ajudou em nada. Seguiram a enrolação. Descontente com a situação, acionei a justiça, que emitiu uma decisão, no mínimo cínica, solicitando um laudo técnico a mim, dando a nítida impressão que nem haviam entendido a má fé dos envolvidos.

Não me dei por vencido, muito desconfiado da falha de projeto, pedi a uma pessoa que comprasse, já fora do período de pandemia, o mesmo blender. Algum tempo depois, o mesmo problema, o que em termos práticos, comprovava, pela recorrência do problema, uma falha de projeto, que exigiria inclusive uma ação de recall. Nada disso aconteceu, e por causa de um pequeno defeito, dois equipamentos caros, ficaram inutilizados.

Esse ano, diante desse impasse legal, moral e ético, num país sem lei, fui em busca de uma alternativa a garantia de meus direitos de consumidor, comprador. Retornei a loja da Barra onde o comprei, ainda havia um na prateleira, o vendedor me informou que seria possível comprar a base do mesmo, preços salgados. Entramos de imediato na loja, e produto aparecia como INDISPONÍVEL. Vim para casa, rodei por diversos sites, com as especificações, aprendi muito, mas somente hoje encontrei a base inteira, e não a peça defeituosa, está disponível para compra. Todavia, quase pelo preço do aparelho, uma verdadeira vergonha, que muitos chamariam de assalto, extorsão, prática cada vez mais comum no Brasil, a começar pelos impostos sem retorno compatível para a sociedade.

Fui a lojas físicas tradicionais em venda de peças, nada feito, a maioria só vende os copos que tal qual tela de celular, costumam quebrar. Resumindo, minha última Black Friday, parecia uma festa dos horrores em dia de Halloween daqueles bem pesados. Da próxima vez, vou convidar o Fred Kroger e o Frankenstein para me fazer companhia. Quem sabe assim, a Polishop e sua empresa terceirizada me respeitam?

A seguir transcrevo parte do atendimento desastroso da Zurich:
“1 – Comprei na Black Friday de novembro de 2019 o Liquidificador Blender da VIVA, a vácuo na POLISHOP. Como sabemos, a POLISHOP é inovadora, e traz seus produtos em sua maioria importados e com contratos de exclusividade. O ponto negativo é que se não forem duráveis, a manutenção é um risco transferido para o consumidor.
2 – Sabedor disso, adquiri uma apólice de seguro, oferecida no ato da compra, de uma parceira da POLISHOP, a Zurich. Paguei o equivalente a 1/5 do valor do produto, para uma GARANTIA DE 2 ANOS, após o exíguo período oferecido na garantia da POLISHOP de três meses. Me foi dito que se tratava de uma GARANTIA DE TROCA. Segundo a apólice que assinei, emitida pelo SISTEMA INTEGRADO no interior da Loja da POLISHOP da Barra da Tijuca, estaria protegido até 2022.
3 – No final do mês de janeiro de 2021, o equipamento de pouco uso e tratado com muito cuidado apresentou defeito. Inspecionei o Manual, onde normalmente se encontra a lista de assistência técnica para qualquer marca relevante no mercado brasileiro, e não havia nada. Procurei uma loja da POLISHOP e lá me foi dito que não havia uma lista nas lojas, que seria necessário ligar para o SAC.
4 – Localizei a NF-e e a Apólice, consultando os prazos, o assunto já seria tratado diretamente com a Seguradora Zurich. Informei meu CPF e número do Bilhete, quando fui surpreendido com a notícia de que eu não existia para o sistema da Seguradora. Ali já se caracterizava alguma falcatrua, dessas que exigem compliance ou uma auditoria mais profunda, uma vez que é impossível que um sistema emita uma ordem de pagamento, receba o valor de milhares de clientes e o cpf dos mesmos não existam. O atendente me fez informar item a item os dados de meu contrato. Após lhe comunicar meu espanto ao absurdo inaceitável, pedi a lista de Assistência Técnica, e o mesmo se negou a me dar, argumentando que somente após alguns dias de normalização da minha situação seria possível me atender. Em outras palavras A ZURICH ME IMPEDIU DE FORMA DOLOSA DE USAR MINHA APÓLICE, PAGA INTEGRALMENTE por ocasião da compra.”

UMA INTELIGÊNCIA NÃO TÃO ABERTA

Open Source pra quem? Open Data pra qual?

O bafafá envolvendo o assunto da moda em tecnologia recebeu o nome de inteligência. É de lá que surge a empresa mais valiosa em tão pouco tempo. A Open AI vale 80 bilhões de dólares. Ela não é tão nova – criada em 2015 – mas o seu braço integrado a investidores de peso é bem mais recente. Para quem era uma instituição sem fins lucrativos, dá pra afirmar que ela se desviou bastante desse caminho. Quem liderou essa mudança de rumo foi Sam Altman, recentemente afastado do comando, subsequentemente contratado pela Microsoft e responsável pelo motim de quase 90% dos funcionários de lá, que também querem ser contratados pela MS, que deve estar por trás das manobras para afastar o Conselho, que acaba de reintegrar Altman ao cargo de CEO.

Toda essa confusão coloca incerteza nos rumos do ChatGPT? Claro que não, claro que sim. Algoritmos capazes de por tentativa e erro, corrigir suas ações – o que chamamos de aprender – já existem faz algum tempo. Mas a questão disruptiva em torno dessa nova fase dessa tecnologia é a sua interligação com grandes massas de dados, e com isso assumir uma condição de supremacia preditiva. Foram etapas que levaram décadas, bancos de dados acumularam uma massa burra de registros, o Data Mining permitiu garimpar essas bases com algum conhecimento estatístico, traçar tendências, correlações, médias de ocorrências. A integração mais recente dessas bases de dados gigantes em centros de cálculo com alto poder de computação nos deram os Big Data. É nessa fonte que reside a inteligência computacional autônoma, que aprende a partir de uma realidade empírica.

A isso damos o nome de Generative AI. É esse sub-tipo específico de Inteligência Artificial que permite automatizar certas atividades até então humanas, e desse modo criar espaço para automação na produção de predições, criações, descrições, enfim do campo exclusivo de analistas e criativos. Ao aprender com tudo aquilo que fomos capazes de criar até hoje, as máquinas farão com isso, o que já fizeram com as partidas de xadrez, desde Kasparov: ganharão o jogo.

Mas não se iludam, o aprendizado feito a partir de premissas falsas, não leva a grandes revelações ou transcendência. A máquina, tal qual as crianças, para serem capazes de realizar feitos maravilhosos, precisam receber uma qualidade de dados que as oriente aos resultados que potencialmente podem alcançar, até mesmo nos superando pela que chamo de força bruta. O cálculo computacional atual é de tal ordem poderoso que já estamos, tecnicamente obsoletos. Um carro anda mais rápido que um homem, idem um avião, idem uma nave espacial. Esse é o cenário.

Voltando ao outro campo, a quem pertencerá esse manancial concentrado de poder? Nesse momento, apesar do simpático nome levar a palavra Open, sabemos que é uma tecnologia sensível para as grandes potências, e que até por isso, não será tão aberta assim, a começar pelas bases de dados que precisam alimentar tudo isso. Nesse ponto, empresas como o Google levam uma vantagem indiscutível.

O astrônomo dinamarquês Tycho Brahe coletou dados muito precisos sobre sistemas planetários, entregues a um dos melhores matemáticos daquela época, a quem coube, criar as leis de Kepler, 1609 e 1618. Desenvolver por décadas e no braço? Não será mais assim. O volume de dados armazenados sobre o Cosmos, a partir de sondas e telescópios como o mais poderoso deles, James Webb, se beneficiarão muito do que a Inteligência Artificial Generativa poderá fazer, e que ainda não sabemos.

O poder é tamanho, a ponto que diversos pensadores, Yuval Noah Harari, autor do excelente Sapiens, vem discutindo questões éticas pelas quais temos passado batidos. Em séries do Netflix, como Black Mirror – Episódio A Joan é péssima –  há um ótimo exemplo de situações inaceitáveis, que já estão acontecendo na prática, em escolas e com crianças e adolescentes. Não vai parar, os crimes de pedofilia, por exemplo, vão seguir para uma outro estágio de complexidade para rastreamento e caracterização.

Assim como assistimos acontecer na biologia com a clonagem de uma ovelha, e tudo que foi publicado sobre bioética para a seguir ser implementado como legislação, teremos que lidar com isso sob forma da lei, essa eterna retardatária, por força de sua função na sociedade, nada inventa, só regula, seguindo princípios atávicos. Isso, aliás, também vai mudar.

EVENTOS EM TEMPOS EXTREMOS

Event, Venue, Risk… Três palavras, e a reverência ao historiador Eric Hobsbawm, autor do livro A Era dos Extremos. Nossa época é banhada de confortos, por onde se infiltram as piores práticas, pela participação de minorias extremistas, que acreditam que o mundo deve ser talhado para os fortes. Na encruzilhada desse dilema, pelo menos duas vias se encontram no Oriente Médio. Os que planejam eventos para entreter, passatempos que alguns chamarão de burgueses, enquanto no underground se fabricam guerras. Diante das duas atividades lucrativas, qual escolher?

Quando o meio-ambiente é extremo, você pode estar saindo de casa para se divertir e acabar no cemitério. Na dúvida, a escolha do lugar passa a ser a caverna. O medo se espalha pelo espaço. Os animais, conectados com a natureza, sinais de alerta, mas também viram vítimas. Nós fomos cercados, e de várias formas, algumas são resultado da ganância e não irresponsabilidade de organizadores.

Nunca esquecerei do dia em que me dispus a levar a um show de Heavy Metal realizado no Sambódromo, duas jovens adolescentes, filhas de um grande amigo. No intervalo, a curva na descida da passarela da arquibancada do Sambódromo congestionou, a pressão aumentava com uma parte querendo subir e outra buscando descer. Coube a nós, gritar comandos que acalmassem os que ali estavam, buscando contornar a situação e evitar uma tragédia. Felizmente saímos daquela, com as mãos agarradas fortemente, umas nas outras, quase em oração. Meu único pensamento era salvar as meninas, e devolve-las vivas aos pais. Décadas mas tarde, encontrei uma delas, trabalhando ao meu lado, como fotógrafa da AFP, com uma blusa da NASA, em São Januário, fazendo a cobertura de uma partida do Vasco da Gama, durante a pandemia.

Em 2017 decidi não participar mais da cobertura no Sambódromo do carnaval carioca. A precariedade matou, e continua matando. A atitude durante e após os episódios trágicos dava a certeza do pouco caso dos organizadores. Escrevi sobre medidas a serem tomadas, quem sabe um dia. Não sem antes mais mortes pelo mal uso das pistas e dos carros impróprios ao espetáculo, máquinas mortíferas. O descuido, o despreparo, a ganância, o menosprezo pelo valor da vida está tão presente aqui, como lá. Mas o peso relativo é diferente. Em dia de Zumbi, a carne mais barata do mercado, ainda é a carne negra, não apenas no sentido literal do termo.

Em 2022 decidi interromper as atividades de cobertura esportiva in situ, para me dedicar a preparação rumo a outros desafios. A única exceção para entrada em estádios, a Taça das Favelas, pela mudança que essa iniciativa pode representar e o Jogo das Estrela, promovido pelo Zico, no Maracanã, contando com sua presença após uma cirurgia no joelho e a de um jovem a ser avaliado presencialmente chamado Endrick. Além da progressiva desvalorização da atividade profissional de jornalismo esportivo, pesou o quadro de violência sistêmica normalizado pelos organizadores. Não passou muito, mortes, mortes e mais mortes, foram sendo noticiadas, espalhadas pelo Brasil. As torcidas tornaram explícitas sua face aderente a criminalidade e o poder público cruzou os braços, para assistir de camarote.

Qualquer evento e seus lugares, implicam em riscos. No caso do entretenimento, cabe aos realizadores reduzir os riscos, a partir da identificação dos mesmos.

Imaginem vocês o efeito no valor das ações da tragédia de um show? O suporte comum em diversas versões do Rock in Rio, no que diz respeito a água em farta quantidade, é uma das questões sendo levantadas nesse momento, já na página Wiki da T4f. É curioso observar que não poucas vezes, falta água, mas nunca bebidas alcoólicas. E isso é uma questão de saúde pública.

Imaginem como afeta negativamente a imagem de uma artista do porte da Taylor Swift, a morte de seus seguidores em um evento seu, no Rio de Janeiro? Pelo visto, a cultura dos interesses, vai procurar sutilmente, “apagar” esses fatos na narrativa oficial da história da cantora.

Essa espécie de “coabitação” entre eventos de massa e risco é um tema ao qual me dedico a pesquisar faz décadas. No campo esportivo, musical, cultural entre outros, não faltam exemplos. Quem lembra do cantora pop Ariana Grande, no Manchester Arena, em maio de 2017, onde 22 pessoas morreram num atentado suicida. Os cuidados para a Copa de 2018 na Rússia foram redobrados, especialidade daquele país é a segurança e controle, fatores correlacionados as ditaduras. Por lá, ingressos, lugar marcado e identificação individualizada para cada torcedor, visitante no país, tal qual qualquer jogador em campo, antecedida de fichamento na polícia federal de lá.

Riscos dali, riscos daqui. Em 2009 foi a vez da Madonna sofrer com a morte de duas pessoas na queda do cenário de um show em Marselha. Esse ano mesmo, em maio, no Saqua Moto Rock 2023, enfrentei duas noites embaixo de água torrencial, na Praça do Coração, sendo que na primeira delas, não houve qualquer possibilidade da realização. Uma das coisas que é preciso saber, não vale a pena morrer por um espetáculo.

Quem pode falar com autoridade sobre o assunto é Azra El Akbar, de uma das famílias vítimas da maior Tragédia Natural do Brasil, em atuação como produtor de eventos, com o show desse final de semana cancelado, uma vez que o temporal arrastou toda a estrutura montada no Parque de Exposições do Município de Teresópolis. Nada se falou sobre isso na grande imprensa, que repercutiu somente o caso Taylor Swift. Após as declarações sobre devolução de valor somente para os que solicitassem até as 6 da manhã da segunda-feira, a empresa responsável teve que voltar atrás e declarar que é obrigada a cumprir a lei. Não espere das empresas benevolência, não são dirigidas por pessoas com esse perfil. E quando o foco é lucratividade, ainda que o valor a retornar represente migalhas perto do que se ganhou, o mindset da liderança é limitado ao lucro.

É de se esperar uma consciência, envolvendo novos protocolos na realização de atividades desse porte, que possuam entre outras coisas, parceiros como bancos e seguradoras, quando as coisas chegarem a esse ponto. Sem pessimismo, em algum momento acontecerá o prejuízo em grandes proporções, seja pelos valores investidos e ou volume de envolvidos, seja pelo aumento da instabilidade de nossa realidade. A análise de risco deve ir além do aspecto financeiro, mas abranger também perdas mais intangíveis, dessas que deixam cicatrizes.

 

A DOLARIZAÇÃO DA ECONOMIA ARGENTINA?

Lá estava ele, Chewbacca o peludo co-piloto, companheiro inseparável de Han Solo em Guerra nas Estrelas. Simpático, herói das Galáxias, não viu a Argentina chafurdar economicamente, tendo como seguidora o Brasil, nas ondas da hiperinflação. Resistente as fórmulas amargas e ainda acreditando em Papai Noel, na prática, teve sua economia dolarizada em caráter definitivo. Escapamos desta, sobrou a onda peronista e sua cartilha, que possui uma série de virtudes das conquistas passadas, mas defasada no enfrentamento de um cenário bastante distinto.

Nesse exato momento, os 99,28% dos votos computados são suficientes para dar a vitória de mais um candidato de perfil “anti-sistema”. É preciso ter claro, o nível de saturação da sociedade diante das categorias simplificadoras de análise direita-esquerda, surge uma proposta de campanha radical, a de extinção do Banco Central. Tem sido assim pelo mundo.

O ano de 2024 nos aguarda, com as maiores eleições democráticas do planeta, peso para os EUA e a de maior número de eleitores, a da Índia. Já pelo lado das eleições sem oposição, de ditaduras de fachada, teremos a Rússia como contraponto referendando seu Neo-czar.

A economia da Argentina, nosso 3o maior parceiro no Comércio, já é guiada pelo dólar. Sua inflação corrosiva do poder aquisitivo da população, guia todos para alguma forma de proteção, o dólar americano é uma espécie de tábua de salvação. Por ocasião do Plano Cruzado, havia acabado de assinar meu primeiro contrato de trabalho, na Era Funaro e Plano Cruzado de 1986. Resumindo aos senhores, congelamento de contratos e salários, como forma de desacelerar a inflação. Na época, alguns economistas de projeção daquela geração, Pérsio Árida e André Lara, propor a teoria da moeda indexada. Não apenas compreendi a proposta, como a apliquei na negociação do meu contrato. Não aceitei o congelamento e a perda que ele aplicava aos meus rendimentos, como comecei a distribuir meus panfletos, considerados ofensivos a Instituição na qual trabalhava.

Fui demitido, mas pude viver para ver a ideia rejeitada no Governo Sarney ser adotada por Itamar Franco, num dos poucos momentos em que uma solução acadêmica bem desenhada, encontrou uma forma de preservar o valor de uma moeda qualquer em circulação. De certa forma, não é diferente na Suíça, com sua moeda sempre muito “colada” ao dólar americano. É fato que por aqui deu certo, embora outros problemas tenham sido embutidos – não falarei deles aqui hoje – envolvendo a expansão de endividamento camuflado por crédito e limites de inadimplência, e geração de bolhas.

É impossível não lembrar dessas questões, que trago de minha passagem pela Fundação Getúlio Vargas e das horas dedicadas ao tema, e não olhar para aquilo que se vê hoje na Argentina. Só posso dizer a Los Hermanos que temos gente com um alto grau de conhecimento e bem sucedida nessa questão, e que a extinção do Banco Central pode até ser útil na retórica, tal como Sarney fez ao romper com o FMI no caso da Moratória. Foi um erro de aprendiz.

Esperamos que 40 anos depois, não se repita o mesmo erro, pelas mãos do nosso parceiro, que se não é uma anta, deve ser olhado como uma virgem inexperiente – só que no poder – nesse locus, onde habitam as putas e raposas velhas.

Por aqui, o fato concreto é que a população continua recebendo em reais e pagando contas em dólar. Com direito a extorsões governamentais, os impostos adicionais de 30% de tudo que importamos sobre-taxado. Receber em dólar, com redução de impostos transferiria mais benefícios a quem trabalha e as empresas. O real está desassistido nos seus reajustes, calcule o seu IPCA pessoal e depois me diga.

 

O PARAGUAI É AQUI

Abri a edição de novembro da revista Money Week, e encontrei esse desenho simpático, sobre coisas que estão fora dos trilhos, ou sem trilhos, ou desgovernadas. Os impostos abusivos escondem a escrotidão estatal. Mas isso não é tudo, pois temos que enfrentar os efeitos de toda a ineficiência, desse que é um dos fatores retirando a competitividade da nossa indústria. Não sendo o bastante, produzem uma brecha, aproveitada pelos países vizinhos. O caso dos cigarros que chegam ao Brasil a partir do Paraguai – para serem vendidos no mercado informal – com preços mais atrativos já é coisa do passado. O Paraguai veio parar aqui.

Esse mercado, criou uma oportunidade para desenvolver uma estrutura mais eficiente do que essa: transformar o Brasil no Paraguai. E assim, a capacidade inventiva de alguns, criou em diversos estados brasileiros, fábricas de escala industrial, com funcionários paraguaios, em regime de trabalho escravo. Tudo isso, fruto da insistente mania do governo, de abocanhar valores estratosféricos, daquilo que é produzido no país.

A competitividade informal, a importação de produtos mais competitivos e de igual valor, são consequência dessa ganância burra do estado e de sua política de tributação, nesse momento maquiada de “menor número de siglas de impostos”, que na prática pode ser até que aumente a carga tributária. A escrotidão não tem limites e fabrica passo a passo, o Brasil com cara de Paraguai, internalizando uma identidade irreversível de precarização e irregularidades.

Abençoando essa tradição, numa falsa defesa dos pobres, enfermos, vulneráveis e oprimidos, assistimos sem nenhuma comoção, um padre, afanando recursos públicos, pra comprar bebidas importadas e imóveis, na ordem de 25 milhões de dólares. Passando a régua e anotando devolução, vai ele, enchendo o bolso de dinheiro, tal como fazem aqueles que seguem enganando a nação.

Essa Reforma Tributária é uma enganação, uma cortina de fumaça, mais do mesmo, que talvez até impeça uma radical mudança de mentalidades em torno desse campo extorsivo, que coloca o brasileiro entre a falência e a criminalidade. Nem arranha a necessidade urgente da redução da carga de impostos e o aumento de nossa competitividade no cenário globalizado.

LIVROS CENSURADOS E AQUECIMENTO GLOBAL

Sou morador de uma cidade em risco. Sob muitos aspectos, a Cidade do Rio de Janeiro, conhecida pelas praias e sol, é um lugar que enfrenta perigos produzidos nos últimos dois séculos. Um deles é o risco climático. Chegamos no dia de hoje a uma sensação térmica de quase 60 graus Celsius,  esse senhor, outrora chamado de centígrados que pouca gente sabe exatamente o que significa. Já não resta dúvida de que falaremos mais dele, por conta de mortes multiplicadas por cinco, além de AVC’s e queda de produtividade em geral. Resta saber qual a parcela da população está mais vulnerável, e vai morrer. Também não adianta reclamar do desgaste e do “chinelinho” dos atletas que jogam por aqui. O Maracanã não tem ar condicionado, como no Qatar.

Impedir o acesso a informações sobre a agenda “Environmental, Social, and Governance” (ESG) é assumir a relação de conflito e lobista de setores que dominam a economia atual, baseada em combustíveis fósseis e armamentos, binômio vencedor. Não podemos cair nessa, sendo um país de natureza abundante. Deixemos os desertos para os outros e vamos liderar o repovoamento de nossos BIOMAS.

É fato que o homem dominou o fogo, e que…

queimar livros é uma prática comum e antiga, entre conservadores do status quo. Conhecimento nunca foi bem visto, menos ainda para se disseminar. E isso é um entrave enorme para as mudanças. Num mundo onde é bastante possível encontrar pessoas que nunca ouviram falar nas tramas de ficção de Sherlock Holmes – mesmo depois de adaptações para o cinema e séries – vivemos esse impasse. Sempre disse aos meu pares da comunidade científica que tão importante quanto “descobrir a pólvora”, é fazer com que essa descoberta chegue até a vida, e ao alcance do cidadão comum.
Um desafio e tanto, a julgar pelos obstáculos.
Tenho acompanhado um movimento em expansão, no que diz respeito a uma parcela crescente da população que não assiste mais TV, a não ser para ver novela ou futebol. A realidade está tão bad vibe que a carga emocional e o desinteresse acaba sendo admissível. Muita coisa de excelente qualidade e com validação científica, bem produzida, com formatos confiáveis e consolidados são conteúdo de utilidade pública. Como ser contra um Globo Repórter que anuncia o tratamento de glaucoma, catarata e doenças dos olhos, e seus últimos desenvolvimentos e medidas para salvar o direito a tratamentos para quem nem sabe que ele existe? O formato superficial de circulação atual, que já foi o Orkut, hoje é o WhatsApp e um pouco das vitrines do Instagram.
Chega a ser estranho como pesquisas são noticiadas nos jornais, muitas vezes contraditórias e de um mesmo grupo editorial, ou seja, ideologicamente alinhados. Fui surpreendido com a notícia de uma quase totalidade de brasileiros cientes do aquecimento global, mas sem dar a esse assunto uma priorizada. Essa interpretação pode levar a diversas conclusões, e uma delas, não citada, é que temos urgências muito anteriores a pauta ambiental, entre elas a violência, a desigualdade social, e diversas vulnerabilidades que antecedem a morte por temperaturas altas.
Para o povão, o assunto é de longo alcance e muito abstrato. Não é por serem “individualistas”, mas por terem demandas pontuais imediatas, tais como pagar as contas no final do mês.
Sem o básico não vamos. Numa cidade como o Rio de Janeiro, o que será objeto de conversas entre moradores? O incêndio de 38 ônibus públicos ou os 60 graus de sensação térmica? Os desastres naturais que se espalham do Oiapoque ao Chuí não são tão palpáveis, quanto a insegurança, a impossibilidade de ir e vir e a deficiência no transporte público.
Mas é certo que a educação mais elevada gera um maior grau de responsabilidade cidadã para com o Meio-Ambiente. E nesse caso, os livros são parte indispensável para que esse processo aconteça no grau mais elevado possível.
Nesse ponto me chamou atenção a recente decisão do Conselho de Educação do Estado do Texas, que literalmente censurou a maioria dos livros sobre Mudanças Climáticas. Dos 12 textos de natureza científica, apenas 5 foram aprovados pelo Conselho, composto por 15 membros. É indisfarçável, não é a primeira vez, que a Ciência sofre com a censura. Diga-se de passagem que o pai da Ciência Moderna, Galileu Galilei, teve sua obra proibida para publicação, além de ter sido obrigado a se retratar quanto as suas descobertas, sob pena de morte. Por sorte, era amigo do Papa, se safou. Sua obra teve que esperar algum tempo para só então ser publicada.
A censura a todo e qualquer artigo científico, validado por sua comunidade, pelos pares daquele campo do saber é uma ignorância alinhada com verdades absolutas. Não podemos seguir com melhores práticas sem as contribuições e métricas que a ciência nos oferece, para apoio a tomada de decisão. E isso é válido também no âmbito dos rumos da sociedade, que só será plenamente imune as fake news se tiver seu nível educacional e padrões de vida minimamente dignificados.
O livro, já é um material censurado, porque em extinção, dado que não corresponde mais ao meio principal de acesso a informação e aprendizado. Agora, promover a censura explícita de livros, usando mecanismos institucionais é equivalente a proibir o uso da bíblia e sua comercialização. Retrocesso, era das cavernas, obscurantismo.
Fora isso, é acreditar nas escrituras e no apocalipse com o fogo do inferno nos queimando a todos. Por favor, não vamos nos precipitar, não precisa ser agora…

A ÁGUIA, O DRAGÃO E LOS HERMANOS

Falta pouco para as eleições na Argentina, onde os humores mudam com uma derrota em casa para o Uruguai e promovem os desejos mais sombrios para uma partida de revanche, logo a seguir, contra o Brasil. Mas só no futebol. Nas relações comerciais, nossos vizinhos são o terceiro maior parceiro. A torcida para que recuperem-se economicamente passa pela crença de que se os três maiores em nossa base de trocas estiverem bem, estaremos melhores.

Os EUA e a China possuem os dois maiores PIB’s do mundo, com larga distância para o nosso. A belicosidade entre essas partes não nos beneficia, embora alguns acreditem, sem olhar para as trocas comerciais, que o Brasil deveria tomar partido nessas briga de cachorros grandes da geopolítica. Usar esse discurso, sobre nossa relevância no cenário internacional, funciona perante eleitores e militantes, produz votos. É a mesma coisa em outros países. Alguns se esqueceram das vantagens do ganha-ganha e partiram pra destruição.

Uma série de veículos de comunicação – CNNBloomberg e Reuters, se limitaram a falar sobre ao que chamarei aqui de agenda de retomada. Afinal, depois dos balões espiões chineses e a viagem para vender armas em Taiwan, o caldo, que já não estava ralo, engrossou. Se dermos alguns passos atrás, vamos ver casos envolvendo empresas de TI, como a Huawei e Tik Tok, objeto de comoção entre americanos, além das ameaças de boicote em bloco liderada pelos EUA, caso os chineses comprassem petróleo dos russos e iranianos, e principalmente a demonização promovida no período da pandemia. Foram dias difíceis, com narrativas a deixar de boca aberta até mesmo os adeptos de filmes pornôs, no estilo garganta profunda.

Numa conversa em São Francisco, Califórnia, já não era sem tempo, as arestas parecem estar sendo aplainadas. A necessidade de troca de informação entre os responsáveis pelas ações militares, que haviam perigosamente sido interrompidas parece que voltarão a acontecer. E Taiwan, assim como Hong-Kong, cairá cedo ou tarde nas mãos dos que se consideram seus legítimos donos, com ou sem venda de armamentos americanos, com ou sem produção do chip de uso militar mais importante para a guerra tecnológica. É claro que o Irã e sua influência na questão em curso hoje no Oriente Médio não foi esquecido.

É com sabor de vingança que os chineses assistem de camarote a venda indiscriminada de opióides nos EUA, cujo governo vem lutando para interromper. A China, que já foi vítima desse veneno, por ocasião das duas Guerras do Ópio, a primeira, liderada pela Inglaterra, que obrigou o comércio em portos chineses e a segunda, que resultou na legalização do ópio em território chinês. Certas tragédias se repetem na história humana. O fentanil, vem sendo responsável por mortes por overdose em uma escala nunca vista nos EUA. O pedido para que o governo chinês apele para que sua indústria de fármacos não forneça ao mercado americano é visto com olhos puxados, aparentemente humanitários. A frase de Biden parece ter saído de uma variação bíblica da célebre “orai e vigiai”, quando diz “trust, but verify”.

Os galhos mais fracos dessa resenha, envolvem um jogo de cena em torno das bandeiras democracia é melhor que ditadura, e Xi comanda um regime ditatorial, ou assuntos de interesse para os negócios nas frentes de comércio, agricultura, mudanças climáticas e o assunto da moda, inteligência artificial. Aliás, esse último assunto nos faz voltar as eleições na Argentina, onde um dos candidatos vem utilizando intensivamente esse recurso, muito mais econômico, pois dispensa mão de obra e automatiza tarefas, outrora realizadas por humanos. É assim mesmo, houve uma época em que eram necessárias telefonistas fazendo manualmente o papel da comutadoras, para que as pessoas pudessem se comunicar. E as telefonistas que faziam isso, foram substituídas por placas com circuitos eletrônicos.

Ficam alguns avisos para o Brasil. Toda agenda negociada entre esses três países, na forma de acordos bilaterais, nos afetam diretamente. Mudanças climáticas e agricultura em particular. Não custa lembrar que foi numa dessas rodadas de negociação internacional que entramos pelo cano no setor têxtil, hoje completamente sucateado em nosso país, de forma irreversível.

 

EXTREMOS AMEAÇAM A SAÚDE E NEGÓCIOS NO BRASIL

Saúde, Economia e sobrevivência. Interligadas, mas necessariamente nessa ordem. Foi essa a orientação dada pelo Fundo Monetário Internacional aos Governos de todo o mundo. Salvar pessoas e salvar empresas. Alguns inescrupulosos, gozando de privilégios e sabendo que não faziam parte do grupo de risco, decidiram inverter essa lógica, negligenciando o valor da vida, dos outros. Passado esse momento planetário, explicitado porque pandêmico, é preciso olhar para a nossa realidade predatória. Os conceitos adotados secularmente no país, desde colônia, é essencialmente predatório, no sentido de que destruir para enriquecer não é crime.

O aquecimento local é bem diferente de discutirmos de forma genérica, os prejuízos ao planeta. Diferentemente de países como os EUA, que dispõe de excelentes diagnósticos para cuidar do seu umbigo, a missão do Brasil é bastante difícil, não possuímos massa crítica para adotar a complexidade de ações na direção da melhor estratégia para a nossa sociedade. Recentemente publicamos um artigo sobre desertificação, uma espécie de nota inicial sobre esse desastre.
Alguns anos atrás, assisti uma reportagem sobre como idosos nos EUA utilizavam a estrutura de Shopping Center para fazer caminhadas sem correr riscos de vida, nas temporadas de alta temperatura. Muito tempo antes, usei a estrutura dos Shoppings para fugir do calor e economizar na conta de luz. Considerando que as luz elétrica nesse momento está sofrendo aumentos acima da inflação de 6% do ano. Quem poderá pagar? Impossível no Brasil, sobra para os mais pobres e para os mais espertos a opção do chamado gato.
Numa outra frente de batalha, vemos o aumento vertiginoso do preço de aparelhos para reduzir o sofrimento. O ventilador e o ar condicionado ficaram muito mais caros. Em poucos anos, saímos de uns 200 reais por um ventilador de teto, para números estratosféricos, de até 1.500 reais. Como enfrentar esse monstro sem políticas públicas que incentivem a fazer a coisa certa, aumentando o nosso cinturão verde, ao invés de destruir nossa principal riqueza, vantagem, meio de vida na economia global.
É certo que as projeções atuais falam de 5 vezes mais mortes por causa do aquecimento. É claro que na medida em que nossa população segue envelhecendo a toque de caixa, teremos mais vulneráveis a essa ameaça real. A proteção ao idoso é indissociável a proteção das condições do meio-ambiente.
Nossa agricultura potente, passará por apuros só vistos nas pragas citadas em capítulos da Bíblia, tamanho serão os desacertos. O arroz precisa de água na hora certa. Se não acontece, não haverá a formação do grão, por exemplo. O agricultor sabe disso e deveria estar preocupado já faz algum tempo.
São muitos os efeitos para todos, o precipício está apontado para um país que pouco ou nada fez, estruturalmente para modificar nossa matriz de prioridades, rumo a uma sustentabilidade de fato, que vá além das propagandas de governo, invariavelmente passando panos quentes no gelo seco.
Os frequentadores que leram Dante, o inventor da primorosa escala literária, envolvendo céu, purgatório e inferno, sabem do calor descrito pelo escritor, que nos inspira a imaginar, sem nunca ter pulado uma fogueira, ou enfrentado um incêndio. A espécie humana é homotérmica, como de resto todos os mamíferos. Um idoso me perguntou porque se morre de calor, e lhe respondi que todos sabemos que o limite da passagem da sanidade ao delírio que precede a morte, é a temperatura de 39 a 40 graus. Imaginem então os senhores, um corpo vivo, que funciona no limite, nessa faixa, encarando uma temperatura cuja sensação térmica é 58 graus?
Morte anunciada, do idoso, da economia, dos botos nos rios, das plantas em seus habitats que levaram sabe-se lá quanto tempo para chegar a uma certa estabilização. O Brasil é mais vulnerável a esses desequilíbrios, por ser mais natural, sem grandes avanços artificiais e bloqueadores de desastres extremos, frutos dessa destruição do nosso maior valor.
Instituições de pesquisa valiosas, como o INPE, que fornece de alguma forma seus dados para a imprensa, deveriam assumir parte de suas responsabilidades para além da produção científica e dispor em seus quadros de especialistas em disponibilizar informações diretamente a população em geral, escolas e lugares onde essa consciência pode ajudar.
A falta de um trabalho mais voltado para interlocução interna, em lugar do diálogo com os pares relevantes do exterior não é a melhor forma de mudar o que se dá aqui. Dá mais prestígio, mas o desafio está entre nós. O Observatório do Clima, é um exemplo claro disso. Qualquer um sente-se mais bem servido de formatos informativos no site da World Meteorological Organization, do que nas presentes entre nós, um descompasso a ser acertado.

Já vivemos no cu do mundo – acreditando que somos sua boca “autofágica” – quando o mais provável é que se o inferno tivesse cu, esse seria o vulcão Nevado del Ruiz, quando é mais provável que seja aqui.
Tragam os termômetros.

IN THE NAME OF MERCY GIVE

O poster realista “In The Name of Mercy Give“, de Albert Herter retrata bem a falência de valores que deveremos enfrentar sem medo. A arte e a política se comunicam, a propaganda e os panfletos, informação e intenção. A misericórdia não anda em alta nesses tempos sombrios. É preciso reconhecer isso, para a seguir atuar, de alguma forma, evitando o que chamo de “alinhamento automático”, muito comum no gado político, legião de seguidores das palavras de ordem. Prefiro recorrer a história.

Foi difícil costurar acordos e regras para ações de guerra. Nunca foram cumpridas, em tempos de guerra. O esforço diplomático para reduzir os impactos de uma guerra na vida das pessoas comuns é praticamente um pedaço de papel, uma promessa sem lastro. É um privilégio conhecer quem estava lá, na Convenção de Genebra, lidando com potências militares, que decidiriam sobre as regras do jogo para lidar com a proteção de civis em tempos de destruição.
Observando a uma certa distância o que vem se passando em áreas de conflito – que são os principais mercados para os fabricantes da indústria de armamentos – fica claro o desprezo pelos inocentes, esses que pagam o pato, o justo que paga pelo pecador, o que recebe a bala e o míssel perdido, quando não a bomba atômica.
O caso apresentado em detalhes por Claudio Savaget não deixa dúvida quanto ao grau de atrocidades com que convivemos: saber que num conflito assimétrico, o Timor-Leste perdeu 25% de sua população e o massacre do cemitério Santa Cruz, é um exemplo do que a desumanidade é capaz, e de como essas lições precisam urgentemente servir para intervenções no presente, em conflitos am curso atualmente e em futuros, de maneira mais preventiva. A essa altura do campeonato, não se pode ainda ser favorável ao lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, transformada em canção de Vinícius de Moraes, na voz de Ney Matogrosso.
Conflitos com raízes externas, provocados por disputas geopolíticas entre potências, já afetaram nações com alguma unidade cultural, como foi o caso da Coréia Norte-Sul, Vietnã ou mesmo Alemanha Oriental-Ocidental. É quase inacreditável, que os assuntos da atualidade sejam tratados pelos noticiários apenas como fatos pontuais, sem a devida vestimenta histórica e crítica.
Ao resumir as narrativas em bolhas informacionais, perdemos a oportunidade de evoluir no entendimento amplo de um mesmo problema, que afeta a todos os moradores de lugares onde a polarização cria o terreno fértil para desertos democráticos e ditaduras armadas, aliadas de fabricantes da escalada na venda de armamentos.
É assim que se impõe uma lógica de poder, capaz de ignorar e na prática extinguir as 4 Convenções de Genebra, adotadas – pelo menos parcialmente e no papel – por 196 países signatários.
O adeus a atuação da Cruz Vermelha, pude assistir na prática, em Teresópolis, na maior Tragédia Natural do Brasil, pelas mãos de um Prefeito inescrupuloso, tanto quanto milhares de políticos hoje em atuação.

Estes não leram e nem sabem da existência dos princípios associados a misericórdia, jamais considerarão “as condições de feridos e doentes das Forças Armadas em campo de batalha ou no mar”, as “condições de tratamento a prisioneiros de Guerra”, bem como as “condições de proteção a civis em Tempos de Guerra”, previstas na Convenção de Genebra.
Os mandatários das guerras e demais conflitos em curso pelo planeta, não seguem regras, pois se instaurou a barbárie como prática. Na prática, burocratas denunciam a situação, mas nada podem fazer. Os casos de maior evidência, envolvendo Ucrânia-Rússia e Palestina-Israel são exemplos explícitos da carnificina.
Na prática, a Convenção de Genebra foi extinta.

DESENVOLVEDORES DA MAÇÃ À VELOCIDADE DA LUZ

Matéria, tempo, espaço. Os recursos escorregam pelas mãos. Cabe aos desenvolvedores a otimização. Fazer mais com menos exige pelo menos algumas unidades de medida, as chamadas métricas. Quero falar delas da perspectiva do custo de aquisição do conhecimento. Pouco tempo atrás, fui fazer passaporte, obter visto e preencher formulários, afim de participar de um evento presencial para desenvolvedores no lugar destinado pela Apple. Tudo isso custava muito tempo e dinheiro.

Durante a pandemia, a empresa se reestruturou e tomou decisões para garantir que o sangue continuasse circulando pelo corpo da organização, no caso o conhecimento. A Apple abriu as porteiras para que qualquer desenvolvedor, em qualquer parte do mundo, pudesse participar. E isso, sem cobrar sequer a assinatura anual. Em termos corporativos, foi uma micro-revolução. Passado o período de exceção, a empresa avança. Esse ano realiza essa mesma bateria de treinamento para desenvolvedores, com palestrantes distribuídos em diversas bases – são vinte cidades envolvidas com traduções ao vivo para 9 idiomas, inclusive português – tornando o evento um carrossel de 24 horas, ao longo de mais de um mês.

Aproveitei a bonde e me inscrevi naquilo que me interessava, tirando ainda uma casquinha para fazer uma avaliação comparativa, entre palestras semelhantes, conduzidas por diferentes palestrantes. Uma vantagem decorrente desse esforço foi descobrir que numa apresentação de 1 hora, tendo respeitado a prioridade do tempo para perguntas específicas, em cada região as perguntas são diferentes, o que na prática torna o material pelo menos 50% inédito, pois as respostas distintas entre Sidney e Cupertino, por exemplo enriquecem a dinâmica.

Navegar a essa velocidade da luz para interagir com pessoas diferentes, com esse grau de simultaneidade é um sonho antigo que cultivei para um negócio inovador no campo das festas. Lembro-me até que a NOKIA, nos seus melhores dias chegou a fazer na região do Boulevard Olímpico algo do gênero. A tecnologia está aí, agora bem mais robusta e facilitada, basta que exista networking e organização espaço-tempo, pra juntar todo mundo e fazer o que quiser, literalmente.

A experiência que realizei começou com a inscrição para 3 eventos, nos dias 8 e 9 de novembro, situadas em São Paulo, Sidney e Cupertino. Ainda confuso em relação aos fusos e de que horários a publicação no mural de avisos tratava, era necessário estar seguro para não pagar mico. Nisso o nível dos envolvidos e as ferramentas pouco ajudam, pois nesse nicho de pessoas, todos são internacionais.

Os três assuntos em questão, de interesse a toda e qualquer pessoa envolvida com produtos pouco conhecidos e montagem de vitrines nas lojas de aplicativos. Como fazer para que o meu aplicativo possa obter melhores resultados de vendas. Novas técnicas estão em curso, à velocidade da luz. Já não basta desenvolver e colocar na prateleira. A vitrine é concorrida, com milhões de outros produtos, dificultando a visibilidade do seu item. Um dia corrido, assisti das 22 as 23 horas a apresentação feita em Sidney, sabendo que os outros temas seriam repetidos nos próximos dias. Inaugurava ali minha 1a participação interativa, me limitando a não fazer perguntas, apenas como ouvinte. A ferramenta de interatividade utilizada para essas video-conferências é o Webex, equivalente a dezenas de outras que se espalharam pelo mercado de LIVES, ao longo da pandemia.

E tudo isso já não custa tanto dinheiro. Se alguém por aí se der ao trabalho de calcular o CUSTO DE AQUISIÇÃO DE CONHECIMENTO, verá que o maior obstáculo a esse acesso é a infraestrutura tecnológica. Desde a indispensável internet de alta velocidade – que insiste em nunca chegar nas cidades do interior do país – até as próprias máquinas, que desde a equivocada política de taxação alfandegária, torna produtos importados, hoje 30% de nosso consumo interno, proibitivos. Ao menos para o desenvolvimento de inteligência interna do país, exige mudanças tributárias bem diferentes das que temos assistido.

Há focos de resistência, mas apenas entre os bem nascidos. E isso não é suficiente para alcançarmos uma massa crítica expressiva, tal como em países intelectual e tecnologicamente desenvolvidos. A criatividade de nicho não é suficiente para internalizar conhecimento concentrado no estado da arte, mesmo que disponibilizado da forma como temos hoje.

A segunda etapa de minha experiência foi mais exaustiva. Começou as 22 horas do dia 13 em Sidney, com Jake White e terminou em Cupertino, as 16 horas do dia 14 de novembro com a Meghana Muppidi em um trio feminino, devidamente cenografado com fundo virtual identificável, porque idêntico para ela e sua parceira de cena, Melissa Manser.

Seguindo a cultura de padronização anglo-saxônica, as palestras idênticas dispõem de tradução nos idiomas acima citados. A tradução feita em tempo real, por máquinas não é perfeita, mas com índice de acerto muito alta. O conceito apresentado sobre o que chamarei de embalagem dos aplicativos não é novo. Qualquer prateleira com um produto embalado de duas maneiras diferentes, pode medir o efeito da embalagem nas escolhas de quem visita um supermercado, por exemplo. É uma analogia válida, que explica o porque um desenvolvimento de interface mais lúdico e direto pode aumentar em 42% as vendas e downloads do app da CBS Sports.

Essa aclimatação é apenas um degrau para a pesquisa sobre um novo degrau: o Apple Vision Pro, que se diz o 1o “computador espacial” da história. Seja lá o que isso signifique para você, falaremos dele ainda esse mês, trazendo uma visão menos romântica do que as propagandas oficiais. O acesso ao equipamento em laboratórios é reservado a desenvolvedores assinantes.

CLUBISTAS, FUTEBOLISTAS E O ESPETÁCULO

Você certamente ainda não deve ter pensado sobre a diferença entre um clubista e um futebolista. Não se precipite nas conclusões…
Além de já ser velho o suficiente, para não ter que alimentar o desejo profano, pela compreensão dos mais novos, consegui quando criança, conviver com pessoas bem mais velhas do que eu. Guardo a sete chaves, no fundo do coração, essa vantagem.

Os valores desses antigos, certos ou errados, que não podem ser esquecidos, as frases e vivências absorvidas num contato direto são intransferíveis, devem ser preservados numa nova bíblia, alcorão, gita, que chamarei aqui de Livro da Humanidade. O lugar onde as vidas são registradas, para posteridade, e dessa forma se promova o que hoje é exclusividade de apenas algumas religiões. Precisamos de livros atualizados.

Já não ouço aqui o arranhado da gravação do Nirvana, já que a companhia é a edição “Super De Luxe” de In Utero, em sua faixa Radio Friendly Unit Shifter, de um show ao vivo em Los Angeles. E o Spotify ainda não reproduz vinil, tampouco os computadores alcançam a pegada analógica dos equipamentos antigos. Distorções ausentes, tenho a sorte de imagina-las com base nas que ouvi. É assim que venho fazendo com o futebol e sua relação com o entorno, com multidões com que trocamos impressões.

Foi sentado ao lado dos torcedores bem mais velhos que eu, das mais variadas torcidas, que aprendi sobre porque eles sempre preferiam estar lá. Indo direto ao ponto, o prazer proporcionado pelo espetáculo, o aspecto futebolístico, a presença do gênio, do craque, desse que desapareceu das praças locais brasileiras. Os torcedores que viram o lugar onde o Maracanã foi construído, já estavam conectados aos jogos, que antes eram das corridas de cavalos.

Foi ideia do flamenguista Mário Filho – daí o nome do Estádio ser o seu –  irmão do gênio tricolor Nelson Rodrigues, a quem lia no Jornal dos Sports – de distintiva coloração rosa – que nasceu a insistência para a construção do estádio, num terreno onde já existia o Derby Club. Os que se derem ao trabalho de pesquisar, vão achar estranho que um Centro Veterinário do Exército tenha dado origem ao Museu do Índio – justo aquele que no Governo Sérgio Cabral tentaram demolir – porque aqui é assim, patrimônio histórico e meio-ambiente, o negócio é passar o trator.

Naquela época, torcedores saíam de suas casas para ir ao Maracanã todo domingo, chovesse ou fizesse sol, assistir craques jogarem. Era essa a motivação principal de seu lazer de final de semana. Levar pra casa a certeza de ter visto um espetáculo. Chamo a esses de futebolistas. Minha definição de futebolista: todo aquele que aprecia no esporte a beleza, a performance, a genialidade a ser praticada por alguma equipe ou atleta.

É claro também que o clubismo está na base. Toda história de desenvolvimento social, do esporte do lazer, da educação e do entretenimento, passa pelos Clubes criados em cada bairro, com a intenção de atender os sócios, normalmente moradores mais próximos. A degradação dessa relação, com a transformação do futebol num esporte de massa, e toda a violência decorrente, pelos excessos em curso, sob o pretexto de amor pelo clube, indicam a necessidade de correção de rumo com tolerância zero a essa distorção, que retira as famílias desses lugares.

Não existe portanto uma forma pura de torcedor, seja 100% clubista ou 100% futebolista, mas uma mistura de um pouco de cada coisa, numa proporção que varia, com a idade, com a situação do clube e com a cultura de época. Repito, creio que devemos rever a história para reaprender lições deixadas para trás, e que fazem parte da nossa escola de futebol. Um futebol criativo, de dribles, de objetividade e ímpeto na hora certa. Sem o futebol arte, deixamos de ser uma potência no mundo do futebol.

Dito isto, abro um parênteses. Suárez é o maior matador de sua época. Independentemente do time pelo qual você torce, quando tiver um jogador desses jogando, corra e compre o ingresso. Ser clubista, torcedor, nos termos do que assistimos hoje, é uma ameaça ao futebol arte, aquilo que o Brasil ensinou até o Tri de 1970, e ainda foi assimilado por quem veio um pouco depois, pra virar o que temos hoje, essa obrigação de cultuar estrangeiros, por falta de locais atuando diante de nossos olhos, e que só podem ser vistos pela TV, jogando na Europa.

A história de Suárez é marcante, passa por quase dez anos de futebol pelo Brasil, pois foi a partir de sua performance e nefasta mordida em na Copa do Mundo de 2014 que seguiu para formar um dos trios mais letais da história do futebol moderno, no Barcelona de Messi e Neymar, o que já faria merecer um livro. As últimas páginas em solo gaúcho soam até inacreditáveis para os mais apaixonados. O Grêmio conseguiu trazer aprendizado senior para suas fileiras.
Por essas razões e pelo bem do futebol, faremos.

A ÚLTIMA MÚSICA…

Não sei porque, lembrei do Último Tango em Paris, dos últimos, do último suspiro. A morte que persegue os vivos-mortos. As perseguições implacáveis, em busca, ao fim e ao cabo de força, do nada, enquanto ele ainda vale alguma coisa.
O circo, a exibição de números e demonstrações de excepcionalidades. Cantadas por The Doors, People Are Strange, o domínio midiático é dos bizarros, fórmula mágica da viralização, longe da genialidade, basta o golpe abaixo da linha da cintura, o vale-tudo, a bomba atômica, o sétimo selo, as cabeças decepada de crianças, as hediondades dominando um pó de terra saturado.
A banalização a todo custo vai arrastando a linha média, inevitável destino, equação resultante da repetibilidade padronizadora, lucrativa e animalizante.
A poesia já não habita entre nós, deixaram a cargo do programa de I.A. a árdua tarefa de extrair com nitidez a voz do John, do barulho inconveniente do piano. Na prática, transformaram em serviços prestados aquilo que poderia se transformar em mais um imbróglio de direitos autorais, de uma releitura da música, feita por alguém, vivo.
Era uma música chamada Now And Then. Era, é, ou passou a ser?

Vivo morto, nas entranhas das placas e circuitos do computador visual, em que minha visão se tornou. Fecho os olhos e vejo, não mais um puteiro e seus cheiros e texturas. É que trocaram as primas e os gastos por cenários indecentes, pela versão digital, em forma de avatares, que nesse momento substituíram os atores de Hollywood e arriscam demitir todos os roteiristas dali, por uma teclada no ChatGPT.

A poesia está morta.

A DESERTIFICAÇÃO DA AMAZÔNIA

Chegamos lá? Claro que não. O mundo segue lógicas suicidas. A informação de que essa semana vivemos a temperatura média mais alta do mundo, dos últimos 127 MIL ANOS. Do ponto de vista geológico, esse período não representa absolutamente nada. Mas a extinção provocada por uma espécie supostamente inteligente, será inédita. Faz uns 40 anos, participei de um Congresso Nacional de Agronomia. Algumas das palestras, de nível internacional, alertavam para características específicas da Amazônia. Duas delas não fariam parte da formação acadêmica: o solo ARENOSO e o ASSOREAMENTO dos rios.


Não posso dizer que mudou minha vida, mas se guardei até hoje pra contar a vocês é por uma razão mais forte, virou PROFECIA. O aumento médio de temperatura de 0,4 graus celsius aparenta não significar nada, aos olhos de um ignorante no assunto. Mas foi ele que matou de uma só vez, lá pelas bandas de Tefé, uns 150 botos cor de rosa, que morrem em situação normal, no máximo em número de dois.
A estrada segue. Fui parar na Eco92, e o aprendizado se aprofundou. Não a ponto de ter me tornado o que o André Trigueiro chama de “Ecochato”. Mas os fatos colecionados de forma antecipada, em bibliotecas especializadas sobre o assunto, tal como no livro ECOLOGY 2000, já apontavam para o estrago que as culturas extensivas brasileiras, objetivando produzir carne bovina barata, para o mercado exterior, produziam em todo nosso ecossistema, biomas, patrimônio genético em sua biodiversidade e nas “fábricas de água” para a natureza, que são as florestas.
A chocante alteração do nome da ECO92 – que deveria ter sido chamada 20 anos depois de ECO92+20 – para RIO+20, com o único propósito político de diluir o peso da palavra ecologia, em plena cena de aparelhamento do Estado, pela corrente de pensamento totalitária no interior do PT, deu nisso. O evento aconteceu, sem manter sua marca de origem, satisfazendo caprichos dispensáveis de gente sem escrúpulo, na hora de roubar bandeiras de terceiros. Em outras palavras, fuderam com o PV, Marina e outros comprometidos com a causa.
Foi nessa RIO+20 que assisti o enfrentamento do povo indígena, frente aos escancarados desatinos na construção de hidrelétricas em território dos índios, quem quiser pesquise, embora dez anos depois, apareçam como protetores da natureza. Não são. Os associados a indústria metalúrgica e a produção de automóveis sem pagamento de impostos jamais serão equiparáveis aos povos da floresta e as movimentos de sustentabilidade tal qual preconizados por gente muito mais cabeça, como por exemplo, Chico Mendes.


A desertificação está escancarada, os rios assoreados, e as fábricas da estratégica Zona Franca de Manaus, sem capacidade para receber ou escoar componentes para fabricação de produtos de exportação. Os rios de lá, diferentemente do canal do Panamá, não são uma hidrovia, são apenas rios, que se não forem bem cuidados, se tornam apenas mais um deserto. Não é, como na música, o sertão que vai virar mar, mas o mar é que vai virar sertão.
A profecia se cumpriu…

… cabe a nós, promover novas ações que levem a uma outra profecia, menos fúnebre…

Pelo REMATAMENTO DA AMAZÔNIA, usando novas palavras como antídoto.

SEM PRINCÍPIO OU FIM PARA EMPREENDER

Não existe um fim, ou mesmo princípios para se empreender. Vivemos numa sociedade que brota, as crianças brotam do asfalto, com ou sem pais, é um lugar bem mais caótico do que aqueles onde todas as metodologias adotadas nos centros universitários não se aplicam.

A Cidade do Rio de Janeiro recebe mais uma Feira de Empreendedores nesse mês de novembro, apostando alto no peso digital que as atividades de negócio vem tomando. Nesse primeiro dia, a agenda esteve repleta de aplicações da moda inteligente, que insiste em ser artificial. Quando comecei a estudar essa ciência e seus algoritmos genéticos que aprendem, já havia grande evolução e uso.
O mais relevante deles para mim foi ver um campeão mundial de xadrez ser derrotado por uma máquina, alimentada com auxílio de “consultores”, numa legítima prova de competição desleal. Na verdade as trapaças já aconteciam, mas envolviam apenas humanos e suas equipes de apoio, que “ajudavam a pensar”, nos intervalos das partidas.
Também foi destaque essa revolução, ainda em curso, que é a tradução multi-idiomática. Com a padronização das linguagens, esse processo foi ficando facilitado e hoje é usável, para finalidades cotidianas. Quanto a literatura e interpretações, aí vai um bocado de tempo, ainda há o que escapa. E esse fugitivo, que é a linguagem periférica, se torna uma perseguição do tipo gato e rato.

Já me beneficio faz décadas do uso da I.A., e prefiro mesmo incluir essa presença com outra denominação. Para mim é apenas mais uma milha conquistada, no sentido de substituição e automação de atividades outrora feitas exclusivamente pelo homem. Entrem numa fábrica de carros, e prestem atenção, tem robótica, mas há presença humana, em número menor, mas é ela que garante. Os robozinhos ainda são como crianças, é preciso gente adulta pegando pela mão pra atravessar a rua.

A presença maciça do digital e seus principais representantes, os influencers, novo nome para décadas atrás os então chamados blogueiros, vão tentando explicar, ainda sem muito sucesso na grande maioria dos casos, como transformar fama em grana. Uma ex-BBB do momento pandemia, com o discurso de “virada de chave”, buscando transformar sua enorme audiência nas redes sociais em algum negócio com o qual se identifique e que possa se tornar fonte de renda, é o sonho de milhões de brasileiros, jovens, que já não compram a ideia de trabalhar pesado pra ganhar em real com pouca ou nenhuma diversão. Os valores mudaram.

No infinito de possibilidades que vi – ao navegar no aplicativo do evento por toda a programação – ficou a sensação de que é um evento para todos, nivelado para atender aos de necessidade mais básica, e dar um pontapé inicial na vida profissional. Nada fora do comum, básico, inclusivo e com aquelas preocupações que se tornaram uma espécie de obsessão do poder público, priorizar minorias, considerando que são elas que não tem espaço nas estruturas privadas movidas por alta performance ou outros critérios, mais particulares. É uma aposta.

Muito do que está acontecendo por lá, pode ser visto pela Internet. O primeiro dia já tem mais de 10 horas de conteúdo, o que pode economizar tempo e dinheiro, além de ampliar o acesso para aqueles que não tem agenda para marcar presença. Até por isso, e por considerar impróprio a minha participação as salas fechadas com empresários anunciada, preferia assistir a uma palestra entre uma pedalada e a natação, para refrescar as ideias e inovar nos formatos. O calor exige criatividade para se manter produtivo, saudável e econômico. Veja o resultado num reels do Instagram.

Vale o resultado.

 

PREVIDÊNCIA E ABORTO COMO GUIA DE CAMPANHAS

A Suprema Corte dos EUA retirou da esfera federal a responsabilidade sobre a questão do aborto. Diferentemente do Brasil, nos Estados Unidos as Federações possuem um certo grau de independência para legislar questões em específico.
Muito bem, as mulheres então assumiram o protagonismo em relação a essa questão pontual, principalmente em lugares tradicionalmente governados por republicanos. Dado o equilíbrio de forças, como visto na eleição presidencial passada, está claro que mexer no vespeiro que envolve metade da população, as eleitoras, alterou desde já a suposta vantagem de Trump na futura provável disputa com um candidato que nunca mobilizou grandes paixões pelo seu nome. No entanto, o que move o tabuleiro nem sempre é o rei, e parece que nesse caso, ou os candidatos republicanos ouvem as vozes femininas, ou perderão massas de votos em estados vitais a qualquer pretensão para a próxima disputa presidencial.
Não bastando isso, um outro fator de mesma importância a destacar também essa semana, é o barraco em torno da Previdência, resolvida por aqui sem um pio dos prejudicados e que na França balançou Macron em suas travessuras institucionais, para alguns falcatruas, que levaram a incêndios e comoção pública. O caso nos EUA têm levado diversos pré-candidatos a invenções das mais tacanhas, e como de costume, sem grandes explicações, parecendo mesmo um daqueles segredos de estado, dos tempos da Guerra Fria. Seja como for, vale observar que esse nível de movimentação e cuidados com a natureza da plataforma política, é bastante sofisticada, envolve a costura específica do caso americano, terreno dividido em dois lados, pois dois partidos.
Por aqui, embora as costuras sejam bem mais complexas e vis, também é perfeitamente possível amealhar votos, não pelas causas que envolvam a gestão do país, mas sim pela soma de itens de perfumaria, quase sempre secundários frente aos grandes dramas que o país enfrenta, mas que acabam na soma de suas partes ocupando a prateleira quase inteira.
Paradoxo revelado, a pergunta que fica é, a qual prioridade devemos seguir? A resposta é simples: a do xadrez da contabilidade das peças e dos votos, que levem a vitória na próxima eleição. Não tratamos a esfera pública utilizando camadas de multiverso. Pelo menos não ainda.

VOCÊ NÃO PRECISA DE ARMAS FILHO

Faz um mês que a tragédia para a humanidade foi (re)detonada no Oriente Médio. Ninguém sabe quantos já morreram, os números oficiais não existem. Parafraseando Criolo, “não existe amor em território oriental”. Armas, sempre elas, objeto de fetiche, status e símbolo de poder. A história misturada aqui é sobre isso. E a cada parágrafo, sugiro que feche os olhos e repita um mantra: “você não precisa de armas, filho”.
Abri os olhos no domingo e encontrei Belo no palco do (agora) Domingão do Huck. O motivo, mais que justo, celebrar o aniversário de 30 anos do Grupo de Pagode SOWETO. A marca tem um dono, o ex-jogador de futebol Denilson, que andou desacertado com o astro que seguiu carreira solo e certamente é um dos maiores expoentes do gênero. O Pagode – uma variante do nosso samba –  guarda em sua  galeria um exército de talentos e detêm atualmente o gosto popular musical da maioria dos brasileiros, junto com sertanejo e o funk.
Olhei para o Luciano Huck e imediatamente pensei se ali aconteceria a mágica de Nelson Rodrigues, no estilo “A Vida Como Ela É“, trazendo fatos do cotidiano do intérprete, com tudo que tem direito. A vida de Belo, nos palcos e fora deles, daria um livro que se a seguir fosse levado a Hollywood nos traria um Oscar. Mas necessitaríamos ultrapassar a rasgação de seda e falar sobre os grampos de 2002 onde expressões como “tecido fino” e “tênis AR”, levaram o cantor para a cadeia.
De fato, a pobreza cantada por Djavan, falando do subúrbio pobre da África do Sul, Soweto, assim como a Faixa de Gaza ou a Crimea anexada convivem com nossas mazelas e violência.
Na segunda-feira, revisitei o filme O PROTETOR 2, um épico do gênero de ação. Isso, além das nossas circunstâncias específicas, essa tal de GLO, me obriga a traçar um breve paralelo, entre as  violência que gira repetidamente a indústria armamentista e seus diversificados clientes. No filme, o jovem negro, adotado pelo herói possui todos os atributos para comoção do público, ao mesmo tempo em que produz esteriótipos que qualquer personagem convincente exige. Há uma mensagem clara, que contrapõe armas e arte. Afinal, pintar muros pela cidade, como os Gêmeos, ou matar para vingar o irmão, vítima de uma gangue rival,  faz parte de uma, entre tantas reflexões que o sistema armamentista mundial permite.
Uma coisa é certa, fábricas de armamentos e a indústria armamentista não vão ser extintas. O painel recente no Oriente Médio colocou frente a frente, na fronteira de um conflito histórico, uma festa da indústria do entretenimento como pavio ideal ao desencadeamento de um conflito previsível. Faltava a data, o que uma festa e um feriado explicitaram.
As consequências estão aí. A festa perdeu para as armas.
No fundo, a contradição do personagem de Denzel Washington, como protetor, é que nas cenas finais, a solução para o conflito de interesses não se dá utilizando um tabuleiro de xadrez ou uma gincana de perguntas e respostas, baseadas na leitura de livros. É só tiro, porrada, bomba e armamento pesado. São esses, os mesmos que circulam por aqui, cada vez em maior quantidade, sem sequer contabilidade confiável quanto ao número de armas nas mãos de civis e dos que vivem fora da lei.
Na fórmula derradeira que interessa a quem fabrica, vende,  ou faz parte direta ou indiretamente desse mercado, a liberação do território brasileiro para a temporada de caça está nos acréscimos, seguindo os mesmos passos já instaurados em várias regiões do planeta, é uma questão de tempo, tik tak bum…
Tal como já acontece em países vizinhos, como Paraguai e Colômbia, caminhamos para que armas letais sejam vendidas em qualquer comércio de esquina, expostas a céu aberto, inclusive para venda por informais, sem qualquer restrição. Não vejo qualquer tipo de iniciativa contundente por parte de nossos governos, que oscilam entre seguir para o matadouro ou fazer de conta que a realidade não existe.
Do ponto de vista de quem vende armas, quanto mais fronts melhor. Lá na Síria, no Líbano, Iraque, Ucrânia, Gaza ou num passado recente, no pequeno país ilha, Timor -Leste. Quanto ao Rio de Janeiro, sabemos, tem alto potencial.
O futuro está escrito, e não há protetor solar pra ele.